terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Filipe Catto fica sem fôlego em Tomada (2015)


 

Tomada sem muita força
Com uma capa horrível e um repertório fraco, paupérrimo e ao mesmo tempo melancólico, o cantor e compositor Filipe Catto consegue afundar seu nome na música brasileira com aquilo que mais sabe fazer: cantar e bem. Mesmo sendo um dos melhores cantores do seu tempo (do nosso tempo também), Filipe conseguiu deixar se levar pela diferenciação em repertórios e cair na mesmice que muitos cantores fazem: o de se deixar levar pela onda do pensamento próprio, ignorando seu início, seu meio e pondo um contraponto no final. Filipe Catto errou ao lançar um disco como Tomada (2015 / Radar Record / 28,99), em que foge do existencialismo de sua criação autoral para dividir canções com outros compositores competentes, mas que não estão na mesma pegada que o cantor gaúcho. A começar pelo título do disco, Tomada, tudo gira em torno de uma insignificância ímpar ao detonar seu lado artístico e derrubar seu equilíbrio musical sem pensar em seu lado empírico. Falta aqui um pouco de Fôlego (2011) e muito de Entre Cabelos, Olhos e Furacões (2013) para que Tomada soasse um pouco melhor. Sem contar o erro dramático de Filipe querer cantar as músicas de Cássia Eller em espetáculos Brasil a fora, o cantor parece ter tomado alguma coisa a mais em seu café da manhã para ter tantos erros e poucos acertos nos últimos trabalhos. Se muita gente se emocionou ao ver Catto cantando Cássia Eller, eu detestei: Filipe vestiu roupas anormais, touca estranha, cantou sem emoção e não mostrou nada de diferente para ninguém. Pelo contrário: se mostrou indiferente a cada apresentação e por sorte esse acontecimento não virou disco registrado. Vamos retornar à Tomada: o disco não é de todo ruim, mas não é um disco em que podemos parar para ouvir mais e mais e mais e que aos poucos se transforma em um disco com limitações e poucas vivências, sem muita empolgação e nostalgia e fraco para um cantor excelente, de gabarito e muito profundo.

Tomada (2015) / Filipe Catto
Nota 7
Marcelo Teixeira

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A irônia sem humor de Johnny Hooker


Johnny Hooker: imperfeito
Ainda que restem alguns cantores bons na música popular brasileira, alguns medíocres cismam em serem chamados de cantores pela mídia ou críticos da arte de cantar. Se o antigo causa um cansaço visual, musical ou atemporal para alguns, o novo causa uma sensação de frescor, jovialidade e desejo pelo que vai vir, pelo inesperado, pela desenvoltura. Mas nem sempre o que está no passado nos deixa com o ar cansado e nem sempre o novo nos causa uma sensação de alívio: muitas vezes o novo não nos surpreende, não nos detém aquela sensação de magia, de puro ar renovado, nem espanta com sua magnitude. Sim, pode causa espantamento pelo conjunto da obra, pela música inacabada, pela vestimenta, pela estranheza. E é justamente isso o que alguns críticos de música vêm fazendo atualmente: abortando muitos cantores bons e dando vida a muitos cantores sem fundamentos. Que a música brasileira sempre pediu socorro, isso sem dúvida todo mundo sabe, mas fazer com que a inteligência humana seja medíocre perante a intelectualidade crítica é padecer no inferno mais profundo do universo. O cantor, ator, compositor, diretor, artista e palhaço Johnny Hooker é de Recife e está sendo considerado um dos melhores cantores de sua geração, sendo ovacionado em casas lotadas e recebendo prêmios em que Maria Bethânia, Chico César e João Bosco já ganharam. O que causa estranheza nisso tudo é que Johnny Hooker não canta, não interpreta bem suas músicas e ironiza a todo custo com o sentimento alheio e isso faz com que a plateia entre em delírio constante, pois música que é bom, não há! Lançando Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito (2015 / 27,99), Hooker se mostra imperfeito e desqualificado em sua função maior, que é o de cantar. Considerado como a categoria Rock Nacional, o cantor se perde em letras que buscam o surrealismo das coisas mais simples e elenca para a atmosfera carnal a revolta que o próprio sente dos amores que não deram certo em sua vida. Prova maior disso é o título irônico e vil de sua primeira obra musicada. Se levarmos em conta sua performance no palco, podemos dizer que ele pincelou um pouco de Ney Matogrosso, Maria Alcina e Itamar Assumpção e tentou utilizar a voz de Filipe Catto, cujo é uma das mais belas do momento. Agora pense tudo isso em Johnny Hooker: uma perfeita assimetria entre o ruim e o péssimo, entre aquele que ele desejou ser e não o é. Ney, Alcina, Catto e Itamar (em memória) são referência musical de qualidade e os comparar a Hooker é um grande erro, pois desmonta qualquer tipo e forma de musicalidade. A voz anasalada, a carência de personalidade e a falta de estrutura assistida de Hooker me causa uma revolta profunda, pois enquanto muitos cantores bons estão na estrada fazendo música do mais alto quilate, me surge um cantor medíocre, sem escrúpulos e sem competência para poder ser chamado de cantor.


Johnny Hooker
Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito (2015)
Nota 0
Marcelo Teixeira

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Cinco cantores brasileiros!


Cinco cantores
Há muitos cantores brasileiros de gabarito personificado dentro da música popular brasileira de todos os tempos e esse mérito foi consagrado aqui mesmo no Mais Cultura Brasileira quando abordei os 10 maiores cantores dos últimos 10 anos dentro deste cenário. Não foi uma tarefa fácil, assim como não foi uma tarefa das mais difíceis, tendo em consideração o que esses cantores representavam (e ainda representam) dentro de um segmento linguístico, de forma representada e não de personalidade dentro de um conceito enquadrado, digno de uma singularidade plena de um estilo qualquer. Há muitos cantores bons, muitos esquecidos e muitos que precisam ser descobertos ainda, mas tive a audácia de selecionar, estudar e catalisar todos os maiores e melhores cantores das últimas décadas para uma seleta lista de dez, caindo para oito e fechando com cinco que, de fato, representam e aprimoram e enriquecem a nossa música nacional em um respeitado estilo musical qualificado por sonoridade, melodias e suas letras autorais. De cara e de olhos fechados, selecionei os cinco cantores, músicos e compositores que maior representatividade me orgulham pelo conjunto da obra e pelos vários discos lançados, cada qual com sua participação efusiva, cada qual com sua maneira de expressar sua arte e tendo uma sonoridade ímpar e autoral que distingue suas músicas dos cantores ditos populares. Nesse amplo caminho, Chico César é o cantor que, sem sombra de dúvidas, revela seu lado mais poético, mais singular e mais atemporal dentro de um sentimentalismo que tem por si só uma mistura de fina flor com arbustos dourados e metálicos em forma de glorificação e a prova disso é seu excelente disco atual, Estado de Poesia (2015). Ah, se todos fossem iguais ao Chico, quanta beleza a terra iria findar numa guloseima de sopa de letras e numa profusão de paródias letrais. Chico César, paraibano, poeta nato, cantor de sentimentos puros, olhar antenado e composição afinada. Alberto Salgado representa a ambiguidade masculina, retratando seu lado mais refinado dentro de um pantaleão de cores e objetos cortantes, que nos revelam notas dissonantes e versos sensacionais de calibre espinhal e arquitetônicos. Ah, Alberto, brasiliense, inquieto, sonhador, compositor dos mais inteligentes da atualidade e com um dos melhores discos de todos os tempos (Além do Quintal, 2014 ) Alberto é aquilo que a música brasileira de fato precisa: com um misto e legitimidade autoral incrível retratando a beleza da paisagem concreta e o dossal entre o singelo pluralismo abstrato em forma de desenho musicado, o cantor mostra o quão importante é a sua música para a atualidade numa forma coloquial, categorial e sincera. E o que dizer de Lenine, pernambucano, brejeiro, pensador sofisticado de palavras suaves, mas enorme salubridade sobre a vida, genioso e arteiro?  Lenine é o artista mais completo dentro de uma consistência musical harmoniosa, geniosa e lírica: sua música transcende aquilo que não possamos alcançar, o inatingível, o abstrato, o irreal que assola nossos poros, nossas artérias e o nosso ar vertical. É quase impossível não termos a sensação de que sua música é aquilo que ele mais nos representa: o homem na sua forma mais plena da sabedoria divina, do escárnio intelectual e da tenebrosa tempestade de versos histriônicos que repelem a uma dissecação de alegoria em forma de poesia. Zeca Baleiro é o cantor que representa a síntese do cantor popular que fala às multidões num gosto acelerado de riqueza nordestina, sendo ele mesmo um nordestino que consegue ater a atenção de todos por um simplório desejo musical. Se Zeca, maranhense, poeta inspirador, é um típico representante da comunidade e tem o poder de juntar gregos e troianos, isso requer dizer experimentar que ele é o fruto proibido entre a música regional e a música de seletivos críticos. De qualquer forma, seus discos nos fazem pensar na característica personalidade que o faz recitar poemas em letras tão melódicas e antissociais. São elementos essenciais para que Zeca componha de uma maneira difícil mas com o pensamento na realidade de todos os tempos. Enquanto todos seguem uma linha tênue entre o lirismo formal e fugindo da atmosfera platônica que envolve o homem e sua magnitude, Luiz Marques nos traz uma musicalidade em que o romantismo convencional ou reservado supere aquilo que falta em muitos (bons, medianos e ótimos) cantores: a do cantor popular sem ser caricato, buscando em suas letras e melodia a satisfação realista de sua beleza autoral, fazendo com que o seu intelectualismo nos permita transitar entre o belo e o cauto, entre Paris e Minas Gerais e entre a solidão masculina e a realização feminina num piscar de olhos. Esses arvoredos de sensações estão representados na maioria de suas belas canções, dentro daquilo que sugiro ser a mais pura forma de demonstrar o quão sensacional é a sua música. Ah, Luiz, mineiro, sonhador, pesquisador da boa música e merecedor de aplausos pelo espetacular CD Noite Azul (2015). Estar nesse patamar da música popular brasileira não é para qualquer cantor: é preciso muito mais que cantar e demonstrar sua arte! É preciso ter disciplina, ética e agarrar o ouvinte pelos ouvidos, pelos poros e pela alma. É ter a certeza de que sua música é fiel, verdadeira e que catalisa as pessoas pelo lado mais puro e doce, pelo lado mais concreto e real, pelo lado mais sereno e merecedor. Estar nessa criteriosa lista é estar entre os melhores da música contemporânea, é estar entre os melhores dos melhores e estar entre aqueles que sempre gosto de colocar: no topo mais alto da música. Alberto Salgado, Chico César, Lenine, Luiz Marques e Zeca Baleiro são os melhores cantores dos últimos anos, sem qualquer ponto de interrogação!

 

Cinco cantores brasileiros!
Por Marcelo Teixeira