segunda-feira, 30 de julho de 2012

Diário de Um Dia, de Roberta Campos: maravilhoso




A cantora mineira Roberta Campos: reservada
À primeira audição, a cantora, violonista e compositora mineira Roberta Campos, natural de Caetanópolis (MG), pode parecer apenas mais uma das dezenas de vozes suaves femininas que apareceram nos últimos anos. É só impressão. Além de compositora de boa parte das faixas do recém-lançado segundo álbum, Diário de Um Dia, ela recupera o estilo dos menestréis, se cerca de ótimos parceiros e músicos, e escolhe boas canções de outros autores para criar um disco conceitual e consistente. Produzido e mixado por Rafael Ramos, o trabalho destaca-se também pela riqueza dos arranjos.

A proposta de aconchego proposta pela cantora fica explícita logo na faixa-título, composta por ela e que abre o trabalho: Deita do meu lado / Passo o feriado / Todo com você / Toda minha vida / Numa tela colorida / Vejo o sol nascer. Ela é sucedida por Rio Sem Água, marcada por uma grandiosidade orquestral, proporcionada pela percussão de Marcos Suzano, baixo de Dunga, Fender Rhodes de Humberto Barros, os teclados de Fabrizio Iorio e Mellotron do produtor Rafael Ramos.

A balada Meu Nome é Saudade de Você, de Paulinho Moska, que faz backing e toca violão, é romântica, sem ser piegas, e confirma o tom do álbum, marcado pela interpretação que cria uma intimidade com o ouvinte, marcada até por certa infantilidade tonal, e apresenta uma grande profusão de cores, combinando com uma sonoridade que remete ao grupo mineiro 14 Bis: Vem me matar / Que o meu nome é saudade de você / Vem me amar / Nunca some a vontade de te ver / Tento tanto entender / E continuo sem saber.

Uma pegada pop eletrônica marca Quem Me Dera, de Zélia Duncan, que conta com a guitarra preciosa de Davi Moraes, a viola de Christiane Springel, o violino spalla de Bernardo Bessler, o violoncelo de Marcos Ribeiro, os violinos de Ruda Issa, Rogerio Rosa, Marco Catto, Pedro Mibielli e Carol Panesi, e os arranjos de cordas do craque Lincoln Olivetti. O mesmo clima segue na triste Sete Dias, parceria com Danilo Oliveira, e no hit nato Carne da Boca, de Mauro Sta. Cecília, Frejat e Guto Goffi, e que traz a Lap Steel e o Mandolim de Christiaan Oyens, conhecido pelo trabalho com a mesma Zélia Duncan: Agora descubra quem diz a verdade / A carne da boca, teus beijos que ardem.

O clima delicado da menestrel Roberta Campos retorna na doce Pedaço do Céu e nas parcerias com Carolina Zocoli, A Suave Volta e De Você Pra Mim. Se elas se aproximam no pop romântico, pontuado por batidas eletrônicas, as três canções possuem letras que tratam da saudade do amado, que provoca uma paixão cada vez mais avassaladora, e são marcadas até por certa pieguice, cujo clímax vem em De Você Pra Mim: Minha fortaleza é você / Suas palavras me deixam tão feliz / Toda vez que te encontro não me sinto só.

Com ares Beatles psicodélicos, marcados pelos samplers de cordas de Humberto Barros e pelo Mellotron de Fabrizio Iorio e Rafael Ramos, Só Para Depois, marca o momento de sofrimento e crise amorosa. Mas para chegar de sofrimento, em seguida, vem o rock E Eu Fico e depois o romance é retomado no country delicioso, com ares de Clube da Esquina, Vida Prática do Tempo: Nós dois num barco a remo / Passo a passo / Nós dois e um manual / Da vida prática e do tempo / Mais fácil te dizer / Do que esconder o meu amor / Preencho as páginas em branco / Pontuo os nossos desenganos.

Diário de Um Dia destaca-se, portanto, por dois aspectos principais. A unidade temática das canções que se unem umas as outras tematicamente, como um diário que retrata um amor que chega avassalador, com potência máxima, atinge seu ápice e entra em crise, com a narradora sofrendo inicialmente e depois se recompondo, demonstrando ter forças e vontade para começar tudo de novo. Tudo marcado pela doce, mas segura, interpretação da menestrel pop roqueira Roberta Campos.



Diário de Um Dia / Roberta Campos

Nota 10

Marcelo Teixeira




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