segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Bruno e Marrone: o melhor do sertanejo atual


Bruno e Marrone: os melhores da atualidade
Não gosto de música sertaneja. Não gosto de duplas sertanejas. Não gosto de cantores sertanejos. Mas são poucos os cantores e as duplas sertanejas que conseguem ganhar meu respeito e minha credibilidade quando os ouço cantar. Aliás, respeito e muito quem gosta desse estilo musical, mas confesso que não é a minha praia. Eu como pessoa, garanto que não compraria nenhum CD de algum cantor sertanejo para ficar ouvindo em casa e mesmo se fosse adepto ao mundo musical via internet, garanto que não baixaria suas canções pagando ou as tendo gratuitamente. Eu como crítico de música, garanto que com o passar do tempo e depois de quatro anos de Mais Cultura Brasileira e com o auxílio da Pedagogia, pude parar para observar e compreender e distinguir o que é bom e ruim daquilo que é bom e ruim. Bruno e Marrone, cantores típicos sertanejos e populares que conquistaram o Brasil com seu cantar, são dos pouquíssimos cantores sertanejos na qual posso dizer que gosto. Mas não compraria um disco seu ou de qualquer outro cantor desse estilo. Aliás, alguns anos atrás, bradei ao lado de Chico César e Rita Lee quando lançaram o EP Odeio Rodeio (2005), disco este que criticava durante o estilo sertanejo. Mas vamos aos acertos de contas: vejo muitos blogs e sites e até mesmo algumas pessoas dizerem sertanistas quando se referem aos sertanejos. Isso é uma lógica que não se enquadra aqui e em qualquer lugar, porque sertanista é aquele explorador que se aventuram no interior do sertão. Já os sertanejos são aqueles que vivem no sertão nordestino, do agreste ou área rural. No entanto, os sertanejos aqui citados são sertanejos natos, pois em suas biografias, viveram no sertão. Lançando Isso cê não conta (2015), a dupla conseguiu um feito ainda maior do que os alcançados em discos anteriores: conseguiram fazer com que sua música fique impregnada em nossa memória e que a mencionemos em algum momento de ironia. Essa brincadeira acaba sendo gostosa e até admirável, mas não podemos dizer que é um bom disco ou uma canção que traga conceitos culturais. Raramente eu critico positivamente uma dupla sertaneja e hoje eu percebo que demorei um pouco para poder criticar uma dupla que me faz bem tanto fora como dentro da nossa cultura brasileira.

 
 
Bruno e Marrone
Por Marcelo Teixeira
 
 

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A asa de Mariana Aydar



Pedaços de Aydar
Há tempos venho dizendo que Mariana Aydar é uma das melhores cantoras surgidas nesses últimos anos (juntamente com Roberta Sá) e o lançamento de seu quarto CD é a mais prova de que seu talento transcende a imaginação de todos nós perante a sua vocação maior. Pedaço duma asa (2015 / Brisa/ 29,99) é um dos mais autênticos discos lançados no ano passado e não dei vazão para esse detalhe não por descuido, mas para que eu pudesse abrir o Mais Cultura Brasileira de 2016 com esse artigo. Mariana Aydar reinventa o samba de Nuno Ramos na sua melhor forma, na sua melhor metátese e no seu melhor ângulo, dando a impressão de que tudo aqui cantado já estava preparado para que ela as cantasse de sua maneira mais jovial, serena e ao mesmo tempo único.  Há muita música de boa qualidade, poesia de tamanha delicadeza e artes visuais igualmente vistas em Peixes, Pássaros, Pessoas (2009), que para mim, é o melhor disco de carreira da cantora e que já vinha um pouco do arrebatador Nuno Ramos. Pedaço duma asa é um disco inclassificável, digno de uma responsabilidade mutua entre voz e poesia, arte e samba, Mariana e Nuno. O primeiro encontro de Mariana e Nuno foi em 2007. Logo, ela passou a gravá-lo em seus discos e emprestou sua voz à sonorização de Bandeira Branca, instalação de Nuno exposta na 29ª Bienal de São Paulo de 2010. Em 2013, foi convidada para participar do projeto Palavras Cruzadas, de Marcio Debellian, cuja proposta era reunir, num espetáculo, artistas da palavra, da música e da imagem. Mariana não hesitou em escolher Nuno. A partir do espetáculo nasceu Pedaço duma asa, quarto disco de estúdio da cantora, que mergulhou no universo poético do compositor como se as canções tivessem sido feitas pra ela. No release do disco, Debellian apresenta Pedaço duma asa como um trabalho que amplia o que se entende por parceria e composição, indo além do tradicional caso de uma cantora que grava um disco homenageando um compositor. Trata-se de um trabalho de dois artistas que pactuaram alcançar toda a potência poética do repertório que criaram. Sim, criaram, no plural. Pois a intérprete se mostrou ativa durante toda a elaboração do repertório, desde a seleção das músicas até a identidade que cada uma delas viria a assumir. E nesse pedaço qualquer de asa, Nuno brilha, Mariana brilha e o ouvinte brilha triunfal.

 

Pedaço duma asa (2015) / Mariana Aydar
Nota 10
Marcelo Teixeira