sábado, 22 de julho de 2017

Os trunfos de Zizi Possi

Zizi Possi: diva das divas
Trabalhando a música de forma mais acústica e valorizando grandes clássicos da nossa música popular brasileira com um jeito único de cantar e expressar o sentimento por meio de canções que entrelaçam perfeita e nitidamente com o timbre de sua voz, Zizi Possi é considerada hoje uma das cantoras do primeiro time do cenário nacional, com toda a sofisticação e riqueza cultural que conseguiu angariar desde os anos de 1980, quando de fato adentrou na cultura do povo brasileiro. Em 1978, período fértil para a MPB, na qual despontavam vários novos artistas, como Alceu Valença, Marina Lima, Zé Ramalho e Elba Ramalho, o lirismo cristalino da voz de Zizi dava o tom do recado em músicas imortalizadas em sua voz com requintes de pluralismo acentuado acerca do amor, do romantismo, da aproximação entre o real e o imaginário do poder de seduzir e ser seduzido por meio do ar teatral e das mãos ao vento que a cantora sentenciava categórica e perfeitamente.  Dona de uma privilegiada de soprano, Zizi conseguiu dar um marca própria às interpretações de Meu Amigo, Meu Herói (1980), primeira canção das muitas de Gilberto Gil que gravou ou, ainda, Eu Velejava em Você, grande sucesso de Eduardo Dusek e Luiz Carlos Góes, que gravou em 1981, entre outras. Mas antes do sucesso vir bater à sua porta, em 1978 a cantora lançou o emblemático e atemporal Flor do Mal, que foi recebido mornamente pelos críticos da época, mas não pelo público, que vinha sendo seduzido por cantoras como Gal Costa e Elis Regina, seguindo a mesma linha cultivada pela autonomia e perfeccionalismo profissional. Assim como Gal e Elis, Zizi é uma intérprete e utiliza a voz como instrumento e recurso de trabalho e, perante isso, era sempre comparada às duas cantoras, ficando até em vantagem musical quando Elis morreu, em 1982. Chico Buarque a concebera ao estrelato dos estrelatos com a imortal e arrepiante Pedaço de Mim, cujo fizera dueto com o cantor em 1979, levando o país ao choro conturbado e generalizado.  Em 1982 gravou Asa Morena, música que a representou definitivamente ao grande público devido à sua interpretação sensacional e a grande intercalação entre sua voz e a canção regional, que pedia grande apelo comercial, mas que, devido a isso, não perdeu o seu caráter oficial de ser popular. Outro salto de qualidade foi proporcionado, novamente, pelo padrinho Chico, que a convidou para participar do disco em parceria com Edu Lobo, O Grande Circo Místico (1983), onde interpretou a faixa principal, O Circo Místico.  Tão dilacerante quando Pedaço de Mim, essa canção, que aborda o sobrenatural e o universo mítico do circo é até hoje um dos momentos mais emocionantes na carreira de Zizi. O perfil de Zizi Possi sempre foi o de estar antenada à sua geração musical e, por esse motivo, gravou de Djavan à Marina Lima, passando por João Bosco, Tom Jobim e Lulu Santos. Que, graças à sua personalidade musical, ganharam novo formato e nova roupagem. No entanto, o cansaço de estética pop, o axé, o pagode, o sertanejo e outros estilos musicais que não se encaixavam com o estilo único da cantora com o rótulo de cantora de excelente recurso vocal e repertório refinado, fizeram com que a cantora arregaçasse as mangas e desse uma grande virada em sua carreira. A partir de uma nova mudança musical nos anos 1990, sendo totalmente diferente daquela de início de carreira, Zizi passa por uma grande transformação musical e reconhece que seu estilo é único e intransferível. O refinamento na concepção e na produção de seus novos trabalhos deram a tônica à obra de Zizi desde então. Mas sem o apoio da máquina das grandes gravadoras, a cantora tomou as rédeas de sua carreira tornando-se produtora independente. O caminho aberto por ela nessa nova trilha foi o disco Sobre todas as coisas (1991), mas a consagração mesmo veio com Valsa Brasileira (1993), elogiado em todos os segmentos e veículos de mídia por ser um disco que prima pelas pérolas da MPB. O refinado Mais Simples (1996) se interpõe ao figurado Bossa (2001) e que se consagra com Per Amore (2006), disco que remete ao seu passado de origem italiana. Seu último trabalho foi o espetacular E o mar me leva (2016), em que reúne composições de Zeca Baleiro com produção artística de Swami Júnior, que veio embalado com o DVD Na Sala com Zizi, registro bem sucedido em sua carreira. A carreira magistral de uma grande diva da MPB se faz presente em todos os âmbitos de sua carreira magistral, com ênfase maior em sua categoria profissional e sua límpida e cristalina voz. Viva Zizi Possi!
 

Os trunfos de Zizi Possi
Por Marcelo Teixeira

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