quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A Gal Costa de 1968


 

Os clássicos de Gal estão aqui
Gravado em 1968 para ser lançado em 1969 durante um dos períodos mais pesados da ditadura militar, o primeiro disco solo da Gal Costa pode estar longe de ser um dos mais marcantes da sua carreira, mas para mim trata-se, sim, de um registro histórico que merece constar em todas as coleções simultâneas e por colecionadores, fãs, adoradores de música e para o que está para vir. Contrastando com o período tenso politicamente, que resultou no exílio dos colegas tropicalistas Caetano e Gil, Gal acaba optando por um disco que ainda cultivava suas raízes tropicalistas, a começar pela direção do maestro Rogério Duprat e temáticas ao mesmo tempo leves e provocativas. Talvez seja por que isso que a cantora abre o disco com Não Identificado, belíssima canção de Caetano Veloso que também gravou no disco próprio quase que paralelamente, Gal já anuncia sua opção por fazer uma canção de amor... para gravar num disco voador. Confesso minha inveja pessoal, pois quisera eu ter a capacidade de compor uma canção de amor para alguém especial.

Em seguida, Gal passeia pelo xaxado em Sebastiana, para interpretar em seguida outra canção de Caetano, também gravada por ele no disco contemporâneo: Lost in Paradise. Depois usa as metáforas típicas do tropicalista Tom Zé ao interpretar a aparentemente singela Namorinho no Portão, sem abrir mão da crítica velada ao momento político que o país atravessava no momento. Em Saudosismo, interpreta novamente Caetano Veloso em uma bela homenagem à Bossa Nova. As próximas marcam definitivamente sua opção pelo tom ao mesmo tempo romântico e provocativo, com a escolha de duas canções da dupla Roberto e Erasmo (que talvez admirados pela interpretação dela, no mesmo ano comporiam Meu nome é Gal, canção que marcou a sua carreira em seguida).

 

Você precisa saber da piscina

Da margarina

Da Carolina

Da gasolina

Você precisa saber de mim

Trecho de Baby, de Caetano

 

Primeiro com Se você pensa, uma espécie de recado à pessoa amada que se mantém indecisa. Recado dado, manteve a linha em Vou recomeçar.

Em Divino e Maravilho, de Caetano e Gil, a mensagem está claramente contextualizada. Essa canção inicia a sequência de três que se tornaram clássicas dela. Que Pena, a bela canção de Jorge Ben, Gal faz parceria belíssima com Caetano para estabelecer um belo diálogo. O importante, novamente, é a volta por cima em alto estilo ao sair de uma relação.

Mantendo a dupla com Caetano, segue com Baby, clássico incluído nesse disco após o sucesso no disco Tropicália ou Panis et Circenses, mas com um arranjo levemente diferente, em que sobressai um som orquestral. Majestoso!

Em Coisa mais linda que existe, de Gil e Torquato Neto, Gal mantém o astral leve e carinhoso na dose certa. O disco termina com Deus é Amor com a batida típica de Jorge Bem. Com a sua voz afinadíssima e belos arranjos, esse disco marcou de modo definitivo, para mim, o ingresso da Gal entre as maiores cantoras desse país.

 

Gal Costa / Gal Costa

Nota 10

Marcelo Teixeira

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