segunda-feira, 1 de julho de 2013

O vexame do Som Brasil Bossa Nova



Os especiais de 1980 eram melhores
O que era bom acabou mudando de estilo. O Som Brasil apresentado nos anos 1980 pelo competente Rolando Boldrin troucou de formato, trocou de apresentadores – saí o homem, entra a mulher – trocou de horário, dia e não tem um mês específico para ir ao ar. Indo às madrugadas de uma sexta feira por mês (quando consegue entrar na grade), o Som Brasil resolveu inovar e dessa inovação houve um grande embaraço musical, convidados nem sempre alinhados ao estilo e muitas vezes incompetentes. O público de hoje, com as novas tendências musicais, acabam não reconhecendo as canções ali apresentadas por novas caras e novas vozes e o programa passa desapercebido. Já para os que gostam do programa e das músicas ali cantadas, acabam se irritando com as mudanças de harmonias e o que era para ser inovação, acaba sendo uma irritação profunda e nostálgica. O Som Brasil mudou de cara e de comportamento, mas não exprime qualidade nem sofisticação alinhada aos novos tempos. A apresentação musical ficou careta e estranha e o que mais irrita na atração são cantores e cantoras inexperientes que dublam as músicas sem o minímo cuidado de tropeçar e com músicos que tocam seus instrumentos ao vento, sem tocá-los.

O Som Brasil apresentado recentemente pela Rede Globo de Televisão dedicou a recordar as melhores canções da bossa nova. Sai Rolando Boldrin, entra Patrícia Pillar que recebeu um dos anfitriões ainda na ativa, Roberto Menescal, um dos precursores do gênero que inovou ao misturar influências do jazz à cultura nacional. Canções que viraram referências da música brasileira – como Garota de Ipanema, O Barquinho e Ela É Carioca – compõem o repertório do programa em homenagem ao estilo. Menescal dividiu o palco com Andrea Amorim, Daíra Saboia, BeBossa e Cris Delanno.

Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Jhonny Alf e Baden Powell se foram, mas ainda permanecem na ativa três grandes monstros sagrados da Bossa Nova: João Gilberto, Carlos Lyra e Roberto Menescal. João Gilberto se isolou nos Estados Unidos e não há santo cristo que o faça dar uma entrevista ou uma aparição pública qualquer.  Carlos Lyra mal compõe músicas hoje em e dia e seu último lançado no ano passado, intitulado Só Danço Samba (Ao Vivo), mas também virou um adepto do esconderijo, pois quase não é possível ver Carlos Lyra.

Roberto Menescal é o contrário de tudo isso e de todos. Ainda na ativa e morando em Brasília, o cantor, compositor, violonista e artista completo lança a cada ano ótimos discos lapidando as melhores vozes femininas de todos os tempos. Seu disco de maior destaque é o Elas Cantam Menescal, lançado no ano passado ao lado de belas vozes, como Márcia Tauil, Sandra Duailibe, Cely Curado e Nathália Lima. Recentemente, Menescal está em companhia da cantora mediana Adriana Amorim – que não é nem maravilhosa, nem boa, nem nada. Apenas fraca cantora.

Há mais de uma década na estrada, Andrea se divide entre a paixão pelo rock e pela bossa nova desde que gravou um CD com Menescal. O compositor também foi fundamental na carreira de Daíra, que começou a trabalhar nos palcos de espetáculos musicais ainda criança e está produzindo seu primeiro disco com o ídolo. O sexteto BeBossa, cujos arranjos são predominantemente vocais, lança um álbum com regravações das letras de Menescal. O cantor protagoniza ainda mais um dueto ao lado de Cris Delanno, que traz experiência como solista em corais. Também são convidados Celso Fonseca, cantor e produtor que participou de diversos festivais internacionais; Alaíde Costa, vocalista que começou em programas de calouro de rádios e hoje tem mais de 50 anos de estrada; Georgeana Bonow, compositora e professora infantil de iniciação musical; e Tibless, representante da afrobeat.

Exceto um dos pais da bossa nova, Roberto Menescal e de Celso Fonseca, Cris Delanno e da excelente Alaíde Costa (que fora aplaudidíssima), os outros músicos não representaram nada ao estilo bossa nova. Às vezes encontramos um Roberto Menescal perdido nas próprias melodias ou perdido de frente das câmeras, mas mesmo assim, o músico se saiu muito bem, pois representou ali como sendo o representante do movimento e criador de várias músicas cantadas.

Adriana Amorim decepcionou! Fanha, a cantora tentou ser maior que tudo ali: maior que o programa, maior que Menescal, maior que as outras cantoras. Abrindo o programa, Adriana sambou mais que cantou e isso prejudicou sua participação. Mesmo sendo um playback, a cantora se esforçou demais para cantar, estorvando seu show e caindo na caretice de ser apenas mais uma entre tantas. Aquele beijinho no Menescal (forçado demais) ao final da música foi o erro fatal e cheio de piegas.

Daíra Sabóia tentou ser uma nova Elis: dançou, requebrou, sorriu, ergueu os braços igual uma Elis Regina. Sua voz até que é agradável, mas de olhos fechados. Péssima escolha do programa em tê-la ali cantando  O Pato, com aquela voizinha irritante por vezes e macia por poucos minutos.  Mesmo com um suingue descontraído, Georgeanna Bonow não convenceu. Sua maquiagem estava muito carregada e sua vestimenta não correspondia ao estilo mais intelectual do movimento. Mais parecia uma cantora de rock punk do que propriamente de bossa!

Decepção geral foi o grupo mineiro Tibless, representante do afrobeat. O cantor até tem uma voz suave, macia, mas ele estava visivelmente fora do tom bossa novista e não convenceu em nada, mesmo sendo um grupo realmente bem afinado. E por falar em afinação, foi a partir da apresentação deste grupo que percebi que tudo ali era cantado em playbak e isso, definitivamente, acabou de enterrar o programa Som Brasil.

Lamentável!

O vexame do Som Brasil Bossa Nova

Marcelo Teixeira

Um comentário:

Nathália Lima disse...

Muito bom seu artigo Marcelo. Destaco também a utilização indiscriminada de programas afinadores de voz, como o Melodyne. Isto é o que mais me incomoda e me impede de assistir ao programa na íntegra. Terrível! Ah! O Celso Fonseca arrebentou. Já gostava dele, virei fã. Beijos querido!