segunda-feira, 30 de junho de 2014

As verdades de Marisa Monte


As verdades de Marisa
Marisa Monte soube aproveitar boa parte do repertório de Verdade, Uma Ilusão (2014 / EMI / 24,99 ) para atrair o grande público, trazer de volta os fãs dispersos, fazer nova turma de fãs e angariar novas aventuras. Marisa Monte não é mais aquela cantora de início de carreira que tenta ser a nova queridinha do momento: ela tem estrada, chão e personalidade. Mas no decorrer do tempo, a cantora perdeu fãs para outras cantoras em atividade mais recente e isso deve-se muito ao fato da cantora demorar para lançar discos: os fãs se dispersaram e Marisa Monte deixou de produzir discos maravilhosos como as do início de sua carreira brilhante. É evidente que O Que Você Quer Saber de Verdade (2011) e Infinito Particular (2006) foram discos lançados com pompa de grande estrela, mas sem o quilates de público e crítica, diferentemente de Universo ao Meu Redor (2006),  que foi recebido com críticas positivas e com muita aceitação no mercado fonográfico. Aqui Marisa Monte se reinventa da melhor maneira possível: o jeito de ser Marisa Monte. Assim como fizera com Barulhinho Bom (1996), a cantora trouxe para este novo lançamento canções que já cantou em outros álbuns, sem grandes pretensões e sem grandes alardes. Com interpretação magistral, a cantora não dispensa seu timbre com o fraco repertório do disco anterior e realça obras-primas solúveis de outros tempos.  Mas o que Marisa fez foi extraordinário: pincelou aqui e ali músicas de seu repertório em discos que cairam no esquecimento do grande público e as cantou de modo absoluto, nunca antes regravados por ela ou por outro cantor, exceto E.C.T, imortalizado na voz de Cássia Eller. Da cantora californiana radicada no México Julieta Venegas vem Ilusão, uma doce canção de amor que teve versão da própria Marisa com o ex-titã Arnaldo Antunes. Entre uma canção e outra de O Que Você quer Saber de Verdade, surgem as pérolas como Diariamente, do CD Mais (1991), De Mais Ninguém, do CD Cor de Rosa e Carvão (1994), eleito até hoje um dos melhores da cantora, Arrepio, do CD duplo Barulhinho Bom (1996) e as populares Gentileza e Não Vá Embora, do CD Memórias,  Crônicas e Declarações de Amor (2000). Ainda tem uma regravação em italiano de Sono Come tu mi vuoi e depois disso nada mais é legal de ouvir. O disco é morno e não chega a ser considerado um novo Barulhinho Bom, que tem formato mais animado e menos popular.  Mesmo sendo um disco completamente tíbio, a cantora já lidera com mais um feito: Verdade, Uma Ilusão já é disco de Ouro, coisa normal na carreira magistral de Marisa Monte. Talvez o único defeito seja escolher um repertório tão fraco e menos visceral para tentar prender a platéia. Poderia ousar mais, colocando músicas mais animadas, dançantes ou então fazendo roupagens novas porque até a respiração de Diariamente é igual a gravada originalmente em 1991, com as mesmas entradas e saliências. Assim como De Mais Ninguém, que mais se parece com uma canção de Paulinho da Viola, mas é uma grande música da cantora com Arnaldo Antunes que fala das dores do amor abandonado, tem a mesma melodia da anterior. Se Marisa Monte ousasse ainda mais no capricho de suas canções, na certa este seria o disco do ano. Mas por enquanto, a verdade aqui é apenas uma ilusão.

 


Verdade, uma Ilusão / Marisa Monte
Nota 8
Marcelo Teixeira

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