segunda-feira, 12 de dezembro de 2011



O cantor e compositor Duardo Dusek, grande defensor das marchinhas de carnaval e adorador inveterado de Carmen Miranda, colecionador de grandes sucessos cantados na voz afinada de Ney Matogrosso, anda reclamando da falta de cantores louros na música popular brasileira. Esta reclamação foi feita ao vivo no programa Metrópolis, da TV Cultura, exibido em Novembro de 2011 e esta reclamação não passa de uma sátira do próprio Dusek, que diz que a miscigenação tomou conta sem rumo e que os cantores louros estão escassos. Claro que só poderia vir do cantor boa praça e bem humorado Dusek, ele mesmo um nativo louro de olhos bem claros, mas que não desperdiça as mulatas do Carnaval. Dusek fez a reclamação via TV aberta diretamente à Presidenta Dilma Rousseff, pedindo apelo para que abra mais abertura aos louros.
De todo modo, Dusek não está errado. Se analisarmos bem, mais de noventa por cento dos cantores de MPB e grupos de pagode e sambas são voltados para cantores negros e mulatos e pardos, exceto Chico Buarque, com seus olhos azuis. Milton Nascimento, Luiz Melodia, Chico Cesar, Zeca Baleiro, Marcelo Jeneci, Péri, Djavan, Caetano Veloso, Jorge Vercilo, Jorge Aragão, Emílio Santiago entre outras infinidades são cantores negros, mulatos ou pardos. Exceto, na nova safra do samba, o cantor Diogo Nogueira, filho do grande sambista João Nogueira, é o contraponto deste universo: sambista, carrega na veia os atabaques e batuques com seu sorriso de orelha a orelha, olhos verdes e pele branca. Detalhe: é louro. Um ritmo fora do comum está chamando a atenção para um cantor que surgiu nos últimos tempos. Michel Teló, cantor do chamado sertanejo universitário, é louro de olhos azuis.
Duardo Dusek e Marcos Valle, um dos pais da Bossa Nova, são louros. Oswaldo Montenegro adotou de vez os brancos que a maturidade lhe trouxe.
Começou a carreira artística como pianista de peças de teatro aos quinze anos, quando estudava na Escola Nacional de Música. Mais tarde passou a compor suas próprias canções e montou uma banda, que acabou apadrinhada por Gilberto Gil.

A partir de 1978 já tinha algumas composições gravadas por nomes de peso da MPB, como As Frenéticas (o samba "Vesúvio"), Ney Matogrosso (o fox "Seu tipo") e Maria Alcina (o frevo "Folia no Matagal", dois anos depois regravada por Ney Matogrosso) - todas em parceria com Luís Carlos Góis.

Suas composições buscavam aliar sátira e bom humor. Em 1980, participou do festival MPB Shell da Rede Globo cantando apenas de cueca a debochada canção "Nostradamus", que não se classificou mas ficou conhecida pelo público. Por essa época gravou o primeiro LP, "Olhar Brasileiro". Mas o estouro sucesso viria em 1982, quando flertou com o ainda incipiente pop-rock, no LP "Cantando no Banheiro!, com "Barrados no Baile" (com Luís Carlos Góis), "Cabelos Negros" (Com Luiz Antonio de Cássio) e "Rock da Cachorra" (Léo Jaime).

Dois anos depois, notabilizou-se com o LP "Brega-chique", cuja faixa-título, mais conhecida como "Doméstica", fazia uma sátira social, bem no clima do teatro besteirol da época. Em 1986, lançou "Dusek na sua", com "Aventura" e com "Eu Velejava em Você", uma das mais tocantes músicas da MPB, depois regravada por Zizi Possi. Em 1989, voltou à cena com o musical "Loja de Horrores", em que atuava no papel de dentista. Nos anos 90, afastado da função de cantor, interpretou a personagem do Capitão-Mor Gonçalo na novela "Xica da Silva", da extinta Rede Manchete. Atuou como diretor de espetáculos e, no fim da década, voltou a apresentar alguns trabalhos como humorista e cantor, um deles sobre Carmen Miranda.
Mas nem tudo está redondamente perdido. Enquanto os louros não aparecem para a nova safra de MPB, nós, ouvintes, nos contentamos com um dos únicos louros da boa e velha MPB: Eduardo Dusek.

Marcelo Teixeira

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