quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O amor e a liberdade de Olívia Gênesi em disco esplêndido

Olívia: o floral da música brasileira
Entre tantos arroubos curvados e acertos escondidos, a cantora, compositora, arranjadora, instrumentista e produtora musical Olívia Gênesi lançou seu décimo trabalho autoral em meio a chuvas de tempestades, de ciclones musicais adversos amarelados e momentos políticos arranhados. Se de um lado tivemos o ano inteiro de 2017 ao som de cantoras com vozes arrastadas como Ana Vilela e descobertas insossas como Pabllo Vittar, por outro os amantes da boa música popular brasileira puderam ter a oportunidade de desvendar certos acertos escondidos como o CD Amor e Liberdade (2017), que vêm recheadas de músicas com as características de Olívia: o amor, o folk, o jazz e o pop. Todos esses ingredientes refinados e com excelente bom gosto. E o disco veio em boa hora, pois a cantora está comemorando 17 anos de carreira com 10 discos lançados. Impossível não ouvir esse disco e não se encantar com a poesia moderna e fulminante recheadas com um lirismo pleno ao som de canções marcantes como a sensacional Amores Líquidos, que tem muito do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925 – 2017), pois esse também era o título de um de seus famosos livros – e de quem sou fã. A sintonia musical recria a sensação de que estamos a salvo das amarras venenosas musicais existentes por aí e que Olívia faz questão de se afastar totalmente com este belo CD, simples, harmonioso, sensato e amoroso. É um tiro de sensações libertas sobre a liberdade de expressão, a livre espontaneidade de circulação e a plena vontade de estar vivo. Suas músicas estão mais atuais do que nunca e a prova disso está na sensacional música O amor vai brotar, que traduz uma absorvente transposição de diferentes experimentos com a intencionalidade química do tempo. A versatilidade da cantora é impressionantemente surreal e nos capacita ao seu mundo imediatamente após as primeiras notas da abertura desse novo álbum, o que fica claro e evidente que o disco te pega de supetão já no início, sem tempo para respirar e piscar. Com uma grandiosidade enorme, a cantora surge em um momento atípico para com o Brasil e Amor e Liberdade é um balde de sensações térmicas amorosas e libertárias em pleno final de ano. Vale a pena ouvir detalhadamente essa obra prima e repetir incansavelmente faixa a faixa. Assim você terá a certeza absoluta de que está no país certo e ouvindo uma das melhores cantoras deste século. Viva a música popular brasileira!


O amor e a liberdade de Olívia Gênesi / Olívia Gênesi
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Kell Smith: a cantora que nasceu errada

Kell: sucessão de erros 
Kell Smith surgiu como um desses meteoros que vem sendo preparado aos poucos e sem grandes pretensões e que quando caem no solo, eclodem com um barulho ensurdecedor.  A cantora e compositora não saiu de um desses programinhas que ficam à procura de novos (e chatos) talentos, nem foi reconhecida por um grande empresário, mas apareceu na arma mais poderosa dos últimos anos: a internet. Graças às redes sociais que sua música chegou ao topo mais elevado para uma posição considerável na mídia: o ouvinte. Mesmo sendo uma dessas cantoras surgidas aqui e ali, Kell precisa aprender uma coisa: ela não é a única e pode ser que esteja de passagem. Sua música está entre as mais tocadas nos últimos tempos e já foi gravada até por Chitãozinho e Xororó e hoje está entre as queridinhas da maior rede televisiva do Brasil. Mas se ela continuar com o pensamento de que essa sua única canção vai lhe dar todos os atributos benéficos que as redes sociais lhe deram, essas mesmas redes sociais podem lhe tirar o troféu que já fora de Maria Gadú e Ana Vilela. Maria Gadú foi descoberta por um grande diretor dessa mesma emissora, lançou os dois primeiros discos memoráveis e só. Já Ana Vilela apareceu na mesma onda de Kell: compôs uma canção manjadamente popular e apelativa e se lançou na internet. As redes sociais, grande amiga dos artistas anônimos, favoreceu com que Ana fosse uma celebridade momentânea e com apenas uma única canção, diferentemente de Gadú, que lançou outros discos, mas sem grande visibilidade da imprensa. Kell Smith está indo pelo mesmo caminho de Gadú e Vilela, mas com um tempero salgado a mais: ela tem a mesma entonação de voz de Gadú e compõe com o mesmo apelo sensacionalista e popularesco que Vilela. Isso se torna uma grande chatice e não há nada de novidade, sendo assim, a não ser que apareceu mais uma cantora nonsense e blasé para mostrar seu trabalho. Se Ana Vilela ficou meses e meses a fio com uma música que fala de sentimentos e barreiras amorosas e ganhou todas as notoriedades possíveis e imagináveis e Gadú enveredou-se inicialmente pelo mesmo caminho, mas resolveu ir para o lado esquerdo do tempo e, com isso, ganhou menos espaço, Kell Smith é a junção entre as duas outras cantoras, mas não menos talentosa. Eis aqui uma grande preocupação, pois Kell Smith quer mostrar suas canções como se essas fossem relatos de um sentimento mal resolvido. E isso causa um grande alvoroço (Ana Vilela talvez explique!). Gosto da Maria Gadú – embora eu tenha ciclos sentimentais para tal – mas não ouso gostar de Ana Vilela (e não sei explicar bem isso, talvez eu precise ouvir umas novas canções) e tenho quase que noventa cento de certeza de que não gosto e não vou gostar de Kell Smith. A começar, a cantora poderia vir com um nome e um sobrenome mais abrasileirado e, segundo, não vejo verdades em suas letras e muito menos em suas interpretações coreografadas entre mãos, boca, semblante e olhos fechados. Mesmo com uma música com apelo popular emblemática, Kell pode vir a se tornar uma Maria Gadú com semelhanças visíveis à Ana Vilela. O tropeço pode ser grande caso a cantora resolva ficar com essas semelhanças entre a divisão de atenções vocais e sentimentais entre uma cantora e outra. Mas o que se sabe de verdade é que Kell Smith está no meio entre uma cantora de verdade e uma aspirante à tal.



Kell Smith: a cantora que nasceu errada
Por Marcelo Teixeira

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Pabllo Vittar: a pior voz do Brasil

Pabllo: sem voz 
Ouvi dizer por aí que Pabllo Vittar foi considerado o artista do ano de 2017. Ouvir dizer é uma coisa tão balela quanto superficial. Difícil mesmo é ter a comprovação de que Pabllo de fato é o artista do ano de 2017, com tantos outros artistas consideravelmente melhores que ele. Sendo o tal artista do ano, presumivelmente você esquece de que Chico Buarque e Olívia Gênesi lançaram CDs tão ou mais bonitos de 2017, que Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown voltaram com os Tribalistas em um dos melhores momentos do trio, que Joyce Moreno lançou aqui no Brasil, na Europa, na América e no Japão um CD sofisticado com a cara da Nação e que Caetano Veloso relançou Verdade Tropical com um capítulo extra sobre Carmen Miranda. Mas Pabllo Vittar foi considerado o Artista do Ano de 2017 e o que isso quer dizer? Que somos otários ou que as pessoas que o ouve são estranhas? Não vou discutir aqui a questão da diversidade cultural, da pluralidade e dos gêneros (deixo isso para a minha graduação em Pedagogia e pelo meu lado educador), mas ter que aceitar que Pabllo (a repetição desse nome me causa alvoroço nos dias de hoje) é uma aberração capaz de nos ausentar das culturas musicais do país. A começar, Pabllo não canta absolutamente nada, tem uma voz anasalada, esdrúxula, tapada e é desengonçado no palco, sem ter uma potência qualquer. Virou artista para ter uma visibilidade perante as questões de luta contra o preconceito ou o movimento LGBT. Sendo meio contraditório, ainda não entendi muito bem quem esteve por trás dessas votações que o elegeram como a melhor voz do ano e muito menos quem incentivou e bancou a carreira desse pseudoartista.  Até onde se sabe, a cantora Anitta é a madrinha oficial e intangível de Pabllo, ou seja, o escroto revelando a sarjeta. De Preta Gil a Toni Garrido e passando por vários estilos musicais, Pabllo esteve notoriamente bem veiculado na mídia, bem assessorado por quem se diz entender de música e bem mal intencionado perante o público mais civilizado e/ou eclético. Não podemos discordar de que Pabllo foi a voz mais cantada e ouvida e comentada do ano, mas ser considerado o artista do ano é um pouco demais para ouvidos sensíveis e sensatos. Dá-se a impressão de que todos pararam para ouvir sua voz de pato purific ou de fazer a família brasileira entender perfeitamente que ele é um homem, mas se veste de mulher e está montado o espetáculo dos horrores das perucas coloridas. Dá-se a impressão de que em 2017 existiram apenas Anitta, Pabllo, Marília Mendonça, Luan Santana e não mais chicos, caetanos, miltons, anas, tiagos. Tiago Iorc foi tão mais aclamado e idolatrado do que Pabllo e nem por isso precisou provar que era esdrúxulo. Outros artistas dessa categoria, como Liniker e Jonny Hoocker, que mesmo eu criticando perante o excesso de vestimentas e estilos estereotipados, são muito mais artistas que Pabllo e muito menos visíveis no mercado fonográfico. Pabllo é um neocantor que foi criado para ser exemplo de vexatória para todos nós, amantes da música popular brasileira. O espaço assentido dentro de cada estilo é benéfico para todos os artistas que possam demonstrar seus atributos culturais, mas ser tão estranho e espalhafatoso como Pabllo não há igual. Se há um prêmio para receber e merecer, esse prêmio é os piores do ano de 2017 pelo conjunto da obra: Pabllo assusta vocalmente, assusta musicalmente, assusta pelo simples fato de não falar nada. Suas músicas em nada acrescentam em nossas vidas e sua postura de cantor que defende uma causa não pode ser considerada uma prova cabal de que ele lutou por esses direitos. Definitivamente, são várias causas perdidas e os fãs de Pabllo se viram protagonistas de suas caminhadas, como uma salvação de libertação das amarras do povo que queria ver a massificação de um gênero. No dia em que esse cantor receber um prêmio de qualidade cultural pelo conjunto de sua obra, poderemos nos ajoelhar e pedir sua benção. Por hora, o que podemos fazer são duas coisas: tapar os ouvidos e virarmos as costas.



Pabllo Vittar: a pior voz do Brasil
Por Marcelo Teixeira

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Anitta: vedete, cantora, medíocre

Anitta: voz do funk?
A bestialidade é a condição de quem ou daquilo que é bestial, temendo um comportamento que assemelha o homem e  mulher à besta com uma brutalidade ou imoralidade perceptível. Não podemos negar que Anitta seja um furacão estrondoso com uma potência relevância dentro da MPB, mas dizer que ela é a maior cantora com nível de voz acentuado e um pouco de sensatez dentro da música popular é incoerente aos padrões estéticos musicais vigentes. Não podemos, reitero também, menosprezar o tamanho de sua importância e valor perante seus milhões de fãs pelo agora mundo afora, mas é preciso respeitar os limites éticos e políticos que a pluralidade e a transversalidade exigem. Anitta voltou ao topo da parada de sucesso com um meteoro estilístico que marcou sua entrada no mundo das vedetes e cantoras e outras medíocres artistas que polarizam nossas mentes e reações. Anitta encabeça todas essas qualidades: é vedete, é cantora, mas também é medíocre. Seu mais recente sucesso, Vai Malandra, nada mais é que um tiro no peito do cidadão brasileiro que adere às políticas da boa vizinhança quando diz respeito aos valores morais da constituição musical. Não que a música tenha que ter um certo limite ou uma compreensão da filosofia dentro do contexto social e antropológico, mas a música e, principalmente, o clipe, são uma afrontosa negligência aos apelos civilizados de pessoas que lutaram anos e anos a fio por uma contra censura monopolizada e que hoje recebem bem na sua cara uma chuvarada de bundas e peitos e homens e mulheres pelados. Com ou sem silicone, o que mais se vê nesse clipe é a apologia ao sexo gratuito, à vulgaridade explícita, ao papel cafajeste do homem do morro e da mulher que usa cabelos estilo rastafári para poder se impor como mulher de respeito ou, em outras palavras, mulher de malandro. Está nitidamente claro e evidente que Anitta não voltou ao mundo do funk apenas por voltar: tem um contexto social e político da própria cantora acerca desse movimento. Anitta não criou o funk brasileiro e nem é detentora do estilo. Anitta não resgatou o funk e muito menos será coroada a rainha funkeira do morro e da comunidade, mas a música deixa em destaque que a mulher precisa de um empoderamento perante a sociedade para exigir respeito.O respeito por meio da bunda, dos glúteos siliconados ou não e do peitão à mostra. Enquanto Elza Soares (A Mulher do Fim do Mundo, 2016) veio com um disco sensacional em prol da luta pelas mulheres, pelos negros e pelos esfarrapados, Anitta surge com uma música que extrapola os limites da selvageria imoral ao abordar o mesmo tema. Gosto da Anitta e a respeito como cantora, como mulher e artista que és, mas não posso me curvar diante tanta insensatez imoral para poder se autorretratar perante uma canção que mostra glúteos deformados, partes pélvicas suadas e cabelos oxigenados mostrando que a periferia tem voz e vez. Lembremos que a comunidade precisa ter voz e vez, mas não com um festival de imbecilidade assistida como esse clipe de Vai Malandra. Enquanto a comunidade e o funk lutarem por uma democracia de igualdade e equidade sem mostrar seus dotes corpóreos, estaremos falando a mesma língua para uma emancipação da sociedade. Mas enquanto estiverem lutando em prol de glúteos, o movimento e a comunidade retratada perdem seus direitos pela tal igualdade e por uma tal de equidade.


Anitta: vedete, cantora, medíocre
Por Marcelo Teixeira

domingo, 10 de dezembro de 2017

A "zuera" de João Bosco é coisa séria

O bom e velho João Bosco 
Acabo de ouvir pela terceira vez o novo e arrebatador disco de inéditas de João Bosco, depois de um hiato de oito anos sem lançar nada novo. Mano que zuera (2017 / Som Livre / 26,99) é um disco composto por 11 ótimas canções (e que acaba sendo melhor e mais preparado que o tão aguardado disco de Chico BuarqueCaravanas / 2017) e entre elas estão algumas parcerias inéditas com o filho Francisco Bosco, que também assina a produção musical de todo o álbum. Dessas parcerias o single Onde Estiver, que nasceu de conversas entre pai e filho, merece destaque pela força poética e arranjo primoroso, que já toca nas principais rádios do Brasil. Além das inúmeras parcerias com o filho, o projeto conta com clássico como Sinhá, parceria com Chico Buarque e gravada no penúltimo álbum deste, Chico (2011) retomando o dueto entre ambos depois de um estrondoso espaço de tempo, quando gravaram juntos uma música em destaque para o lançamento de um disco buarquiano de 1984. Duro na queda e João do pulo (parcerias com o inesgotável Aldir Blanc) soam memoráveis, ainda mais porque esta última música conta com uma fusão sonora com a canção Clube da Esquina Numero 2. O encontro inédito com a composição de Arnaldo Antunes em Ultraleve, onde a filha Júlia Bosco (que não merece tanto destaque assim pelo conjunto da obra) faz uma participação especial com sua voz com sabor de liquidificador, como diria Cazuza. Sim, Mano que zuera é um clássico da MPB, nasceu com direito a explosão meteórico e veio para confirmar a marca tradicional de Bosco como um dos compositores e cantores mais versáteis da linha refinada da Música Popular Brasileira.


João Bosco / Mano Que Zuera (2017)
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

sábado, 9 de dezembro de 2017

Vânia Bastos lança o clipe Lamentos (2017)

Vânia: elogiada entre as elogiadas
A cantora Vânia Bastos lança videoclipe do elogiadíssimo disco Concerto para Pixinguinha, pela VEVO Brasil e inaugura seu canal oficial no Youtube, que aconteceu no dia 7 último. Baseado na parte mais elogiada de sua turnê, Concerto para Pixinguinha foi tão aclamado que no canal recém-inaugurado da cantora o clipe já é o mais visto de todos. A canção do clipe é Lamentos, música composta por Pixinguinha que, anos depois, ganhou letra de Vinicius de Moraes e faz parte do álbum de Vânia, lançado em 2016. Destaque de público e mídia especializada, figurando nas listas de melhores discos do ano. Lamentos chega ao vídeo com a direção do premiado cineasta Pedro Jorge – autor de Diamante, O Bailarina, que percorreu uma série de festivais nacionais e internacionais, ganhando evidência na grande imprensa. O álbum foi o vencedor do Prêmio Profissionais da Música 2017, além de estar na estrada desde 2013, rodando diferentes pontos do Brasil. Foram mais de 60 apresentações de sucesso absoluto.

Link do clipe que entrou no ar na quinta-feira, 07 de dezembro, pela VEVO Brasil:


Vânia Bastos / Lamentos
Por Petterson Mello e Marcelo Teixeira



sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A transformação de Eliana Printes em delicioso álbum de 2013

O disco: transição com o Brasil
A voz cintilante de Eliana Printes foi reconhecida nacionalmente quando ela interpretou maravilhosamente a canção Só vou gostar de quem gosta de mim, canção imortalizada na voz de Roberto Carlos nos anos 1980 e que estava no excelente álbum Pra lua tocar (2000). Transcorridos mais de quinze anos após esse lançamento, a cantora voltou a se radicar e a se dedicar ao Norte do país, onde faz festa entre seus nativos e é conclamada como rainha da música popular brasileira. Pudera: Eliana Printes é um poço de simpatia, uma riqueza em pessoa e tem uma voz cintilantemente pura, cristalina e purificada. Seus discos são tão bonitos e bem acabados, que fica impossível não elencar a sua carreira como a de uma verdadeira dama da MPB. Tudo em Movimento (2013) é o oitavo disco da cantora e que foi lançado em Manaus com tamanha festa, que passou despercebido por outros cantos do Brasil e que mesmo assim não perdera seu brilhantismo e sua importância. Seguindo uma tradição que se mantém há anos, a cantora fez de Manaus a sua primeira parada para todas as turnês de divulgação de cada disco e o Teatro Amazonas é a sua casa, seu refúgio e seu porto seguro. Mesmo sendo radicada no Rio de Janeiro, Eliana consegue se manter fiel às suas tradições e se impõe a cada dia como uma típica cantora que não se rotula e que não se propaga para ser tal. Produzido por Adonay Pereira e Julinho Teixeira, em parceria com a Indie Records e com distribuição nacional da Universal Music, Tudo em Movimento tem dez faixas que se entrelaçam. A ideia central do disco, expressamente dita no título, tem a ver com as mudanças que estavam acontecendo no país àquela época. A exemplo de seus predecessores, o disco teve participações para lá de especiais, como o falecido cantor Luiz Melodia, que divide os vocais em Congênito (autoria de Melô) e da cantora carioca Isabella Taviani, em Se tudo pode acontecer.  Outra participação especial do álbum aparece em La Condessa, composição de Ribamar Vaiz, Ricardo Bezerra e Soares Brandão. O registro dessa música foi feita na Alemanha, reforçando a tese de que o disco merece destaque.  Mas por que esse crítico de música veio nos mostrar apenas isso hoje, transcorridos quatro anos de seu lançamento? Por um motivo muito simples: os discos de Eliana Printes raramente chegam à São Paulo com pompas das grandes estrelas e para encontrá-los é preciso gabaritar muito. Encontrei esse disco em uma loja na zona Central de São Paulo e era peça única. Não hesitei em comprar. Mas não fique triste: se você não encontrar, poderá ouvir na internet algumas de suas belas faixas.

Eliana Printes / Tudo em Movimento (2013)
Nota 10
Por Marcelo Teixeira


domingo, 19 de novembro de 2017

Lulu Santos tenta homenagear Rita Lee sem homenagens


Lulu: disco sem homenagem
Ainda tento entender o que acontece com a carreira de Lulu Santos: além de ser fantoche em um programa musical da maior emissora do país, o pop star vêm na onda das regravações que, como ele mesmo sugere, são homenagens aos artistas ainda vivo. Há quem goste e há os que discordam desse estilo de se fazer música e eu fico com a segunda opção quando tudo não passa de produto mercadológico e fonográfico para camuflar as ideias inexistentes. Aconteceu com Roberto Carlos em uma homenagem pífia, sem deslumbramentos e sem achados convenientes e agora volta a acontecer com a eterna rainha do rock nacional, Rita Lee, que reuniu a família para ouvir o tão esperado disco em sua finita homenagem. Não, definitivamente, não valeram os choros compulsivos de Rita para Lulu, pois o disco não passou de um disquinho que logo mais será esquecido em uma gaveta dos fundos, um baú qualquer despedaçado ou em mentes pouco equilibradas. Seria o fim de carreira de Lulu Santos ou apenas uma passagem fantasmagórica de insana desmemoria? Não vou aqui dizer que Lulu não fora importante para a música popular brasileira porque eu estaria veementemente mentindo, afinal, o cantor é considerado um ícone dos anos 1980 e brilhou diversas vezes nos anos 1990 e 2000, mas sua demanda popular não anda tão boa assim, dito pelas passagens televisivas atuais e por sua retórica blindagem se achando o tal. Com tantos erros atribuídos à sua imagem musical, Lulu não soube aproveitar o momento sublime de mais uma homenagem a uma grande artista da nossa música. Perdeu-se a chance de mostrar o quão valioso e potente é sua voz, o quanto é importante o momento da homenagem e como é suntuosa a parceria de harmonização entre a homenagem a homenageada. Lulu, o eterno jovenzinho do rock, com seus cabelos ora vermelhos ora brancos e com chapéus e terninhos modernos, não convenceu em nada nessa chinfrim homenagem retorcida em disco. Não há garantias de que o disco venha a ser o melhor de suas homenagens, pois nem para Roberto Carlos ele o fez. Homenagem à altura de Rita foi a que a cantora Ná Ozzetti fizera em 1995, com o LoveLeeRitta, com harmonias diferentes, delicadeza na voz, repertório bem caprichado e a beleza que Rita deixou em suas melodias. Lulu parece que esqueceu de alguns detalhes pormenores, correu para gravar, não estudou as letras e jorrou um disquinho com uma capa retro e com pedaços de décadas retorcidas.


Lulu Santos canta Rita Lee (2017)
Nota 4
Por Marcelo Teixeira 

domingo, 12 de novembro de 2017

MC Livinho e a voz que ninguém deveria ouvir

Livinho e  voz que ninguém merece
Longe de ser um grande astro da música popular brasileira e de ser estrela da consolidação do pagode, MC Livinho tenta ser um cantor com popularidade exemplar em território nacional. Sem poder de vocalização e sussurrando suas melodiosas canções, o cantor agora tenta unir sua imagem ao pagode e indo de encontro com o rei dos magos pagodeiros, Péricles. Óbvio que essa união não sairia bem, ainda mais tendo uma desunião de vozes como as de Livinho, que é paupérrima e cansativa e arrastada. Péricles tem uma das melhores vozes do pagode e se consagrou no estilo há anos com sua marcante e impressionante presença de palco, mas o colocar em evidência com um cantor que não se iguala ao seu tipo vocal, chega a ser uma aberração aos nossos ouvidos. Mesmo a música Bandida tendo estrondosos 4 milhões de acesso, a música não vale ser ouvida e não garante sucesso para nenhum dos dois. O motivo é simples: a música é chata e, como já disse acima, MC Livinho não canta absolutamente nada, tendo uma voz arrastada e chata. Vale ressaltar que MC Livinho carrega umas broncas do público por outros motivos: uma por ser considerado homofóbico (o que ele desmente e outros dizem que foram os administradores de redes sociais que inventaram a desculpa) e outro puxão de orelha após o cantor lançar a estranha música, em agosto recente, Covardia. Lembrando que a música é acusada de ser apologia ao estupro, coisa que o cantor nega veementemente. Com teor de baixo calão, humilhando e rebaixando a mulher à pior espécie, Livinho tentou se retratar perante o caso, mas de nada adiantou. O cantor apenas carrega mais uma polêmica nas costas e, música de qualidade que é bom, nada. Por hora, MC Livinho é o lixinho musical que todos aplaudem, mas ninguém entende!


MC Livinho e a voz que ninguém deveria ouvir
Por Marcelo Teixeira

sábado, 11 de novembro de 2017

O delicado álbum de Wanda Sá

Wanda: expoente da Bossa Nova
Uma das mais expoentes expressões da Bossa Nova, a cantora Wanda Sá é referência de musicalidade reconhecida mais no exterior do que no próprio país de origem e, para ela, o grande êxito do gênero foi o fenômeno que o estilo bossa novista trouxe de renovação na década de 1960 e que teve, de fato, um valor sistemático e assentido mais outros países do que no Brasil. Apaixonada pela música e pelos amigos que fez ao longo de sua carreira, a cantora norteou um novo trabalho, que passou praticamente despercebido do grande público e por parte dos jornalistas e críticos de música. Cá entre nós (R$27,99 / 2016) é um disco que nos remete ao ano de 1972, pois ele reverencia todo os momentos pelas quais a cantora vivenciou e dos amigos que angariou, como Roberto Menescal, Marcos Valle, Tom Jobim. Por falar em Tom, Wanda pincelou uma preciosidade do cancioneiro do maestro com o poeta Vinicius de Moraes e achou a deliciosa Cala, meu amor, música desconhecida de ambos os músicos. A ideia era reunir canções inéditas de parceiros como o amigo Roberto Menescal, João Donato, Carlinhos Lyra e Nelson Motta, mas além de conseguir juntar essa galera, Wanda trouxe para o celeiro convidados que até então não faziam parte de seu rol musical, como o cantor e compositor Ivan Lins, Chico Batera, Nelson Faria e Ricardo Silveira. Trata-se de um disco refinado, culto, bossa novista e cheio de saudade de um tempo que ficou apenas na lembrança.


Cá entre nós (2016) / Wanda Sá
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Verdade Tropical - 20 anos depois

Leitura obrigatória
Leitura mais que obrigatória para todos os amantes e não amantes da boa música brasileira, o livro Verdade Tropical acaba de ser relançada por Caetano Veloso com uma capa nova (não menos bonita que a edição de bolso, mas com certeza mais bonita que a primeira versão) e com um capítulo bônus intitulado Carmen Miranda não sabia sambar. Trata-se de uma conversa sobre esses 20 anos que nos separam da primeira edição, construída a partir do próprio livro e das suas repercussões. Eis aqui um novo retrato de Caetano acerca do mundo da música e para dizer também que o mundo mudou. As questões cruciais de sua vida e de suas angústias diante das dores do mundo também se fazem presente. Caetano é um grande leitor de livros e grande homem de erudição. O novo texto pode até surpreender os que só o têm como um artista da canção popular, jamais os que acompanham de perto a sua trajetória. A singularidade que enxerga no Brasil e em seu destino como nação permanece de pé, a despeito de tudo o que estamos testemunhando nos últimos tempos. Embora eu particularmente ache o livro Verdade Tropical extenso, cansativo por vezes e arrastado em uma profusão de palavras difíceis, deixo aqui registrado que o livro é, na verdade, uma síntese da biografia do próprio Caetano perante sua carreira tropical, musical e intelectual. Porém, foi aqui neste livro que pude ter a honra de conhecer um dos intelectuais que mais influenciaram minha carreira pedagógica e intelectual, como o escritor Edgar Morin ou o artista multifacetado e original Hélio Oiticica. Assim como há passagens engraçadas, como o caso da cantora Gal Costa cantar por intermédio de uma panela ou a rixa entre o próprio Caetano e Roberto Carlos, a quem Maria Bethânia já era fã. Mas não comprem o livro apenas porque há um capítulo maravilhosamente extraordinário como bônus ou pela nova capa tropical do cantor. O livro é para ser lido por inteiro. Parafraseando Adriana Calcanhotto, é preciso devorá-lo (como canta na música Vamos Comer Caetano). Muito bem escrito, há aqui uma formação humanística impressionante, capaz de nos impressionar do primeiro ao último capítulo. O relançamento de Verdade Tropical coincide com os 50 anos do Tropicalismo, cujo é um dos temas centrais do livro.


Verdade Tropical – 20 anos depois
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

sábado, 14 de outubro de 2017

O outro lugar de Tetê Espíndola

Tetê em ótimo estado
É impossível escutar Outro Lugar (2017 / 40,00), sem ao menos sentir a sensação de tranquilidade que Tetê Espíndola quer transmitir. Repertório quase que completamente feito por Tetê, de um bom tempo atrás até anos mais atuais. Outro lugar é um disco que realmente nos deixa ir para outro lugar. Cada um de nós tem que encontrar um lugar ou lugares dentro da gente mesmo, pode ser na loucura da cidade ou no meio da natureza. Encontrar a tranquilidade dentro de si mesmo. É a sina de todo ser humano, encontrar o seu lugar e a paz interior — conta Tetê, que retorna com este registro de inéditas, três anos após o lançamento do último trabalho, Asas do Etéreo (2014). Com doze faixas, a mato-grossense transporta memórias e músicas da artista para os dias de hoje com poemas compostos há cerca de 40 anos e musicados atualmente com a linha romântica que é característico de Tetê.  Trata-se de um dos melhores e mais autênticos discos da cantora, que retorna ao cenário fonográfico pelas mãos de seu ilustre filho, Daniel Black. 

domingo, 3 de setembro de 2017

MC Guimê prova que é o líder do funk em disco que reverencia a lua

Guimê: estrela do funk
Lançado no final do ano passado, o cantor e compositor MC Guimê deu vida ao seu álbum Sou filho da Lua (2016 / 26,99), que conta com participações que vão de nomes do rap nacional à cantora de axé Claudia Leitte.  O disco é o primeiro de estúdio completo lançado pelo cantor. Considerado uma das maiores vozes do funk ostentação, o cantor surgiu na esfera internética em 2010, conquistando seu espaço e divulgando suas canções pelas redes sociais. Seus maiores sucessos são Plaquê de 100, Na pista eu arraso e Tá patrão, cujo vídeo oficial já ultrapassa mais de 30 milhões de visualizações. O novo disco, descrito pelo próprio Guimê como u sonho realizado, traz várias participações, algumas delas bastante inusitadas. Entre elas estão Emicida, na bela música Sampa, Negra Li em Nem maior nem melhor (tenha fé), Marcelo D2 em Cadê a mina? e Claudia Leitte em Vou te dizer. É um disco totalmente diferente daqueles que Guimê já fez, mas vale muito a pena ouvir esse novo trabalho, pois aqui há a sonoridade de diversos ritmos, demonstrando que o funk pode ser bem vindo em outras searas, tirando de cima dos funkeiros essa responsabilidade que o estilo proporciona algo maléfico. Ainda dentro desse pantaleão musical, Guimê segue à risca com sua doutrina de líder ;do movimento funk no Brasil e consegue trazer a harmonia que todos precisam ter e entender. Seu disco novo propões essa sintonia de paz que busca o funk. Para todos os efeitos, Sou filho da lua é mais um espetacular disco desse que é um dos maiores e melhores nomes da música brasileira.


Sou filho da lua (2016) / MC Guimê
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O lado intimista de Daniela Mercury em O Axé, A Voz e O Violão (2016)

Daniela: do axé a Chico Buarque
Inventora do axé music e dona de uma voz que levanta a multidão, a cantora e compositora Daniela Mercury é um fenômeno que merece respeito por qualquer seara musical na qual explora. A prova cabal disso é que seu trabalho lançado no ano passado é uma mistura que engloba todos os ritmos nas quais a cantora transitou e que reúne desde Chico Buarque à Margareth Menezes, passando por Chico César e Lenine. Sendo a Rainha do Axé e com todo orgulho, a cantora fez o diferencial em sua carreira ao lançar o exuberante O Axé, A Voz e O Violão (26,99 / Biscoito Fino / 2016) que, na minha modesta opinião, é um disco que merece atenção, repeito e cumplicidade pelo trabalho integral de Daniela. Com 16 álbuns solos, além de canções inéditas nesse novo disco, Daniela nos brinda com ótimas releituras da MPB, o trabalho foi recebido mornamente pelo público e pela crítica. Aqui há emoção, sentimento, amor e a cantora nos remete a um passado em que as músicas eram tratadas com um zelo sem igual. Considero o disco como um todo um tanto minimalista em que a cantora vai esmiuçando o axé até se transformar em uma potente vocal e explosiva em pérolas da música popular brasileira e nos brindando com o melhor de seu cancioneiro, pois ela vai desde o início de sua carreira até chegar aos quilates da africanidade e se rendendo nos braços buarquianos. Aos 51 anos de idade, Daniela Mercury continua a se lançar a desafios que cada vez mais diversificados. Acostumada a sempre estar saracoteando nos palcos em movimentos amplos e largos, dançando praticamente sem parar, o som aqui fica praticamente a cargo da orquestra, movida pelo violão e pela suntuosa voz da cantora. Músicas carimbadas como O Canto da Cidade, Música de Rua, Você Não Entende Nada estão lá, em formato intimista e atemporal. Vindo desde os primórdios de sua carreira magistralmente bem conduzida, Daniela resolveu homenagear os mestres Chico Buarque e Gilberto Gil, assim como para mostrar que tudo é música brasileira, tudo é samba, tudo é brasilidade.  Vale a pena ouvir o som quase bossa novista da eterna rainha do axé em um momento único, especial e sublime.


O axé, a voz e o violão (2016) / Daniela Mercury
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

sábado, 26 de agosto de 2017

Os Tribalistas de 2017: melhor que em 2002


Os tribalistas: melhor que em 2002
Com um estilo mais autoral e menos conturbado que o primeiro lançamento de 2002, os Tribalistas ressurgem em um momento transformador e único na vida dos três mosqueteiros amigos e fazedores de música. A volta dos cinquentões, como já havia escrito em artigo anterior, demonstra toda a versatilidade de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte em meio a crises musicais que o Brasil vem passando nos últimos tempos. O novo disco é muito melhor que o disco que o de outrora a começar pelas letras, muito mais elaboradas e menos populista e pela sofisticação da capa, das vozes e do cenário musical que cada um interpreta em seus estilos solitários. Pode parecer banal, mas Tribalistas (2017 / Universal Music / 29,99) é um disco que merece ser ouvido e reouvido porque a sonoridade produzida aqui é de uma maestria sem igual. Assim como ainda acredito que ser tribal é pertencer ao grupo criado pelo trio, ou seja, apenas amigos são convidados a cantar com eles em estúdio ou ao vivo, fazendo desse tribalismo um ato de amor à música. É como se amigos de outros tempos se reunissem e ficassem cantando ao luar: é assim como este belo álbum é representado. Para se unir ao trio de amigos, a cantora portuguesa Carminho fecha o disco com uma delicadeza sem igual, na faixa que soa como infantil Os peixinhos. Tribalistas traz algumas mudanças em seu jeito de cantar e de ver o mundo e não se iguala ao trabalho anterior no quesito musicalidade, mas músicas como Feliz e Fora da Memória (e talvez apenas as duas) se assemelham com o disco de 2002. Para tanto, o trio estão muito engajados e antenados com o que acontece ao redor do Brasil ao abordar a música Diáspora. Sendo uma das melhores fases criativas de Arnaldo, Carlinhos e Marisa, Tribalistas subiu no meu conceito e passa a ter um respeito dentro daquilo que considero o melhor da música popular brasileira.


Tribalistas (2017) / Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte
Nota 9
Por Marcelo Teixeira

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Eis o novo e velho Chico Buarque em Caravanas (2017)

Eis as caravanas de Chico Buarque
Mesmo sendo chamado de machista por metade daqueles que ouviram a faixa Tua Cantiga, disponibilizada dias atrás pelas redes sociais, Chico Buarque parece não ter dado muita trela e, mesmo com uma resposta singela sobre o caso, fez seu comboio passar a frente de uma dúzia de insatisfeitos e lançar seu novo trabalho à beira de muita crítica e muito blá blá blá. Depois de um hiato silencioso de seis anos, eis que Chico Buarque, o todo soberano cantor, poeta, político, compositor, amante das mulheres, dos bêbados, dos trabalhadores, solta o verbo em sete canções inéditas e em duas regravações. Não irei tratar aqui de um artista completo que Chico é, mas sim, medir esforços para não dizer o quanto insatisfeito ficarão os insatisfeitos e o quanto mais crítico fico com relação à sua música. Para todos os efeitos, gosto das músicas e de tudo aquilo que Chico faça ou venha a fazer, mas meu papel não é agradar aqueles que gosto ou defender um partido que na qual não estou disposto a fazê-lo. Caravanas (2017 / Biscoito Fino / 29,99) chega hoje às lojas físicas de todo o Brasil trazendo um disco bom (não ótimo), pegando rabeira em discos anteriores e se aproximando e muito de sua última criação, Chico, lançada em 2011, que já vinha com um martírio penoso de ter semelhanças com discos anteriores. Mas faz sentido o título que Chico deu ao seu novo trabalho: caravana é o mesmo que comitiva, comboio, frota e algo que remete a uma viagem; logo, Chico pega viagem em grandes distâncias para poder chegar a um lugar comum, que é o coração de alguém. Quem? Vamos por partes: quando lançou o espetacular As Cidades (1998), vindo de uma alegoria fantástica e criativa de Carioca (2006), o cantor não tinha nenhuma madame em mente. Alguns anos anteriores, Ivan Lins e Chico compuseram a emblemática Renata Maria, gravada magistralmente por Leila Pinheiro em seu disco Nos Horizontes do Mundo (2005), cujo até hoje soa como uma homenagem a alguma namorada. Depois disso, ele fez duas pérolas em formatos de trabalho (As Cidades e Carioca) e parou no tempo. Em 2011 lançou o morno Chico, em que nascera devido seu romantismo em torno da cantora e compositora Thaís Gullín. O namoro não deu certo e, cinco anos depois de separados, Chico conhece uma curitibana, com quem, segundo dizem, mantêm uma relação amorosa. Eis o ponto de partida para que o mestre do cancioneiro feminino tivesse prestes a voltar a compor. E isso de fato aconteceu com o nascimento de Caravanas. Será que Chico Buarque só vai conseguir compor quando estiver namorando? Seja como for, Caravanas não é um disco maravilhaso, mas como se trata de Chico Buarque, a espera é bem vinda e muito aguardada. Em alguns casos há um certo acerto, como o caso de Dueto, música que não é inédita, gravado com sua neta Clara Buarque, em que neta mostra ao avô o lado real e tecnológico das redes sociais. Outra sacada foi o também neto Chico Brown vir com sua esperteza em Massarandupió, onde o jogo de palavras rima perfeitamente com frases bem construídas, mas que nos remete a Subúrbio, onde há funk, palavrão e tudo aquilo que nunca esperamos de Chico, composta em 2006. Única faixa em espanhol, Casualmente é uma mistura simplória entre Havana e Brasil. E o samba-canção, marca registrada em discos iniciais, marca presença aqui com Desaforos, faixa que nos remete a Cotidiano. Enfim, a Caravana de Chico Buarque chegou, mas não trazendo tantas alegrias como era o esperado, porém, chegou um momento que transcende sua verve criativa dentro do imaginário dos netos, tão criativos quanto o avô, que, nesses últimos anos vem deixando a desejar, sem perder sua importância dentro da música popular brasileira.


Caravanas (2017) / Chico Buarque
Nota 7
Por Marcelo Teixeira

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Fernando Lauria presta homenagem a Gonzaguinha

Homenagem a Gonzaguinha


O cantor Fernando Lauria lança o álbum Gonzaguinha Palavra por Palavra no próximo dia 29 de agosto (terça feira), às 21 horas, no Teatro Itália, em São Paulo. Lauria acompanhado por João Cristal no piano, Marcos Paiva no baixo-acústico e Daniel de Paula na bateria, apresenta uma bela homenagem ao eterno Gonzaguinha, morto prematuramente em 1991. Trata-se de uma das minhas maiores influências musicais e há tempos planejo este projeto, explica o cantor. O atual álbum possui 12 faixas e a gravação e a mixagem ficaram por conta de Luis Paulo Serafim e ainda contou com as participações especiais de Daniel Gonzaga (Feliz), Graça Cunha (Lindo Lago do Amor) e Cassio Ferreira (Galope). Mas outras canções belíssimas estão no repertório, como Explode Coração, Diga Lá Meu Coração, O que é o que é, entre outras. O cantor realiza o show em tom emocionado e carregado de sentimentos explosivos. Vale a pena conferir esse show, que está envolvido com o Projeto Terças Musicadas.
Serviços:
Terças Musicadas apresenta Fernando Lauria e Trio em Gonzaguinha Palavra por Palavra
Data: 29/08/2017 – 21 horas
Local: Teatro Itália – Av. Ipiranga, 344 – Edifício Itália – Subsolo – Metrô República
Vendas online pelo site: www.compreingressos.com.
Telefone da bilheteria do teatro: (11) 3155 – 1979

Créditos da foto: Rodrigo Castro

sábado, 12 de agosto de 2017

A volta dos cinquentões Tribalistas


Os cinquentões Marisa, Arnaldo e Carlinhos

Quem não sabia que os Tribalistas voltariam, por favor, que atire a primeira pedra contra a própria cabeça! Estava nítido que o trio Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown voltariam a atuar, mesmo que isso demorasse vinte ou trinta anos. Quinze anos depois de lançarem a explosão musical que uniria os três amigos, eis que eles voltam com um disco de inéditas repleto de sensações e vibrações positivas, com características marcantes e suavidade diferente de seu roteiro inicial. E o disco vem em um momento especial para os três: enquanto Arnaldo completará 57 anos em setembro e Carlinhos 55 em novembro, Marisa completou 50 em julho passado. O trio de cinquentões mudou a concepção de música adquirida em sua primeira incursão e agora conseguem explorar mais as nuances musicais que outrora era impessoal e não reconhecida por eles. O markenting deles é forte: lançar inicialmente 4 músicas no mercado internético para lançarem no final desse mês o disco pronto. A ideia central de reunir Marisa, Arnaldo e Carlinhos é tão simples quanto objetiva: no centro, Marisa, que é amiga e detentora de várias canções de ambos, defende a tese de que amigos são importantes em nossa vida e, por esse motivo, devem ser repatriados numa esfera atemporal, uniforme e sensata. Arnaldo e Carlinhos, díspares de uma mesma sintonia musical musicalizada por Marisa, encontraram em seus versos uma maneira de unir e monopolizar aquilo que ambos jamais poderiam encontrar, que é a voz de Marisa dentro de um mesmo patamar. Carlinhos e Arnaldo conseguem, cada qual ao seu jeito, unificar na voz cristalina de Marisa aquilo que ambos querem transmitir e, sendo assim, conseguem fazê-lo com uma maestria ímpar. Embora seja um trio, cada musico aqui têm uma particularidade diferente: Marisa é a mentora do grupo, enquanto Carlinhos destoa a atmosfera transloucada de versos improvisados, trazendo a africanidade regente em sua verve e Arnaldo, um típico filósofo da atualidade, que consegue mirar em profundas, ricas e pobres vertentes num olhar puro e certeiro. Os Tribalistas são criteriosos e, por isso mesmo, erram e acertam em algumas canções. Se no primeiro disco, cujo fui um crítico ferrenho para tal, transcorridos 15 anos, posso dizer que alguma coisa mudou com relação à música que eles produziram. Agora há uma sonoridade menos populista e mais autoral, mais rude e mais intelectual, o que não aconteceu com o primeiro. Já era dada como certa a volta dos três aventureiros tribais e foi bom que esse hiato de quinze anos tenha ocorrido, pois, assim, a sua música ficou boa, dentro de um limite audível que os Tribalistas propuseram a cantar.

 
 
 

A volta dos Tribalistas
Por Marcelo Teixeira

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Leny Andrade - uma cantora brasileira


Leny : grande dama da MPB e sem rótulos
Embora muitos ou poucos a considerem como uma cantora de jazz, a própria Leny Andrade não se considera rotulada como tal. Leny gosta de ser chamada de cantora. Simplesmente cantora. Em alto e bom som e na sua mais plenitude definição. E por que e para quê limitá-la a um gênero quando se sabe que ela domina tantos outros? Se precisar for classificá-la de alguma maneira, a única palavra possível seria: brasileira. Então assim a chamemos: Leny Andrade, uma cantora brasileira. Assim como é uma cantora brasileira que fez mais sucesso (com merecimento) do que em solo americano, a própria Leny diz que é uma aspirante cantora americana. Nada nada e nada longe da verdade. Leny canta desde 1983, quase todo o ano, em Nova York. E tanto que, em 1993, dez anos depois, já com o Green card na bolsa, resolveu montar por lá um agradável espaço em formato de moradia onde pudesse pousar o corpo durante suas longas e lotadas temporadas no Ballroom, no Blue Note, no Town Hall e nas demais casas que disputavam o seu canto. Era também uma base confortável para onde retornar depois de se apresentar em Washington, em Los Angeles ou em cidades americanas. E até hoje é assim, com a diferença de que seu principal placo em Nova York passou a ser a casa de jazz mais respeitada do mundo: o Birdland, assim chamada para homeagear o saxofonista Charlie Bird Prker. Nenhuma cantora pode ser comparada à Leny, exceto Ella Fitzgerald. Excelente cantora que é, Leny é uma cantora que improvisa em vocais, lógica e assimétricas em explosivo dinamismo. Nascida no Rio de Janeiro em 1943, a cantora foi criada em conjuntos habitacionais e desde pequena sonhava em ser cantora. Ingressou na Bossa Nova tendo dois pontos centrais e cruciais: de um lado João Gilberto, que mantinha uma postura cool, equilibrada, simplista, justa e exata e de outro lado tinha a linha feminina que contrariava com a de Nara Leão, Dulce Nunes, Astrud Gilbert, Odette Lara, Wanda Sá, Joyce, Miúcha, Elza Soares, Elis Regina. Mas ao mesmo tempo que Leny tinha o exemplo e companheirismo de João Gilberto, ela se dividia entre outras inspirações e vertentes masculinas, como Wilson Simonal, Jorge Ben e Emílio Santiago. Mas ao adentrar na Bossa Nova, Leny provou que era Sambop, estilo totalmente diferente do estilo banquinho e violão. Um dos maiores desmentidos à história de que a bossa nova era cantar baixinho foi a entrada de Leny no movimento: cantar baixinho não era com ela. E mesmo assim, Leny foi a mais consagrada dentro desse time de cantoras extraordinárias. Miéle e Ronaldo Bôscoli foram os responsáveis pelo impacto da presença de Leny em solo brasileiro, quando produziram o histórico show Gemini V, que também contava com Pery Ribeiro e o Bossa Três. Depois disso, Leny percebeu que aqui não seria seu verdadeiro palco, embora saiba da sua responsabilidade em ser brasileira: o Brasil não a respeitaria como cantora, mulher e dona de uma das vozes mais autorais de seu tempo. Fez e faz sucesso nos Estados Unidos pelo conjunto da obra e lá o povo americano a reverencia como sendo a maior cantora de jazz do mundo.

Leny Andrade – uma cantora brasileira
Por Marcelo Teixeira

sábado, 5 de agosto de 2017

A morte de Luiz Melodia


Até qualquer hora, Luiz!
FOI  como uma bomba caindo sobre minha cabeça quando recebi nas primeiras horas da manhã de ontem que Luiz Melodia havia morrido. O Brasil ficou sem Luiz e sem Melodia. Se já estava complicado ouvir música em um país descabido de música, o que será de nós agora sem Luiz Melodia? O nosso ébano, nosso Zé Bedeu, nossa voz do morro carioca e nosso negro gato se foi para tristeza de muitos. Em 2015 me encontrei com Melodia em plena Avenida Paulista, aqui em São Paulo, onde falamos sobre as diferenças entre São Paulo e Rio de Janeiro e sobre muita música. Para quem não sabe, Luiz era um grande defensor da raça negra e lutava pela igualdade de valores e pela desigualdade que assolava nosso país. Foi um encontro natural, como de dois amigos que se reencontram em um momento qualquer. Luiz Melodia atravessou por mim como quem atravessa suas músicas por nossos poros, mentes e corpo. Perdemos a voz, perdemos o encanto, o jeito danado e o soul jazz de um dos maiores e melhores cantores do Brasil. Ontem passei o dia chorando, triste, relembrando desse dia que, para mim, já era importante e agora será mais ainda. Luiz Melodia não foi um cantor qualquer e muito menos um cantor de um estilo único: Luiz fora de uma categoria ímpar, de uma excelência sem igual, de uma humildade tamanha e de uma reciprocidade igual. Desde julho do ano passado, o cantor vinha se tratando de uma doença autoimune e chegou a passar por um transplante de medula óssea. Luiz, carioca da gema, estava internado no Hospital Quinta d’Or e morreu ontem pela madrugada aos 66 anos, devido à complicações de um câncer que atacou sua medula. O cantor foi sepultado agora pela manhã no cemitério do Catumbi, Rio de Janeiro. Familiares, amigos famosos e anônimos compareceram ao velório. Ele deixa a esposa Jane Reis e dois filhos, Mahal e Hiran. Sentiremos saudades, Luiz. Muitas saudades.

O adeus a Luiz Melodia
Por Marcelo Teixeira