terça-feira, 11 de setembro de 2012

E se acordássemos em 1977...?


 


 

Quatro grandes nomes da MPB juntos
Eu nem era nascido quando Miúcha, Tom Jobim, Toquinho e Vinicius de Moraes fizeram este disco e eu nem pensava em música quando descobri este disco, meio que por acaso, numa loja qualquer de discos e, quando vi a capa, achei meio estranha, chata, caricata: uma mulher com três homens de mãos dadas, rindo, felizes, para uma plateia que não está retratada na foto. Anos depois, entendendo de música, consegui obter o disco em mãos e confesso: é um dos meus melhores. Melhor ainda é assisti-los, cada qual ao seu estilo, em DVD que está disponível nas melhores lojas do ramo. Miúcha é, de quebra, uma das maiores cantoras que este país já teve e é uma pena que poucos reconheçam isso. O mesmo acontece com Toquinho, que hoje tem mais fama por ser amigo pessoal do poeta Vinicius de Moraes e não pela sua rica musicalidade que hoje tenta transpassar às pessoas (no Japão, Toquinho é, ao lado de Joyce Moreno) o cantor mais executado e conhecido e admirado por sua música. Trata-se da gravação em 1977 do show no Canecão (casa de espetáculo famosa no Rio de Janeiro à época), que reuniu quatro gigantes da bossa nova em um momento de total sintonia, difícil de ocorrer em ocasiões semelhantes.

Começa em ritmo eletrizante com Estamos Aí, emendando com a entrada de Vinícius de Moraes recitando a sensacional Dia da Criação. Confesso que naturalmente sou avesso a poesias em show de música, mas dessa vez, o poeta acertou totalmente o tom. Em seguida, partem para uma Tarde em Itapuã, composição da parceria Toquinho/Vinícius que dispensa apresentação, emendando com Gente Humilde (Toquinho). Em seguida, duas canções em uma: Carta ao Tom e Carta do Tom, uma espécie de brincadeira entre esses amigos que retratavam em carta ao distante Tom, como a cidade havia mudado.

O disco segue com um cantinho e um violão do Tom Jobim interpretando o clássico Corcovado, canção que serviu de inspiração para batizarem, justamente diga-se de passagem, o aeroporto internacional do Rio de Janeiro de Maestro Antônio Carlos Jobim, emendando com Wave. Em seguida, Miúcha entra no palco para dar o toque feminino ao show, com a versão que se tornou definitiva de Pela Luz dos Olhos Teus, em interpretação dupla com Tom. No momento certo, o ritmo diminui com Saia do Caminho e Samba pra Vinícius, mais uma homenagem de Miúcha e Toquinho ao poeta.

Mesmo com toda a fama, com toda a Brahma, com toda a cama, com toda a lama, o quarteto segue com Vai Levando, de Chico Buarque e Caetano (outro dois monstros sagrados que acabaram, dessa forma, também contribuindo para esse disco). Na sequência, Água de Beber é outra que dispensa comentários, seguida da mais famosa canção composta em mesa de bar por amigos inspirados pela beleza de uma garota que passa. Garota de Ipanema foi eleita a 14ª canção essencial da música brasileira pela revista Bravo e deveria ser matéria obrigatória no ensino fundamental. Nessa interpretação, há inserções de lembranças do Vinícius da garota vestida de normalista que olhava e sorria pra eles... por causa do amor...

Depois de Sei lá, mais um momento de pura inspiração da parceria Toquinho/Vinícius com frases lapidares como a hora do sim é um descuido do não. Genial. Se você quer ser minha namorada..., o show segue em um momento romântico com mais uma bela interpretação da Miúcha com Minha Namorada. Como se não bastasse, o disco finaliza com Chega de Saudade (eleita 4ª canção essencial da música brasileira pela Bravo), pois há menos peixinhos a nadar no mar do que os beijinhos que eu darei na sua boca, complementando com Se todos fossem igual a você e um bis de Estamos Aí. Felizmente, depois de um tempo passei a valorizar esse disco que hoje ocupa lugar especial na minha prateleira. Tudo isso porque hoje é sábado.
Portanto, se acordássemos em 1977, ainda teriamos a chance de ver quatro monstros sagrados na sua melhor forma de expressão, nos dando de bandeja um grande disco. Ainda teríamos Vinicius vivo (ele morreria em 1980) e ainda teríamos a verdadeira música brasileira mais viva do que nunca.

 
E se acordássemos em 1977...?

Tom / Vinicius / Toquinho / Miúcha / Gravado ao vivo no Canecão (1977)

Nota 10

Marcelo Teixeira

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