segunda-feira, 29 de abril de 2013

A falta de Marisa Gata Mansa


Marisa em capa de disco: obra-prima
Chega a ser irrisório em pleno século 21, as pessoas não conhecerem ou não tomarem mais conhecimento de uma grande cantora chamada Marisa Gata Mansa. Em meio a tantas inutilidades que ouvimos por ai em esquinas, bares e bocas sujas e nulas, Marisa Gata Mansa é a cantora que faz falta no cenário musical e que poderíamos ouvir mais e mais e mais, sem cansar e sempre repetindo suas belas músicas com sua bela voz.  Marisa Gata Mansa é de origem de uma família que gostava muito de música e desde a infância se interessou em cantar. Devido ao seu jeito calmo de falar, recebeu de Djalma Sampaio o apelido de Gata Mansa, que adotou como nome artístico ainda na década de 1950. Em 1953, recebeu de João Gilberto a música Você esteve com meu bem?, de João Gilberto e Russo do Pandeiro, que gravou em seu primeiro disco, lançado pela RCA Victor.

No ano seguinte, iniciou sua carreira como intérprete de jazz. No mesmo ano, gravou os sambas Só eu não, de Monsueto, Raul Marques e M. Fernandes e Quem me fez chorar, de Caboclo, Carino e Gustavo. Atuou como crooner do Golden Room do Copacabana Palace (RJ) durante quatro anos. Em 1956, conheceu Dolores Duran, substituindo-a como cantora no Bacará. Seu contato com Dolores, a quem foi muito ligada, facilitou seu acesso ao movimento da bossa nova. Já integrada ao movimento, passou a cantar no Beco das Garrafas (RJ). Nessa mesma época, conheceu Antônio Maria, de cujas canções se tornou intérprete muito constante. Flávio Cavalcanti a levou para a TV Tupi, onde dividiu com Moacir Silva a apresentação do programa Convite à música.

Nessa época conheceu Bororó, Dick Farney, Johnny Alf e Sérgio Ricardo. A partir de 1958, gravou na Copacabana o fox You do something to me, de Cole Porter e o choro Que é?Que é?, de Bororó e Evagrio. No mesmo ano, gravou o clássico da música popular, Chega de saudade, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e o samba canção Castigo, de Dolores Duran, seu maior sucesso. No ano seguinte, gravou seu primeiro LP, A suave Marisa, que incluiu a faixa "A noite do meu bem", de Dolores Duran, que foi para as paradas de sucesso. Registrou em disco quase toda a obra de Dolores Duran, que a homenageou com a canção Não me culpe. Foi casada com o compositor e pianista César Camargo Mariano, que compôs para ela a música Marisa, tema da cerimônia religiosa de seu casamento com o compositor. Teve um filho com ele, o músico Marcelo Mariano.

Em 1961, gravou o samba canção Um novo céu, de Fernando César e Ted Moreno e o samba Operação amor, de Jaime Florence e Augusto Mesquita. Morou em São Paulo durante sete anos, época em que tentou fazer teatro, chegando a participar de um musical com Lennie Dale e de um espetáculo com Caetano Veloso e Taiguara, no Teatro de Arena. Voltou para o Rio de Janeiro, e passou a atuar nas boates Fossa e Taba. Gravou músicas inéditas de Johnny Alf, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, entre outros. Em 1972, gravou um compacto simples com Viagem, de João de Aquino e Paulo César Pinheiro, marco em sua carreira. Homenageou Dolores Duran em três espetáculos: Dolores, 20 anos depois (1979), A noite de meu bem e Tributo a Dolores Duran.

Na década de 1980, gravou os LPs Marisa Gata Mansa e Leopardo. Em 1997, lançou um CD em homenagem ao cronista e compositor Antônio Maria, com destaque para Samba de Orfeu e Manhã de Carnaval, ambas de Antônio Maria e Luís Bonfá. Também o homenageou com o disco e espetáculo musical Encontro com Antonio Maria, escrito e dirigido por Ruy Faria do grupo vocal MPB-4. Teve ativa participação em projetos musicais, como Seis e meia, dirigido por Hermínio Belo de Carvalho e Albino Pinheiro, e Pixinguinha. Apresentou-se em todas as capitais e diversas cidades do interior do País. Faleceu aos 69 anos, devido a uma insuficiência respiratória aguda, consequência de uma isquemia cardíaca.

A falta que Marisa provoca em mim é tão absurda, que eu preferiria escutar sua bela voz ao invés de proferir estas palavras neste artigo. Peço apenas uma única coisa: ouçam Marisa Gata Mansa ao menos uma vez em sua vida!

 

A falta de Marisa Gata Mansa

Marcelo Teixeira

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