sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Milton Nascimento comemora 50 anos de carreira em disco sublime


50 anos de carreira do Bituca
Milton Nascimento sempre disse que a música e ele não tem idade e sendo por este aspecto, o cantor e compositor preferiu resumir 50 anos de carreira em um único disco, chamando aqui os representantes deste universo infinitivamente particular, para celebrar o melhor e mais audacioso projeto da MPB: o Clube da Esquina, marco definitivo da música popular brasileira num todo.  Aqui tudo respira ao som do Clube, que esteve presente com Bituca no início de sua carreira e a facilidade em escalar os companheiros não foi a mesma para decidir o repertório. Canção da América, Maria, Maria, Coração de Estudante, Nos Bailes da Vida, Travessia, Para Lennon e McCarteney, todas estão aqui, em roupagens novas e algumas em duetos com Lô Borges. A melâncolia de Cais, já retratada por Elis Regina, é a melhor parte do disco e pudera, acaba sendo a mais trabalhada de todo o CD. São 50 anos de estrada, ou melhor, 51, repisados em 23 números. Compositor carioca de alma mineira, Milton Nascimento lançou neste ano 50 Anos de Carreira – Uma Travessia (2013 / Universal Music / 38,99), registro ao vivo do show capturado no Rio de Janeiro. Com toques de rock e jazz, o cantor recicla seus principais sucessos e recebe o convidado mais ilustres dessa caminhada: Lô Borges, sócio/amigo/irmão do Clube da Esquina. O tom jazzístico é perceptível nos arranjos sofisticados de músicas como Vera Cruz (1969) e Lília (1972).Já o rock predomina quando Lô Borges está em cena para reviver músicas como Nada Será Como Antes (1972 e Para Lennon e McCartney (1970), tema turbinado com levada elevada. Além de Lô , outro convidado ilustre é o maestro, pianista e amigo mineiro Wagner Tiso, o arranjador de canções e momentos áureos do cantor, que prioriza com maestria as canções de Bituca.

 

Uma Travessia / Milton Nascimento
Nota 9
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vivo Feliz (2003), de Elza Soares


 

Elza: homenagem ao Rio
Falar de música negra é falar de Elza Soares. Falar de música popular brasileira é falar de Elza Soares. Falar de música por um todo é falar, essencialmente, de Elza Soares. A cantora se orgulha em ser negra, em ser do morro, em ser mulher, favelada e cantora. Reconhecida e tarimbada como a voz do milênio por uma emissora americana, Elza Soares lançou Vivo Feliz (2003 / Trattore / 25,99) em grande estilo, logo após lançar Do Coccix até o Pescoço (2002) em que foi obrigada a voltar aos palcos brasileiros pelas mãos de Chico Buarque e Caetano Veloso. Não foi a toa que Elza regravou dois medalhões da MPB, como Volta Por Cima (Paulo Vanzolini) e Opinião (Zé Ketti), talvez para dar algum recado diretamente a alguém. Seja como for, Vivo Feliz retrata, acima de qualquer suspeita, o momento mais mágico e feliz de uma grande artista (esquecida por muitos) como Elza Soares. Retratando o Rio de Janeiro que tanto ama através da capa e da música Rio de Janeiro, composta por ela e pelo então namorado, Anderson Lugão, o álbum veio com uma sonoridade mais eletrônica que o anterior e isso fez com que muitos fossem ouvir o novo trabalho da cantora. O bom resultado é que Elza agregou valores e referências neste disco, como a vinda de compositores mais novos, casos de Nando Reis e Fred 04, que fizeram toda a diferença aqui com suas jovialidades. O outro lado bom deste disco é o lado compositora de Elza, cujo compôs a salsa Somos Todos Iguais em um clima de (re)visita ao passado e a sensacional derradeira Lata D’Água, que fecha o disco em grande astral. O disco é perfeito e sem retoques, desde a introdução até os momentos em que Elza brinca com sua voz, passando pelos pontos eletrônicos exigidos pelo produtor Arthur Joly. Resultado de grandeza para Elza Soares, que fez um disco pensando na sua sonoridade e na ampliação de seus fãs. E para quem duvidava do estado de graça de Elza Soares, basta ouvir o disco para saber...

 

Vivo Feliz / Elza Soares
Nota 10
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A beleza de Perto (2003), de Olivia Gênesi


Sofisticação em disco perfeito
Quando o ofício de cantar passa a ser a pluralidade maior de uma cantora, esse objetivo transpassa as barreiras horizontais de qualquer esfera e sua música chega aos nossos ouvidos como uma pluma ou um algodão, nos aconchegando e adentrando em nossos poros toda a suavidade transpiratória e transitória que ali existe. Olivia Gênesi é uma dessas cantoras que me orgulham e muito pelo seu cantar e por sua luta para com a música popular brasileira e sua sonoridade é tão rica e tão bela e tão serena, que fico feliz e embasbacado quando a ouço. E hoje faço questão de dizer que tudo começou com este disco, intitulado Perto (2003), o segundo de sua carreira, que hoje, passado dez anos de seu lançamento, eu pude estar lado a lado com a cantora e compositora a qual idolatro muito. Perto foi o pontapé inicial para que eu me debruçasse na carreira desta cantora sensacional e foi o estopim para algumas mudanças em minha vida, como o caso da música Perto, cujo fala de um amor que deveria estar por perto, englobando a saudade e a sensação de solidão. Neste disco, Olivia nos brinda com o melhor de sua música, com canções meramente belas e marcantes como um todo, demonstrando virtuosidade e capricho nas melodias e na voz. Um disco que traz mensagens impactosas e altíssimas notas emocionais, carregadas de sentimentos aflorados e de voz cristalina. Inovando a música popular brasileira, Perto foi além dos horizontes que permeiam a vida de uma cantora: ela chegou a pontos estratégicos de ultrapassar limites e chegar a ouvidos que até então se limitava a ouvir os grandes cantores da MPB. A música de Olivia me faz bem e esse bem é notório quando a ouço. E ouvir Olivia é estar perto do semblante crucial entre o que é belo e o que é satisfatório. Sua sensibilidade ácida e pura é de uma belza rara em canções como O Claro dos Relâmpagos e Nas Asas da Música. E sua personalidade musical é gigantesca em discos como este, aonde a música se faz presente, o brilho de sua voz se faz autêntico e a magnitude de uma grande cantora se faz presente.

 

Perto / Olívia Gênesi
Nota 10
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A música negra brasileira

Dia de festa ao povo negro
A cultura brasileira e, logicamente, a rica música que se faz e consome no país estruturam-se a partir de duas básicas matrizes africanas, provenientes das civilizações conguesa e iorubana. A primeira sustenta a espinha dorsal dessa música, que tem no samba sua face mais exposta. A segunda molda, principalmente, a música religiosa afro-brasileira e os estilos dela decorrentes. Entretanto, embora de africanidade tão expressiva, a música popular brasileira, hoje, ao contrário da afro-cubana, por exemplo, distancia-se cada vez mais dessas matrizes. E caminha para uma globalização tristemente enfraquecedora. A presença africana na música brasileira, pelo menos em referências expressas, vai se tornando cada vez mais rarefeita. Aparece, via Jamaica, no carnaval dos blocos afro baianos e nos sambas-enredo das escolas cariocas e paulistanas – especialmente nas homenagens a divindades. Mas nada de modo tão intenso como ocorre na música que se faz em Cuba e em outros países do Caribe. Mesmo com a explosão comercial da chamada salsa, a partir de Porto Rico e via Miami, na música afro-caribenha de hoje é raro um disco que não contenha pelo menos uma cantiga inspirada em temas da religiosidade africana e interpretada com fervor apaixonado. Tito Puente, Mongo Santamaría, Célia Cruz, Rubén Bladez e muitos outros são exemplos fortes, o mesmo não acontecendo no Brasil, pelo menos na música mais largamente consumida. No Brasil, o pagode, a partir da década de 1990, apesar da voga inicial de grupos cujos nomes, mas só os nomes, evocavam a ancestralidade africana (Raça Negra, Negritude Júnior, Suingue da Cor, Os Morenos etc.), entendemos que foi se transformando em um produto cada vez mais fútil e imediatista para se preocupar com etnicidade. E isto talvez por conta do conjunto de estratégias de desqualificação que ainda hoje sustentam as bases do racismo antinegro no Brasil. É esse racismo que, no nosso entender, vai cada vez mais separando coisas indissociáveis, como o samba e a macumba, a ginga e a mandinga, a música religiosa e a música profana, desafricanizando, enfim, a música popular brasileira. Ou africanizando-a só na aparência, ao sabor de modas globalizantes made in Jamaica ou Bronx.

 
Clementina de Jesus, cantora nascida em Valença, RJ, em 1901, e falecida no Rio, onde vivia desde menina, em 1987, foi uma grande presença de personalidade negra no Brasil. Descoberta para a vida artística já sexagenária, afirmou-se como uma espécie de elo perdido entre a ancestralidade musical africana e o samba urbano. Seu trabalho de maior expressão fez-se através da interpretação de jongos, lundus, sambas da tradição rural e cânticos rituais recriados, como o já Benguelê, de Pixinguinha. Logo depois do surgimento de Clementina, outra importante interseção entre a música popular brasileira e a religiosidade africana ocorre com os afro-sambas (Canto de Ossanha, Ponto do Caboclo Pedra Preta etc) lançados por Baden Powell e Vinícius de Moraes em 1966. E é o mesmo Vinícius que, agora em parceria com Toquinho, veio a lançar um Canto de Oxum, em 1971, e um Canto de Oxalufã, em 1972. Daí em diante, a vertente começa a se rarefazer, com raras incursões, como a do cantor e compositor Martinho da Vila, que, em um de seus discos do final dos anos 70, registrou uma seqüência de cantigas rituais da umbanda.

Clara Nunes nasceu em Minas Gerais no ano de 1942 e morreu no Rio de Janeiro no ano de 1983 e foi uma das maiores cantoras do Brasil, considerada uma das maiores influências do país na música negra. Pesquisadora damúsica popular brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, Clara também viajou várias vezes para a África, representando o Brasil. Conhecedora das danças e das tradições afro-brasileiras, ela se converteu à umbanda. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias, derrubando um tabu segundo o qual mulheres não vendiam discos. Clara e Clementina gravaram juntas um partido alto reverenciando a música negra, o lundu, os atabaques. E festejaram juntas este feito.

Desafricanização, como sabemos, é o processo por meio do qual se tira ou procura tirar de um tema ou de um indivíduo os conteúdos que o identificam como de origem africana. À época do escravismo, a principal estratégia dos dominadores nas Américas era fazer com que os cativos esquecessem o mais rapidamente sua condição de africanos e assumissem a de negros, marca de subalternidade. Isto para prevenir o banzo e o desejo de rebelião ou fuga, reações freqüentes, posto que antagônicas.O processo de desafricanização começava ainda no continente de origem, com conversões forçadas ao cristianismo, antes do embarque. Depois, vinha a adoção compulsória do nome cristão, seguido do sobrenome do dono o que representava, para o africano, verdadeira e trágica amputação. Então, vinham as distinções clássicas entre da costa e crioulo, entre boçal e ladino. Acreditamos que a música popular brasileira, de raízes tão acentuadamente africanas, seja vítima de um processo de desafricanização ainda em curso. Senão, vejamos. Quando a bossa-nova resolveu simplificar a complexa polirritmia do samba e restringir sua percussão ao estritamente necessário, não estaria embutido nesse gesto, tido apenas como estético, uma intenção desafricanizadora? E quando a indústria fonográfica procura modernizar os ritmos afro-nordestinos (de maracatu para mangue-beat, por exemplo), não estará querendo fazer deles menos boçais e mais ladinos, pela absorção de conteúdos do pop internacional? Pois esse pop milionário, sem pátria e sem identidade palpável (mesmo quando pretende ser étnico), é exatamente aquela parte da música dos negros americanos que a indústria do entretenimento desafricanizou. Por tudo isso e como sempre disse a grande dama negra da música popular brasileira, Elza Soares, a música preta pede passagem, que o dia da Consciência Negra é celebrado com maestria e com muita música por artistas negros de ontem e de hoje em eventos espalhados por todo o Brasil. De Negra Li a Elza Soares, passando por Jorge Ben e Fabiana Cozza, a música negra é rica em elementos sofisticados diferenciados do pagode do início da década de 1990 e menos conturbado, hoje, do que na época de início de carreira da dama Elza Soares. Viva a música negra brasileira, viva o povo negro, viva o povo brasileiro. Negro na sua maioria!

 

A Música Negra Brasileira
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A explosão de Ney Matogrosso


Alto astral em disco ao vivo
Havia um pouco de loucura nos idos anos de 1999 quando Ney Matogrosso lançou seu disco ao vivo, pois a carreira do cantor estava um pouco abafada pela explosão do sertanejo e da volta do axé. A loucura fez com que Ney fosse surpreendido pela crítica e público quando seu disco foi alçado ao ponto máximo que um artista de sua geração pudesse alcançar: o topo das paradas. O disco Ney Matogrosso Ao Vivo (1999 / Universal Music / 23,99) é um álbum em que pode ser encontrado de tudo um pouco: das grandes regravações, dos belos poemas de Itamar Assumpção, das letras inesquecíveis de Cazuza, da fase dos Secos & Molhados e até cantores mais modernos, como Lenine e Renata Arruda. Em boa fase e muito bem em palco, Ney Matogrosso fez um disco para fechar o ano e abrir o novo milênio em excelente categoria. Boa parte disso vem do disco anterior, Olhos de Farol, em que Pedro Luís reforçava a bandeira como sendo um dos mais brilhantes e notórios compositores de sua geração. Ao Vivo trouxe de volta Ney Matogrosso em alta categoria, incapaz de ser subjulgado como qualquer cantor. Sim, Ney ainda respirava respeito por todos e esse disco veio apenas comprovar isso. Envelhecer no Brasil, como Ney envelheceu com o Brasil, não é uma tarefa fácil. Ney lançou Ao Vivo aos 58 anos de idade e ficar dançando como ele dançou e requebrou as cadeiras nos shows pelo país a fora, não é tarefa para qualquer um. A coerência de Ney e o prazer com que ele dança e interpreta as canções neste disco vão além de sua velhice (no bom sentido). O gás de ânimo de Pedro Luís e Lenine e o fogo ardente de Paulinho Moska, misturados ao sabor de Itamar e aos gestos selenes de Rita Lee, fizeram com que o cantor passasse a virada de milênio com um número maior de fãs mais jovens e de obter maior êxito entre os que já gostavam de Ney. Ao longo de sua carreira, Ney dribla entre fortes doses de adrenalina, libertinagem, liberdade e ousadia e assumiu todos os pecados e hoje segue sozinho, vivo, liberto de qualquer agruras do passado e sem nunca sentir remorsos. E essa liberdade é vivida neste álbum, quando recria com sofisticação inúmeros sucessos do passado, sem ter medo da opinião alheia. Beirando os 59 anos à época, Ney resisitiu à tentação de dançar quase pelado, metamorfoseando-se de plumas e paêtes e se deliciando com as próprias canções.  Aqui não tem apelações, exageros ou coisas do tipo, porque Ney Matogrosso soube exprimir tudo com sabor de requintes excepcionais para fazer com que o seu público dobrasse ou triplicasse. E ele conseguiu. Passados mais de dez anos, Ney Matogrosso Ao Vivo consegue fazer a ponte entre o Ney de ontem e o Ney de hoje e isso faz toda a diferença na carreira do grande cantor.

 

A explosão de Ney Matogrosso
Nota 10
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Tanto Tempo (2000) de Bebel Gilberto


Disco excepcional de Bebel
Primeiro grande trabalho solo de uma das artistas mais completas do Brasil nos Estados Unidos, Bebel Gilberto conseguiu fazer um dos discos mais completos de todos os tempos, misturando a bossa nova de seus pais, Miúcha e João Gilberto, a MPB de seu tio, Chico Buarque, o rock de seus melhores amigos, Cazuza e Dinho Ouro Preto e inspira-se na voz de Nina Miranda para cantarem juntas uma das melhroes faixas. Tanto Tempo (2000 / Ziriguiboom-Crammed Discs / 39,00) surgiu como quem nada queria e explodiu nos Estados Unidos e Japão como um meteoro. Duas vezes indicada ao Grammy, Bebel Gilberto é uma das poucas cantoras que conseguiram êxito maior fora do país de origem que dentro dele, embora tenha fãs espalhados por todo o mundo. A sensualidade deste gênero, resultado do cruzamento sincopado da percurssão do samba com a voz uniforme, é recriada pelo timbre suave e melódico de Bebel, que conta com a ajuda de sofisticados instrumentos acústicos e algumas orquestrações. O resultado é um disco com sabor de música eletrônica, bossa nova, mpb, samba, jazz e tudo isso misturado ao sabor e ao calor de uma voz adorável. Com um cheirinho de forró, pop ou qualquer gênero, Tanto Tempo tem as participações de Mario Caldato Jr, Suba, Amon Tobin, Béco Dranoff, Luís do Monte, João Parahyba e Nina Miranda, dos Smoke City. O sucesso e o reconhecimento de Tanto Tempo, produzido pelo iuguslavo Suba, um especialista em música eletrônica, conseguiu fazer com que Bebel fosse reconhecida pelo seu talento logo de cara, não precisando do reconhecimento de seus pais ilustres. O disco caiu nas graças dos DJs americanos e depois invadiu as pistas de dança do mundo todo a ponto de ser feita uma nova edição remix do mesmo álbum. Tanto Tempo, que tem músicas como Bananeira, Samba e Amor, So Nice e Close Your Eyes, bateu todos os recordes discográficos na época, vendendo 1 milhão de cópias em todo o mundo e tornou-se o mais bem-sucedido trabalho de um artista brasileiro na terra do Tio Sam.

 

Tanto Tempo / Bebel Gilberto
Nota 10
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A histeria de Thalles Roberto em nome de Deus


Thalles: histérico demais
Não sou sou muito adepto da música gospel, mas um cantor ou outro que surge aqui ou ali me instiga a ouvi-lo e a comentar sobre seu trabalho. Sempre que possível, surge um cantor ou uma cantora gospel que acaba sendo muito prestigiada em seu centro evangélico e, para a alegria geral dos irmãos, eles passam das fronteiras universais e chegam a abraçar os que não são evangélicos. Casos de Aline Barros ou do agora garoto propaganda Thalles Roberto, que levam a palavra de Deus às bocas de milhares de pessoas que encontram em seus hinos um motivo maior para se sentirem aliviadas. Confesso que esse tipo de música não me agrada, porém, não me faz mal e cantarolo alguns versos vez ou outra para minha surpresa geral. Dentre todos os lançamentos do momento, Thalles Roberto é significado de grandeza e louvação contínua, mas eu não sei muito bem qual a pegada musical dele. Voz rouca, grave e potente, Thalles Roberto é um legítimo pregador de hinos, contundente e capaz de mobilizar multidões, mas não entendo uma vírgula do que ele canta. Berrando feito um pastor enlouquecido, Thalles Roberto precisa soltar o diafragma para poder expressar suas palavras ou, melhor ainda, precisa parar de dançar freneticamente para poder respirar e cantar. Afinal de contas, suas músicas são bonitas, as mensagens são perfeitas, mas o que estraga tudo isso é o conteúdo central: Thalles Roberto. Mas antes mesmo de se dedicar totalmente à música gospel, Thalles Roberto foi músico de apoio do Jota Quest e da Banda Jamil e Uma Noites. O cantor é um dos mais renomados e admirados artistas de sua geração religiosa, tendo sido indicado ao Grammy Latino e ao Troféu Promessas (não levando nenhum). Tudo isso pode ser levado por água abaixo pela histeria do cantor, que insiste em gritar, pular e parecer receber um santo em palco. Será que é preciso tudo isso para levar o nome de Deus aos ouvidos mais solenes? Menos, Thalles Roberto, bem menos!

 

A histeria de Thalles Roberto em nome de Deus
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A polêmica do cantor Daniel


Daniel: ainda o melhor sertanejo
A polêmica em volta do cantor Daniel sobre a regravação da música Maravida em seu 14° disco de estúdio ainda persiste e muitos torcem o nariz para não ouvi-lo. A música foi composta por Gonzaguinha e cantada por Maria Bethânia em seu disco Alteza, de 1981 e é uma das músicas mais esquecidas do cancioneiro de Luiz Gonzaga Junior, já que os menos chegados na obra do grande cantor, insistem em lembrar apenas de E o que é, o que é? ou Explode Coração. Seja como for, Daniel está sofrendo as penalidades por causa da gravação de uma música consagrada na voz de Gonzaguinha, seu criador e de Bethânia, sua criatura, tendo em vista que o sertanejo nunca tenha gravado sequer uma música do cantor falecido em abril de 1991. Que a música foi encomendada para que Daniel cantasse, disso ninguém tem dúvidas, mas confesso que a primeira audição, levei um susto ao ouvir Daniel cantando uma das minhas melhores canções num jeito tosco, grosseiro e berrante. Mas isso foi somente a primeira audição, pois Daniel, com seu carisma e sofisticação, soube interpretar deliciosamente a música, não deixando constranger a nada e a ninguém. Daniel recebeu e ainda recebe críticas por esta regravação e essa nova fase do cantor sertanejo será marcada para o sempre em sua carreira. Maravida é uma música que fala de amor, desilusões e vida e Daniel soube interpretar deliciosamente a canção. Não agradando ao público que assiste a telenovela, Daniel segue sua vida (e carreira) tranquilamente, tentando não dar vazão às críticas negativas que vem recebendo. Houve até um abaixado-assinado na emissora global para que a canção fosse trocada pela interpretação de Maria Bethânia, mas, como se vê até hoje, nada disso foi feito. Vale ressaltar que a novela América, de Glória Perez, exibida em 2005, teve caso semelhante. A novela, que ia de mal a pior, teve como chamariz principal a interpretação (maravilhosa) de Milton Nascimento na música Órfãos do Paraíso como a pior parte da trama (ou seja, a abertura), e a substituição foi feita por Ivete Sangalo com a música Soy Loca Por Ti América.  Seja como for, a interpretação do cantor sertanejo Daniel, cujo eu gosto, está muito boa! E que ele continue assim: humilde e sensacional com sua voz que emociona a muitos.


A polêmica do cantor Daniel
Marcelo Teixeira