terça-feira, 16 de outubro de 2012

A revolução musical de Clube da Esquina


O terceiro álbum: ótimo
O Clube da Esquina foi uma verdadeira revolução na música popular brasileira. Era década de 60, a ditadura militar e a repressão por estas terras contrastavam com os movimentos hippie e beat que surgiam ou alcançavam o auge nos EUA da época. A Bossa Nova já não era tão novidade assim, a Tropicália acabava de dar as caras e um tal de iê-iê-iê começava a estourar com um certo Roberto Carlos e sua trupe de mulheres com saias curtas e homens com cabelos a la Elvis Presley. Nessa época, nesse meio, um jovem de Três Pontas foi para a capital mineira morar na Avenida Amazonas. Milton Nascimento já fazia parte de uma banda, a “W’s Boys” onde fazia parceria com Wagner Tiso. Em Belo Horizonte, Milton conheceu os irmãos Borges. Doze ao todo. O menor deles, o Salomão, ou Lô, como chamava os amigos, entraria para a história assim como aquela esquina da Rua Paraisópolis com a Rua Divinópolis, lá no bairro Santa Tereza.

 A formação principal do Clube da Esquina (que nunca chegou a ser um clube, nem mesmo foi considerado um movimento na época), foi composta por nomes como Wagner Tiso, Fernando Brant, Nivaldo Ornelas, Paulo Braga, Toninho Horta, Márcio Borges e, claro, o Milton. Talvez o maior nome do Clube, Milton Nascimento tornou-se o líder absoluto do movimento, sendo considerado até hoje um ícone da agitação mineira. Um tempo depois se juntariam ao Clube, Flávio Venturini, Beto Guedes, Celso Adolfo e o Lô.

O primeiro disco do grupo denominado Clube da Esquina foi lançado em 1972 e incluiu sucessos como O Trem Azul, Nada Será Como Antes e Tudo o que Você Poderia Ser. Seis anos depois, em 1978, Milton e sua turma lançariam o Clube da Esquina 2. Logo, cada membro do Clube estaria gravando suas próprias músicas, fazendo seu próprio trabalho. Mas a influência do grupo, que abdicava do amor para falar de política e outros temas sociais em suas letras, permaneceu e tornou o Clube da Esquina um dos mais importantes movimentos musicais brasileiros depois da Tropicália e eu ainda acho que foi, musicalmente, muito mais importante que a Tropicália).

No ano de 1971, a rapaziada do Clube Mineiro já havia composto um número de canções que pretendiam lançar num álbum duplo, coisa rara nestes tempos.  A Tropicália já havia sido devorada pelos predadores do período jurássico ditatorial, mas o talento inquestionável dos letristas deste projeto épico trataria de dizimar quaisquer que fossem esses contextos censurais. Com letras de teor político existencial e profundeza intrínsecos (observa-se uma forte influência sartreana nas letras de Márcio Borges e Fernando Brant) e harmonias divinamente elaboradas, o álbum duplo Clube da Esquina seria gravado no Rio de Janeiro em estúdio preparado exclusivamente para os cavaleiros da revolução musical daquela década de incertezas. Mar Azul, praia próxima à Piratininga, no belíssimo litoral niteroiense, seria o cenário da casa em que se deu vida e sonoridade com sensíveis requintes de sofisticação a esta obra-prima da música universal.

 

Clube da Esquina / Milton Nascimento e Lô Borges

Nota 10

Marcelo Teixeira

 

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