quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Eu Não Peço Desculpas (2002), de Caetano Veloso e Jorge Mautner


Um pouco de loucura dos dois
Há um pouco de loucura e saliência no CD Eu Não Peço Desculpas (2002 / Universal Music / 24,99) lançamento conjunto entre os amigos Caetano Veloso e Jorge Mautner. Na época de seu lançamento, as entrevistas conjuntas e os shows nos palcos Brasil a fora, a parceria entre Caetano e Mautner guardou contrastes quase emagadores, para não dizer constrangedoras, de uma química entre dois luminares de abajures: um aceso, outro apagado. Há bem da verdade, o CD é pautado pela desenvoltura de ambos artistas completos, ricos musicalmente, mas que desse toldo apenas Caetano conseguiu uma magnitude ampla, aonde conseguiu sobreviver às custas do que pensava em música, arte e cultura. Mautner foi massacrado pela crítica conservadora, pelo seu estilo, pelo seu canto e pela sua pessoa e isso ofuscou e muito a sua bela carreira. Passados mais de décadas, os dois se juntaram para fazer um disco atemporal, contraditório e surpreendentemente belo. Esse é o motim para o descrever Eu Não Peço Desculpas, um disco que pode soar engraçado, como pode ser estranho para outros ou até mesmo maravilhoso para alguns. O fato é que o disco, hoje, não é tão bem vinda na carreira dos dois artistas, pois suas músicas ficaram esquecidas.

O resultado é um disco que passeia por várias praias sonoras, num vôo despretensioso, mas repleto de segundas intenções e ironias e é justamente isso o que faz toda a diferença aqui. As letras são brincalhonas, escrachadas até, mas falando sultimente de assuntos muito sérios, como no caso de Doidão ou Tarado. A liberdade lúdica é maior ainda em relação ao espectro sonoro. Do pseudobrega Tudo Errado aos trique-triques eletrônicos de Manjar dos Reis, tudo soa com um frescor ausente há tempos da obra do baiano. Mas nem tudo é brincadeira. Lágrimas Negras, na voz de Caetano, ganha um tratamento sóbrio e delicado. E há um certo tom pesado na releitura de Cajuína, com Mautner, repleta de tons orientalizantes. Mas o que sobressai mesmo são os gracejos bobíssimos e justificados – do pop farofento de O Namorado à palhaçada explícita de Tarado. E também nas boas viagens sonoras, como o ar renovado concedido a Maracatu Atômico (com tambores baianos e não pernambucanos) ou a experimentação pós-tropicalista (ao menos na alma) de Feitiço.

O disco em parceria dos dois cantores é, no mínimo, curioso.

 

Eu Não Peço Desculpas / Caetano Veloso e Jorge Mautner
Nota 7
Marcelo Teixeira

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