quarta-feira, 17 de julho de 2013

Iaiá - de Mônica Salmaso


Ótimo disco, ótima cantora
O nome do disco e a homenagem a Clementina de Jesus logo na faixa de abertura dão as primeiras pistas da brasilidade de iaiá, CD da cantora paulista Mônica Salmaso. Nele, o timbre docemente grave e cheio de personalidade da intérprete assinala musicalmente uma identidade brasileira sem deixar de ser universal. Essa busca se confirma no interesse de Mônica pelas pessoas de seu país, cantando a religiosidade e o humor, a poesia e a sobrevivência e isso acontece desde o CD Trampolim, que a persegue no seu jeito de falar do Brasil. Mônica Salmaso volta a ter como grande companhia de seu trabalho a liberdade musica em iaiá. E a canção em si já dimensiona o aspecto universal do CD, que marca a sua estréia na gravadora Biscoito Fino em grande estilo. As reflexões tornam ainda mais compreensíveis o encontro entre o simples e o complexo no conteúdo de iaiá, que dialoga com variadas vertentes da MPB, do samba de gafieira Cidade lagoa (Sebastião Fonseca/Cícero Nunes) às experimentações de Tom Zé em Menina amanhã de manhã (parceria com Perna). O resultado desta última, no olhar do crítico entusiasmado que vos escreve da intérprete, ficou cheio de alegrias, de saudades e de Brasis.

 

Do embalo puxado para o maxixe de Doce na feira (Jair do Cavaquinho/Altair Costa) ao samba choro Cabrochinha (Paulo César Pinheiro/Maurício Carrilho), iaiá (2004 / Biscoito Fino / 26,99) tem consistência, sofisticação e espontaneidade. Boa parte da sonoridade do CD é fruto dos quatro anos em que Mônica Salmaso ficou sem gravar, caindo na estrada e fazendo shows com músicos de linguagens e universos bem diferentes. As faixas têm estrutura melódica e harmônica simples - como Estrela de Oxum (Rodolfo Stroeter e Joyce) e Moro na Roça (Xangô da Mangueira e Zagaia, tema folclórico popularizado por Clementina de Jesus) - e, ao mesmo tempo, experimenta canções mais complexas em sua estrutura. Dentre elas, a delicada Assum Branco (José Miguel Wisnik) e uma pérola de Chico Buarque chamada Sinhazinha (da trilha sonora do filme Para Viver um Grande Amor).

A riqueza do versátil time de compositores também chama atenção em iaiá, conciliando obras de diversos estilos e épocas, sem que o resultado se perca numa colcha de retalhos. Esse, aliás, foi o maior desafio para Mônica Salmaso e Rodolfo Stroeter, produtor e co-diretor musical do disco. Um clima de final de tarde, de depois da chuva, ambienta sua interpretação para a faixa Onde Ir, composta por Vanessa da Mata. E após ter selado a paixão pela obra de Dorival Caymmi nos discos Trampolim (1998) e Voadeira (1999), Mônica canta, desta vez, É Doce Morrer no Mar, clássico do compositor baiano. Reafirma também a sua admiração por Tom Jobim e Vinicius de Moraes (Por Toda a Minha Vida). A saudação a Sílvio Caldas fecha o disco com chave de ouro no ótimo partido alto Na Aldeia (gravado por Sílvio na década de 30), com participação especial de Teresa Cristina.

Vale a pena conferir.

 

Iaiá / Mônica Salmaso

Nota 10

Marcelo Teixeira

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