sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A essência e importância de Itamar Assumpção

Itamar Assumpção foi um dos grandes nomes e contribuidores da cena alternativa que dominou São Paulo nos anos 70-80 do século XX, movimento que convencionou-se chamar de Vanguarda Paulista. A Vanguarda Paulista reuniu artistas que decidiram romper o controle das gravadoras sobre a produção e lançamento de novos talentos nos anos finais da Época das Trevas Modernas - anos anteriores a Internet. Os representantes desse movimento eram artistas que produziam e lançavam seus trabalhos independentemente das grandes gravadoras, eram as hoje peças de museu – os ditos LPs. Criavam suas próprias microempresas e gerenciavam a si mesmos. Itamar Assumpção era nome frequente na lista de shows do Teatro Lira Paulistana, em Pinheiros, palco que foi denominador comum a todos os membros da Vanguarda Paulista - todos os representantes do movimento invariavelmente por ali passaram. “Quem não cantou no Lira, não Sonhou” já disse o poeta da Vanguarda Paulista, J'Cor (Le Dantas & Cordeiro). Itamar Assumpto, ao lado de Arrigo Barnabé, Grupo Rumo, Premê (Premeditando o Breque), dos Pracianos - Dari Luzio, Pedro Lua, Paulo Barroso, Le Dantas & Cordeiro e outros, marcou sua obra basicamente por não ter tido interferência dos burocratas das gravadoras, o que fez com que sua obra fosse tida por tais 'gerentes' e críticos de cultura rasa, como 'difícil'. Esses artistas, pela rebeldia, ousadia e audácia ganharam a alcunha de "Malditos". Itamar detestava tal rotulo e retrucava. A polemica era outra área na qual dava-se bem, talentoso que era com as palavras não só no âmbito poético. O duelo verbal lhe apetecia como forma honesta de defender a integridade do artista assim como - ao observador atento assim parecia - dava-lhe prazer triturar argumentos dos que com cultura limitada tentavam dirigir o processo de criação do artista. Em uma de suas tiradas mais famosas disse: 'Se tivesse que ouvir conselho, pediria ao Hermeto Pascoal...' ou então: "Eu sou artista popular!", bradava indignado. Entre suas canções mais conhecidas estão Fico Louco, Parece que bebe, Beijo na Boca, Sutil, Milágrimas, Vida de Artista, Dor Elegante e Estropício, cantadas por artistas renomados, como Zélia Duncan, Ceumar, Virgínia Rosa, Ney Matogrosso e Anélis Assumpção (a filha do cantor).

Itamar de Assumpção nasceu em Tietê (interior de São Paulo) no dia 13 de setembro de 1949.

Conhecido como "maldito da MPB", o músico misturou samba com rock e funk, entre outros ritmos, em letras impregnadas de sátira e crítica social.

Teve forte presença na vanguarda paulista ao lado do amigo Arrigo Barnabé, da banda Sabor de Veneno, Premeditando o Breque e Grupo Rumo.

Foi influenciado pelos trabalhos de músicos de variados gêneros, como Adoniran Barbosa, Cartola, Jimi Hendrix e Miles Davis, além de poetas como Paulo Leminski e Alice Ruiz.

Bisneto de escravos angolanos, cresceu ouvindo os batuques do terreiro de candomblé no quintal de sua casa.

Cresceu em Arapongas, no Paraná, onde se mudou aos 12 anos. Chegou a cursar até o segundo ano de Contabilidade, mas abandonou a faculdade para fazer teatro e shows em Londrina.

Aprendeu a tocar violão sozinho e, ouvindo Jimi Hendrix e arranjos de baixo e bateria, apaixonou-se pelo baixo. Mudou-se para São Paulo em 1973 para se dedicar à música.

Começou a se apresentar em shows no final da década de 70, na Lira Paulistana em São Paulo.

Seus três primeiros LPs, todos independentes (Beleléu leléu eu, 1980; As Próprias Custas S.A., 1983; Sampa Midnight, 1986), foram relançados em CD pela Baratos Afins em 1994. Seu único LP produzido por uma grande gravadora é da Continental, intitulado Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava..., de 1988. Todos com a Banda Isca de Polícia.

Em 1994 lançou a série Bicho de Sete Cabeças (três LPs também na forma de dois CDs), acompanhado pela banda Orquídeas do Brasil. Em 1995 lançou um CD com músicas de Ataulfo Alves , novamente com a Isca de Polícia, que foi premiado como melhor do ano pela APCA.
Entre composições suas que fizeram sucesso com outros interpretes estão Nego Dito, com o sambista Branca de Neve, e Já deu pra sentir, com Cássia Eller.
Morte
Faleceu em 2003, de câncer de intestino.

Discografia
·       Pretobrás III - Devia Ser Proibido (Caixa Preta), Selo SESC SP, 2010.
·       Pretobrás II - Maldito Vírgula (Caixa Preta), Selo SESC SP, 2010.
·       Vasconcelos e Assumpção - isso vai dar repercussão, Elo Music/Boitatá, 2004. Com Naná Vasconcelos.
·       Pretobrás, Atração, 1998.
·       Ataulfo Alves por Itamar Assumpção - Pra Sempre Agora, Paradoxx, 1996.
·       Bicho de Sete Cabeças Vol III, Baratos e Afins, 1993.
·       Bicho de Sete Cabeças Vol II, Baratos e Afins, 1993.
·       Bicho de Sete Cabeças Vol I, Baratos e Afins, 1993.
·       Intercontinental ! Quem Diria! Era Só o Que Faltava !!!, Atração, 1988.
·       Sampa Midnight - isso não vai ficar assim, Selo Independente, 1983.
·       Às Próprias Custas S/A. Lira Paulistana, 1981.
·       Beleléu, Leléu, Eu. Lira Paulistana, 1980.
Caixa Preta, reunindo 12 discos de Itamar Assumpção, incluindo os inéditos Pretobrás II e III, e um livreto com depoimentos de Arnaldo Antunes, Elke Maravilha, Thaíde e outros. À venda nas unidades do SESC São Paulo e na loja virtual do SESC. Preço: R$150.

Parceiros
Ademir Assunção, Alice Ruiz , Alzira Espíndola, Bocato, Carlos Careqa, Chico César, Luiz Tatit, Ná Ozzetti, Paulo Leminski, Paulo Lepetit, Vange Milliet, Arrigo Barnabé, Vânia Bastos, Suzana Salles, Tata Fernandes, Virgínia Rosa
Músicos que já gravaram Itamar
Arrigo Barnabé, Carlos Careqa, Cássia Eller, Denise Assumpção, Luiza Possi, Ney Matogrosso, Rita Lee, Tom Zé, Vange Milliet, Zélia Duncan, Naná Vasconcelos, Branca Di Neve, Ceumar, Bocato


O legado que Itamar nos deixa é imenso. Suas músicas são provas de que o Brasil produziu um dos melhores artistas de todos os tempos. E somos muito gratos por Itamar Assumpção, artista genuinamente brasileiro, ser brasileiro.

MT.

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