quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A explosão de Ney Matogrosso


Alto astral em disco ao vivo
Havia um pouco de loucura nos idos anos de 1999 quando Ney Matogrosso lançou seu disco ao vivo, pois a carreira do cantor estava um pouco abafada pela explosão do sertanejo e da volta do axé. A loucura fez com que Ney fosse surpreendido pela crítica e público quando seu disco foi alçado ao ponto máximo que um artista de sua geração pudesse alcançar: o topo das paradas. O disco Ney Matogrosso Ao Vivo (1999 / Universal Music / 23,99) é um álbum em que pode ser encontrado de tudo um pouco: das grandes regravações, dos belos poemas de Itamar Assumpção, das letras inesquecíveis de Cazuza, da fase dos Secos & Molhados e até cantores mais modernos, como Lenine e Renata Arruda. Em boa fase e muito bem em palco, Ney Matogrosso fez um disco para fechar o ano e abrir o novo milênio em excelente categoria. Boa parte disso vem do disco anterior, Olhos de Farol, em que Pedro Luís reforçava a bandeira como sendo um dos mais brilhantes e notórios compositores de sua geração. Ao Vivo trouxe de volta Ney Matogrosso em alta categoria, incapaz de ser subjulgado como qualquer cantor. Sim, Ney ainda respirava respeito por todos e esse disco veio apenas comprovar isso. Envelhecer no Brasil, como Ney envelheceu com o Brasil, não é uma tarefa fácil. Ney lançou Ao Vivo aos 58 anos de idade e ficar dançando como ele dançou e requebrou as cadeiras nos shows pelo país a fora, não é tarefa para qualquer um. A coerência de Ney e o prazer com que ele dança e interpreta as canções neste disco vão além de sua velhice (no bom sentido). O gás de ânimo de Pedro Luís e Lenine e o fogo ardente de Paulinho Moska, misturados ao sabor de Itamar e aos gestos selenes de Rita Lee, fizeram com que o cantor passasse a virada de milênio com um número maior de fãs mais jovens e de obter maior êxito entre os que já gostavam de Ney. Ao longo de sua carreira, Ney dribla entre fortes doses de adrenalina, libertinagem, liberdade e ousadia e assumiu todos os pecados e hoje segue sozinho, vivo, liberto de qualquer agruras do passado e sem nunca sentir remorsos. E essa liberdade é vivida neste álbum, quando recria com sofisticação inúmeros sucessos do passado, sem ter medo da opinião alheia. Beirando os 59 anos à época, Ney resisitiu à tentação de dançar quase pelado, metamorfoseando-se de plumas e paêtes e se deliciando com as próprias canções.  Aqui não tem apelações, exageros ou coisas do tipo, porque Ney Matogrosso soube exprimir tudo com sabor de requintes excepcionais para fazer com que o seu público dobrasse ou triplicasse. E ele conseguiu. Passados mais de dez anos, Ney Matogrosso Ao Vivo consegue fazer a ponte entre o Ney de ontem e o Ney de hoje e isso faz toda a diferença na carreira do grande cantor.

 

A explosão de Ney Matogrosso
Nota 10
Marcelo Teixeira

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