sexta-feira, 24 de março de 2017

O vergonhoso baixo nível de Simone e Simaria



Baixo nível cultural
Não gosto da dupla de cantoras sertanejas Simone e Simaria e esse é o meu gosto particular e você não é obrigado a concordar comigo. Essa ondinha de cantoras sertanejas que descaracterizam o estilo, simplesmente não me descem goela abaixo e apenas desqualificam a raiz sertaneja e aqueles que construíram o costume popular do homem trabalhador, reforçando a cultura do campo, da roça, do povo humilde. Já disse inúmeras vezes que gosto da música sertaneja, mas antes de aberrações como Zezé di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo e outros insensatos aderirem ao estilo, deixarem a cinco palmos do chão de terra batida. De uns tempos para cá, as mulheres sertanejas vêm detonando a música de raiz e conseguindo afundar em mais dois palmos aquilo que já estava ruim. Exceto Bruna Viola, as demais cantoras estragam aquilo que chamamos popularmente de sertanejo universitário e, com roupinhas curtas a ponto de mostrarem pernas marombadas, cinturas de pilão, rostinho lisinho, cabelos bem tratados, essas mesmas cantoras se esquecem de um triunfo fundamental para com o público e para com aqueles que poderiam vir a gostar de suas músicas: o respeito. Como já disse em artigo sobre Marília Mendonça, o que essas mulheres cantam é a apologia à traição, ao desrespeito ao próximo, ao confinamento da própria mulher e a participação do homem como semente embrionária de um serviço hostilizado, como, por exemplo, o de poder ser infiel. Se tudo isso não bastasse, as cantoras que estão no topo do sucesso sertanejo são as irmãs Simone e Simaria que, com um astral que não contagia a ninguém, chegam a ser uma poderosa arma contra tudo aquilo que a pluralidade cultural tanto pede: o respeito ao próximo. Neste ponto que queria tanto chegar, gostaria de dizer que fico envergonhado de ver uma cantora chegar a agredir o seu público com tapas e pontapés para defender uma moral familiar, que poderia ser resolvido com a retirada do mesmo daquele ambiente pelos brutamontes seguranças. Chega a ser arrogante e intrépido parar de cantar para resolver no tapa e no grito aquilo que ficaria visível para milhões de brasileiros mundo afora. Se elas acham isso bonito e de grandeza espetacular, eu as repudio, pois a melhor forma de resolverem isso seria na resposta à altura para quem as ofenderam. Em primeiro lugar, elas precisam se colocar como cantoras e que estão sendo copiadas, infelizmente, por milhares de pessoas e essas atitudes de bater, chutar, empurrar, agredir verbalmente, apenas faz entrar para seus currículos a falta de empatia e civilização e, pior, que a educação que tiveram é tão baixa quanto as roupas que vestem. A música, definitivamente, sai perdendo com tudo isso.

O vergonhoso baixo nível de Simone e Simaria
Por Marcelo Teixeira

sábado, 18 de março de 2017

Disco (2013) de Arnaldo Antunes é um grande disco poético


O disco de Arnaldo
Não é de hoje que venho alimentando o desejo de escrever sobre Arnaldo Antunes e de poder dizer que o cantor e compositor se sobressai melhor em carreira solo do que com a banda Titãs. Isso fica claro e evidente em seus discos autorais e em músicas que a banda recusou, colocando o grande artista em destaque inferior (assim como fizeram com Nando Reis, ex titã). Arnaldo já passeou por todos os estilos musicais e por todas as esferas, que fica quase impossível dizer que não tenha sido explorador de alguma categoria musical. Grande poeta que consegue transpassar para a música o seu recado, Arnaldo vêm de uma veia roqueira com o coração manso, passando pelo mundo infantil (Pequeno Cidadão) até chegar os sensacionais e líricos Qualquer (2006) e Iê Iê Iê (2009). Pelo conjunto da obra e pela sofisticação territorial que conseguiu alcançar, o músico chegou à sua extensão poética de qualidade ímpar e solitária com o disco que chega a ser o ápice de sua carreira: Disco (2013 / Rosa Celeste / 27,99). Mas por que esse disco é tão bom assim? O que têm de tão especial que os outros discos dele não têm? Disco é simplesmente o resumo categórico de vinte anos que podaram a inteligência monumental de sua existência física e mental. A métrica simples que foi incorporada a todo o momento de forma única é o que marca a simetria de Disco, uma obra que praticamente nasceu pronta, mas que ficara guardada por muitos anos, em um simbolismo cultural arcaico perante os olhos de uns e sentimental e puro perante os olhos do autor principal. Tudo aqui soa muito simples, muito calmo e muito lúdico e, por esse motivo, Disco acaba sendo um disco atemporal, lírico e sincero.

 

Disco (2013) / Arnaldo Antunes
Nota 9
Marcelo Teixeira

 

 

sábado, 11 de março de 2017

Olívia Gênesi canta Chico Science


Olívia: grande cantora
Se estivesse vivo, Chico Science estaria completando agora no dia 13 de março, 51 anos, mas o Brasil acaba de completar no dia 02 de fevereiro, exatos 20 anos de sua partida. Pernambucano, Chico Science era um dos músicos mais completos de seu tempo e tendo a evolução à sua frente, com uma capacidade incrível de juntar ritmos, tocar instrumentos diversos dentro de uma mesma melodia e criar o Movimento Mangue Beat, ainda na década de 1990. Mesmo tendo uma carreira meteórica, o cantor e compositor teve dois discos gravados, turnês mundiais, crítica a seu favor, uma profusão de ideias na cabeça, amigos e músicos que se rendiam ao seu talento ímpar. Muitos cantaram Chico Science, mas poucos de fato reconheceram nele seu real significado. Chico era um artista tão completo que poucos conseguiam desvendar seu lado atemporal e essa atemporalidade permitiu que muitos cantores não ultrapassassem a linha horizontal entre o que de fato Science queria dizer com as letras de sua música como não chegaram ao ápice de uma verdade absoluta. O fato é que para cantar e representar dignamente a obra de Chico Science é preciso uma explosão de sentimentos provocados pelo próprio Science.  Pertencente a uma mesma cultura e homenageando o artista, a multi-instrumentista, cantora e compositora Olivia Gênesi vem desenvolvendo um projeto em que canta seus maiores sucessos, como A Cidade, A Praieira, Manguetown e as menos conhecidas do grande publico, como Maracatu de Tiro Certeiro, Samba Makossa e Cidadão do Mundo.  Olivia é uma expoente da boa música brasileira e está no projeto Manguebeat 20 Anos sem Chico Science, em que traz à tona toda a riqueza de detalhes do Mangue para o palco de forma acalorada, acústica e rica, dando uma remodelada nas músicas, com muito lirismo e muita poesia, dentro do contexto de Science. Vale ressaltar os belíssimos figurinos tanto de palco quanto de roupagem dos artistas que seguem a cantora, Bruno Balan (percuteria) e Fabio Dregs (guitarra). Olivia brilha no piano e na voz. Vale muito a pena ver a performance de uma artista como Olivia homenagear o artista único que foi Chico Science.
 
 

 

Olivia Gênesi canta Chico Science
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

sábado, 4 de março de 2017

A obra-prima de Eduardo Gudin


Obra-prima de Gudin
Se fosse apenas pela interpretação de Eduardo Gudin, Um Jeito de Fazer Samba (2007 / Dabliú Discos / 26,99) já seria um disco e tanto independentemente de sua categoria. Mas as participações de Paulinho da Viola, Vânia Bastos e Quinteto em Branco e Preto fazem tanta diferença, que fica impossível não dizer que esse disco de Gudin não seja perfeito dentro de sua esfera.  Centrado em seu jeito particular de fazer samba, um jeito característico do compositor, esta obra-prima projeta a evidência de seu lado cancionista, como letrista em composições inéditas de sua lavra, bem como em músicas também surgidas no decorrer da vida, mas nunca antes gravadas, em parcerias com Paulinho da Viola, Francis Hime, Paulo César Pinheiro, Luiz Tatit, J. C. Costa Netto, Nelson Cavaquinho e Roberto Riberti. Este belo e rico trabalho celebra a expressão de um artista em sua plena convicção autoral e dominadora, fortemente ligada ao samba e à cultura assimétrica do Brasil, sublinhando a sutil formação do conjunto de informações musicais que assolaram nosso país quando o disco fora lançado. De 2007 até hoje são 10 anos de diferença e lá naquela época a proposta musical como um todo era diferente da de hoje, que requer uma malandragem sambística atemporal que nunca se viu.  O repertório de Um Jeito de fazer Samba tem dois momentos sublimes: a participação de Francis na composição da exuberante Moto Perpétuo e Luiz Tatit em Sensação. Destaque maior para O Amor e Eu, um dos sambas mais lindos que Eduardo Gudin compusera em um momento de distraída atenção poética e que resultou no samba de maior destaque de todos os tempos e que está aqui, bem neste disco atemporal, com um frescor único e sensibilizado à flor da pele.

 

Um jeito de se fazer samba (2007) / Eduardo Gudín
Nota 10
Marcelo Teixeira