quarta-feira, 11 de abril de 2012

Idílio, de Marina de La Riva: uma perfeição




Filha de pai cubano com mãe mineira, a cantora carioca Marina de La Riva acaba de lançar seu segundo álbum, Idílio (2012 / Universal / 25,90) em que retoma a saborosíssima mistura de música brasileira com cubana, como havia feito e chamado muita atenção em 2007, com o trabalho de estreia e homônimo. Ela volta agora muito mais amadurecida e acompanhada de músicos de primeiríssimo nível. As faixas não foram escolhidas e organizadas aleatoriamente. Muito pelo contrário. Umas dialogam com as outras. Ela começa mergulhando no baú da música cubana, recuperando Añorado Encuentro, de Piloto Bea e Vera Morua, que conta com a participação do consagrado trombonista Raul de Souza. Ela é acompanhada pela romântica Ausência, de Vinicius de Moraes e Marília Medalha, marcada pela percussão de Pedro Bandera e Ricardo Valverde: Eu tinha feito da saudade / A minha amiga mais constante / Ela a cada instante / Me pedia pra esperar / E foi tudo o que eu fiz, te esperei tanto.

A maneira como a voz de Marina de La Riva dialoga com o violão de Daniel Oliva e o baixo acústico e o arco de Fabio Sá, em Assum Preto, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, é de arrepiar. Já é uma das mais belas homenagens ao centenário do rei do baião. A delicadeza permanece na dengosa Canción de Las Simples Cosas, de Armando Tejada Gómez e César Isella, reforçada Pepi Olviedo, o baixo acústico de Fabian Garcia Caturía, o violino de Ernesto Villalobos e os timbales de Adel Gonzalez, que cuida das palmas junto com a cantora. É surpreendente observar como a voz de Marina de la Riva se transforma nesse canto de saudade: Por eso, muchacho, no partas ahoa, soñando el regreso / Que el amor es simple, y a las cosas simples las devora el tiempo.

Igualmente forte é Como Duele Perderte, de Flores, pontuada pelo tamborim de Ricardo Valverde e o violão de Emiliano Castro. Ela abre espaço para o bolero-ranchero Y, de Mario de Jesus, com direitinho a uma paradinha, que arrepia mais do que a feita atualmente pelas escolas de samba na Marques de Sapucaí, assim como a voz de Marina de La Riva, imitando um suave trombone: Y a que debo dime entonces tu abandono / Y em que rufa tu promesa se perdió / Y si dices la verdad yo te perdono / Y te llevo de recuerdo junto a Dios. É de arrepiar.

Idílio, novo disco de Marina de La Riva
Não à toa o álbum segue com o samba “Juracy”, de Antonio de Almeida e Cyro de Souza, gravada pelo rei da malandragem Moreira da Silva. Ela desbrava espaço para uma versão em mambo da dançante Estúpido Cupido, versão de Frank Jorge para sucesso de Neil Sedaka e Howard Greenfield, gravada por Celly Campello, na fase inaugural do rock brasileiro. Aqui ela é reforçada pelo piano de Pepe Cisneros e o sax-tenor de Ivan de Andrade. A canção seguinte é o chorinho Deixa Que Amanheça, de Oswaldo Santiago, gravada por Emilinha Borba e que aqui conta com o acompanhamento de um time de altíssimo nível, formado por Luizinho 7 Cordas, no violão de sete cordas; Alexandre Ribeiro, no clarinete; Deni Mastrodomenico, no cavaco; e Ricardo Valverde, na percussão. Ela abre espaço para “Dile Que Por Mi No Tema”, de T. Smith, que conta com arranjos de Pepe Cisneros e remete à chanson francesa.

Marina de La Riva parte, então, direto para a emplogante Muñeca, de Eddie Palmieri, mais uma faixa com arranjo de Pepe Cisneros, com o primoroso trombone de Raul de Souza e com uma letra safadíssima: Muñeca, quiero que me perdones / Muñeca, que yo no ló hago más / Me encontrastes em los brazos de otra nena / Son diversiones que no valen nada. Dá vontade de sair dançando pelo salão.

A cantora Marina de La Riva
Chega-se à faixa-título, Idílio, de Titi Amadeo, que conta com a bateria de Pupilo, da Nação Zumbi, e mantém o clima caribenho e bastante ensolarado. O álbum termina com mais duas canções charmosas e dançantes – Voy a Tatuarme, de Amaury Gutiérrez (vencedor do Grammy Latino de melhor cantautor em 2011), baseada no Soneto LXVI, de Pablo Neruda e Luiz Felipe Gama; e Voy a Guardar Mi Lamento, de Raul Vasquez, que conta com o trompete azeitadíssimo de Guizado, a guitarra de Junior Boca, a bateria de Pupilo e o baixo elétrico de Fabio Sá.

Portanto, Idílio reafirma Marina de La Riva como uma das melhores cantoras brasileiras da nova geração. Há quem diga que ela é apenas para ouvidos mais refinados. Mas, que nada, parece impossível escutar esse álbum e não se encantar e nem sentir vontade de sair dançando por aí, com uma pitada de saudade e um arco-íris ou uma Lua, rodeada de estrelas, no céu.



Nota 10

Idílio / Marina de La Riva

Marcelo Teixeira

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