quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Minas, de 1975: a primazia de Milton Nascimento


 


A primazia de Milton

Minas talvez seja o álbum que mais me arrepie no momento e na carreira de Milton Nascimento. Minas talvez seja a música de abertura de um álbum que mais me arrepie no momento e de todos os discos de Milton Nascimento. Bituca tem conseguido me arrancar boas surpresas quando eu vou visitando sua discografia completa, que a Editora Abril está fazendo com capricho, orgulho e satisfação para aqueles que, como eu, nem era nascido. Ao todo serão vinte clássicos da obra do cantor carioca, criado em Minas Gerais e que aos poucos irei trazendo aqui para o Mais Cultura! O disco, com uma capa perfeita enaltecendo Minas e com uma foto cobrindo todo o rosto de Milton, foi lançado originalmente em 1975 e me deixa nauseado de arrepios quando ouço, hoje, mais de trinta anos depois. A foto, magnificamente bela, retrata com perfeição os negros, escravos e a África de onde todos nós viemos. Os arranjos de suas músicas são de beleza incomum e ainda conseguem agregar um tempero de virtuosismo. A bem da verdade, muitos já conseguiram isso, difícil mesmo é continuar me agradando com a música que é apresentada por ele ultimamente. Milton é um raro exemplo de artista que parece que não se perdeu na própria obra com o passar do tempo e basta observar isso em discos como Pietá, com participação da maravilhosa Simone Guimarães nas músicas mais bonitas do disco, ou em ...E a gente sonhando, aonde as batidas e sonoridades nos remetem à discos antigos, como este retratado hoje no blog ou Milagre dos Peixes, de 1974.

Para mim, um mestre dos arranjos vocais, Minas abre com meninos cantando de tal forma que me traz paz e tranquilidade. Sentimentos que a música instrumental tem um poder de passar de várias maneiras a cada pessoa. O disco segue com a intrincada Fé Cega, Faca Amolada, música dele que já foi regravada pelos Doces Bárbaros e Elis Regina, mas Bituca dá o seu tempero à música de tal forma que a torna única. Vale salientar que Os Doces Bárbaros e Elis também conseguem isso, cada um à sua maneira.

O álbum segue e a sensação de completude da obra se dá quando os meninos vão aparecendo de vez em quando durante o álbum, sempre uma grata surpresa em cada um desses momentos. Ponta de Areia, na minha opinião, é uma de suas músicas mais belas. Trastevere, Idolatrada e Leila (Venha Ser Feliz) é uma sequência que mostra Milton com uma variedade musical de impor respeito. Sabe as particularidades que caracterizam a diferença entre o Rock'n Roll e o Rock Progressivo? Parece que é exatamente isso que Milton e o Clube da Esquina como um todo inseriram na música brasileira.

Já perto do fim, a consagração de um início de uma parceria inédita entre Milton e Caetano Veloso resulta na excepecional Paula e Bebeto que fecha de forma belíssima o que foi começado em Minas. Ao cantar pra Vera que toda forma de amor vale a pena, imediatamente senti a confirmação do que pensei sobre o sentimento que tive ao escutar Minas. Simples fecha o álbum criando um certo paradoxo. Ela não é bem Simples e não fecha o disco. É o elo de ligação pro início de outro álbum de Milton Nascimento, Geraes.

Nada mais justo.

 

Minas / Milton Nascimento

Nota 10

Marcelo Teixeira

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