quarta-feira, 25 de junho de 2014

Entrevista: Luiz Marques


Luiz: grande músico*
Luiz Marques nasceu em Patos de Minas, em Minas Gerais e é desde lugar mais barroco do Brasil que o cantor e compositor concede uma entrevista para o Mais Cultura Brasileira. Cantor dos mais experientes do mercado fonográfico atual, Luiz Marques carrega na bagagem quatro discos importantes para a MPB: O Giro da Roda de Fogo (2000), Sentimento em Cor (2005), o que leva seu próprio nome, Luiz Marques, lançado em 2009 e o mais recente, Mira Certa, lançado em 2012. Poeta nato, o cantor revela detalhes de sua carreira, visceral e única e nos ensina que viver musicalmente é um dos dons mais divinos que existe. Luiz Marques é um dos melhores cantores e compositores de seu tempo e este talento já é comprovado por sua carreira composta de muita música, brasilidade e carisma. Em suas palavras, teria qualquer profissão pensando na música e gostaria de ouvir uma música sua na voz de seu maior cantor, Milton Nascimento. Com vocês, Luiz Marques!


Marcelo Teixeira: Quem é o Luiz Marques?

Luiz Marques: Uma pessoa em busca de seu significado maior e melhor e que assim segue pretendendo ser útil ao universo através de seu ofício.

M.T. O que pensa ou em quem pensa enquanto compõe suas músicas?

L.M. Isso depende muito do momento, pois toda inspiração surge de maneira espontânea, de algo que ocorre no dia a dia ou nas observações mais amplas de fatos que atingem a nossa percepção e de alguma forma nos toca e move os sentimentos. Para se ver livre da angústia ou alegria criada, surge a urgente necessidade de entender melhor e exteriorizar esta emoção em forma de poesia e música.

M.T. Se você não fosse músico, seria...?

L.M. Carpinteiro , pintor ou médico. Todas as funções seriam exercidas pensando em ser músico.

M.T. Qual a maior voz do Brasil?

L.M. Milton Nascimento.

M.T. O lirismo poético assim como as críticas contra o sistema opressor caminham juntas em seus discos. Prefere compor sobre a poesia ou sobre as mazelas que assolam nosso país?

L.M. Os dois temas são instigantes e dão margem a um enorme material investigativo. Minha opção é sempre, a princípio, inconsciente, pois o que interiormente está incomodando mais e precisa sair é a escolha visceral que vai emergir na forma de uma canção.

M.T. Mira Certa ganhou projeção maior em sua carreira, demonstrando o quão valioso é o seu trabalho como artista. Pensa em fazer shows pelo Sudeste?

L.M. Estou realizando uma segunda turnê de divulgação do DVD Mira Certa e cidades do sudeste como São Paulo , Ouro Preto e Belo Horizonte estão no roteiro.

M.T. No disco Luiz Marques lançado em 2009, você homenageia Minas Gerais na música Ser Tão Cidade. De Minas saíram alguns dos melhores músicos brasileiros e você se inclui nesta lista. Minas é o seu porto seguro musical?

L.M. Sim com toda certeza! Tanto o interior, o vasto sertão, a geografia única com suas surpreendentes montanhas, como também a capital Belo Horizonte, onde resido já por vários anos,são fontes inesgotáveis de inspiração. E principalmente bebo do mistério que vive oculto na voz e no silêncio deste povo, na força do barroco que pulsa nas veias das pessoas e nas ruelas das cidades históricas, enfim nas Minas Gerais, estes profundos poços onde nós mineiros vamos buscar o ouro de nossa existência!

M.T. Cantor, compositor, arranjador e violonista. O que mais falta fazer em sua carreira?

L.M. Fazer chegar minha música a todos que possam e tenham interesse em ouvi-la. Penso que o exercício deste ofício, que não é muito bem compreendido pela sociedade em geral, requer de todos nós que somos persistentes e meio malucos sonhadores (como Dom Quixotes musicais) muita energia e abdicação para continuar, pois os obstáculos são muitos e já conhecidos, então os sonhos e a dedicação têm que ser altaneiros e bem maiores, para viabilizarmos a continuidade da carreira.

M.T. Gostaria de dividir os vocais com qual cantor ou cantora?

L.M. Com o Milton Nascimento, mas não dividir e sim ouvi-lo cantando uma composição minha. Por que? Por sua história musical e maravilhosa voz.

M.T. Você já escreveu músicas para festivais e peças de teatro. Pensa em retomar esse hábito?

L.M. São segmentos dos quais me afastei bastante, mas não descarto estas possibilidades, pois um convite neste sentido pode ser um catalisador de buscas imaginativas para retratar novas emoções.

M.T. A religiosidade é muito forte dentro de você, tanto que compôs em homenagem à Santa Terezinha. Essa fé faz com que a sua música soe como regional. Tem medo de rótulos ou não gosta de ser rotulado?

L.M. Não tenho restrições quanto a ser ou não rotulado. Penso que quando o artista se expõe está oferecendo a possibilidade de variada interpretação de sua obra, principalmente os autorais como é o meu caso.

M.T. De todas as suas músicas, qual você acha a melhor?

L.M. Aí você me pegou! È como escolher de qual filho você gosta mais rss. Muitas canções minhas me deram alegrias especiais, mas prefiro manter todas no mesmo patamar, para não haver ciúmes entre elas.

M.T. Recentemente, escrevi um artigo no qual dizia que você era um cantor a altura do Brasil. Se sente injustiçado às vezes por sua música não poder chegar mais longe?

L.M. Não, pois conhecendo o atual cenário da indústria fonográfica e suas mazelas, penso que a injustiça é feita ao povo brasileiro que, na maioria das vezes, é refém de uma péssima inclinação da mídia que impõe uma música rasa, comercial e sem sentido em seus amplos canais de alcance como tv´s e rádios. Uma lástima, pois estes veículos são( na maioria das vezes) concessões estatais e deveriam formar, informar e ampliar os horizontes culturais de toda uma nação, mas o que vemos é bem o contrário. Eu e tantos companheiros de estrada que por opção fizemos a escolha de realizar um trabalho mais profundo, de melhor qualidade musical e poética estamos na luta pela possibilidade de mostrar com mais evidência o resultado de nossos esforços. O que nos move é saber que quando esta opção é dada aos ouvintes a receptividade é excelente, então acho que estamos no caminho certo!

M.T. Música é arte e você o faz brilhantemente. Por que resolveu ser musico, Luiz?

L.M. Acho que todo artista, principalmente os músicos, têm um parafuso a menos ou a mais no cérebro! Pense bem, a música é algo intangível, não paupável e que você não pode ver! Toda vez que você toca uma canção ela sai de uma maneira diferente, não é como um quadro, livro ou escultura que tem um toque final definitivo. É das artes a mais instantânea e incerta! Toda vez que você está em ação, no palco, tudo pode acontecer desde uma belíssima interpretação e um excelente show ou então uma tragédia, como quando você está rouco, sem voz ou acontece um piripaque no sistema de som e ninguém ouve mais nada. Ainda bem que temos os CD´s e DVD´s que registram as nossas performances, mas é no dia a dia que realmente exercemos nossa arte. Então até hoje eu me faço esta pergunta: por que resolvi ser músico?

M.T. Fazer música é..

L.M. ... padecer no paraíso, vivendo intensamente o que a vida tem de melhor! Agradeço, de coração, seu convite e parabéns por continuar assim, enfatizando e divulgando a nossa música brasileira! Grande abraço Marcelo Teixeira!

Luiz, muito obrigado pela entrevista. Um super e enorme abraço. Marcelo.

*foto de Renata Samarco.


 

Entrevista com Luiz Marques
Marcelo Teixeira

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