domingo, 24 de agosto de 2014

Mato Grosso cala a voz de Rita Benneditto

Preconceito para com Rita
Achei de uma ignorância sem igual o que fizeram com a cantora maranhense Rita Benneditto no Mato Grosso do Sul: uns tremendos idiotas fervorosos da palavra do saber conseguiram proibir a cantora de se apresentar na região porque suas músicas fazem apologia à macumba. Obviamente que isso pegou a todos de surpresa, mas o fato é que a cantora vem desenvolvendo um dos mais belos e respeitosos trabalhos de sua carreira, conseguindo demonstrar sua musicalidade a quem quer ouvir e esse ato desumano, incapaz e desonesto por parte de alguns rotos e tolos só faz crer que o preconceito e a injúria ainda predominam a sociedade. Impedir que uma cantora brasileira se apresente em território nacional por sua música é um dos atos mais nefastos deste planeta, porque fazendo isso, está barrando também o livre circulamento de qualidade, de austeridade, de brasilidade. Por que não proibem músicas canhestras que rondam o mesmo lugar que proibiram Rita de cantar? Por que não proíbem os pancadões, as músicas religiosas que são de uma chatice pura e insana, com palavras que não pregam nada a não ser vergonha alheia? Por que a censura da música não proíbe cantoras que rebolam até o chão fazendo quadradinhos de números diversos? São tantos porques que provavelmente a secretaria que proibiu o show da cantora em solo mato grossense não teria respostas. É inadmissível que se faça isso com uma artista respeitosa e batalhadora por uma cultura como Rita. É inconcebível que esse tipo de ato pecaminoso seja tão real nos dias de hoje, em não poder mostrar um trabalho bonito e coerente para a população. Isso demonstra, apenas, que a evangelicação no país quer tomar partido em tudo, mas eles não observam o próprio nariz sujo de pecados. Sendo assim, que respeitem a música de Rita Benneditto e de quem quer que seja, pois a música é rica em inspiração, rica em detalhamentos, rica em brasilidade. Estou me referindo, neste caso, à música de Rita Benneditto!

 

Calaram a voz de Rita Benneditto
Marcelo Teixeira

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Veneno de Cobra - O belo clipe de Emília Monteiro


Grande revelação no Mais Cultura Brasileira de 2013, a cantora amapaense Emília Monteiro acaba de lançar um clipe da música Veneno de Cobra, composta por Dona Onete, figura tarimbada no Norte brasileiro, que remete alegria a quem a ouve e faz de suas músicas um aliado para combater o mau humor. Entrevistada pelo blog, Emília lançou o CD Cheia de Graça em 2013, trazendo composições de Ellen Oléria, Zeca Baleiro, Márcia Tauil e Simone Guimarães na bagagem recheada de marabaixo, lundu e danças típicas de Macapá. A música Veneno de Cobra está neste belo disco, assim como outras composições de Dona Onete. O clipe é maravilhoso, cheio de cores, com uma vivacidade incrível e radiante, mostrando toda a beleza que há pelo lado nortista e a capacidade de impressionar de uma cantora altamente brasileira, com categoria e elegância mútuas. Emília Monteiro consegue, mais uma vez, provar de seu próprio veneno e sobressair pelo lado mais fortuito: o eco de sua voz, o brilho de seu olhar, o sentimento mais puro de sua emoção. Dona de uma das melhores vozes brasileiras, a cantora é refêrencia hoje no Norte brasileiro e consegue fazer de seu carisma um dos motivos mais festivos para a realização de sua obra: nela estão concentradas todas as riquezas que há em Amapá! Vale a pena conferir este grande lançamento e podendo conhecer um pouco mais do trabalho artístico desta grande cantora, que consegue nos hipnotizar com seu olhar, nos encantar com sua voz e nos enfeitiçar com seu veneno.
 

Veneno de Cobra (Clipe) / Emília Monteiro
Por Marcelo Teixeira

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O jeito Skank de ser Skank



Velocia é a cara do grupo mineiro
Se há uma palavra que defina o grupo Skank, usaria a palavra inovação. Depois de seis anos fora do mercado fonográfico, o grupo de pop/rock mais consolidada do mercado brasileiro surge com um disco diferente e ao mesmo tempo autoral e inédito, gravado totalmente em estúdio, com participações especiais e muito bem produzido. O álbum estava sendo muito aguardado pelos fãs, que desde 2009 esperava por novidades e ansiavam algo realmente que os impactassem e a banda veio com carga total em um disco com um capa bonita e com um título sugestivo: Velocia. Passeando por vários ritmos musicais, como o reggae e britpop, as influências do grupo estão mais voltadas agora pro folk e o suingue com levada de batida eletrônica. Participando do CD, Nando Reis e a cantora Lia Paris se sentiram muito a vontade ao dividirem os vocais com Samuel Rosa e trupe e o resultado final é a mais perfeita sonoplastia do grupo. Com vários prêmios, o Skank ainda mostra que sua música está longe de acabar e que a banda está mais firme do que nunca, com vários projetos em mente e a pretensão de novo disco. Logo na abertura do disco, Samuel e Nando Reis atacam de futebol na faixa Alexia, que homenageia a jogadora do Barcelona, Alexia Putellas e mostra o ex-titã no final da música. Vale lembrar que o grupo Skank adora musicar sobre futebol e isso é uma marca já característica deles e a sensação que passa é que a cada homenagem ao esporte, as músicas se aprimoram de tal maneira, que o assunto não cansa. Para entender Velocia(2014 / Sony Music / 26,99), você precisa ouvi-lo com muita atenção, porque esse disco do grupo não é para qualquer ouvido comum: o tempo que a banda contemporizou para voltar ao estúdio, as músicas selecionadas e a experiência necessária e precisa de cada um foram determinantes para que o álbum saísse com a cara deles. Os fãs podem suspirar aliviados porque Velocia é um grande disco.

 
Velocia / Skank
Nota 8
Marcelo Teixeira

 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

As sete vidas de Pitty


As vidas de Pitty
Por trás daquela aparência de menina má que a cantora Pitty carrega em seu semblante, há um menina muito boazinha, capaz de nos hipnotizar e nos encantar. A prova disso é que seus discos são sempre muito bem aceitos pelo público e crítica especializada e sempre há um gostinho de quero mais. Pitty é uma baiana roqueira e que sente muito orgulho de ser o que é e sem demagogias e isso é tudo muito mágico em sua carreira (brilhante, diga-se de passagem). Lançando seu mais novo CD, 7 Vidas (2014 / Deck Discos / 24,99), a cantora mostra o bom e velho rock ao seu jeito, sem se preocupar com rotulagens ou manifestos contra a sua música. Sendo seu quarto disco de estúdio, a cantora mostra aqui toda a sua versatilidade como grande cantora de rock e que ainda tem muito chão pela frente, diferentemente de outras que cismam em querer ser o que não é. A personalidade forte e marcante da cantora está retratada em todo o disco, inclusive na capa, que tem o tom branco e preto denominante. Pitty está mais interessada em estender o olhar de sua música, que estava mais focada no frescor dos anos 1990 para um rebuscamento de horizontes mais adulto, colocando em alvo o público mais centrado em realmente querer ouvir suas canções. Suas músicas flertam com o rock tradicional dos anos 1960, que gruda facilmente em nossas mentes e que se transformam em pérolas do mundo pop, com arranjos, formas e cabeçalhos para um conteúdo maravilhoso sobre o seu mundo. Com um olhar mais atento, Pitty acaba trazendo à tona todo o seu esforço conceitual que envolve um trabalho generoso e preciso, rebuscados de tons e que acabam por se isolar em possibilidades que só sua música consegue fazer: um punhado de 7 Vidas é a carta de registro da cantora, que se mostra atenta ao mundo de hoje, sem tirar os pés do chão. E é por esse motivo que a cantora brilha por onde passa, com sua timidez redondamente caetanizada e humana e que faz de seu trabalho um achado e tanto. Mas engana-se quem acha que Pitty é totalmente tímida: seu trabalho mostra o contrário e essa inversão faz toda a diferença. Que a cantora tenha muitas vidas!

 

7 Vidas / Pitty
Nota 8
Marcelo Teixeira

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O grande encontro entre Vírginia Rosa e Geraldo Flach

Um grande encontro
Uma das vozes mais poderosas do Brasil, a cantora Vírginia Rosa juntou-se ao pianista Geraldo Flach (1945 / 2011) para juntos fazerem um dos discos mais belos da MPB. Voz & Piano (2010 / Lua Music / 22,99) é uma compilação de sucessos antigos já gravados pela cantora, como outras releituras fundamentais dentro da música popular brasileira, casos de Kalu (Humberto Teixeira), Cacilda (José Miguel Wisnik) e Maria Maria (Milton Nascimento / Fernando Brant). Inicialmente seria um projeto feito para a cantora e atriz Lucinha Lins, que faz uma bela participação no disco na música Prenda Minha, um folclore gaúcho e que fecha o disco. A moldura na voz cristalina e poderosa de Vírginia combinou perfeitamente com os dedos delicados de Geraldo sobre os pianos: várias vezes a voz de Vírginia brilha num monólogo abrindo espaço para que o músico adentre suas notas num lirismo puro e que nos emociona. Baseados musicalmente a partir da ideia de um encontro inesperado, surgiu a possibilidade de fazer um disco com essa colisão perfeita e o resultado final ficou impressionante. As músicas foram muito bem selecionadas e o casamento de amizade entre os dois artistas soou nitidamente sensacional. Gravado ao vivo na versão voz/piano, a cantora canta sucessos de Elis Regina e Luiz Gonzaga com tamanha perfeição, que chega a emocionar. Destaque também para a feroz canção Mercedita (Ramón Sixto Rios), que faz de Vírginia Rosa um monstro sagrado da música atual, tamanha a sua voracidade ao cantar e se expressar através de sua potência vocal. Relembrando sucessos de seus discos anteriores, como A Voz do Coração (Celso Fonseca / Ronaldo Bastos) e A Flor (Fernando Figueiredo), que foi feita sob medida para o disco de estreia da cantora, o disco tem um corportamento sereno e corresponde de imediato com o que é exigido pelo público de MPB: Voz & Piano é um disco surpreendente, capaz de nos envolver a tal ponto que até o mais sensível dos homens se rende aos encantos da cantora.


Voz & Piano / Vírginia Rosa e Geraldo Flach
Nota 10
Marcelo Teixeira

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Nheengatu: isso é Titãs?


Isso é Titãs?
Em tempos de guerra, política, pedofilia, mortes encomendadas, tráficos, policiais sendo massacrados, o grupo Titãs resolve fazer um CD totalmente voltado para essas políticas, envolvendo, entre outros assuntos, a religião e o preconceito. Confesso que não entendi o recado dado pela banda, que depois de cinco anos resolveram lançar o canhestro Nheengatu (2014 / Som Livre / 26,99). Com a saída de Charles Gavin, o grupo parece estar meio perdido em suas posições sobre música e perderam muito o conceito sobre a poesia com a qual abordavam os assuntos. Rock pesado ao estilo Cabeça Dinossauro lançado em 1986, o grupo não é mais o mesmo e está passando do tempo de se aposentar: as músicas aqui cantadas são horríveis, com apelos comerciais degenerativos para o público de hoje e com uma onda de violência auditiva absurda e explícita. O disco foi lançado em maio deste ano e a palavra usada como título significa Língua Geral, compilação que os jesuítas fizeram no século XVII dos diferentes dialetos indígenas brasileiros para que índios e portugueses se entendessesm, conforme explicam em um post na página oficial da banda na rede social. Já a pintura da capa de Pieter Brugel retrata a Torre de Babel e a produção do disco é de Rafael Ramos. Com tanta informação e som pesado em meio a protestos, o disco saiu pela culatra e se torna o pior lançamento fonográfico da banda dos últimos tempos. Se for para continuar assim, aposto que mais um integrante logo o mais sairá do grupo. Polêmico ao seu jeito, o disco tem letras bem explícitas do ponto de vista em que cada faixa é apresentada e a música é digerida: Fardado, Mensageiro da Desgraça, República dos Bananas, Fala, Renata e Chegada ao Brasil (Terra à Vista) são músicas violentas e que expressam o ódio e o preconceito. Falta muita coisa na nova fase do Titãs (fase esta que falta há tempos) e o que mais pesa neste contexto é a falta da poesia de Arnaldo Antunes e Nando Reis, que tinham uma característica ímpar em retratar no rock as belezas sutis e melódicas em tempos de paz. Não há nada de interessante a se ouvir em Nheengatu, porque a impressão que a banda passa é a de que tenta retornar ao início de carreira, mas sem a malícia juvenil que os consagraram. Falta aqui maturidade poética, moral e pessoal do grupo para com os fãs: ao que parece, o grupo despeja em nossa face todo o mal que o Brasil e o mundo se consagrou depois de seus discos serem lançados. E é aí que não entendo o porque um grupo tão conceituado se deixa rebaixar tanto, a ponto de serem ridicularizados com músicas pesadas em tempos que não há espaço para músicas pesadas. Sinceramente, não tenho o que dizer deste lançamento do grupo de senhores, mas confesso que não vale a pena gastar um centavo para tê-lo em mãos. Nem em mentes! A pergunta que fica no ar: quem será o próximo a sair da banda?

 
Nheengatu / Titãs
Nota 3
Marcelo Teixeira