sexta-feira, 24 de maio de 2013

O samba cadenciado de alta qualidade de Virgínia Rosa


O CD: bem caprichado
Virgínia Rosa é, sem dúvidas, uma das maiores cantoras deste país. Como bem disse uma vez o jornalista Donizete Costa, no Brasil existem três rosas: a Passos, a Colin e a Virgínia. E isso é comprovado no excelente disco Samba a Dois, seu terceiro disco de carreira. Lançado pela Eldorado em parceria com a Distribuidora Independente, Virgínia passei por ritmos bem brasileiros e escolheu a dedo os melhores compositores para cantá-los com sofisticação, dando uma nova releitura para músicas como As Rosas Não Falam, do mestre Cartola. A multiplicidade de seu canto vem da escola de Virgínia, que foi vocalista na banda de Itamar Assumpção. Em seu caminho solo sempre primou pelo bom gosto musical e coloca seu vozeirão a serviço de grandes obras. Longe do marasmo óbvio das regravações, Virgínia pesquisa seu repertório com afinco e desenvolve com sua personalidade forte e marcante.

Em Samba a Dois, Virgínia da uma nova fardagem para o clássico e até incursões pelo samba de compositores como Bebel Gilberto, Marcelo Camelo, Orlando Moraes e Celso Fonseca. Mas também apresenta os novos nomes de Luísa Maita e Tito Pinheiro. De Luísa, que já teve músicas gravadas por Mariana Aydar, Virgínia escolheu duas músicas: Madrugada e Amado samba. Da obra de Tito Pinheiro escolheu Sereno.

O disco abre com a faixa-título, composição de Marcelo Camelo apresentada como um samba atual e a versão de Virgínia segue um caminho diferente das cantadas por Marcelo Camelo, seu criador, que a deixa com ares melancólicos ou por Fernanda Porto, que ridicularizou a canção com suas incursões eletrônicas. Virgínia mostra a versatilidade da ótima canção.

Ares da bossa nova, os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle aparecem com a contagiante quebrada Que bandeira, em uma ótima releitura. Filhos da bossa, Celso Fonseca é representado com Meu samba torto e Bebel Gilberto em O caminho, já gravado no segundo álbum internacional da cantora.

A bem sucedida parceria com o músico Dino Barioni, cujo já trabalharam juntos no excepcional CD A Voz do Coração Ao Vivo, responsável pelos arranjos, é outro ponto a favor de Virgínia. As rosas não falam ganha um acompanhamento único, flertando com um tango argentino. Cartola dança com a dama pelo salão com desenvoltura acompanhado pelo acordeon de Lula Alencar, ficando impossível ficar parado. Entre os mestres do samba ainda colheu Quero estar só (Candeia, Wilson Moreira e Selma Candeia) e Voltei (Baden Powell e Paulo César Pinheiro). Apresentada como faixa-bônus no final do CD, Virgínia mostra sensibilidade em Sonho e saudade, composição de Tito Madi gravado pela cantora para a trilha sonora do filme Bens confiscados.

Apesar do título, Samba a Dois vai além e se junta com fados, tangos e outras praias. Mas sempre com o sangue quente do bom samba e a cadência da voz da paulista. Criada nos palcos da vanguarda, Virgínia Rosa tem jogo de cintura para brincar com a música sem se impor limites. Conhece bem sua praia e sabe o que lhe cai bem. Seu canto maduro e sua veia de artista fazem desse Samba a Dois um trabalho digno das grandes cantoras da música brasileira.

 

Samba a Dois – Virgínia Rosa

Nota 10

Marcelo Teixeira

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