sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A decadência de Ana Carolina

Quem acompanha a carreira de Ana Carolina desde o começo de sua jornada, sabe que a cantora não anda bem em sua trilha. Os fãs mais ardorosos torcem o nariz quando o assunto é a decadência de uma das promessas da nova MPB, da cantora que reverenciava Chico Buarque e João Bosco e da nova safra de cantoras que poderiam assumir lugares como os de Cassia Eller ou Zélia Duncan. Todos queriam estar ao lado de Ana Carolina, todos queriam participar de rodas de música com Ana Carolina, todos queriam tocar em Ana Carolina, todos os programas de auditório queriam ter Ana Carolina, todos queriam ser Ana Carolina. De uma coisa é fato: Ana Carolina nasceu como um meteoro, capaz de furar a Terra com sua potente voz e com um repertorio diferenciado do que estávamos acostumados a ouvir a época em que surgiu. Tendo ao lado companheiros calibrados do naipe de John Ulhoa (marido de Fernanda Takai), Antônio Villeroy, Alvin L. e regravando grandes sucessos de Nelson Gonçalves e Chico Buarque e tendo suas próprias composições em um estilo único e de uma explosividade absoluta no contexto harmonia e letras no início de carreira, Ana Carolina perdeu muito brilho ao longo dos últimos anos, capaz de nos enjoar e embrulhar o estomago.

Seu primeiro Cd foi muito aplaudido pelo público e mídia e todos se renderam à nova estrela da MPB. Ana surgiu como quem nada queria, com um disco a altura das grandes musas inspiradoras de sua vida e tendo músicas que grudaram por longos anos na memoria de muita gente. Garganta foi seu primeiro sucesso e a música mais executada por anos a fio, mas o disco tem outras preciosidades que na voz calma e mansa, porém avassaladora de Ana entraram para a galeria de a maior cantora de MPB dos últimos 10 anos. O disco levava seu próprio nome e foi lançado em 1999 pela Sony BMG com total entusiasmo e dez entre dez programas de televisão a queriam para uma entrevista.

O segundo disco, Ana Rita Joana Iracema e Carolina (2001, Sony BMG, 19,99) talvez seja o melhor de sua carreira e homenageia as mulheres de Chico Buarque, que ao longo de sua carreira, sempre foram inspirações a parte. Um excelente disco, com participação especial de Alcione e composições de Vanessa da Mata, Alvin L. e seu grande parceiro Antônio Villeroy e regravando uma música de Dolores Duran, Que Será, o disco é uma primazia, mas que em algumas faixas a rima não se faz presente e deixa um certo vazio com relação a capacidade de pensar da cantora.

O terceiro disco, Estampado (2003, Sony BMG, 19,99) encerra a carreira criativa de umas das promessas da MPB. Neste disco, Ana interpreta com letras duvidosas e berra muito, grita muito, exagera nas pitadas de egocentrismo e se transforma em ostracismo puro. A música de trabalho, Elevador, entrou rapidamente para a lista das mais pedidas do ano, mas o disco em si não é tão essencial, despencando do altar máximo para o nível zero. A amizade e parceria com Seu Jorge fez valer duas músicas que passa despercebido, tendo em vista que as músicas são engraçadinhas, mas ordinárias. Ouvir músicas como 2 Bicudos, Elevador e É Mágoa é de uma chatice tremenda, porque Ana não as canta: ela grita, vocifera, aborrece a cada palavra sem nexo solta nas canções.
Em 2005, escrevi entusiasmado na Revista Veja um pequeno artigo sobre sua declaração dizendo que é bissexual, uma entrevista bombástica e reveladora, mas que no fundo todos sabiam da condição sexual a qual ela pertencia. Mas mesmo assim, com essa revelação, pensando talvez em angariar mais fãs como já tinha Cassia e Zélia e a novata Isabela Taviani, com Ana não poderia ser diferente: ela passou a ter mais fãs, mas seus discos estavam aquém do esperado.

Neste mesmo ano de 2005 lança, ao lado de Seu Jorge, o disco de maior vendagem de suas carreiras, Ana & Jorge Ao Vivo (2005, Sony BMG, 19,99) tendo como carro chefe a insuportável É isso Aí. Rumores disseram que os cantores passaram a se estranhar logo após o lançamento do disco, notícia está que nunca foi confirmada por nenhum dos dois cantores, mas o fato é que eles nunca mais foram vistos juntos, nem mesmo fizeram parcerias juntos e nem cantam essa música em shows. O disco é uma lastima cansativa e não sei de onde tiraram a ideia de juntar cantores tão díspares para formarem uma dupla. Pudera: Ana era a cantora recordista até dois anos antes e Seu Jorge era a nova promessa para salvar a MPB, tendo composto para Paula Lima em 2001 em um disco absurdamente maravilhoso.

Depois disso, Ana Carolina entra para o ostracismo e por fim para o declínio. Lançou Dois Quartos (2006, Sony BMG, 24,99), disco duplo, com uma capa redondamente linda, mas músicas nada sofisticadas e o disco foi um verdadeiro fracasso. Tentaram reverter a situação, lançando discos separadamente, mas mesmo assim o declínio da cantora estava anunciado. Lançou Nove (2009, Sony BMG, 16,99) com apenas nove canções, mas o disco não vingou. E recentemente lançou um disco que praticamente ninguém comenta.

O fato é que Ana Carolina não vinga mais. Assim como um meteoro é passageiro, Ana Carolina também foi passageira e teve sua rápida passagem. Seu público não se renova, porque a própria artista não se renova, não olha pra dentro de si mesmo e não consegue perceber seus próprios erros. O acerto principal seria olhar para o primeiro disco, o início de tudo, olhar com atenção cada nuance minunciosamente, adentrar na atmosfera musical e poética e lirismo que o disco nos permitia admirar e pela sofisticação das letras. Não gritar, berrar, vociferar ou entrar em dubialidade contra o próprio ego e não ser antipática ao ponto de achar que é uma diva da MPB.
Porque definitivamente, Ana Carolina não é!

Marcelo Teixeira
MT

2 comentários:

Bruna disse...

Interessante o ponto de vista.
Procurei por uma opinião a respeito e a sua me satisfez perfeitamente.
Fui fã das mais fervorosas da Ana, mas o que falar da música do pole dance?
Trágica, sem mais.

Elaine disse...

Falou tudo...
👏👏👏👏👏👏