quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Marisa Monte e suas verdades

Marisa Monte acaba de lançar O Que Você Quer Saber de Verdade (2011, EMI / Phonomotor, 29,99) e se fosse depender da capa, seria um verdadeiro fiasco: a capa é horrenda, de um péssimo mau gosto e de um semblante terrível, que mais se parece com um desses personagens do filme de Pedro Almodóvar. Para falar a verdade, não é a melhor capa de um disco da cantora, que já lançou capas modernas e arrojadas para o público, sendo elogiada pelo seu maravilhoso Barulhinho Bom, álbum duplo e que teve sua embalagem lacrada por um envelope preto nos Estados Unidos, devido as conotações sexuais que nele tinha. Mas ao lançar O que Você Quer de Verdade, Marisa Monte tenta impor respeito à mídia e, acima de tudo, ao público que não aceitou discos anteriores, como Memórias, Crônicas e Declarações de Amor, um disco chato e sem fundamentos ou então de Infinito Particular, um álbum duvidoso, aquém das expectativas da cantora. Depois do bem sucedido álbum de sambas, Marisa retorna à mídia com um disco rico em letras charmosas, caprichadas, uma bela voz, um repertorio diversificado e uma equipe competente.


O novo disco de Marisa Monte, lançado em 2011


Os tribalistas estão juntos mais uma vez. Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes praticamente cercam o disco, dando uma atmosfera capaz de nos ver de novo no redemoinho fechado e lastimo de Os Tribalistas, um disco cansativo e enjoado. E o que você quer saber de verdade sobre Marisa Monte? É sempre bom ouvir o que ela tem a dizer, suas verdades e mentiras e medos e afrouxos, mas o fato é que Marisa percorreu um longo caminho para chegar até aqui. Não é o melhor disco de sua carreira, talvez seja Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão, lançado em 1996, em que Brown e Antunes também estavam lá, mas com nomes de peso, como Gilberto Gil e Paulinho da Viola. As verdades de Marisa estão todas neste novo disco, cerceadas por um movimento hibrido e limpo, suas vertentes expostas e seus medos um tanto difusas.
As músicas são contagiantes e para este seleto grupo que cerca Marisa, ela convidou um dos compositores mais festejados do novo cenário musical e que fez sucessos para Zélia Duncan e Vanessa da Mata: o cantor paulistano Marcelo Jeneci trouxe o forró Hoje eu Não Saio, Não, uma música legal, divertida, que tem como mote a introdução ao mau humor numa forma evasiva.
Como sempre faz em quase todos os seus discos, as homenagens ao grande ídolo Jorge Ben Jor está aqui numa de suas melhores interpretações, pinçada do fundo do baú e posta em alto nível na bem elaborada Descalço no Parque. Uma música leve, simples, mas com um arranjo caprichado e uma voz sensível. O que ser Quer é uma música adequada, talvez uma das melhores do disco, com um toque de sentimentalismo e romantismo fresco. Marisa entoou um ar de sobriedade nesta faixa, deixando a mostra toda a sua versatilidade musical. Assim como acontece com Nada Tudo, uma canção que poderia ser tema de seu trabalho e que entra facilmente na mente das pessoas pelas palavras repetidas.
Algumas músicas são chatas ou podem passar despercebido, como é o caso de Depois e Lencinho Querido (uma velha regravação), e a brega Aquela Velha Canção, músicas que não acrescentam em nada no disco e só trazem aquela sensação de que foram feitas para encher o disco.
Marisa Monte

Marisa está numa de suas melhores fases, mas repito: não é o melhor disco de sua carreira. Ainda pode faltar muito, mas só de se distanciar de discos anteriores e inferiores, já é um bom sinal de amadurecimento e capacitação de novos recursos para novos discos. Porém, O Que se Quer Saber de Verdade é uma incógnita, porque Marisa não diz quais verdades ela mesma quis revelar, deixando talvez para que o público as descubra. Um disco sensato, bonito, sério e gostoso de ouvir, Marisa Monte reinventa um estilo que já estava ficando capenga e ultrapassado: a maneira de cantar, de fazer discos seriamente e de servir as pessoas com algo realmente genioso. Estar ouvindo este disco requer audácia e persuasão, porque a voz de Marisa Monte agrada tanto, que é capaz de fecharmos os olhos e simplesmente ouvi-la.
Como eu disse uma certa vez na Revista Bravo! sobre a própria Marisa quando lançava Infinito Particular e Universo Ao Meu Redor: outro disco de Marisa, só daqui há cinco anos!

*********Nove Estrelas
Marcelo Teixeira.

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