sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Johnny Alf Entre Amigos (2011)

Alf, um mestre brasileiro
Um pouco antes de morrer, vi Johnny Alf passar por mim no cruzamento das ruas Vieira de Carvalho e Aurora, no Centro Velho de São Paulo e fiquei com um misto de espanto com admiração e cutuquei meu amigo e disse: é o cara! Ele entrou em um bar com o que parecia ser seu irmão mais velho e o vi sumir. Um breve tempo depois veio a notícia de que Johnny Alf estava morto. E para tornar a minha angustia ainda maior, o cantor e compositor veio falecer um dia depois do meu aniversário, 04 de março do ano de 2010. Sendo um dos compositores mais prestigiados de todos os tempos, Johnny deixou sua marca dentro da MPB como sendo um cantor de enorme carisma e de uma sintonia fina entre seu piano e seu dom de compor o amor. A música de Johnny é como um antidoto que nos desperta para uma melodia sem fim de musicalidade brasileira que precisa urgentemente ser ouvida e esmiuçada por aqueles que ainda não entenderam que o Brasil foi feito por músicos de verdade. Johnny Alf era (e é!) um dos músicos mais respeitáveis deste mundo e seu ponto crucial foi batizado em discos que hoje tornaram-se raros, com epítetos de colecionador e mais valorizado fora que dentro de seu país de origem. Ao longo de sua carreira artística fez diversos amigos, verdadeiros,  cúmplices, reais e que lhe transportaram para mundos tão díspares e atemporais que é quase impossível não dizer que ele fora de fato o pai e mentor da Bossa Nova. Há profundidades em sua música. Há riqueza de detalhes em suas composições. E é tão bela quanto suas notas. Apesar do enredamento harmônico de imensa categoria, tudo soa como algo que não podia ser de outro modo, por isso apesar de tão elaborada, soa natural, mais natural do que nunca. Há amor na música de Alf, assim como há paixão, há brasilidade, há bossanovismo e há verdades. E, para ser sincero, gosto da verdade musical de Alf, gosto da brasilidade atemporal das cores musicais de Alf, gosto da beleza que ronda a atmosfera de Alf e gosto daquilo que invadia a alma do compositor como uma forma única de expressar seu lado discreto de mostrar seu lado poeta. Prova de tudo isso foi o lançamento da caixa  Johnny Alf Entre Amigos (2011 / 28,99), que reúne um verdadeiro arsenal artístico que dividiram os vocais com o grande cantor em algum momento de sua vida. Essa caixa é dividida em três CDs, que fazem uma justa homenagem a Alf, como forma de homenagear esse mestre, quase desconhecido do grande público mas com uma obra bastante significativa. Entre eles estão Leila Pinheiro, Joyce Moreno, Cida Moreira, Wanderléa, Alaíde Costa, Toquinho e Filó Machado. Um CD que precisa estar no pedestal reverenciando um dos artistas mais complexos, mais amorosos e mais humildes da música popular brasileira. Johnny Alf.
 
Johnny Alf Entre Amigos (2011)
Nota 10
Marcelo Teixeira

sábado, 24 de outubro de 2015

A hora e a vez de MC Gaspar


 
 
 
O Rap é um dos movimentos que mais traduz a periferia brasileira e em todos os lugares dos quatro cantos deste país. Através de seu grito de alerta, muitos periféricos e moradores de comunidades diversas se sentem protegidos com o estilo de música que cantam, com o estilo de vida de levam e com o orgulho que sentem ao dizerem que pertencem ao movimento. Mesmo sendo um estilo musical tido como marginalizado, criminalizado, música de preto e favelado, o Rap é um dos movimentos mais respeitados dentro da música popular brasileira, sendo um dos estilos mais próprios e organizados de todos os tempos. O pobre, negro e favelado que veem em suas letras como um mantra, se sentem protegidos com as rimas compassadas e com os trejeitos que seus líderes adornam quando cantam. As vestimentas são referências únicas, capazes de demonstrar que são diferenciados, únicos e detentores de uma marca musical que por mais que pareça segregada de outras, é um meio de defesa para dizerem que estão ali prontos para entoar uma rima em defesa do pobre, do negro, do favelado. Com críticas pesadas a diversos temas como a religião, a polícia e o mundo que os cerca, o cantor Gaspar lidera um dos grupos de Rap mais populares da zona sul de São Paulo, sendo considerado um dos ícones e precursores do movimento, com discos lançados à espreita de consagração e sendo um dos cantores do movimento mais respeitado de todos os tempos. Homenageando a África e a comunidade negra brasileira, o nome do grupo surgiu como proposta a simbolizar o Z de Zumbi dos Palmares, líder e ícone da resistência negra no Brasil. MC Gaspar é o líder absoluto desse grupo, que passou a ser visto com bons olhos por cantores do naipe de Zeca Baleiro, Céu e Emicida. Depois de 20 anos a frente do grupo que ajudou a fundar, o cantor MC Gaspar agora canta solo e lançou este ano o CD Rapsicordélico (2015 / 26,99), sendo um dos mais significativos e alternativos discos de Rap brasileiro. Há um grito de misericórdia neste CD, uma luta incessante pela democratização da música preta e uma sincronização entre Gaspar e os periféricos deste país. MC Gaspar é um arroubo de musicalidade, de personalidade, de esfinge atemporal que busca na cor escura o seu próprio grito alucinante: ele, branco, de olhos claros, se junta aos pretos para cantar pra eles e com eles. MC Gaspar é o cantor mais nobre de todos os tempos dentro do segmento musical do Rap, dando a cara a tapa para se consolidar entre os maiorais da música preta e periférica de um Brasil sem dono.

 

A hora e a vez de MC Gaspar
Por Marcelo Teixeira

                              

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A decadência moral de Joelma


A moral do ostracismo
Já vinha batendo numa mesma tecla desde quando a banda Calypso surgiu no cenário musical brasileiro: uma cantora fajuta, uma banda insossa e umas músicas bregas que não remetia em nada e a ninguém. A banda Calypso fora um grande sucesso dentro do Brasil e no Nordeste brasileiro pelo simples fato de ser uma banda pobre e sem graça e ao mesmo tempo uma banda que tinha uma cantora loura rebolando sem parar num palco qualquer e desafinando a todo momento suas músicas esdruxulas e sem conteúdo. Sim, Joelma é aquilo que representa as massas cinzentas menos favorecidas de conhecimentos, aquela aberração que sempre intimida o novo, uma cantora de baixo teor que explora o sentimento alheio com seus sentimentalismos fracos e redundantes. Pretendo não me estender tanto nesse artigo, pois não tenho mais argumentos para dizer que a pior cantora do Brasil trata-se de Joelma (e não vou atribuir todo o desprestigio a sua banda, pois os músicos não fazem parte desta semente embrionária), uma cantora que tentou monopolizar seus seguidores com pensamentos femininos, choradeira no palco e, agora, agressões verbais para com seu ex marido. Quem provocou o ostracismo da banda Calyspo fora a própria Joelma que, com seu humor negro, faz seu público agredir fisicamente Chimbinha, músico de quem gosto e aprecio por ser como ele é: autêntico e excelente guitarrista. Se tem uma pessoa que deveria colocar a mão na consciência e perceber todo o mal que fez às pessoas que estão ao seu redor, essa pessoa é a própria Joelma, que não percebe que faz um mal tremendo tanto para a sociedade quanto para a humanidade. Mas vamos lá: desde o início da banda Calypso, a cantora Joelma vêm recebendo críticas pela sua postura fora e dentro dos holofotes. Joelma é uma mãe que não gosta da filha, tornou-se evangélica e passou a perseguir os gays, destruiu seu casamento e fez com que o público virasse as costas para seu ex marido. Oras, se isso são assuntos pessoais, por que não trata-los em casa? Joelma assina um documento fatal em sua carreira ao silenciar a boca de Chimbinha e dizer publicamente que a lua a traiu, numa alusão ao seu ex companheiro. Suas danças de saias curtas agora passam a ser de calças longas, cabelos comportados e maquilagem menos carregada, dando a entender que a banda está a um passo do desaparecimento total. Óbvio que serei atacado mais uma vez por fãs enlouquecidos e por pessoas que idolatram a artista (?), mas vamos pôr os pingos nos is aqui: Joelma está estragando não apenas sua carreira musical, como pondo em risco a música popular brasileira com seus insultos e gestos sentimentais e, para complicar, contra-atacando seu lado feminino ao tentar se igualar à outras mulheres. Isso é um erro fatal para ela, que faz questão de ser vítima num momento em que tinha que ser mulher de verdade. Sua música não irá ser merecedora de qualquer ato político, muito menos de atos contra a moralidade de traições. Vamos ao exemplos mais reais: quando Marieta Severo resolveu se separar de Chico Buarque por uma suposta traição, os dois se trancaram num quarto e resolveram suas pendências. Ao abrir a porta, estavam rompendo uma separação de trinta anos. Marieta calou-se. Chico compôs a bela música Renata Maria numa alusão a suposta traição. Ambos são amigos, pais de belas e talentosas filhas. A mídia calou-se. E hoje quase não se fala mais nisso, até mesmo porque Marieta colocou sua profissão de atriz em um patamar ainda maior e Chico usou seu lado musical como primazia máxima. Quem ganhou a batalha foram os fãs de ambos artistas. No caso de Joelma e Chimbinha quem perde é aquele que mais contribuiu com seus sucessos: o fã. E é o mesmo fã que agride, bate, verbaliza e ironiza o outro. Essa foi a lição deixada pela banda Calyspo em seu tempo de existência: que a traição, para ser bem civilizada, precisa do apoio de todos para ser consentida. E sua música? Por onde anda?

 

A decadência moral de Joelma
Por Marcelo Teixeira

 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O lado B de Erasmo Carlos


Erasmo é rei no lugar do verdadeiro rei
Erasmo Carlos é um dos cantores mais populares do Brasil e o compositor que mais sucessos deu a Roberto Carlos nesses anos de musicalidade dividida entre os dois e para com o público. Se fossemos levar ao pé da letra, Erasmo é muito mais rei que o próprio rei Roberto, porque Erasmo é um cantor popular, de extrema timidez e de profunda simpatia com seu público cativo. Podemos levar em consideração também o fato de Erasmo atrair os jovens de hoje em dia em seus shows, cantando músicas antigas e novas e podendo demonstrar o quão argiloso e competente és em seu ofício. Sim, Erasmo é um cantor por excelência, um mestre em dominar os palcos, um sábio professor da magia musical e um conhecedor sistêmico da alma feminina. Dominação total sobre tudo e sobre todos, Erasmo deu um show à parte no Rock in Rio 30 Anos (2015) com seu brilhantismo roqueiro e sua altura galopante. Quem o assistiu ali no palco e pela televisão, pôde constatar a consagração de um monstro sagrado da música popular brasileira chamado Erasmo Carlos, que fez o público delirar, dançar, pular, chorar, se emocionar e cantar suas músicas com emoção e sentimentos profundos. Erasmo lançou este ano um disco que chamou a atenção do grande público em geral pela descrição que o mesmo fez sobre seu novo trabalho: o seu lado menos conhecido musicalmente. O cantor pincelou músicas que foram musicadas e que quase ninguém deu valor ou músicas que ele engavetou por diversos motivos. Eis agora que o fã mais que fã do cantor e o jovem admirador de Erasmo poderá desfrutar de Meus Lados B (2015 / Coqueiro Verde / 26,99), um disco autoral que mostra a versatilidade do Tremendão em todas as suas esferas. A aversão maior agora é abrir mão de uma vasta coleção de clássicos e mirar em seu repertorio em resgatar músicas menos conhecidas. O disco é completo e vale a pena ouvir cada faixa como se fosse a última, porque tudo soa como novo na voz de Erasmo. O formato é sensacional e bem caprichado e com um resultado perfeito, fazendo com que cada canção seja complemento da anterior. Sendo um dos melhores momentos do cantor, vale muito a pena ter um disco como este em casa, pelo simples fato do reconhecimento de Erasmo com suas músicas que tiveram pouco ou nenhum sucesso em alguma parte de sua carreira musical. Há várias surpresas, como Paralelas (Belchior), que fora lançada por Vanusa, De Noite na Cama (Caetano Veloso), grande sucesso na voz de Marisa Monte, Queremos Saber (Gilberto Gil), que ficu mais conhecida com Cássia Eller e até Gonzaguinha (Nunca Pare de Sonhar), entre outras. Erasmo mantém sua juventude de alma roqueira e coração de grande músico. Sem estrelismos e sabendo de sua importância dentro da música nacional, cismo em dizer que o verdadeiro rei da MPB é ninguém menos que o próprio Erasmo Carlos.

 

Meus Lados B / Erasmo Carlos
Nota 10
Marcelo Teixeira

sábado, 3 de outubro de 2015

O desespero de Ângela Ro Ro


Desespero ou desesperada?
Não há como negar a existência de Ângela Ro Ro na música popular brasileira, assim como não há que negar seus escândalos e suas aventuras amorosas e suas amizades esdruxulas. Ângela é uma cantora de peso, com sucessos gravados e regravados por diversos nomes de categoria refinada e que merece destaque quando falamos de música de qualidade ou de cantoras que lutaram pela inclusão da mulher na seara dominada por homens. É bem verdade que seus escândalos amorosos com a cantora Zizi Possi tornaram sua vida pública ainda mais saborosa, fazendo com que sua música ficasse em segundo plano, impossibilitando a cantora de ser uma referência musical nos dias de hoje. Antes mesmo de escrever este artigo emergencial, saí às ruas (adoro fazer isso) para perguntar quem conhecia a cantora e dez entre oito pessoas jovens não sabiam de sua existência. Ângela está esquecida do grande público, não tem gravadora, não tem patrocinador, não tem plateia e não tem fãs, porque estes debandaram para a nova safra de cantoras ou migraram para outros nomes de pesos que preferem lançar discos cada vez mais autênticos, rebuscados e completos. Mas Ângela é daqueles tipos de cantoras que não levam desaforos para casa, não tolera a intolerância do outro, não usa o modernismo para se proclamar como a detentora do saber, não aceita modismos, não acata a rivalidade, mas quando entra na briga ela sabe que é pra ganhar. Recentemente a cantora se envolveu em mais uma polêmica, humilhando fãs, rebaixando funcionários do teatro, agredindo a quem estava lhe assistindo e, para piorar a situação, revidou aos insultos que estava sendo acometida. Ângela errou apenas em uma coisa neste episódio: denegrir a imagem do Ceará, um dos cartões postais mais belos do Nordeste e se auto afirmando ser uma cópia original carioca. Tudo bem que a cantora não precisa de público para ir aos seus shows, não precisa mais provar a ninguém que sabe fazer música de qualidade e não precisa mais estar entre as grandes cantoras para estar no auge de um sucesso, mas a mesma não consegue ficar longe de um holofote. Chega a ser vergonhoso senão pecaminoso seus versos filosóficos neste lamentável caso, em que a integridade moral de uma senhora de cabelos brancos deixa transpassar para todos aqueles que a estimam. Humilhar fãs não é caráter de nenhum artista, ainda mais quando este fã é jovem e que está dedilhando em poder conhecer sua carreira. Humilhar fãs não é caráter de um artista que trilhou um caminho de longa estrada para se chegar nesse ponto da vida e se ver desesperada com tal situação. Se em 2002 a cantora lançou um dos melhores discos do ano com o sensacional Acertei no Milênio e recentemente a cantora voltou às paradas de sucesso com Compasso, sendo muito executado nas rádios de todo o Brasil, a mesma Ângela que um dia cantou Amor, Meu Louco Amor e recusou de Cazuza a música Malandragem (cantada brilhantemente por Cássia Eller) se rende a histeria do desespero compassado com a tristeza de um abismo profundo.


O desespero de Ângela Ro Ro
Por Marcelo Teixeira