segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A inimiga pessoal do artista: a pirataria


A vitrola de todos nós
Com esta onda de internets, downloads, sites que patrocinam músicas gratuitas para certos tipos de aparelhos de celular, o povo brasileiro (e talvez do mundo), está perdendo um hábito simples e que vem de nossos antepassados: a compra do material vivo, ou seja, a compra do CD e do livro. Com a onda de pirataria, que muitas vezes é impossível detectar, a indústria fonográfica e, principalmente o cantor, é quem sai perdendo nesta batalha boba e criminosa. Hoje, um determinado cantor faz sucesso com uma única e exclusiva música, deixando assim todo o resto do disco a ver navios e é justamente neste espaço de tempo que o consumidor adere à internet para baixar a música, esquecendo-se, assim, do produto por completo. Para um artista que passa meses com um projeto em mente, reformulando, trabalhando, ajustando, nada mais desagradável é saber que seu produto, seu único produto de venda, é fruto de marginais que pirateiam e vendem por míseros reais.

Não sou tão velho assim, mas tenho idade suficiente para carregar na memória os tempos de criança, em que pirataria praticamente não existia, os vinis eram tremendo sucesso e os compactos eram produtos gerados por artistas que vinham apenas com quatro músicas (recentemente Roberto Carlos utilizou deste recurso, mas o artista que veio com esta novidade foi o Chico César, quando trouxe ao mercado o irrequieto Odeio Rodeio, com a participação de Rita Lee). Naquele tempo, nós, crianças, não tínhamos acesso aos vinis de nossos pais, observando apenas de longe. E via nos vinis de papai uma beleza extrema, um plano de fundo inconfundível, um dos melhores lugares de minha casa. Cresci tendo como companheira fiel a vitrola, artigo tão raro hoje em dia, que quase entrou em extinção alguns anos atrás. Para quem acompanha o blog no Facebook, o símbolo da marca Mais Cultura! é representada por uma vitrola.

Sou do tempo da fita cassete, em que praticamente a pirataria passou a ter um pouco de retorno financeiro e como a inflação era gigantesca, muitos aderiram ao esquema. A fita cassete também se instalava e era um artigo de luxo e para poucos. A vitrola ainda era forte, mas com o tempo perdia o espaço para as malditas fitas cassetes, que sempre se enroscam, pulavam, queimavam nos aparelhos. Definitivamente, odiei as fitas cassetes. Com a chegada definitiva dos CDs, a pirataria veio à tona e o mundo pôde participar de um dos crimes mais comuns a quais todos tinham acesso e ninguém intervinha. Confesso que fiquei ainda mais indignado quando vi, no centro de São Paulo, vários camelôs vendendo livros de escritores famosos e CDs de vários cantores nacionais e internacionais.

O cantor Nando Reis fez algo realmente inovador para sair deste círculo chamado por estudiosos pueris como livre acesso para baixar músicas de graça pela internet e criou em seu site um aplicativo para que as pessoas comprem seu novo CD diretamente com ele. Ou seja, a preços populares que variam de semana a semana (às vezes oscila entre 16,00 e 25,00) o consumidor participa ativamente da negociação com o próprio Nando, fazendo deste negócio um lucro rentável, controlando assim a pirataria e os famosos downloads. Parece brincadeira, mas o cantor Nando Reis, depois de sucessos ao lado de Titãs, sucessos ao lado de Cássia Eller, Zélia Duncan e sucessos com Os Infernais, seja obrigado a ser um negociante para driblar a sua inimiga pessoal. Em suas palavras, ele virou um vendedor.

Chega a ser caricato, mas o meu tempo de criança foi perfeito. Hoje eu com 31 anos, tenho orgulho pela falta de tecnologia a qual vivi e a qual carecia de tantas informalidades que hoje penso que estava vivendo em Cuba dentro do próprio Brasil.

 

A inimiga pessoal do artista: a pirataria

Marcelo Teixeira

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