quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A Música de Brinquedo do Pato Fu


O grupo mineiro Patu Fu gosta de inovar. E inovam em todos os seus lançamentos e até mesmo em seus estilos visuais e musicais. Fernanda Takai, a líder e vocal, gosta de experimentações. Não é a toa que é sempre esperado com tamanho entusiasmo por seus discos. Fernanda é eclética, canta muito bem, é afinadíssima e tímida. Gravou um disco só com músicas de Nara Leão e um disco com o grupo reverenciando os ruídos de sons eletrônicos, Ruído Rosa (1997). Agora o grupo se reinventa, se renova e lançam Música de Brinquedo (2010, Rotomusic, 19,99) e com uma particularidade: os vocais são seus filhos com o também musico e produtor do disco Jhon Ulhoa. As crianças se divertem, cantam afinadinhos, mesmo errando as letras ou com respiração trôpega, ainda assim dão conta do recado. Brinquedos de verdade fizeram deste disco um maravilhoso passatempo para o grupo e para ouvintes da boa música. Calculadora, piano, ursinho de pelúcia, flautas, macaquinhos, tudo é de brinquedo e o som é tão original, que mais parece que foi produzido faixa a faixa para sair àqueles sons.
 

Mas Música de Brinquedo não é um disco para as crianças, embora talvez tenha sido essa a intenção do grupo Pato Fu. As músicas são fortes e as mensagens as crianças ainda não entendem. Difícil fazer as crianças cantarem Todos Estão Surdos, de Roberto e Erasmo Carlos, tanto que a criança que canta os versos desta musica se atrapalha e erra. Natural e passa desapercebido, afinal, são crianças. E é justamente esta música da dupla Carlos que é o ponto alto do disco: o garotinho parece animado, mesmo que não esteja por dentro da melodia. A canção ficou perfeita na voz de veludo de Fernanda Takai.
Primavera é uma música usada e colidida de Cassiano, cantada por Tim Maia e Mauricio Manieire a risca e com o Pato Fu não poderia ser diferente. Sonífera Ilha é uma ótima pedida: deixou de ser um rock pesado dos Titãs para uma levada de rock infantil pelo grupo. Ovelha Negra, de Rita Lee e Roberto de Carvalho também é uma boa pedida, mas de tão exausta, nem precisaria entrar neste disco. Ritchie foi relembrado pela turma mirim e ficou muito boa a canção Pelo Interfone, um mega sucesso dos anos 1980.
Complicado as crianças de hoje em dia cantarem em inglês e Fernanda Takai o faz magistralmente. Por isso cismo em dizer que o disco não foi feito para as crianças e sim para adultos. Grandes sucessos do cancioneiro americano estão lá e Fernanda simplesmente arrebenta sem incomodar.
Frevo Mulher, de Zé Ramalho é de uma exuberância tremenda. Caiu perfeitamente bem no disco e, mesmo sendo de apelo forte, sexual e atemporal para o convívio de crianças, a suave voz de Takai nos deixa convencidos de que a música é nada mais, do que um baião. E o grande sucesso dos Paralamas do Sucesso está lá também: SKA. Nesta faixa, as crianças se divertem muito.
A ideia original do grupo Pato Fu em ter seus filhos como coro é bem vinda, tendo em vista que as crianças estavam em conluio familiar. E enquanto as crianças crescerem ouvindo este tipo de música, seja baião ou rock com letras que nos fazem pensar, refletir e sermos gente decente, elas serão, sem sombra de dúvidas, pessoas maduras o suficiente para discernir o que é verdade ou errado. Patu Fu ganha mais méritos lançando um disco a altura de seu talento. São músicas de profundo respeito, cantadas e feitas numa forma sentimental, pueril, singelo e sem disfarces para uma posteridade que está logo ali, virando a esquina.
Enquanto as crianças pensarem como as crianças do Pato Fu e suas musicas de brinquedos, o mundo se torna mais real e menos agressivo.

Nove Estrelas.
Marcelo Teixeira.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma correção: Ruído Rosa é de 2001.