sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Sandra Duailibe canta Nonato Buzar: uma bela homenagem


Bela homenagem
Nonato Buzar morreu em fevereiro do ano passado e deixou uma legião de canções imortalizadas nas vozes de Elis Regina, Maysa, Jair Rodrigues, Nana Caymmi, João Nogueira, Alcione e tantas outras personalidades importantes da nossa música nacional. Pouco se fala no cantor e compositor maranhense hoje em dia e muito de sua obra acabou sendo esquecida. Nenhum cantor ou cantora se debruçou para dedicar um disco inteiramente ao cancioneiro de Nonato e a cantora Sandra Duailibe, conterrânea de Nonato, teve a brilhante ideia em fazer jus às músicas desse grande artista brasileiro. Sandra Duailibe canta Nonato Buzar (2015 / 24,99) é um disco sensacional, com uma qualidade incrível na seleção de músicas e com a voz cristalina da cantora, que canta mais e melhor neste belo disco. Quinto disco da carreira de Sandra, esse tem um diferencial: além de ser um disco em forma de homenagem, a cantora transpassa uma energia positiva tão animadora, que fica difícil não dizer que Nonato está tendo essa felicidade também no plano de cima. As músicas selecionadas aqui rechaçam a ideia da capacidade poética e magnifica de Nonato, que conseguia transmitir beleza e garra, sensualidade e sofisticação, harmonia e fina flor. Sandra é uma das damas da música popular brasileira e sua voz cristalina é uma rica e poderosa arma a favor de sua musicalidade. Precisamos ouvir Sandra Duailibe, precisamos conhecer seu talento, seu trabalho, sua forma de expressar a qualidade de sua música. Seu mais novo CD é a articulação viva e real de que a música popular tem qualidade, tem um propósito, uma significação e uma reza.

 

Sandra Duailibe canta Nonato Buzar / Sandra Duailibe
Nota 10
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Luiz Marques lança Noite Azul (2015): um dos melhores discos do ano


Luiz Marques e a excelência no cantar
A música tem seus horizontes, suas profundezas, seus mistérios, suas sutilezas, seus meandros e seus prazeres, portanto, podemos senti-la como num todo, com seus aspectos característicos, sua delicadeza e sua simplicidade. O som que vem de Minas Gerais é um som puro, angelical, sentimental, sincero e dentro deste canto soa uma das melhores e mais bem aguçadas vozes: Luiz Marques é um cantor moderno, autoral, perspicaz e autêntico. Sua música é como um mantra, que adentra em nossa alma e esquecemos do mundo real, patético e irrisório. Sua voz é de uma delicadeza ímpar, capaz de nos hipnotizar, nos catalisar e nos intimar para que possamos ouvir mais e mais e mais. Dificilmente um cantor consegue me arrebatar tanto como Luiz Marques. Lançando Noite Azul (Luma / 24,00 / 2015), o cantor prova que realmente é um dos raros cantores que conseguem ser digno de sua profissão: Luiz sabe o que faz e gosta do que faz. Sendo todas as composições de sua autoria, o cantor lança seu quinto álbum em um clima de muita expectativa e recheado de sabores mineiros. Sua sonoridade é tão preciosa, que não damos margem para que ela se acabe. O regionalismo se faz presente em algumas faixas (como em Meu Quintal), assim como o romantismo, que é a marca registrada do cantor, perpassa em canções como A Luz de Lyon, Mistério e Paixão e a sensacional Redemoinho. Posso dizer com propriedade de causa que Noite Azul é um dos melhores discos do ano e, de quebra, o melhor da carreira de Luiz Marques, que conseguiu segregar este dos outros álbuns lançados, tendo uma parcimônia nas melodias e sabendo usar as letras a favor de seu tempo. Há muita singeleza escondida em cada canção e que pode ser explorada quando ouvimos com delicadeza faixa a faixa do disco. E é justamente disso que o povo brasileiro precisa: de discos mais rebuscados, mais suaves, com mensagens que nos inspiram e nos direcionam a um lugar comum e isso Luiz Marques o faz com uma maestria incrível. Todas as músicas deste belo álbum se complementam e se alternam entre o intocável e o real. As músicas são orquestradas numa qualificação única entre a essência da sintonia com o elogio da eloquência divina. Há arroubos de saberes nas canções de Luiz Marques e essa expressão significativa está sublinhada aqui, entre o imperceptível e o sensível. As canções de Noite Azul são de uma primazia sem igual: aqui há um jogo de situações que nos faz pensar em lugares por onde gostaríamos de estar ou em amores que esquecemos lá atrás, num passado não tão distante assim. Pelo conjunto da obra e pelo excelente cantor que é, Noite Azul merece todos os ouvidos, todas as palmas e todos os méritos por ter lançado um disco tão caprichado, tão harmonioso e com uma qualidade sensacional. Nos dias de hoje, com tanta aberração musical, não há nada melhor do que ouvir um dos melhores CDs do ano de 2015, na voz imaculada de um dos maiores cantores do Brasil (que precisa ser (re)descoberto), Luiz Marques.

 

Noite Azul (2015) / Luiz Marques
Nota 10
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A loucura de Lupicínio Rodrigues por Adriana Calcanhotto (2015)

 

A loucura de Lupicínio por Adriana
Antes de iniciar este artigo, gostaria de te perguntar: você conhece a obra de Lupicínio Rodrigues? Já ouviu falar no cantor? Conhece alguma música dele? Na certa, não. Pode ser que tenha ouvido falar sobre ele aqui ou ali, mas nunca se atentou em tentar decifrar quem fora Lupicínio Rodrigues. Poucos o fizeram e poucos conhecem seu trabalho. Talvez suas músicas mais famosas sejam Nunca (cantada magistralmente por Zizi Possi), Cadeira Vazia (imortalizada na voz e na teatralidade de Elis Regina) e Felicidade (cantada quase na forma poética pelo próprio Lupicínio). Essa é a grande chance de poder conhecer um pouco mais sobre a obra intimista deste que foi o pioneiro na arte de cantar as dores e as incertezas do coração.  Elza Soares e Gal Costa bem que tentaram, mas foi Adriana Calcanhotto quem acertou no ponto ao trazer em CD o melhor do repertório deste cantor e compositor gaúcho, que conseguiu ser um dos compositores boêmios de maior prestígio dentro da música popular brasileira. Mas o que muitos deveriam fazer assim que comprarem Loucura (2015 / Sony Music / 24,99) é correr para saber que as músicas aqui cantadas não pertencem ao mundo de amores perdidos e corações amargurados vividos por Adriana, mas sim, de amores loucos e doentios vividos ou imaginados por Lupicínio. Vamos deixar uma coisa bem explicada ao fã de primeira viagem: Loucura é um registro em que Adriana cede seu lado atriz para interpretar canções de outro compositor. Lupicínio nasceu em 1934 e morreu em 1974, mas quase ninguém hoje em dia se atenta em querer regravar suas músicas e dedicar um álbum inteiramente a ele é arriscar alto para perder muito, pois o mercado fonográfico requer uma demanda muito crescente, mas com pouca qualidade. O que se vê em Loucura é algo totalmente inverso: Adriana causa arrepios furtivos em momentos delicados com sua densa e atemporal interpretação para músicas como Felicidade (1947), Volta (1957), Vingança (1951) e Homenagem (1961). Se estivesse vivo, Lupicínio estaria completando 101 anos de vida e esta homenagem é a mais justa de todas, pois há envolvimento mutuo entre o homenageado e a cantora. E ninguém melhor que Adriana para dar-te um exemplo de ajudar o público a reconhecer o talento de Lupicínio: assim como o cantor, Adriana também é gaúcha. Loucura surge em um momento maravilhoso no cenário musical e dentro da carreira de Adriana, que destila um verdadeiro arsenal de emoções cantando as dores, as emoções e os sentimentos vazios de um homem chamado Lupicínio.


Loucura (2015) / Adriana Calcanhotto
Nota 10
Marcelo Teixeira