sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Eis o novo e velho Chico Buarque em Caravanas (2017)

Eis as caravanas de Chico Buarque
Mesmo sendo chamado de machista por metade daqueles que ouviram a faixa Tua Cantiga, disponibilizada dias atrás pelas redes sociais, Chico Buarque parece não ter dado muita trela e, mesmo com uma resposta singela sobre o caso, fez seu comboio passar a frente de uma dúzia de insatisfeitos e lançar seu novo trabalho à beira de muita crítica e muito blá blá blá. Depois de um hiato silencioso de seis anos, eis que Chico Buarque, o todo soberano cantor, poeta, político, compositor, amante das mulheres, dos bêbados, dos trabalhadores, solta o verbo em sete canções inéditas e em duas regravações. Não irei tratar aqui de um artista completo que Chico é, mas sim, medir esforços para não dizer o quanto insatisfeito ficarão os insatisfeitos e o quanto mais crítico fico com relação à sua música. Para todos os efeitos, gosto das músicas e de tudo aquilo que Chico faça ou venha a fazer, mas meu papel não é agradar aqueles que gosto ou defender um partido que na qual não estou disposto a fazê-lo. Caravanas (2017 / Biscoito Fino / 29,99) chega hoje às lojas físicas de todo o Brasil trazendo um disco bom (não ótimo), pegando rabeira em discos anteriores e se aproximando e muito de sua última criação, Chico, lançada em 2011, que já vinha com um martírio penoso de ter semelhanças com discos anteriores. Mas faz sentido o título que Chico deu ao seu novo trabalho: caravana é o mesmo que comitiva, comboio, frota e algo que remete a uma viagem; logo, Chico pega viagem em grandes distâncias para poder chegar a um lugar comum, que é o coração de alguém. Quem? Vamos por partes: quando lançou o espetacular As Cidades (1998), vindo de uma alegoria fantástica e criativa de Carioca (2006), o cantor não tinha nenhuma madame em mente. Alguns anos anteriores, Ivan Lins e Chico compuseram a emblemática Renata Maria, gravada magistralmente por Leila Pinheiro em seu disco Nos Horizontes do Mundo (2005), cujo até hoje soa como uma homenagem a alguma namorada. Depois disso, ele fez duas pérolas em formatos de trabalho (As Cidades e Carioca) e parou no tempo. Em 2011 lançou o morno Chico, em que nascera devido seu romantismo em torno da cantora e compositora Thaís Gullín. O namoro não deu certo e, cinco anos depois de separados, Chico conhece uma curitibana, com quem, segundo dizem, mantêm uma relação amorosa. Eis o ponto de partida para que o mestre do cancioneiro feminino tivesse prestes a voltar a compor. E isso de fato aconteceu com o nascimento de Caravanas. Será que Chico Buarque só vai conseguir compor quando estiver namorando? Seja como for, Caravanas não é um disco maravilhaso, mas como se trata de Chico Buarque, a espera é bem vinda e muito aguardada. Em alguns casos há um certo acerto, como o caso de Dueto, música que não é inédita, gravado com sua neta Clara Buarque, em que neta mostra ao avô o lado real e tecnológico das redes sociais. Outra sacada foi o também neto Chico Brown vir com sua esperteza em Massarandupió, onde o jogo de palavras rima perfeitamente com frases bem construídas, mas que nos remete a Subúrbio, onde há funk, palavrão e tudo aquilo que nunca esperamos de Chico, composta em 2006. Única faixa em espanhol, Casualmente é uma mistura simplória entre Havana e Brasil. E o samba-canção, marca registrada em discos iniciais, marca presença aqui com Desaforos, faixa que nos remete a Cotidiano. Enfim, a Caravana de Chico Buarque chegou, mas não trazendo tantas alegrias como era o esperado, porém, chegou um momento que transcende sua verve criativa dentro do imaginário dos netos, tão criativos quanto o avô, que, nesses últimos anos vem deixando a desejar, sem perder sua importância dentro da música popular brasileira.


Caravanas (2017) / Chico Buarque
Nota 7
Por Marcelo Teixeira

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