quarta-feira, 29 de maio de 2013

Estopim, o melhor CD de Ná Ozzetti

Estopim enriquece a MPB
Lançado em 1999, Estopim é um dos trabalhos de maior repercussão da cantora paulistana Ná Ozzetti. Dona de uma sonoridade acústica (violões, sopros, baixo, percussão), o disco revelou sucessos como Crápula, Capitu, que fora gravada com sabedoria por Zélia Duncan, Ultrapássaro (que batiza o disco de seu irmão, o instrumentista, cantor e arranjador Dante Ozzetti) e Canto em qualquer canto, esta última gravada também por Mônica Salmaso e Ney Matogrosso e que intitula o conjunto CD/DVD do ex-Secos & Molhados. Este CD é resultado de um processo de uma época silenciosa, já que Ná vinha de um silêncio perturbador de um jejum de quase três anos e de discos praticamente meros linguísticos, como foi o caso de , lançado em 1994 ou de Love Lee Rita, lançado em 1996 em homenagem à rainha do rock. Algumas das músicas foram inspiradas na sonoridade da banda com quem fazia shows naquele momento. As letras são de parceiros eternos da cantora, como o inesquecível Itamar Assumpção, e os amigos Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik. O saudoso Itamar, da sua forma, ditou por telefone as letras de Canto em qualquer canto e Sanfoneiros serelepes. Além dessas canções, Ná escolheu umas parcerias do Dante com o Luiz e o Zé Miguel.

Originalmente composto de 14 faixas, Estopim foi produzido por Ná e por Dante Ozzetti (que também assumiu o violão de nylon), e contou com os tarimbados Caíto Marcondes (percussão), Geraldinho Vieira (baixo) e Kiko Moura (violão de aço), além dos convidados especiais de Dimos Goudaroulis (violoncelo), Fábio Tagliaferri (viola) e Marta Ozzetti (flautas). André Magalhães (bateria em Capitu), o parceiro Luiz Tatit (voz em Estopim) e a cantora e parceira Suzana Salles (voz em Princesa encantada) também participam do CD.

A música Nosso Amor é uma embolada maravilhosa que fala de amores perdidos e fofocas alheias, um amor que não cansa de durar, mas que é falado aos quatro cantos. A triste Outra Viagem, de Miguel Wisnik é uma viagem além do que nossa vista possa alcançar, um tempero refinado de uma embarcação referida ao tempo de ventos e naturezas que ainda podemos almejar. A voz de Ná nesta canção é de arrepiar e o violoncelo de Dimos Goudaroulis combinando perfeitamente com o violão de Dante Ozzetti faz toda a atmosfera ficar repleta de mistérios, como se a canoa referida na canção estivesse por chegar a qualquer momento.

Ultrapássaro é uma deliciosa canção de Miguel Wisnik com Dante Ozzetti e a melodia desta canção faz com que a letra nos transporte a um mundo imaginário, capacitado de pássaros, sertão, carvão, terra, nuvem! Brilhos para o som final, que é divino e com a bela voz de Ná nos vocalizes.  O Tapete é uma canção irônica, se é que assim posso chamar. Com o bárbaro início de um amor que trouxe um tapete lá das bandas do Iraque, a música tem um sotaque forte do mundo árabe, onde o tapete tem forte influência cultural, assim como o camelo citado na música.

Eu Voltarei, Viu é uma emocionante viagem no tempo de quem estava longe de sua terra e a deixa de um jeito e quando volta a encontra de outro formato, havendo um estranhamento incabulado e assustador. A música Desfile denota tudo aquilo que é representativo em uma pessoa nos dias de hoje e de onde esta origem vem. Assim como na música, há um desfilandeiro de aprendizagem a qual chegou a personagem, demonstrando sua satisfação e orgulho por seus ancestrais e suas origens. Uma bela canção.

A sacada genial de Itamar Assunpção é destacada em Sanfoneiros Serelepes, cujo faz uma bela e justa homenagem aos veteranos sanfoneiros, fazendo uma mistura generalizada entre Mozart, Verdi e Wagner com Osvaldinho, Dominguinho e Hermeto Pascoal, numa alusão de que sanfoneiros são alegres e poetas seguem tristes. Toque de Reunir reúne todas as facetas de quem precisa tomar rumo de vida e fazer as escolhas que é preciso fazer sem medo.

Estopim é o marco da carreira de Ná Ozzetti. São belas canções, ótimos arranjos, excelentes melodias, perfeitas parcerias. Itamar Assunpção ainda estava vivo para compor belas músicas e nos brindar, ocultamente, com um dos melhores discos da MPB.

Estopim – Ná Ozzetti
Nota 10
Marcelo Teixeira

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