sexta-feira, 31 de maio de 2013

A beleza no canto de Márcia Tauil




Márcia Tauil, entre as melhores cantoras
Há cantoras e há cantoras neste Brasil carregado de vozes e sambas e que veneramos e confiamos. Mas para ter confiança e lealdade para com a artista é o que se pode esperar da pessoa cuja a carreira é marcada por uma boa voz e uma trilha repleta de discos maravilhosos e cultivados por belezas conjuntas. Márcia Tauil canta com a alma verdadeira, com sentimentos, com vontade e com verdade e expõe suas graças divinas em discos merecidamente brasileiros com muita categoria e exatidão. Muito produtiva e eficiente, Márcia faz de sua bandeira a prudência e a disciplina para com o canto. Pontual e responsável com seus compromissos, demonstra sempre uma grande estabilidade, fator que a faz respeitável por aqueles que a conhecem. Não deixa nada por acabar e respeita todos os regulamentos, por isso muitas vezes é considerada uma mulher de fibra. Márcia Tauil canta o que gosta e isso faz todo o diferencial em sua carreira.

A música brasileira, talvez, nunca tenha vivido um momento com tantas boas cantoras surgindo como o atual. Uma das cantoras que chama a minha atenção é a mineira Márcia Tauil, ou simplesmente Márcia. Com sonoridade moderna, voz afável, letras interessantes e músicas de alta qualidade para qualquer horario do dia, Márcia cercou-se de muita gente boa e se apresenta como uma das maiores cantoras de todos os tempos. Com uma voz sensível e agradável, sem precisar apelar para truques vocais desnecessários, Márcia Tauil acerta o tom como cantora e ainda mostra ser uma compositora de mão cheia. O jeito de cantar e o estilo econômico na dimensão necessária de compor, coloca desde já Márcia como uma das melhores novidades artistícas.

De Minas para Brasília, a mudança só veio a beneficiar ainda mais sua bem sucedida carreira de cantora e compositora. Lá pôde conviver melhor com cantoras como a amiga Simone Guimarães e Miúcha, irmã de Chico Buarque e com Roberto Menescal, que a adora e a convidou a participar do disco em sua homenagem, o excelente Elas Cantam Menescal, lançado no ano passado, ao lado de Sandra Duailibe, Cely Curado e Nathália Lima (todas de Brasília).

Márcia Tauil é música para os olhos.  Bom senso e discrição são marcas de alguém que leva à sério seu canto.  Moradora de Brasília, Márcia nasceu em Guaxupé, cidade mineira a qual tem muito carinho. Dona de uma voz encantadora, Márcia é responsável por lançar discos memoráveis, como o Sementes no Vento, lançado em 2003, em que canta as músicas feitas pela dupla Eduardo Gudin e Costa Netto, com músicas caprichosas e honrosas.

Cantora, compositora, musicista, mãe, Márcia Tauil faz do seu cantar seu alicerce para a música popular brasileira ser ainda melhor. Eleita pelo Mais Cultura! como a 5º Melhor Cantora do Brasil dos Últimos 10 Anos dentro da MPB, Márcia é uma mulher palavras universais e tem dentro de seu universo o mundo da poesia musicada. Tem tudo para todos os gostos e seu traço, em minha opinião, é regido e batizado unicamente pela sua perspicaz sensibilidade. Impulsiona e alimenta nossa vontade e a nossa capacidade de concretização neste mundo. Além de ser uma das maiores compositoras contemporâneas da música brasileira, Márcia tem músicas compostas ao lado de Simone Guimarães e Roberto Menescal e atualmente prepara um novo CD. Sua obra é incrível. É de ouvir, mas também é de cheirar, de pulsar, de sossegar, de chorar. É tão intenso que quando me falta o ar nesse mundo, eu mergulho dentro de suas canções.

Como toda a vida que contém este ar que entra e sai de mim, incontáveis vezes a cada minuto, a música de Márcia Tauil me infesta de felicidade e acalma meu ser. Eu gosto, eu valorizo e eu me transformo enquanto as ouço. Márcia consegue nos transportar a mundos na qual não somos capazes de alcançar, pois sua voz é maravilhosa e é um mergulho certeiro na corrente das águas do coração.

Tudo isso aliado a texturas, pianos, violões, guitarras, coros e detalhes, mostrando uma música moderna, que remete ao que melhor e mais cuidadoso anda sendo feito na música popular atualmente. Nesse caminho, a cantora oferece um conjunto de canções que contam de forma lírica e lúdica um pouco de sua realidade e a visão feminina do mundo ao redor. Bom humor e poesia leve servem a doces melodias que apontam um trabalho afetuoso desde sua composição que deságua em arranjos caprichados, delicados e precisos e sem exageros.

A beleza no canto de Márcia Tauil
Marcelo Teixeira

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Estopim, o melhor CD de Ná Ozzetti

Estopim enriquece a MPB
Lançado em 1999, Estopim é um dos trabalhos de maior repercussão da cantora paulistana Ná Ozzetti. Dona de uma sonoridade acústica (violões, sopros, baixo, percussão), o disco revelou sucessos como Crápula, Capitu, que fora gravada com sabedoria por Zélia Duncan, Ultrapássaro (que batiza o disco de seu irmão, o instrumentista, cantor e arranjador Dante Ozzetti) e Canto em qualquer canto, esta última gravada também por Mônica Salmaso e Ney Matogrosso e que intitula o conjunto CD/DVD do ex-Secos & Molhados. Este CD é resultado de um processo de uma época silenciosa, já que Ná vinha de um silêncio perturbador de um jejum de quase três anos e de discos praticamente meros linguísticos, como foi o caso de , lançado em 1994 ou de Love Lee Rita, lançado em 1996 em homenagem à rainha do rock. Algumas das músicas foram inspiradas na sonoridade da banda com quem fazia shows naquele momento. As letras são de parceiros eternos da cantora, como o inesquecível Itamar Assumpção, e os amigos Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik. O saudoso Itamar, da sua forma, ditou por telefone as letras de Canto em qualquer canto e Sanfoneiros serelepes. Além dessas canções, Ná escolheu umas parcerias do Dante com o Luiz e o Zé Miguel.

Originalmente composto de 14 faixas, Estopim foi produzido por Ná e por Dante Ozzetti (que também assumiu o violão de nylon), e contou com os tarimbados Caíto Marcondes (percussão), Geraldinho Vieira (baixo) e Kiko Moura (violão de aço), além dos convidados especiais de Dimos Goudaroulis (violoncelo), Fábio Tagliaferri (viola) e Marta Ozzetti (flautas). André Magalhães (bateria em Capitu), o parceiro Luiz Tatit (voz em Estopim) e a cantora e parceira Suzana Salles (voz em Princesa encantada) também participam do CD.

A música Nosso Amor é uma embolada maravilhosa que fala de amores perdidos e fofocas alheias, um amor que não cansa de durar, mas que é falado aos quatro cantos. A triste Outra Viagem, de Miguel Wisnik é uma viagem além do que nossa vista possa alcançar, um tempero refinado de uma embarcação referida ao tempo de ventos e naturezas que ainda podemos almejar. A voz de Ná nesta canção é de arrepiar e o violoncelo de Dimos Goudaroulis combinando perfeitamente com o violão de Dante Ozzetti faz toda a atmosfera ficar repleta de mistérios, como se a canoa referida na canção estivesse por chegar a qualquer momento.

Ultrapássaro é uma deliciosa canção de Miguel Wisnik com Dante Ozzetti e a melodia desta canção faz com que a letra nos transporte a um mundo imaginário, capacitado de pássaros, sertão, carvão, terra, nuvem! Brilhos para o som final, que é divino e com a bela voz de Ná nos vocalizes.  O Tapete é uma canção irônica, se é que assim posso chamar. Com o bárbaro início de um amor que trouxe um tapete lá das bandas do Iraque, a música tem um sotaque forte do mundo árabe, onde o tapete tem forte influência cultural, assim como o camelo citado na música.

Eu Voltarei, Viu é uma emocionante viagem no tempo de quem estava longe de sua terra e a deixa de um jeito e quando volta a encontra de outro formato, havendo um estranhamento incabulado e assustador. A música Desfile denota tudo aquilo que é representativo em uma pessoa nos dias de hoje e de onde esta origem vem. Assim como na música, há um desfilandeiro de aprendizagem a qual chegou a personagem, demonstrando sua satisfação e orgulho por seus ancestrais e suas origens. Uma bela canção.

A sacada genial de Itamar Assunpção é destacada em Sanfoneiros Serelepes, cujo faz uma bela e justa homenagem aos veteranos sanfoneiros, fazendo uma mistura generalizada entre Mozart, Verdi e Wagner com Osvaldinho, Dominguinho e Hermeto Pascoal, numa alusão de que sanfoneiros são alegres e poetas seguem tristes. Toque de Reunir reúne todas as facetas de quem precisa tomar rumo de vida e fazer as escolhas que é preciso fazer sem medo.

Estopim é o marco da carreira de Ná Ozzetti. São belas canções, ótimos arranjos, excelentes melodias, perfeitas parcerias. Itamar Assunpção ainda estava vivo para compor belas músicas e nos brindar, ocultamente, com um dos melhores discos da MPB.

Estopim – Ná Ozzetti
Nota 10
Marcelo Teixeira

terça-feira, 28 de maio de 2013

Os voos de Mônica Salmaso em Voadeira

  
Voadeira: o melhor de Mônica
Nascida em São Paulo, Mônica Salmaso começou sua carreira na peça O Concílio do Amor dirigida pelo premiado diretor Gabriel Villela em 1989. Em 1995, gravou o CD Afro-Sambas, um duo de voz e violão arranjado e produzido pelo violonista Paulo Bellinati, contendo todos os afro-sambas compostos por Baden Powell e Vinícius de Moraes. Foi indicada para o Prêmio Sharp – 1997 como Revelação na categoria MPB. Foi vencedora do Segundo Prêmio Visa MPB – Edição Vocal, pelo juri e aclamação popular em 1999. Foi ganhadora do prestigioso Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) de 1999, e o CD Voadeira recebeu os mais rasgados elogios, sendo considerado pela crítica como um dos dez melhores lançamentos do ano. Na edição do dia 4 de fevereiro de 2002 do The New York Times, o crítico Jon Pareles coloca Mônica Salmaso como um dos principais nomes surgidos recentemente na música popular brasileira.

Classifico o CD como uma lindeza pura de uma brasilidade única. Mônica fascina a cada sílada cantada, a cada verso cantado e a cada disco lançado. Sua beleza cantada é favorecida a uma grande interpretação e uma grande voz, diferenciada de outras cantoras. Em Voadeira, Mônica Salmaso equilibra gêneros distintos da música brasileira como o samba, a valsa, o baião, o xote e a modinha, revelando sua visão distinta e elegante a cada interpretação e leitura musical.

Em Voadeira, Mônica Salmaso equilibra gêneros distintos da música brasileira como o samba, a valsa, o baião, o xote e a modinha, revelando sua visão distinta e elegante a cada interpretação e leitura musical. Tudo aqui é encantador, mágico, belo, espontaneo e brasileiro. A cantora Mônica Salmaso é apontada por músicos e críticos como uma das grandes revelações dos últimos tempos e até mesmo por setentões como Chico Buarque e a queridinha dos japoneses, como a cantora Joyce Moreno. Sendo seu terceiro (e ótimo) disco de carreira, Voadeira sela sua maturidade e maior liberdade artística.

Em um mercado pródigo em vozes femininas estridentes e exaltadas, o Brasil ainda carece de grande cartazes que façam ecoar mundo afora e Mônica Salmaso se destaca pela sutileza. Há tons melancólicos em algumas faixas que flui de seu timbre de contralto e permeia todo o repertório, dando mais qualidade e resistência ao seu talento.

O CD é equilibrado por músicas inéditas de Mário Gil, Ná Ozzetti e Itamar Assumpção e Joyce Moreno se misturando com obras-primas de Chico Buarque, na excelente Valsinha, que foi uma parceria com Vinicius de Moraes. Chama a atenção a arrepiante O Vento, de Dorival Caymmi.

A coerência impede que a diversidade de ritmos – samba, modinha, valsa e xote – se converta em tiroteiro de balas extremamente perdidas. Voadeira tem instrumentação mínima, o que valoriza as qualidades da cantora e a textura das canções escolhidas com critério. Os arranjos são impressionantes em Beradêro, música de Chico César, que conta apenas com o contrabaixo de Rodolfo Stroeter. O samba Ilu Ayê (Terra da Vida) é reconstruído sobre a pontuação ritímica dos pandeiros e das cuícas de Marcos Suzano.

O título do disco sugere altos voos. Voadeira é um barco que sobe o Rio São Franciso, como cita a música de Chico Buarque e tem um sentido de assistir à vida e navegar contra a corrente. E tudo se parece com água, que nada sem parar e tem uma fluência emocional que é dificil explicar.


Voadeira – Mônica Salmaso
Nota 10
Marcelo Teixeira

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O swing de Luciana Mello em 6º Solo


Luciana Mello surpreende
Doses generosas de samba, baladas envolvidas em sonoridades delicadas, uma pitada de jazz e um repertório que parece ter sido escolhido à dedo. Assim é (resumidamente claro!) 6º Solo mais recente trabalho da cantora Luciana Mello lançado nos últimos meses de 2011. O álbum expõe uma brasilidade musical madura com arranjos feitos na dose certa para a voz firme da moça. Luciana buscou pérolas nos trabalhos de gente tarimbada da MPB para criar um ambiente cheio de nuances, sem medo de colocar no mesmo caldeirão os diferentes temperos da nossa música. Frescor e atemporalidade andam de mãos dadas por todo o álbum. O repertório traz o poder de fogo dos versos de Gonzaguinha na faixa Recado, a força das raízes africanas em Áfrico de Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro e a levada cheia de swing do irmão Jairzinho Oliveira em Tchau. Isso sem falar na elegância de Couleur Café de Serge Gainsbourg que tem a participação do alemão-franco-canadense Cornelle e do samba de primeira Mentira, onde Luciana divide os vocais com o paizão cheio de categoria Jair Rodrigues. Tudo isso na produção bem conduzida de Otávio de Moraes, que com muita sensibilidade captou perfeitamente o que Luciana queria dizer.
6º Solo deixa Luciana Mello confortável para buscar na diversidade sonora todas suas influências e raízes e à partir daí ampliar seu território sonoro. Já fazia quatro anos que Luciana Mello não lançava um disco seu. Com 6º Solo, a cantora mostra que o tempo foi importante para que conseguisse colocar em prática antigos desejos. Um deles foi o de gravar com a banda tocando ao vivo, no estúdio. 
O apego ao natural vem no embalo da paixão pela música brasileira. Em 6º Solo, Luciana deixa o soul um pouco de lado para experimentar também ritmos que têm a ver com sua origem. Ela cresceu com a oportunidade de ouvir MPB dentro de casa, ao lado do pai e dos amigos deste. Esse disco mostra toda essa influência brasileira, que é do seu pai, do seu irmão, dos músicos que conheceu.
O pai, Jair Rodrigues, participa na música Mentira e ninguém melhor que ele para chamar do que o cara que lhe apresentou o samba. O músico canadense Cornelle divide a canção “Couleur Café” com Luciana. O disco abre com Chico César (Descolada) e Tchau (Jair Oliveira). O repertório traz também a bela Se For Pra Mentir, de Arnaldo Antunes.

6º Solo – Luciana Mello
Nota 10
Marcelo Teixeira


                                                              


sexta-feira, 24 de maio de 2013

O samba cadenciado de alta qualidade de Virgínia Rosa


O CD: bem caprichado
Virgínia Rosa é, sem dúvidas, uma das maiores cantoras deste país. Como bem disse uma vez o jornalista Donizete Costa, no Brasil existem três rosas: a Passos, a Colin e a Virgínia. E isso é comprovado no excelente disco Samba a Dois, seu terceiro disco de carreira. Lançado pela Eldorado em parceria com a Distribuidora Independente, Virgínia passei por ritmos bem brasileiros e escolheu a dedo os melhores compositores para cantá-los com sofisticação, dando uma nova releitura para músicas como As Rosas Não Falam, do mestre Cartola. A multiplicidade de seu canto vem da escola de Virgínia, que foi vocalista na banda de Itamar Assumpção. Em seu caminho solo sempre primou pelo bom gosto musical e coloca seu vozeirão a serviço de grandes obras. Longe do marasmo óbvio das regravações, Virgínia pesquisa seu repertório com afinco e desenvolve com sua personalidade forte e marcante.

Em Samba a Dois, Virgínia da uma nova fardagem para o clássico e até incursões pelo samba de compositores como Bebel Gilberto, Marcelo Camelo, Orlando Moraes e Celso Fonseca. Mas também apresenta os novos nomes de Luísa Maita e Tito Pinheiro. De Luísa, que já teve músicas gravadas por Mariana Aydar, Virgínia escolheu duas músicas: Madrugada e Amado samba. Da obra de Tito Pinheiro escolheu Sereno.

O disco abre com a faixa-título, composição de Marcelo Camelo apresentada como um samba atual e a versão de Virgínia segue um caminho diferente das cantadas por Marcelo Camelo, seu criador, que a deixa com ares melancólicos ou por Fernanda Porto, que ridicularizou a canção com suas incursões eletrônicas. Virgínia mostra a versatilidade da ótima canção.

Ares da bossa nova, os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle aparecem com a contagiante quebrada Que bandeira, em uma ótima releitura. Filhos da bossa, Celso Fonseca é representado com Meu samba torto e Bebel Gilberto em O caminho, já gravado no segundo álbum internacional da cantora.

A bem sucedida parceria com o músico Dino Barioni, cujo já trabalharam juntos no excepcional CD A Voz do Coração Ao Vivo, responsável pelos arranjos, é outro ponto a favor de Virgínia. As rosas não falam ganha um acompanhamento único, flertando com um tango argentino. Cartola dança com a dama pelo salão com desenvoltura acompanhado pelo acordeon de Lula Alencar, ficando impossível ficar parado. Entre os mestres do samba ainda colheu Quero estar só (Candeia, Wilson Moreira e Selma Candeia) e Voltei (Baden Powell e Paulo César Pinheiro). Apresentada como faixa-bônus no final do CD, Virgínia mostra sensibilidade em Sonho e saudade, composição de Tito Madi gravado pela cantora para a trilha sonora do filme Bens confiscados.

Apesar do título, Samba a Dois vai além e se junta com fados, tangos e outras praias. Mas sempre com o sangue quente do bom samba e a cadência da voz da paulista. Criada nos palcos da vanguarda, Virgínia Rosa tem jogo de cintura para brincar com a música sem se impor limites. Conhece bem sua praia e sabe o que lhe cai bem. Seu canto maduro e sua veia de artista fazem desse Samba a Dois um trabalho digno das grandes cantoras da música brasileira.

 

Samba a Dois – Virgínia Rosa

Nota 10

Marcelo Teixeira

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A riqueza maior de Jussara Silveira


Ame Jussara Silveira
Jussara Silveira traz a sua energia artística no desenho musical que sucede do canto valioso e límpido, caprichada pronúncia, timbre suave e feminino, repertório impecável, sutilezas cênicas de quem finge que não sabe que é uma rainha. Uma simplicidade que comove porque atesta ainda mais a sua grandeza. Cuidados estéticos com o figurino e a beleza natural que carrega em si na sua condição de mulher. Faz tempo que planejava escrever sobre Jussara, mas faltavam-me argumentos e o medo de errar ao contempla-la seria trágico. Mas ao ouvir o novo disco da cantora, pude sentar diante o note e escrever algo. Ou melhor, tentar. Escandalosamente: pura emoção. Como está cantando Jussara Silveira! Como se anuncia e se orquestra o talento e a dignidade da dama dos teatros e das eletrolas mais exigentes deste país! Jussara Silveira é uma cantora de teatro, uma anfitriã digna dos melhores shows e sua pele clara como nuvem nos emociona apenas pelo olhar.

É de fazer chorar o novo disco, intitulado Ame ou Se Mande. Costuras exatas na fala e no canto exprimindo poesia e realces da cultura amorosa entre os humanos. Querer envelhecer, fazer contato imediato, amar uma filha de Oxum, morar em Marte, não sair da Bahia, dançar um Semba, tocar piano misturado à percussão. O vestido de sereia no prata da deusa Iemanjá, no chumbo de Oxalá, para a voz da filha de Odé.

Jussara nasceu em Minas Gerais, mas foi criada na Bahia e dai nasceu o encanto pelos santos e orixás e por Dorival Caymmi. Ame ou Se Mande é o sexto disco de Jussara Silveira que o selo Joia Moderna, de Zé Pedro, lançou no início de outubro de 2011. Feito em parceria com Sacha Amback e Marcelo Costa, o CD traz composições de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos (A Voz do Coração), Cezar Mendes e Capinam (Ifá), André Carvalho e Quinho (Bom), Toni Costa e Luiz Ariston (O Dia que Passou), Roberto Mendes e J. Velloso (Doce Esperança) e até mesmo um poema de Fernando Pessoa musicado por Zé Miguel Wisnik (Tenho Dó das Estrelas).

Destaque também para as regravações de Babylon (Zeca Baleiro), Contato Imediato (Arnaldo Antunes/Carlinhos Brown/Marisa Monte), Dê um Rolê (Moraes Moreira/Luiz Galvão), Marcianita (José Imperatore Marcone/Galvarino Villota Alderete) e Madre Deus (Caetano Veloso).

Foram quatro anos desde os lançamentos de Nobreza (em parceria com Luiz Brasil) e Entre o Amor e o Mar, que Jussara ocupou desenvolvendo projetos paralelos como o DVD Três Meninas do Brasil, gravado ao lado de Rita Ribeiro e Teresa Cristina, o show Viagem de Verão com André Mehmari e Arthur Nestrovski incluindo canções de Schubert a Caymmi, além de colaborar na trilha sonora do espetáculo Sem Mim do Grupo Corpo, junto com Zé Miguel Wisnik e Carlos Nuñes.

Ame ou Se Mande foi gravado em maio de 2011 nos estúdios Zega Music e Yahoo/BR Plus, no Rio de Janeiro. A direção é de Sacha Amback e Marcelo Costa. A distribuição nacional é feita pela Tratore.

O CD é espetacular. Há dois anos não parei mais de ouvi-lo. Voz, música, letras, arranjos: casamento perfeito. Se existe tudo isso junto, podem acreditar que está tudo aqui, no disco de Jussara. Para muito mais além da alma: ouvir Jussara Silveira é se permitir à raridade de uma cantora imprescindível para os ouvidos de quem não vive sem Música Popular Brasileira.

 

Ame ou se Mande – Jussara Silveira

Nota 10

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Nathália Lima: de Brasília para o mundo



A melhor voz do Brasil
Brasília, a capital do Brasil, produz um seleiro de cantoras dignas de respeitabilidade mútua perante o mundo. É difícil não depararmos ao menos com uma cantora que não tenha estado em Brasília, passado um tempo em Brasília ou, melhor, ter nascido em Brasília. A efervescência da música aconteceu (e ainda acontece) em Brasília. No final dos anos 1970, predominavam os ritmos regionais como o forró e a música sertaneja e já nesta época, despontava no grupo Secos e Molhados o cantor Ney Matogrosso, que fora profissional da área de saúde na capital federal. No começo dos anos 1980, surgiram várias bandas de rock vindas de Brasília que despontaram no cenário nacional, como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, todas com influência punk. Na mesma época, um carioca criado em Minas Gerais, Oswaldo Montenegro, se tornava conhecido na cidade, montando espetáculos de cujo elenco fazia parte Cássia Eller, que seria, anos mais tarde, uma das maiores cantoras do Brasil.

Nesta mesma época surgiu, paralelamente ao cenário do rock, o reggae de Renato Matos e outros movimentos culturais que criaram o Projeto Cabeças, de onde surgiram vários artistas de Brasília. Na década seguinte, despontaram o hard core dos Raimundos e o reggae do Natiruts. Alguns músicos e cantores que moraram em Brasília durante esse período foram Ney Matogrosso, Zélia Duncan e membros da Legião Urbana e dos Paralamas do Sucesso.

Brasília produz muita música de qualidade, muitas cantoras respeitadas e admiradas. Mais recentemente, o choro vem ganhando adeptos em Brasília, resultando na criação de clubes de choro, como o Clube de Choro de Brasília. A capital do Brasil também é adepta da bossa nova e por lá vive o grande Roberto Menescal que, juntamente com cantoras do naipe de Márcia Tauil, Sandra Duailibe, Emília Monteiro, Cely Curado e Nathália Lima, fazem de Brasília uma das efervescências mais abundantes e sedutoras que já vi.

Conheci o trabalho e a voz doce de Nathália Lima ao ouvir o disco Ela Cantam Menescal, o que eu apelidei de As Quatro Vozes, por se tratarem de quatro grandes vozes para homenagear um grande compositor. E confesso que me apaixonei por essa cantora, doce, meiga e encantadoramente divina. Nathália Lima tem o dom de exprimir suas qualidades artísticas como quem sabe o que quer, mas também como quem não sabe o tamanho de sua grandeza.

Prestes a lançar um novo disco, Nathália Lima vêm ultimamente se apresentado em shows por Brasília cantando Gonzaguinha e para quem não está na capital brasiliense vale a pena conferir os ensaios que existem pelas redes sociais. Nathália Lima canta interiormente e tentamos descobrir como pensa, sente e age em suas interpretações. Singela, a cantora norteia um repertório com sensibilidade e astúcia e nocauteia-nos com uma voz cristalina. Revela-nos o íntimo da alma, o seu eu interior, suas esperanças, sonhos, ideais, suas motivações: a música. Às vezes é possível que percebamos essa manifestação em sua voz, esse brilho em seu cantar, esse magnetismo sensível que nos passa a emoção maior de sua música e assim não estamos reprimindo os nossos sentimentos e impulsos, pois a música que Nathália Lima canta passa a ser única.

Nathália Lima canta com a feminilidade brasileira que talvez a música exija e consegue com a compreensão e a descoberta de um novo som nos passar algo valioso, atuando como força positiva todo o ambiente em que está. É o prazer em cantar que está presente todas as suas manifestações, em todos os seus poros e em todos os seus trejeitos singulares e mansos. A serenidade de Nathália Lima faz a efervescência cultural de Brasília ser mais rica e dinâmica.


A voz doce de Nathália Lima

Marcelo Teixeira

terça-feira, 21 de maio de 2013

Agenda Mais Cultura! Marina Wisnik


Marina Wisnik no Sesc
Dona de uma voz encantadora, a cantora paulistana Marina Wisnik volta aos palcos da cidade para mostrar as músicas de seu mais recente disco, o maravilhoso e brasileiríssimo Na Rua Agora, lançado no ano passado com requintes elegantes e distintos. Marina consegue captar algo a mais na música brasileira e nos transporta a um mundo imaginário, incapaz de traduzir, mas que é ao mesmo tempo inovador e sublime. Na Rua Agora é um desses discos que nos pegam de surpresa já na primeira música e audição. Com produção de Marcelo Jeneci e Yuri Kalil, Na Rua Agora é constituído por palíndromos e melodias simples, mas com um conteúdo fantástico sobre coisas adversas. Filha do compositor, cantor e professor da USP, José Miguel Wisnik, Marina segue seu próprio caminho, mesmo tendo como tiracolo o sobrenome famoso. O que importa é que seu CD de estreia é uma maravilha. Depois de ouvi-lo determinadas vezes, só me resta recomendar, mais uma vez, para que outras pessoas também se deleitem com o trabalho desta cantora espetacular, que é considera mais uma revelação do novo cenário musical na música popular Brasileira. O show é nesta quarta feira, às 20:30, no Sesc Vila Mariana, no Auditório.

 

Agenda Mais Cultura!

Marina Wisnik

Local: Sesc Vila Mariana

Rua Pelotas, 141 / São Paulo / SP

Horário: 20:30

Dia: 22/05/2013

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Cadê Zezé?


Sem voz
Estou com tanta pena do neo-sertanejo e pai da dublê da Britney Spears, Wanessa e irmão do Luciano, por estar sem voz, que isso chega a me dar pena! Recebi alguns e-mails de fãs ardorosos (homens, na sua maioria), pedindo para que eu me retratasse ou retirasse o artigo O Fim de Zezé do ar, mas para a minha felicidade e para a prosperidade maior da nação, não vou retirar o artigo. Zezé di Camargo, o cantor que iniciou a carreira ao lado do irmão (?), que virou tema de filme, usou e abusou dos cortes ridículos de cabelo e ainda colocou a família para trabalhar, passou da hora de aposentar e viver de capim. Aliás, Zezé di Camargo está afastado há alguns meses e um pouco depois que postei o artigo, ele deu uma sumida e cantava sempre em play black. Pudera, mas Zezé, o ídolo das mentes ocas, já está praticamente mudo, para alegria minha e de muitos.

Qual o último disco do cantor? Qual o último sucesso? Não sei se terei respostas para as minhas próprias perguntas, mas a bem da verdade, não quero saber nada da carreira de Zezé. O que quero é que sua música ralé e blasé sigam para lá depois da ponte que está se quebrando. Sua voz não é mais a mesma. E esse pequeno artigo é só para reforçar que tudo aquilo que vem fácil, vai fácil. Zezé não fará falta para a música popular brasileira, portanto, o aconselho a ir para a Islândia, um país frio e que por lá ele não precisará cantar é o amor, que mexe com minha cabeça... que lixo!

 

Cadê Zezé?

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O mediano (e cansativo) disco de estreia de Maria Gadú


O CD: cansativo às vezes
A estreia da paulista radicada no Rio de Janeiro Maria Gadú não poderia ser mais luxuosa. Era preciso conhecermos uma grande cantora, que estivesse antenada com o seu tempo, mas também relembrando sucessos antigos. Maria Gadú foi uma promessa que deu certo no primeiro disco, pois sua cultura musical era imensa e repleta de suspense, pois até então, ninguém sabia seus gostos prediletos. Com o tempo, descobriu-se que Caetano Veloso era seu cantor preferido, Ana Carolina se tornou a melhor amiga e Maria Gadú continuou trilhando seu universo musical brilhantemente. Seu primeiro CD, autointitulado e lançado pela Som Livre em 2009, tem apresentação belíssima, com direito a capa dura, encarte colorido com letras, informações e inúmeras fotos.

A embalagem é diferenciada, em formato digipack que sai do padrão, digno das grandes estrelas. Além disso, amúsica, Shimbalaiê, estava em trilha de novela global e, curiosamente, praticamente todas as faixas tocavam nas rádios de todo o Brasil, inclusive o grande sucesso francês Ne Me Quitte Pas, imortalizada na voz de Edith Piaf, já cantada por Cássia Eller e Maysa.

Gadú, cujo nome de batismo é Mayra, tem um bonito timbre vocal, sem sombra de dúvidas. Existe uma semelhança com o som de Marisa Monte, sim, e isso se ressalta devido à sonoridade que a moça segue, que tem muito a ver com o estilo MPB pop da autora da estrela carioca. O clima fica ainda mais próximo devido ao uso de músicos de estúdio de ótimo gabarito, mas que acabaram por ajudar o disco a soar meio pasteurizado, semelhante demais ao que se tem feito no que se rotulou de nova MPB, e que frequentemente cai em um clima redundante e soporífero demais.

Oito das treze faixas incluídas em Maria Gadú, o CD, são de autoria da própria, e ela se mostra ainda em busca de uma assinatura própria, com repetição de frases melódicas e letras que investem mais em forma do que em conteúdo. Nas releituras, mostra-se mais à vontade, mas pouco acrescenta a clássicos como Ne Me Quitte Pas (de Jacques Brel) e A História de Lilly Braun (de Chico Buarque e Edu Lobo) em relação a gravações de outros artistas. O pior momento é a faixa que encerra o disco. Gadú tenta dar a Baba, aquela mesma de Kelly Key, um clima acústico descolado, e só consegue evidenciar o quanto essa música é fraca.

Muita gente deve ter ouvido Shimbalaiê (e depois se cansar com ela) e achado se tratar de uma nova de Marisa Monte, devido a sonoridade. Teve pessoas que juravam que a letra era de Marisa, assim como achavam que Altar Particular, um samba cadenciado, era uma parceria de Paulinho da Viola com Tereza Cristina. Creio que Maria Gadú tem futuro, apesar de tudo, apenas dos pormenores. Maria Gadú canta mais ou menos, mas o disco de estreia é legalzinho, não chega a ser ótimo, mas pode ser que ela sofra da mesma síndrome de outra cantora talentosa, Ana Cañas: faz bons shows, mas não consegue trazer esse clima para seus discos de estúdio. Vejamos o que o futuro irá proporcionar a elas. Tomara que algo melhore.

Escudos é a melhor faixa, assim como a delicada Linda Rosa. Tudo Diferente se torna cansativa e arrastada demais, chega a ser tão irritante, que prefiro nem ouvi-la, mas isso deve-se ao tempo que a canção leva com repetidas frases e a mesmice de sua mensagem. Laranja, cantada em parceria com Leandro Léo, é uma canção engraçada e Lounge parece ser feita por Ana Carolina, tamanha a semelhança. Seja como for, Maria Gadú canta bem, com sua voz meio rouca, meio masculinizada e isso por vezes soa satisfatório.

Maria Gadú tenta, através do CD de estreia, demonstrar tudo: boa música, boa voz, boas letras, arranjos sensacionais, mas esqueceu-se de que a música carece de muito mais do que tudo isso: o público fiel. Angariou diversas pessoas ao seu leque, cantou de Chico Buarque a Caetano em seus shows, mas a sua maior plateia é o público GLS, que lotam seus espetáculos. Maria Gadú é um disco gostoso de ouvir, mas apenas algumas vezes. Logo o mais, você o guarda na estante e só o descobre quando passa por ali despercebido. Pensa se ouve, pensa mais um pouco, e escuta uma faixa, pula a outra. Maria Gadú é assim: ainda encontrando sua identidade. Mas para um disco de estreia, patrocinada por uma grande empresa televisiva, tendo amigos diretores de telenovela como ajudantes centrais, fica muito mais fácil fazer um disco com pitadas de qualquer coisa. Só acho que Maria Gadú poderia ser melhor. Como? Cantando as suas verdades. Apenas as verdades.

 

Maria Gadú - Maria Gadú

Nota 7

Marcelo Teixeira

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pedro Mariano: sucesso e decadência


Pedro: sem rumo certo
Sempre me perguntei o porque Pedro Mariano nunca tinha gravado uma música com a irmã, Maria Rita. Isso não aconteceu nem no CD em homenagem à mãe, uma tal Elis, que Maria Rita gravou ao vivo e em disco duplo no ano passado. Critiquei a atitude de Maria Rita no artigo Redescobrir revela Maria Rita como Elis Regina por um dia, em não convidar o irmão meia boca para cantar os sucessos da mãe. Em vão. Pedro Mariano veio com um disco de estreia digno dos melhores para um iniciante e tentou se desvencilhar da imagem da mãe, que conseguiu com tamanha maestria. O disco foi muito bem aceito pela crítica, pelo público e por pessoas ávidos por uma boa música. Estou me referindo ao disco Voz no Ouvido, já retratado aqui no Mais Cultura Brasileira! e não o seu canhestro disco, lançado em 1997, chamado Pedro Camargo Mariano, lançado pela Sony Music, hoje quase uma relíquia ao ser encontrado nas lojas e departamentos e que infelizmente eu tenho para meu desgosto.

Pedro Mariano já passou por tantos infernos astrais, que apenas o sobrenome e a mãe que teve não podem fazer nada por ele. Depois de Voz no Ouvido, sua carreira acabou definitivamente. Tentando se valer de mocinho direito que faz a lição de casa corretamente, lançou em 2002 Intuição, que contou com composições de Jorge Vercilo, Tom Jobim, Lulu Santos e voz de Zélia Duncan e um grupinho da Trama. O disco não fez tanta repercussão como o anterior e em 2003 lançou com o pai, César Camargo Mariano, o delicioso disco Piano e Voz, com músicas de Noel Rosa, Gilberto Gil e Rita Lee. O disco passou despercebido pelo público, mas ainda assim, retoma a carreira de cantor de MPB que muitos esperavam de Pedro Mariano.

O que falta na carreira de Pedro Mariano deslanchar é sair da barra da saia da mãe e assumir uma posição maioral de cantor e que pode mandar em seu próprio nariz, assim como faz a irmã, Maria Rita. A briga que teve com o meio irmão, João Marcelo Bôscoli, em 2004, fez com que a carreira dele despencasse para o nicho. Pedro engordou e muito, ficou feio, sua voz já não estava mais agradando e seus discos estão caindo na cafonice. Esperemos que a volta por cima do cantor seja rápida, pois o grupo da Trama veio para se firmar como os filhos ilustres dos pais que fizeram muito pela nossa música.

 

Pedro Mariano: sucesso e decadência

Marcelo Teixeira

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O lado Z de Zeca Baleiro


Lados misteriosos
Zeca Baleiro é um dos cantores e compositores da nova geração que consegue lançar qualquer disco, seja autoral ou não e que vale a pena conferir, pois suas tiradas são geniais e as musicas são sublimes. Lado Z Volume 2 (MZA Music / 2012 / 19,99), que destaca a face intérprete de Zeca Baleiro e reúne algumas valiosas colaborações com outros artistas, gravações para trilhas e especiais. Assim como o Volume 1, lançado em 2007, o LADO Z Volume 2 atende também aos pedidos de fãs, que gostam de ter suas gravações dispersas reunidas em um disco com começo, meio e fim. O LADO Z é um projeto especial, que comprova mais uma vez que a música de Baleiro não tem tribo (ele já cantou isso em Pet shop mundo cão) e coloca em evidência sua vocação para a pluralidade. O LADO Z é uma pequena amostra disso, uma vez que Baleiro já fez mais de uma centena de participações em discos de amigos e parceiros.

No Volume 2 estão Você só pensa em grana (com Paulinho Moska), Proibida pra mim (com Charlie Brown Jr.), Léo e Bia (com Oswaldo Montenegro), Uma canção no rádio (com Fagner) e Xanéu nº 5 (com Teatro Mágico), além de gravações especiais como Maresia e Homem com H, imortalizada na voz e na dança de Ney Matogrosso, mas que Zeca Baleiro a canta maravilhosamente. O LADO Z Volume 2 ainda traz um Bonus Track, Disritmia, de Martinho da Vila, que já foi cantada por Simone, mas que aqui, Baleiro a canta intimamente. Destaque maior , de autoria de Tom Zé, gravada no CD Poeira Leve, de Adriana Maciel.

E o mistério do porque o disco se chama Lado Z, talvez seja explicado no encarte, que faz todo o sentido, mas que eu não revelarei aqui para não estragar o suspense do álbum.

Disco de altíssimo nível, que só Zeca Baleiro consegue demonstrar do Maranhão para o mundo.

 

Lado Z Volume 2 / Zeca Baleiro

Nota 10

Marcelo Teixeira

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Recanto de Gal Costa


A mansidão de um recanto escuro
O que poderia ser um disco de mesmices, transformou-se em um dos mais belos discos ao vivo da carreira de Gal Costa, que coleciona inúmeros álbuns neste formato, desde homenagens à Tom Jobim como gravando os maiores sucessos. Recanto, disco que saiu no finalzinho de 2011, foi um estranhamento a primeira audição, mas que foi entrando em nossos poros a cada música sentida. Se foi experimentalismo ou inovação, como eu enfatizei no texto, não importa mais. O disco Recanto é um primor e alça mais uma vez, graças às mãos de Caetano Veloso, que fez com que Gal Costa saísse do marasmo de canções ora tropicalientes, ora bossa novista e/ou canções regravadas. O acerto foi tamanho, que o publico mais jovem passaram a ver Gal Costa com mais brasilidade e ao mesmo tempo, passaram a ouvi-la com mais intensidade.

Recanto Gal Ao Vivo por si só já valeria as canções originais do original, pois são de um brilhantismo maravilhoso ouvir músicas como Miami Maculelê e Tudo Dói, mas a direção assinada por Caetano Veloso preferiu inserir canções que fizeram sucesso na voz de Gal em cada etapa de sua vida, fazendo, assim, uma nova roupagem para músicas como Folhetim, Modinha para Gabriela, Baby e Vapor Barato. Destaque para Barato Total, que ficou bacanérrima.

Exceto Folhetim (Chico Buarque), Barato Total (Gilberto Gil), Deus é o Amor (Jorge Bem), Vapor Barato (Jards Macalé / Waly Salomão), Um Dia de Domingo (Michael Sullivan / Paulo Massadas) e Modinha para Gabriela (Dorival Caymmi) o resto do repertório é de autoria de Caetano Veloso sozinho ou acompanhado, caso de Divino Maravilhoso, que foi feita em parceria com Gilberto Gil.

Geralmente, as grandes músicas, os grandes sucessos, quando vem embalada de novos sons, nova sonoridade e novo arranjo, tendem a mascarar as músicas que estão sendo trabalhadas ultimamente e aqui em Recanto Ao Vivo não é o que acontece. Grande sacada colocarem Baby (cantadíssima até hoje dentro e fora do país) e que foi acoplada com o mega sucesso dos anos 70, Diana, como música incidental.  Outra grande sacada foi não estender as canções antigas, talvez para não abafar e soterrar as novas; sendo assim, Modinha para Gabriela, Meu Bem Meu Mal e algumas outras do passado glorioso de Gal, tiveram tempos curtos no álbum ao vivo.

A homenagem à Tim Maia fica por conta de Um Dia de Domingo, cantada na primeira parte por Gal e na segunda por uma Gal imitando, engraçadamente, a voz de Tim Maia. O público vai à loucura e ri e canta e aplaude, tudo isso num misto de encantamento.

Gal está leve no show e isso fez com que o CD saísse praticamente perfeito. Sua dramaticidade, suas emoções, sua voz, sua música, tudo se encaixou perfeitamente no recanto escuro que se tornou o Teathro Net Rio.

Em comum, Recanto traz o desejo de transgredir, de ir além, e mostra as várias Gals que pontuam uma carreira prestes a completar meio século de estrada. Além da voz límpida e do repertório que mescla composições inéditas com clássicos da MPB, todos devidamente reembalados para o século 21, o êxito do novo álbum também deve muito ao clima familiar dos bastidores e do visto em cena.

Por isso Recanto Gal Ao Vivo tem tudo para ser o melhor CD de 2013.

 

Recanto Ao Vivo – Gal Costa

Nota 10

Marcelo Teixeira