sábado, 24 de setembro de 2016

Os clichês de Manu Gavassi


Manu e um disco adolescente
Dentro do seu universo pop juvenil, Manu Gavassi é detentora de um estilo único, que tenta ser perfeitinho e autoral. Não há como negar a evolução da cantora dentro da música popular brasileira e esse seu crescimento está associada a imagem de Júnior Lima, irmão de Sandy, de quem Manu é fã fervorosa. Podemos dizer que Clichê Adolescente marca o fim de uma era adolescente na vida musical de Manu, assim como podemos dizer também que marca o início de uma era musical composta entre a sonoridade mais adulta e a música que tenta a batida perfeita. Não, ainda não é o momento de Manu dentro da música, mas mostra o quanto a cantora desenvolveu uma postura mais comportada e singela e própria desde o lançamento deste disco, em 2013, até seu mais novo disco, Vício (2016). Tudo aqui gira em torno do romantismo juvenil da cantora, do seu lado teen, de garota comportada, de menina que resolveu soltar para todos seu lado puro. Tudo aqui é fraco, mediano e não há expressão musical da cantora, mesmo com uma produção com a assinatura de Rick Bonadio. Clichê Adolescente (2013 / Sony Music – Midas Music / 21,99) é gostosinho de ouvir, perto de outros álbuns da cantora, mas Manu precisa crescer e crescer e crescer para ser mais ouvida. Por enquanto, ela está dentro do limite que sua idade permite.

 

Clichê Adolescente (2013) / Manu Gavassi
Nota 7
Marcelo Teixeira

sábado, 10 de setembro de 2016

O pagode convencional de Thiaguinho em Vamo que Vamo (2016)


Thiaguinho: criando jargões
Pagodeiro nato e com estilo próprio para cantar e se apresentar, Thiaguinho prova mais uma vez que além de um bom interpréte, sua função maior é colocar na boca do povo jargões que grudam em nossa memória feito chiclete e que passamos a cantarolar sem ao menos percebermos. Depois de megas sucessos como Ousadia e Alegria (2012) Caraca, Muleke (2014), agora o aspirante ao posto de sambista surgiu com o hit Vamo que Vamo (2016 / Som Livre / 29,00), que já está no topo das paradas de todo o país. Mas antes de qualquer coisa, é bom deixarmos uma coisa clara aqui neste artigo: gosto do Thiaguinho, ouço suas canções, mas não ouso acompanhar sua carreira e muito menos carregar seus discos para cima e para baixo. Não pelo fato de ser pagodeiro, mas pelo fato de suas músicas não acrescentarem em nada a honrada, porém sacrificada, Língua Portuguesa. Thiaguinho e sua equipe souberam muito bem de onde extrair um valor absurdamente rentável ao trazer a tona ditos populares que a galera logo pára para ouvir. Exemplo claro é seu Vamo que Vamo: além de detonar com a linguagem habitual meramente linguística, o cantor utilizou artimanhas que fazem as pessoas erguerem os braços numa manifestação que ecoa festa e ludicidade. Thiaguinho é experiente nesse segmento e sabe como ninguém a fórmula de fazer sucesso em um país que ostenta funkeiros com seus carrões, dissimula seus verdadeiros chavões da MPB, desequilibra a bancada sertaneja e desorienta outros pagodeiros que adorariam estar em seu lugar. Sem ser caricato, o disco mereceu uma capa branca contrariando a sua cor natural de pele, o que ficou muito bacana e estilosa, mas algumas letras deveriam nem mesmo estarem no disco, tamanha a sua falta de encantamento. Mesmo assim, vale a pena ouvir esse novo trabalho de Thiaguinho mais pelo som da novidade do que pela motivação musical. Mas Vamo que Vamo fica apenas nisso: um festival de pagodes eletrizantes distanciados do verdadeiro samba, que faz com que o povo pagodeie alegremente, esquecendo que o legítimo samba é o que está na ponta do pé.

 

Vamo que Vamo (2016) / Thiaguinho
Nota 7
Marcelo Teixeira

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Os ponteiros de Tito Marcelo em O Futuro Ligeiro da Demora (2016)


Tito Marcelo: álbum perfeito
A música quando cantada com vontade, com gosto e com causa, ganha notas alcançadas dentro de uma atmosfera que requer uma cumplicidade ímpar e analógica de seu estado de espírito.  Esquece-se o tempo, o relógio, o contador, os ponteiros e passamos a pontuar a sonoridade, a coerência harmoniosa, o desfrute de um som perfeito e vicioso que requer uma simbiose de simplificações homéricas equidistantes.  Para fazer uma boa música é preciso uma boa harmonia, uma boa letra, uma boa voz e com isso ganhamos uma simpatia eloquente entre aquilo que recebemos auditivamente e respondemos com sorrisos largos, agradecendo pela música que ganhamos. Tito Marcelo representa a juventude escondida dentro de nós, trazendo para o hoje a sua visceral música, translúcida e rica de ambientes sofisticados com a pontuação de relógios que mesmo com ponteiros desregulados, conseguem fazer a assimetria de um futuro gostoso, porém sem pressa. O Futuro Ligeiro da Demora (2016 / Independente / 20,00 – www.titomarcelo.com), produzido por André Vasconcellos, é um delicioso disco que tem samba, eletrônico, soul, regaae, gingado, harmonia, cristalina voz e elegância. Com uma capa sistematizando o número 3 como sendo o terceiro de sua carreira, Tito nos concede um álbum magnífico mostrando que a música é o seu caminho e que aqui existe um poço de verdades emaranhadas com sua inquietude infinita de fazer boas canções. Disco diferente de seus trabalhos anteriores, tudo em O Futuro Ligeiro da Demora nos remete a alguma coisa, seja um amor ressentido, um carinho sincero, um encontro ao ar livre, uma cinza manhã que se transforma em uma tarde de sol agradável. Esse é o encanto de todo o disco: o elo entre a verdade de Tito Marcelo para a alegoria que está à sua frente. Recifense, o cantor que já foi entrevistado pelo Mais Cultura Brasileira evidencia sua música com a riqueza de detalhes envolvendo o amor, a tecnologia, o tempo, o silêncio amargo da demora, a felicidade encantadora do amanhã e a retórica sabedoria filosófica do hoje. Sendo seu melhor disco até o momento, Tito Marcelo expõe um desfiladeiro de músicas que ficam martelando em nossa mente a todo instante, com uma leve pitada de lembranças saudáveis de um tempo qualquer e com aquela sensação de que a nossa música brasileira é a melhor do mundo. É impressionante sua capacidade vocal, tão límpida e florescente quanto perfeita e autoral, nos trazendo a certeza através de suas canções o reflexo de que precisávamos de sua presença agora, amanhã e sempre. Chega a ser uma tarefa difícil selecionar uma ou outra canção, mas é irresistivelmente preciso parar para ouvir todo o disco, repeti-lo inúmeras vezes para termos a clara e evidente certeza de que aqui há um produto de qualidade e no dia seguinte tornar a repetir o feito. Tito Marcelo era o cantor que faltava: seja em qualquer eventualidade, sua voz ecoa por nossas mentes com sua transparente musicalidade, sua poesia e sua ludicidade. O cantor e compositor nos apresenta o melhor disco de sua carreira com O Futuro Ligeiro da Demora, pontuando em cheio sua música dentro da MPB e nos provando que o futuro pode ser ligeiro mas com uma pitada de demora.

 

O Futuro Ligeiro da Demora (2016) / Tito Marcelo
Nota 10
Marcelo Teixeira