quinta-feira, 19 de abril de 2012

Livro, de Caetano Veloso: intelectualidade refinada




Livro, lançado em 1997: intelectual e hermético
Se o disco Livro (1997 / Polygran / 29,99) de Caetano Veloso, contasse apenas com as faixas Livros e Não Enche, o disco já seria uma obra prima do cantor, dessas músicas que grudam em nossa memória e não são, em hipótese alguma, composições de conteúdo chulo. Díspares no contexto e na sonorização, Livros trás o lirismo e a poesia que Caetano sempre almeja em várias músicas ditas intelectualizadas de sua autoria, enquanto Não Enche é a mensagem mais desumana e descaracterizada para que uma mulher saía do pé de seu homem, o deixando viver em paz. Mas o álbum é muito mais do que isso. Beleza, sofisticação, dedicação e palavras embutidas em frases difíceis fazem deste merecido disco um achado e tanto para a carreira do cantor como para ouvintes tão carentes de boa música. Não foi a toa que Caetano Veloso ganhou, no ano 2000, o Grammy como melhor álbum por este elogiado trabalho. E não é a toa também que o baiano de Santo Amaro da Purificação, filho de Dona Canô, mereceu destaque por este disco.

O disco tem suas particularidades extras. A Língua Portuguesa aqui expressada é de uma riqueza profunda e enigmática, tão enigmática, que algumas músicas são complicadas de cantar, caso de Os Passistas, que abre o disco. Livros, a faixa título e a mais sublime do álbum, também é meio complicada de assimilar à primeira audição, mas com o tempo ela penetra em nossos poros como uma avalanche de sentimentos. A música retrata o carinho que Caetano tem para com os livros, na sua forma geométrica e original e o resultado ficou perfeito.

Caetano Veloso: ele ganhou o Grammy
Exceto por How Beautiful Could A Being Be (Moreno Veloso), O Navio Negreiro (Castro Alves) e Na Baixa Do Sapateiro (Ary Barroso), todas as outras faixas são de autoria de Caetano.  O amor, o sentimento aflorado pelas palavras e o sentimentalismo profundo pela Bahia estão aqui retratadas na sua singularidade mais preenchida e sonora. E por homenagear os livros, Caetano Veloso complicou ainda mais a língua em versos e na forma de cantar. Isso não é nenhuma novidade na carreira do cantor, que adora inventar palavras ou expressá-las numa forma mais contundente e não podemos esquecer que músicas como Outras Palavras (quando a palavra computador ainda era um tabu e praticamente não falada) ou Língua, já foram cantada com maestria num jogo dificílimo de palavras.

Em Livro, ele volta a dificultar a vida das pessoas em músicas como Alexandre, cujo ajuda a contar a história do rei que transformou a Macedônia e conquistou o Egito e a Pérsia ou na canção Não Enche, cujo canta com rapidez palavras pouco comuns no dia a dia. Mas nem de palavras difíceis vive o disco e como prova disso Caetano impera o amor com a romântica e sensata Você é Minha (quase uma alusão a Você é Linda), Minha Voz, Minha Vida ou na homenagem que fez a sua Bahia em Onde o Rio é Mais Baiano.

As homenagens não param por ai. Manhatã ele compôs especialmente para Lulu Santos, Um Tom para Tom Jobim e na derradeira homenageou seu grande inspirador João Gilberto em Pra Ninguém, onde Caetano faz uma justa homenagem aos grandes cantores, de Nana Caymmi a Marisa Monte, passando por Elisete Cardoso e até sua melhor amiga Gal Costa e sua irmã Maria Bethânia.

As participações especiais ficaram por conta da própria irmã, Maria Bethânia e de Carlinhos Brown, que juntos fizeram uma gravação emocionante na canção O Navio Negreiro, uma releitura de Castro Alves, aonde Caetano, na sua forma mais ousada, incluiu ai um domínio público muito popular na Bahia, chamado Que Navio é Esse...

Com este belo disco, Caetano Veloso não precisa provar mais nada como musico ou como artista, pois sua criatividade está comprovada neste espetacular Livro. E como já cantou Adriana Calcanhotto em uma música de sua autoria, Vamos Comer Caetano. Vamos revelarmo-nus.



Faixas

·       1 – Os Passistas (Caetano Veloso)

·       2- Livros (Caetano Veloso)

·       3 – Onde o Rio é Mais Baiano (Caetano Veloso)

·       4 – Manhatã (Caetano Veloso

·       5 – Doideca (Caetano Veloso)

·       6 – Você é Minha (Caetano Veloso)

·       7 – Um Tom (Caetano Veloso)

·       8 – How Beautiful Could A Being Be (Moreno Veloso)

·       9 – O Navio Negreiro (Castro Alves)

ü  Part: Maria Bethânia e Carlinhos Brown

·       10 – Não Enche (Caetano Veloso)

·       11 – Minha Voz, Minha Vida (Caetano Veloso)

·       12 – Alexandre (Caetano Veloso)

·       13 – Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso)

·       14 – Pra Ninguém (Caetano Veloso)



Produzido por Jaques Morelenbaum e Caetano Veloso

Nota 10

Livro / Caetano Veloso

Marcelo Teixeira

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