quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Elis: 30 Anos de Saudades

Elis e sua forte presença de palco
Hoje Elis Regina está completando 30 anos de morte. Trinta anos interrompidos com uma súbita morte, uma morte lamentável e inexplicável. O Brasil e o mundo perderam uma grande cantora, uma mulher excepcional, divina e intelectual. Uma mente perfeita. Uma mulher incrível. Uma mãe dedicada. Elis Regina deixou um vasto espaço na música popular brasileira, espaço este tentando ser conquistado por diversas cantoras que até hoje não conseguiram ocupar. Elis é única. Elis é perfeita. Elis é cristalina. Hoje o Brasil chora a morte das clarisses e marias. Da voz divinamente nítida e espetacular. Elis deixou o cenário musical nesses trinta anos sem vida com um único nome a trilhar o caminho dela mesma. Não existiu, depois de sua morte, cantora que a substituísse. Cogitaram o nome da Gal Costa, assim como a própria cantora em vida dissera uma vez, que as únicas que cantavam no país eram Gal e ela. Poderia ser verdade para a época, mas o fato é que existiam outras cantoras anteriores a elas e que após a sua morte, não houve sequer espaço para outra Elis. Nem mesmo Gal, que se perdeu no fio condutor. Elis era absoluta. Elis era capaz de dominar gregos e troianos, de macular os mais tapados de sensibilidade e de exportar tripas e coração ao vê-la cantar. Por esse mesmo motivo, Elis deixou nesses trinta anos um único nome capaz de substituir o seu próprio nome: Elis Regina.
Para tanto, o último show foi um registro histórico feito em surdina e sem propósitos por seu irmão, Rogério, em uma fita cassete de péssima qualidade. O show Trem Azul é um marco na discografia de Elis e reina absoluto como forma de priorizar sua musicalidade. Músicas que fizeram de sua pessoa a cantora mais famosa de todos os tempos e canções que a levaram ao estrelato máximo de sua voz e cantoria. Elis, neste show, rende-se aos encantos da performance e brinda sua voz com o talento que sempre a acompanhou.
Elis talvez pressentia que estava prestes a morrer. Ao menos era essa a impressão que causava ao ouvirmos o discurso inflamado e cauterizado que ela discursa duas vezes durante o espetáculo e que reproduzo abaixo:
“Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.
Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.
E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamentos de pontos de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
E assim – dizem – recontam a vida.
Agora retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos e aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo.
Um rascunho.
Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra.
Como uma estrela.
Agora eu sou uma estrela”.


Tímida, temperamental, brincalhona: uma constante

Elis era uma estrela. Uma estrela que partiu. Uma estrela que deixou marcas profundas em nossos corações. Elis foi, mas sua voz nunca se calará.

Elis (1945 – 1982).

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