quarta-feira, 30 de abril de 2014

Vanessa da Mata erra o som outra vez




Não segue o som, Vanessa!
Sinto uma enorme saudade da Vanessa da Mata que conheci em 2002, quando ainda era uma novata cantora que queria ser a salvadora da música popular brasileira, que encantava com seu canto, com suas letras, que abocanhava grandes nomes da música (como fizeram Maria Bethânia, Caetano Veloso e Chico César) e que era mais timida, recatada e solitária. Sim, Vanessa da Mata compunhava com vontade, voracidade e verdade, adjetivos raros em sua carreira ultimamente. Não que ela estivesse enfraquecida com os discos após o lançamento deste que levava o seu nome, mas nem todas as músicas seguintes agradariam aos seus fãs posteriores. Vanessa deixou de ser uma cantora de nome forte para ser uma cantora de MPB qualquer, compondo aqui ou ali umas músicas bacanas e fazendo de sua voz um arsenal de tiros de misericórdia. Lançando Segue o Som (2014 / Sony Music / 24,90), Vanessa da Mata deixa a desejar.  E muito. As músicas aqui cantadas não ecoam como no primeiro grande disco, não batem forte em nossos sentidos, não trazem mensagens positivas ou agradáveis, mas deixa um ar de insatisfação. Segue o Som é um disco de misturas eletrônica, pop, reggae, dance music e a voz de Vanessa soa cansativa, irritante e derivada de ajustes eletrônicos para se sair bem. Depois de Vanessa da Mata (2002), a cantora teria um grande momento em sua vida ao lançar Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias (2010), em que cantava com uma jovialidade e uma serenidade inacreditáveis, tendo a participação até mesmo de Gilberto Gil encerrando uma das faixas mais encantadoras do álbum. Teria Vanessa da Mata entrado para o time das cantoras desgastadas da MPB ou estaria passando (por que não passeando?) pelo mundo fantástico do ostracismo imaginário? As canções de Segue o Som são contagiantes do ponto de vista comercial, alegres e auto-astral, porém, parece que todas as músicas foram feitas no mesmo dia, na mesma calibragem e no mesmo sentido horário: as batidas e as melodias são uniformes, parecendo que não há interrupção de uma canção para outra. A música Toda Humanidade Veio de uma Mulher não tem ritmos, assim como Rebola Nêga, a melhorzinha do disco, que soa como se a cantora estivesse errando as notas ao cantar (característica de Vanessa, que já fez isso várias vezes em shows ao vivo). Homem Preto é uma canção legal, tem uma pegada mais romântica, mas que não leva nada ao nada com sua voz estridente e custosa. E as canções em inglês dão o recado de que talvez Vanessa queira adentrar no mundo internacional, assim como já tentara com o álbum Sim (2007), mas sem grandes alardes. Do mesmo modo como acontecera com o disco de 2007, Vanessa trouxe para o álbum atual as questões que martelam dentro de sua cabeça com relação as causas sociais existentes ao redor do mundo, como forma de politizar esses assuntos. Como uma salvadora das causas impossíveis no mundo musical, a cantora peca ao adentrar em pautas como o amor passeando por lugares distantes e imprevisíveis, como canta na música capenga Por Onde Ando Tenho Você. Por vezes, sentimos que Vanessa não consegue mais compor ou a impressão maior que passa é que o disco foi feito às pressas, para que pudesse estar na próxima novela qualquer. Assim como aconteceu com Essa Boneca Tem Manual (2005), Segue o Som também foi feito para ser um disco meramente comercial, sem se importar com as letras aqui produzidas. O apelo é forte e Vanessa não soube aproveitar o momento para fazer um grande disco. Já tinha dito que a superficialidade da cantora ao lançar um disco em projeto com uma grande marca de cosméticos para homenagear Tom Jobim, disco este lançado em 2013 pela mesma gravadora em parceria com a Jabuticaba, era crescente e gritante e aqui a superficialidade continua em alta, deixando em baixa toda a pluralidade que Vanessa conseguiu atrair no início de carreira. Chega a ser caricato ouvir frases do tipo fique aqui, tome alguma coisa, converse pra se distrair, vai ver que sou uma menina, só quero me divertir, cantada na música Toda Humanidade Veio de Uma Mulher, que abre o disco. Confesso que não entendi o teor do álbum e qual a sua mensagem maior, mas confesso que os últimos trabalhos de Vanessa da Mata, a garota pobre de Mato Grosso que conseguiu driblar o pai rigoroso do sertão para se tornar em uma das maiores cantoras do país, estão deixando e muito a desejar, abandonando assim um estilo único e próprio de mostrar sua musicalidade, que era plausível e admirada. Por esse motivo e por todo o seu comercialismo desprovido de intelectualidade musical, por favor, não seguem o som de Vanessa agora.

 

Segue o Som (2014) / Vanessa da Mata
Nota 6
Marcelo Teixeira

 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O som que vem do Norte: Patrícia Bastos


Patrícia: encantamento de voz e som
Há uma singularidade particular com o som que vêm do Norte: eles são fortes, formosos e encantam já na primeira audição. Há segredos e mistérios nesta região do país que muitos desconhecem e muitos querem descobrir. Zulusa, o disco bem caprichado de Patrícia Bastos, é a prova disso: aqui há de tudo um pouco, desde o som dos índios, passando pelo marabaixo e pelas belas paisagens de Macapá, sua terra natal. A beleza no canto de Patrícia faz com que esquecemos do corpo presente cheio de dívidas para cairmos num mundo na qual pouco estamos habituados: o mundo da fantasia, o mundo fantástico, rico de sol, rico de mar. A voz de Patrícia Bastos encanta pelo fato de ser irretocável: um misto de beleza e sensualidade, carregada com um toque de emoção e sentimentos. Patrícia encanta e canta as belezas de um lugar escondido do Norte brasileiro, sendo bem conduzida por Dante Ozzetti, diretor musical e de arranjos de Zulusa (2012/ Tratore / 25,00). O disco é feito de histórias e é através da música que a história se confunde com os ritmos e nos contam uma bela narrativa que nos conduz por 14 faixas muito bem cantadas por uma cantora inspirada, que através de seu canto nos mostra que a beleza está bem aqui, diante nossos olhos, ouvidos e poros. Este é o quinto disco da cantora, mas o que mais representatividade lhe prôpos: um retorno de muito trabalho e dedicação, feito com muito esforço para mostrar ao mundo (e a nós, brasileiros), que o Brasil é isso, feito de misturas de raças, cores e palavras. Quem me apresentou o canto de Patrícia Bastos fora Dante Ozzetti, ao sairmos de um show de sua irmã, Ná Ozzetti. Falou-me de uma cantora que morava no Norte, era afinadíssima e antenada com a cultura de seu povo, pronta a demonstrar seu canto. E Patrícia me arrebatou já no primeiro som que abre o disco, Canoa Voadeira, que é um passeio pelo vasto rio-mar que se vê nas belas paisagens do encarte. O povo negro aqui está bem retratado na canção Linha Cruzada, onde a sutileza na voz da cantora ecoa pelos cantos numa forma absurda de bradar algo preso na garganta. Patrícia emociona em Boi de Rua, cujo canta as influências amazônicas e  em Incantu, fala sobre o povo indígena.  Encantador do começo ao fim, Zulusa é um disco para se ouvir com ouvidos atentos, ouvidos de curiosidade, com afinco e com amor. Um disco caprichado, bem acabado, com sutilezas repletas de sonoridades distintas, abordando um tema pouco comum nos dias de hoje. Zulusa. Negros vindos da África, índios amapaenses, mulatos. Patrícia revisita a grande obra esquecida por milhares de brasileiros e expõe um disco magnífico a altura de seu talento e respeitabilidade. Zulusa é história do Brasil esquecida por brasileiros que se tornaram americanizados num país dentro do país. Zulusa é o Brasil esquecido dentro do Brasil e é nesse resgate que Patrícia reina absoluta. Zulusa é um tiro de espingarda calibrada direta e certeira na alma lírica brasileira. Zulusa não é para poucos aventureiros. Trata-se de um disco e tanto para a nossa cultura pouco valorizada. Que Zulusa possa trazer-te bons frutos e que Zulusa seja bem interpretado por analfabetos que assolam governar nosso país sem memória.

Zulusa (2012) / Patrícia Bastos
Nota 10
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O inquieto Tom Zé

O inquieto Tom
Tropicalista nato, Tom Zé veio ao mundo musical para provocar e incitar algo incomum que o desagrada. Faz tudo com ironia fina e requintada, que somente ele consegue fazer. Ilude corações amargurados ou felizes e diz em músicas que os americanos são tolos e eles aplaudem. Tom Zé é um marqueteiro da própria vida, tanto musical quanto a própria e é dessa profissão que o cantor e compositor baiano consegue irritar boa parte da população. Tudo o que Tom faz, canta ou compõe é fruto de alguma indgnação, de alguma euforia, de alguma felicidade e em Tribunal do Feicebuque (2013 / 19,99 / Independente) não foi diferente. Após uma polêmica com um grupo de bebidas gaseificadas, Tom Zé respondeu ao pessoas que o criticou pela rede social com a música título de seu EP lançado em 2013, num tom ácido, cortante e provacante.  No disco, o compositor divide autoria e interpretação de canções como a que batiza o EP com Marcelo Segreto e Gustavo Galo e traz versos como Tom Zé mané / baixou o tom / baba babe / bebe e baba / velho babão, além do provocador e irônico Que é que custava morrer de fome só para fazer música?. Além do tema que abre e abocanha todo o disco, o álbum tem ainda Zé a Zero, Papa Francisco Perdoa Tom Zé, Irará Iralá e Taí, feita por ele nos anos 1970 para um comercial de refrigerante.  Seja como for, o fato é que Tom irritou metade das pessoas com este EP fantástico e sensacional, que muitos jornalistas e críticos especializados praticamente negaram a comentar sobre ele em suas revistas eletrônicas. Mas Tom segue sua vida musical da melhor forma possível: irritando o próximo e sorrindo de tal gozação. Tom vive do seu jeito e do seu tom.

 

Tribunal do Feicebuque (2013) / Tom Zé
Nota 10
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Valesca é a grande aberração do século 21



Valesca: inteligência em outro lugar do corpo
Se a música popular brasileira for salva por Valesca (prefiro não colocar o seu sobrenome de guerra), prefiro a morte. Prefiro renunciar qualquer cultivo a música brasileira e em caráter de amor maior a minha vida e a minha cultura, prefiro esconder-me no mais fundo do fundo e do fundo do abismo para que ninguém possa me encontrar. A grande pensadora do século vinte e um é uma mulher loura, de curvas salientes, rosto feio que mais parece um E.T e que não pensa com a cabeça de cima e, sim, com o gosto popular. Valesca foi considerada a pensadora do século e eu me pergunto: o que escrever aqui agora? Resta-me fechar os olhos e rir da ignorância alheia, dos falsos pensadores, dos idiotas meretrizes da agonia, da falsa carapuça usada por quem está por trás desta grande pensadora de opiniões adversos. Valesca é a grande pensadora. E ponto. Mas há controvérsias. Quem é Valesca? Driblando todas as forças do mundo, essa persona saiu dos horizontes das trevas para poder estragar a música popular com sua voz fanhosa, fazendo com que todos entortacem as cabeças para um beijinho no ombro. Uma imbecilidade pueril, um ato retardado, uma ação desconjugada de rebeldia mútua de quem não tem o que fazer e apela qualquer coisa para estar no mais alto do topo. Valesca ultrapassou Anitta, agora plastificada, e ganhou status de a nova queridinha do funk. Ganhou fãs pelo mundo afora e seu cachê triplicou. Rebola seu gosto popular a torto e a direito e intimida as pessoas com seu olhar canibal. Valesca é o oposto da cultura: ela não canta, não sibila, não ensina, não tem moral, não tem musicalidade na veia, não sabe a que veio. Alguém poderia lhe mostrar o caminho da rua? Mais do que tentar cantar, Valesca chegou ao topo se mostrando uma cantora competente, com um clipe musical a altura de uma Lady Gaga e com vestimentas horrendas, fuleiras, capengas. Com um palavreado chucro, Valesca entrou para o mundo da fama pela porta que estava aberta, sabendo que não fora convidada para estar ali.  Logo o mais será despejada assim como fizeram com Anitta, a plastificada. Valesca é uma cantora fútil, que não agrega em nada na nossa cultura e que está se valendo de uma única música para se tornar a nova estrela nacional. Mas vale lembrar que o topo mais alto da fama é substituível e que toda estrela um dia se apaga.

 

Valesca, a grande pensadora!
Por Marcelo Teixeira

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Zii e Zie (2009) e o transambas de Caetano Veloso


Zii e Zie: sambas e reflexões de Caê
Que Caetano Veloso é embalado por orixás e deuses da Bahia de todos os santos, disso todo mundo sabe, mas na música que fecha Zii e Zie,  Diferentemente, ele deixa claro que não crê em Deus, diferentemente de Osama e Condoleeza. A música fecha o disco com chave de ouro, tendo em vista que Zii e Zie (2009 / 28,99 / Universal Music) não trata de religião e sim, de sambas e mistérios que somente um certo Caetano consegue fazer. São sambas e bambas gingados com categoria de um grande disco, embora por vezes o inquieto e belo Rio de Janeiro deixe a impressão de que tudo é samba, paz e amor. Transambas é um subtítulo adquirido e muito bem aplicado no disco, mas Caetano ousou um pouco mais ao trazer músicas como Incompatibilidade de Gênios, de autoria de João Bosco e Aldir Blanc, destoando toda a sutileza irreal da atmosfera de todo o disco. Zii e Zie é um disco de samba sincopado, desses de se ouvir sentado, alimentando e digerindo cada palavra, cada som, cada melodia. Ao todo são treze faixas em que Caetano desfila sua eterna e alegre musicalidade, sendo na sua maioria a autoria e passeando por um Rio de Janeiro colorido das praias, das favelas, da Lapa e do Leblon, além de apontar para Guantánamo e outros distantes lugares do mundo. A denúncia em A Base de Guantánamo, sobre a base militar americana em solo cubano é retratada com afinco e sabedoria, assim como Lobão tem razão que, antes de ser gravada aqui, Caetano já havia apresentado em shows anteriores, tentando arrancar emoções do público por onde passava. Menina da Ria é um oposto e uma homenagem a Menino do Rio, eternizada na voz de Baby do Brasil e aqui ganha cores de uma negra, que tanto o compositor gosta. Contemplando o disco, ainda há pérolas como Perdeu, Cais, Por quem?, Falso Leblon, a engraçada Tarado ni você, Ingenuidade, Lapa e a atemporal Diferentemente. Caetano sabe que não é mais aquele jovenzinho que queria mudar o mundo e sabia que estava ficando velho ao lançar Zii e Zie, por isso talvez tenha se cercado de pessoas mais jovens para a realização deste trabalho. A ascensão brasileira, a política, o mar, as notas híbricas e a tristeza íntima mastigada por Caetano estão todos aqui retratadas de forma sublime em um disco de alto nível. É certo que o tempo passa para todos nós, porém Caetano sempre procura se manter atual, dentro do universo que o consagrou na juventude.

 

Zii e Zie (2009) / Caetano Veloso
Nota 10
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Jota Quest e um disco chato

Funky Boom: chato, chato, chato
Há muito tempo que a banda Jota Quest deixou de ser o Jota Quest. Suas músicas passaram a ser tediosas, suas letras paupérrimas e a voz de Rogério Flausino passou a ser chata, inaudível. Formada em 1993, o grupo só veio a calhar mesmo nos anos 2000, depois que a onda pagodeira suavizou e depois que o dilúvio sertanejo aquietou-se. Com propostas boas no início de carreira, o grupo desenrolou um bom desempenho frente aos grupos e bandas já existentes e conseguiu alcançar um patamar excelente dentro do segmento. Cinco anos separam Funky Funky Boom Boom (2013 / 21,99) do público jovem do Jota Quest, mas o disco, que nasceu para ser audacioso, não vingou por alguns deslizes fatais: a voz do vocalista é insuportável, a banda já está para lá de se aposentar e as modernidades do grupo não soam mais como antigamente. Chega a ser ridículo ver Rogério Flausino com roupinhas coloridas, pulando timidamente e cantando o amor romântico de adolescentes felizes. Porém, o resultado do novo disco é uma capa extraordinariamente criativa e algumas (poucas) músicas boas.  Resgatando raízes da soul music com certos elementos do funk, as músicas ditas descoladas até que deram certo em alguns momentos, como a música que leva o título do álbum. Mas só. Mesmo sendo um disco dançante, pulante e eletrizante (para alguns), o disco não passa do mesmo espetáculo fraquinho ao qual o grupo mineiro sempre se dispôs: de peripécias ultrapassadas a músicas sem graça, Funky Funky Boom Boom só se salva pela capa, na sua maioria.  Disco comercial do início ao fim, o grupo parece não ter se preocupado tanto assim com as letras, fazendo rimas desnecessárias para impactar ou tentando inflamar o ego insustentável deles mesmo para pensarem que estavam fazendo um excelente disco. Lero engano. O disco é fraco e chato, deixando o ar de nostalgia e cansaço no ar. Ela é do Rio mostra o único salto positivo do grupo, que é justamente a arte de se reiventar, dando ao título do trabalho o significado maior: a faixa é um funk que ecoa nos ouvidos com um som descontraído e engraçado. Imperfeito e o meio sambinha Jota Quest Convidou se tornaram destaques de todo o álbum, mas são músicas aquem, que logo desliga o som, já não importamos com a letra. Jota Quest é assim: um grupo que morreu à mingua, que lança discos fracos, deixando a desejar e tentando ser importante.
 

Funky Funky Boom Boom / Jota Quest
Nota 6
Marcelo Teixeira