sábado, 28 de março de 2015

Ney Matogrosso não empolga em disco ao vivo


O óbvio do mesmo
É sempre assim: Ney lança um disco de inéditas, aguarda a aceitação e a degustação do público e em seguida lança o mesmo disco em versão ao vivo. Isso já vem acontecendo na carreira do cantor há um bom tempo, sempre com grande repercussão e sendo maior ainda que o disco de origem gravado em estúdio. Talvez a mais bem sobrevinda aceitação seja o disco Ao Vivo, gravado em 1999, após o mega sucesso Olhos de Farol explodir e trazer de volta um Ney Matogrosso escondido no seu tempo. Depois dessa data, a vida musical de Ney tomou um novo rumo e a sequencia de discos em estúdio e logo em seguida um registro ao vivo tornaram-se marcas registradas de sua discografia. Assim como Beijo Bandido Ao Vivo e Vagabundo Ao Vivo, que tinham lá seus atrativos para que o registro ficasse diferente do disco de estúdio, Atento Aos Sinais Ao Vivo (2014 / Som Livre / 26,90) não repete o mesmo feito: Ney trouxe novas capas, novas luzes, novas malemôlencias, novas tendências, mas o que se vê aqui é uma cópia fiel do disco em estúdio, porque não há uma divisão do original para o disco ao vivo. Ou seja, Ney reportou todo o segmento de Atento aos Sinais para o disco Ao Vivo, não tendo a criatividade de ao menos embaralhar, misturar, confundir ou surpreender ao público que ali estava no momento da gravação ou até mesmo os que posteriormente comprariam seu disco. Há, sim, um jogo de sensualidade em algumas faixas do disco, mostrando que Ney, no auge de sua carreira e de sua idade, ainda persiste em se mostrar o quão articuloso e sensual é. Mas de nada adiantou tudo isso, pois o disco ficou parecido (e muito) com a do primeiro grande registro de 1999. Seu lado político floresceu e Vida Louca Vida, de Bernardo Vilhena e um certo Lobão faz pouca diferença sobre o álbum, assim como as versões canhestras de Two Naira Fifty Kobo (Caetano Veloso) e Ex – Amor (Martinho da Vila). A impressão que se passa, é que o disco foi feito arrastado e às pressas, tendo em vista que a música Tupi Fusão (excelente por sinal) foi cantada de forma rápida e rasteira. Mas a criatividade de Ney vai além de tudo isso e, para tanto, incluiu Astronauta Lírico (Vitor Ramil), fazendo aqui um diferencial extraordinário em todo o disco. Mesmo assim, o disco não merece destaque algum pela simples forma de não trazer ao público a sensação de novidade, da explosão de Ney no palco, da testosterona que existe dentro de si e nem a magnitude de um senhor com mais de 70 anos transvestido no palco. Tudo se repete. E Atento Aos Sinais Ao Vivo se repetiu a versão do óbvio.

 

Ney Matogrosso não empolga em disco ao vivo / Ney Matogrosso
Nota 5

sábado, 21 de março de 2015

O tempo de Ludmilla é hoje. E amanhã?


Ludmilla hoje, amanhã e...
Reduto especializado principalmente por homens, o funk está sendo tomado pelas mulheres que querem (ou tentam) revolucionar o mercado fonográfico com suas expressões marcantes, seus cabelos volumosos e seus batons florescentes. O tal funk ostentação nunca esteve tão em voga como nos dias atuais e isso se deve a crescente massa adolescente, que encontraram nesta batida (im)perfeita, uma maneira de protestar contra algo, a desculpa esfarrapada de encontrarem os amigos para uma noitada, para beijos furtivos e para a dança, muita dança. Ludmilla entrou neste terreno hostil e está aproveitando todas as mazelas que a música descartável e sem prioridade alguma de crescimento cultural poderia lhe retornar. Lançou um CD que teve uma grande aceitação imediata do público, ofuscou a cantora Anitta, roubou a cena em todos os espetáculos televisivos, ganhou notoriedade do dia para a noite, ficou mais bonita, menos caricata, deixou de ser dublê de uma cantora americana e ganhou madeixas louras, volumosas e junto com tudo isso surgiu a timidez. Ludmilla é hoje o que a Anitta representou no início de sua carreira: uma grande ostentação musical, uma cantora que surgia dos guetos, branca, bonitinha, mas sem conteúdo algum. Ludmilla é o oposto de tudo isso: mesmo sua música sendo distante do verdadeiro funk, a cantora consegue driblar os grupos sensacionalistas e tira de letra sua nova forma de se fazer música: canta como as cantoras negras do passado, não é vulgar em seus passos de dança e suas músicas são agraciadas pelo melhor do funk pop da atualidade. Hoje é o tempo de Ludmilla e esse tempo lhe trouxe responsabilidades futuras, que requer superar o estrondoso sucesso que faz hoje. Se isso não vir a acontecer, a cantora estará fadada a ser marionete do egocentrismo musical, que lhe colocaram na grande roubada de patrocinarem seu sucesso imediato. Mas pelo andar da carruagem, aposto que Ludmilla virá em breve com um novo CD e mais uma vez um novo sucesso. Talvez não arrebatador como o charmosinho Hoje, mas compensdor para sua voz. O tempo, por hora, está favorável à ela. Mas até quando?

 

O tempo de Ludmilla é hoje. E amanhã?
Marcelo Teixeira

sábado, 14 de março de 2015

Chitãozinho e Xororó estragam obra de Tom Jobim


Homenagem e tédio sobre Tom Jobim
Se Tom Jobim estivesse vivo, na certa estaria triste e chateado em qualquer canto do Rio de Janeiro ou tentando dizer onde foi que eu errei? Mas Tom está morto e na certa ele está se revirando lá no céu com Vinicius de Moraes, numa conversa demasiadamente risonha, tentando mandar uma carta telepática para seus fãs, ressaltando para ficarmos calmos, pois esta fajuta homenagem que a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó fizeram será passageira. E assim espero. O pai e tio de Sandy e Júnior fizeram questão de estragar a incrível obra de Tom Jobim, colocando por terra abaixo todo o prestígio e sabor de cada nota, cada respiração, cada sensação e cada sílaba cantada em verso. Se não bastasse, a dupla resolveu colocar no título o estranho nome de Tom do Sertão, sabendo todos que Tom Jobim nunca pisou em searas sertanejas. Sim, Chitãozinho e Xororó erraram ao homenagear um dos maiores compositores deste Brasil, erraram ao abordar músicas como Águas de Março e Eu Sei que vou Te Amar e erraram em escolher capas horrendas com teor caipira. Tom Jobim era muito mais que isso: era a essência de uma qualidade musical muito superior a de seu tempo, tendo a capacidade incrível de ser um dos pais da Bossa Nova, tendo a originalidade de lançar cantoras magistrais e fazer com elas duetos sensacionais. A busca incessante de Chitão e Xororó por novas tendências musicais revela o quão a dupla está inepta a novas musicalidades de seu próprio cancioneiro. E resolveram mastigar e triturar a obra de Tom, artista que não combina com a musicalidade da dupla sertaneja. Deterioraram a obra de Tom, arranharam notas, pisaram em falso sobre músicas já imortalizadas por grandes vozes e fizeram deste álbum, Tom do Sertão (2015 / 27,99), ser o pior lançamento do ano. Quando um determinado cantor não conhece a obra do homenageado, resulta nisso: um disco fraco, sem qualidade, feito às pressas, sem condição de notas inspiradoras e sem a essência exigida por amantes da verdadeira música popular brasileira. Sim, Chitãozinho e Xororó pisaram em ovos, pensando eles que esses ovos eram inquebráveis.

 

Tom do Sertão / Chitãozinho e Xororó
Nota 3
Marcelo Teixeira

sábado, 7 de março de 2015

Cadê a essência de Tiago Abravanel?


Cadê a essência?
Ainda que Tiago Abravanel, o neto ilustre de Silvio Santos, tente se distanciar da imagem e semelhança de Tim Maia, a figura espelhada do cantor do século vinte e um acaba se esbarrando na figura musical e mítica do rei do soul brasileiro do século vinte. Tiago Abravanel ficou marcado definitivamente pela imagem de Tim, o que pode ter lhe causado um certo prestígio e desconforto em sua carreira. Lançado recentemente o single Eclético, o cantor e ator tenta, propositadamente, se desligar por completo da alma e do peso nas costas de Tim, já que hoje em dia é quase impossível não olhar para Tiago e não se lembrar de Tim. Tarefa árdua será retomar sua própria personalidade, já que Tiago Abravanel ainda não se mostrou a que veio como cantor, mesmo tendo uma voz sensacional e um carisma incrível. Não é fácil ser cantor em um país hoje dominado por cantoras e é mais difícil ainda tentar emplacar um sucesso tendo a imagem de uma figura atemporal da música popular brasileira à sua frente. O tempo não será amigo de Tiago, que tenta, a todo custo, correr do vulto quase mística de Tim, cantor que embalou sucessos atrás de sucessos e que hoje se tornou referência na música brasileira. Ainda que tente ser um bom cantor, Tiago deixa a desejar como interprete, perdendo a sua essência e sua qualidade (mesmo tendo uma boa voz, mas um péssimo repertório) e o que salva é o seu carisma, sempre inabalável e com um alto astral imprevisto. Mas Tiago precisa repensar em sua carreira musical como um todo, senão ficará sempre a desejar em questão de música. Mesmo ganhando o Prêmio Qualidade Brasil em 2012 nas categorias melhor ator, direção e musical, o musico não ganhou o de melhor cantor, mesmo sendo considerado pela crítica especializada como um dos melhores da atualidade. Dançarino e ator eventual, Tiago é um dos poucos artistas que já coleciona, em apenas cinco anos de carreira, elogios e mais elogios à sua caminhada artística bem sucedida. Porém, o melhor elogio ainda não veio, porque seu CD não merece elogio nenhum.

 

Cadê a essência de Tiago Abravanel?
Marcelo Teixeira