quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O esquecido disco dos Secos & Molhados, de 1974





Secos & Molhados, tendo Ney à frente
Diferentemente do primeiro, com um pé no rock progressivo e no rock'n'roll underground, este disco dos Secos e Molhados é mais acústico e menos ousado. Mas vamos a segundo e também essencial, o último com a formação clássica: João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad, além dos músicos de apoio Willy Verdaguer, John Flavin, Triana Romero, Rosadas, Emilio Carrero, Norival e Jorge Omar. Com ótimas gravações, este disco é uma verdadeira obra-prima do cancioneiro musical e é uma pena que muitos hoje em dia torçam os narizes para ele. Se bem que os verdadeiros amantes da MPB ainda o elogiam e dizem que ele é um dos caros e raros discos de rock progressivo de todos os tempos.

Tercer Mundo, apesar de ser em espanhol, é de autoria própria (João Ricardo e Julio Cortazar), bem levada latina, típica e bela, pré rótulo world music. Único sucesso do disco, Flores astrais traz um slide muito legal, esperto e bem legal. Eu conheci a música naquele conhecido ao vivo do RPM. Não: não digas nada tem uma curiosidade: é coautoria entre João Ricardo e Fernando Pessoa, provavelmente uma poesia musicada pelo João. Música plácida, violão, voz e flauta. Medo mulato inicia meio vaudeville com um pianinho, depois acompanhado de ruídos, voz do Ney, flautas, teclados e uma bateria meio percussiva e pontual. Bonita, bem diferente, retomando o tema sobrenatural do primeiro álbum.

Oh! Mulher infiel é um tema ousado pros anos 70 (um tempo onde não havia divórcio, acreditem), mas o arranjo é bem tranquilo criando um contraste inusitado. Vôo já traz um som mais rock com um phaser ou flanger em estéreo bem diferente do som careta do disco, uma gaita complementa a viagem. Muitas vozes harmonizadas. Angústia é das minhas preferidas, violão marcando o tempo, um clima meio drum'n'bass (cabe até um remix daquele comecinho), vocais dinâmicos, piano suingado, muito muito à frente do seu tempo! Só peca aquele som de guitarra dos anos setenta, fuzz magrinho e espetado.

O Hierofante (sacerdote supremo dos mistérios antigos do Egito e da Grécia, afinal Mais Cultura! também é cultura!) é uma das mais rock'n'roll daqui, guitarras na cara, é mais uma de coautoria poéticas (João Ricardo e Oswald de Andrade), vocais divertidos e múltiplos em estéreo (aconselho ouvir com fone, viagem pura). Caixinha de música do João é uma instrumental surpresa calminha com vocalizes do Ney, meio new age, fantasmagórica, curta e bela.

O doce e o amargo tem um som meio português, depois vira uma bela canção triste e melancólica, voltando à placidez acústica. Preto velho podia ter uns tambores, mas é mais uma calminha com a letra nonsense e vocais harmonizados. Delírio começa meio rock'n'roll com pianinho, entra uma guitarra suja, dá uma delirada meio diminuta no piano quadrado, solinho fuzz com um som quase bom...legal! Toada & rock & mambo & tango & etc tem um nome sensacional, com guitarra suingada, vocais sussurrados muito legais, Ney canta muito bem.

 Disco quase esquecido e felizmente recuperado na coleção Dois Momentos com a compilação e masterização by Charles Gavin.

 

Secos & Molhados

Nota 10

Marcelo Teixeira

 

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