terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Elis e Tom: a marrenta, o tímido engraçadinho e um grande disco

Elis & Tom, considerado o melhor disco de MPB
Quando há um encontro de gênios da música popular brasileira sempre é assim: oferece deleite aos ouvintes, mas envolve tensão nos bastidores. A atmosfera em torno de Elis & Tom, disco lançado originalmente no dia 22 de fevereiro de 1974 não era pesada assim, mas também estava longe de ser leve. O disco, recorrentemente lembrado como um dos melhores de toda música brasileira, foi relançada em 2004, numa caixa impecável, que vinha acompanhada de uma camiseta e um DVD do programa Ensaio, em que foi o marco de sensibilidade da cantora e um misto de autobiografia e saudades. Difícil avaliar o que vale mais: o salto da sonoridade que a reedição confere a algo já tão grandioso ou os detalhes da aproximação entre a maior cantora e o maior compositor de todos os tempos.
Elis completava dez anos na gravadora Phillips e o presidente, André Midani, quis presentear a cantora perguntando o que ela gostaria de ganhar: um carro ou uma viagem à Europa. E Elis, pomposa e segura de si, disse que queria gravar um disco. André estranhou e indagou secamente e surpreso: disco? Mas disco você grava todo ano”. Eis que para surpresa ainda maior do presidente, ela o cortou secamente e disse que queria gravar um disco com Tom Jobim. Mas antes dessa conversa com Midani, Elis e seu então marido, Cesar Camargo Mariano já cultivavam secretamente o desejo de fazer um disco com o maestro da bossa nova. Cesar era o pianista favorito de Elis e acompanhava a cantora desde 1971 e ambos fomentavam internamente a ansiedade de ter aquele trabalho em seus currículos. Para facilitar, ficou decidido que as gravações seriam em Los Angeles, cidade onde morava Tom Jobim na época.
Tom estava mais ansioso e nervoso do que Elis. Ele a considerava a maior estrela da música popular brasileira e estar ao seu lado lhe causava furor só ao pensar. O clima foi de inimizade antes de tudo, mesmo um certo Tom os esperar com uma capa de chuva sobre o pijama e uma rosa nas mãos. No carro, desabafou que estava sem dormir há um mês. O clima foi se desfazendo aos poucos até a hora de entrar em estúdio e Tom amansaria diante do arranjo de Corcovado, o primeiro de todo o repertorio a ficar pronto.
Birras, indiferenças, músicas novas e antigas e Elis e Tom e um dos melhores discos da historia da MPB de todos os tempos. O Brasil, com a melhor cantora do mundo e o melhor pianista e maestro, nos presentearam com um disco a altura de um mirante capaz de nos fazer acima do pedestal merecedor de aplausos. Um disco simples, belo, sincero, envolvente, uma voz pura, cristalina, um piano magistral, uma flauta inocente, uma Elis, um Tom, duas vozes em harmonia.
Elis ganhou o presente que pediu à Phillips, mas foi a música popular brasileira quem mais agradeceu por este feitio.

Marcelo Teixeira.

Nenhum comentário: