quinta-feira, 10 de maio de 2012

Tabaroinha, de Mariene de Castro


Mariene de Castro
Pegue clássicos do samba, misture com canções inéditas e/ou pouco conhecidas, mas igualmente saborosas. Acrescente músicos de primeira linha e uma interpretação vibrante marcada por uma voz de timbre grave. Essa é a receita do novo CD da sambista baiana Mariene de Castro, Tabaroinha (2012 / 29,99). Antes, ela havia gravado dois álbuns, sendo o segundo ao vivo, também lançado em DVD, Santo de Casa – Ao Vivo, em 2011.

O álbum começa com o samba de roda A Pureza da Flor, marcada por um excelente coral de vozes femininas, o que se repete na doce Amuleto da Sorte, de Nelson Rufino. Em seguida, vem a mais suave Filha do Mar, da novata cantora e compositora paraibana Flávia Wenceslau: Sou filha do mar e na maré mansa / Basta um riso, uma esperança / Pra meu peito consertar / Sou filha do mar e na maré cheia / Tiro o barco da areia / Vou-me embora navegar.

Entre os clássicos regravados por Mariene de Castro, está Roda Ciranda, de Martinho da Vila, lançada em 1985, no álbum Criações e Recriações. Outro é Um ser de luz, de João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, imortalizado pela interpretação de Alcione, em homenagem à Clara Nunes, quando esta partiu em 1983.

Os indispensáveis, quando se pensa em música nordestina, Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga, também estão presentes. O primeiro aparece com a acolhedora Tia Nastácia (Cantiga Pro Sinhozinho). O segundo é representado pela delicada parceria com Humberto Teixeira, Estrada de Canindé.

Mas Mariene vai ainda mais longe. Ela recupera o lundu Isto é Bom, de Xisto Bahia, compositor baiano do século XIX; e faz uma interpretação personalíssima do samba Não Vou Pra Casa, do Roberto Roberti, aqui em parceria com Antônio Almeida. Roberti se destacou principalmente nas décadas 1930, 1940 e 1950, e, além de ser um dos criadores da Associação Brasileira de Compositores e Autores, foi gravado por, entre outros, Carmen Miranda, Araci de Almeida, Orlando Silva e Francisco Alves.

O compositor mais presente em Tabaroinha é o rei do samba baiano Roque Ferreira, nascido em Nazaré das Farinhas (BA), e que começou a compor aos 14 anos, quando se mudou para Salvador e conheceu artistas como Riachão, Edil Pacheco, Nelson Rufino e Batatinha, entre outros. As canções compostas por ele presentes no álbum são a graciosa Foguete, parceria com J. Velloso; a doce Ponto de Nanã e a dançante Orixá de Frente, já cantada por Roberta Sá no belo disco Quando o Canto é Reza, em homenagem à Roque: Venha ver como é lindo / Uma preta na roda / Toda se bulindo, laiá / Pano da costa do ouro / Cobrindo o colar.

Tabaroinha, que vem de tabaroa, uma palavra tupi-guarani, que quer dizer mulher acanhada, criada no interior, matuta, caipira. “Sempre me senti tabaroa, ainda mais quando saí da minha taba, juntando-me a outras tribos. Levei comigo meus costumes, meu sotaque, minha raiz. De onde vim, trago as minhas cores, o meu olhar, minhas lembranças, minhas saudades. Que reflete neste CD a tabaroa, tabaroinha! Que levarei comigo onde quer que eu vá. A escolha deste repertório vem desse mesmo sentimento”, explica Mariene, no encarte.

A cantora, que desde pequena sonhou ser bailarina, aprendeu a tocar violão e iniciou a carreira como vocal de apoio para Márcia Freire, Timbalada e Carlinhos Brown. Nesse álbum, ela é acompanhada por, entre outros, Júlio Caldas (violão e banjo), Israel Ramos (baixolão), Dudu Reis (cavaco), Cicinho de Assis (acordeom), Binho Cunha (timbau, surdo, agogô, ganzá e reco-reco), Marcelo Pinho (timbau, cajon e triângulo), Iuri Passos (timbau, shake balde, pandeiro e cáscaras) e André Souza (timbau e congas).

Tabaroinha é, portanto, um álbum extremamente prazeroso de se escutar e que comprova o imenso talento de Mariene de Castro. Além de se cercar dos melhores músicos e de possuir a candura de uma guerreira na interpretação, a cantora prova ter sensibilidade rara na escolha do repertório que, mesmo formado por canções de diferentes épocas, forma uma unidade bastante concisa.



Nota 10

Tabaroinha / Mariene de Castro

Marcelo Teixeira


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