sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Quatro vozes para Roberto Menescal


 

As quatro belas vozes da MPB
Quando se pensava que o Brasil estava escasso de boas cantoras no cenário musical, eis que surgem quatro maravilhosas vozes que conseguem, em seus cantos solos ou em uníssono, fazer um dos mais belos discos em homenagem à Bossa Nova e, consequentemente, salvando parte da MPB que está voltada cada dia mais para o pop romântico ou para semânticos do duplo sentido, perdendo, muitas vezes, sua essência. Quando se pensava que a Bossa Nova estivesse esquecida ou fosse, hoje, produto exportado e adorado apenas por estrangeiros – americanos em sua maioria – eis que surge o belo e maravilhoso disco Elas Cantam Menescal (2012 / Albatroz) cheio de bossa, balanço, carisma e Roberto Menescal. Quatro vozes, quatro cantoras da melhor estirpe dividem os vocais para celebrar o melhor deste que foi um dos pais do estilo, ao lado de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Quatro vozes para homenagear Menescal, que continua na ativa e que consegue descobrir novos e excelentes talentos como Cely Curado, Márcia Tauil, Nathália Lima e Sandra Duailibe. Mas vamos com calma, porque aqui neste disco, as quatro vozes vão do melhor de Menescal ao inédito do mesmo e isso causa uma sensação de esperança na música, pois as cantoras de hoje ainda respiram o estilo com maestria e determinação.Já resenhei sobre Sandra Duailibe aqui no Mais Cultura! com seu delicioso disco Do Princípio ao Sem-Fim e Márcia Tauil esteve na lista das 20 melhores cantoras surgidas nos últimos 10 anos na MPB, alcançando o merecido quinto lugar, mas pra mim foi uma grata surpresa poder conhecer também os trabalhos (e as vozes encantadoras) de Cely e Nathália. Estilo único capaz de nos deixar encantados, o som que as quatro cantoras expõe é de uma delicadeza profunda, de um sentimentalismo aflorado e apurado e de uma magnitude centralizada na beleza de uma batida cadenciada que marcou gerações. Falar de Brasília, a capital do Brasil e não citar o movimento que marcou o início da nova geração do Rock, como Legião Urbana e Capital Inicial e que deu um salto significativo para a indústria fonográfica, eis que a capital volta a ser o centro das atenções, pois muita gente boa e de respeito mútuo está apontando por ali, caso das quatro cantoras e de algumas mais, como a sensacional Simone Guimarães.  Para ouvir o disco (e as lindas vozes) é preciso fechar os olhos e imaginar que estamos no Rio de Janeiro de 1960, nas noites cariocas, quando tudo era possível ou imaginado, quando a música brasileira estava trocando a noite pelo dia, literalmente, porque até então, a música era cantada e musicada durante a noite, os eventos musicais e as reuniões dos músicos eram centradas a noite e durante o dia nada acontecia, senão dormir e descansar. Um dos responsáveis por esse feitio era um jovem e promissor rapaz que, não por acaso, gostava de tocar violão, chamado Roberto. Roberto Menescal.

 

Tanto sol a iluminar

Por aqui e até no Japão

E a alma ri e se põe a dançar

Clube da Bossa

Quem não gosta deste lugar?

Das batidas do coração?

Nessa festa de luz eu vou

Nessa festa de sol eu vou

Nessa festa eu vou

Ah, vem também, meu amor

Trecho de Clube da Bossa, de Menescal e Márcia Tauil

 

Abrindo o disco com a provocante e bem humorada O Brasil Precisa Balançar, as quatro intérpretes dividem frases que mais parece uma provocação às pessoas que carecem de uma verdadeira musicalidade ou que vivem de músicas gratuitas e descartáveis. Você, aqui cantada extraordinariamente por Márcia Tauil ao lado do grande mestre, denota toda a sensibilidade afetiva de uma grande cantora com uma música que mexe com o nosso imaginário. Embora a voz de Cely Curado muitas vezes se parece com o da cantora Wanda Sá (grande amiga de Menescal), aqui as canções Me Diz e Amanhecendo nos deixa a sensação de que suas vozes são idênticas. Isso não faz perder a credibilidade da estonteante cantora Cely Curado, muito pelo contrário, porque a cantora carrega no timbre um ar de bossanovismo que faz a alma de Elas Cantam Menescal ficar com aquele ar saudade. Cely Curado nasceu em Brasília e faz um certo barulho em sua cidade natal, onde é muito popular e segue em shows cantando ao lado de Sandra Duailibe ou em shows solo, aonde canta clássicos da MPB. Aqui neste disco ela encanta pela voz potente, pelo belo timbre e pela sua música.
Nathália Lima esbanja emoção nas faixas Nós e o Mar (já cantada por Maysa) e Energia Feliz, talvez uma das melhores do disco também. A cantora, que também nasceu em Brasília, é muito popular em sua terra natal, aonde segue cantando clássicos da MPB e que aqui no disco interpreta com sutileza as pérolas de Menescal. Sandra Duailibe interpreta com sua voz rouca as belas faixas 3X4 e Copacabana de Sempre. Com batidas leves, lembrando suavemente as canções de bossa nova, Sandra reinventa uma maneira de cantar, não caindo na mesmice e deixando sua marca registrada no disco. Vale ressaltar que Sandra é uma dessas cantoras que devem ser sempre ouvidas e descoberta o mais depressa possível pelos amantes da MPB. Márcia Tauil nasceu em Guaxupé, Minas Gerais e já foi resenhada aqui no Mais Cultura! em dois artigos, sendo um deles sobre seu sensacional disco sobre as obras de Eduardo Gudin e Costa Netto e além de ser uma grande cantora, aqui ela se mostra uma compositora vertente e de calibre sutil. Compôs com Menescal a dançante Clube da Bossa e a sensação que a música nos passa é de que ali está centrada o novo clube que está reverenciando a bossa nova no século vinte e um. Clube da Bossa é uma junção de punhado de vários estágios do estilo bossanovista que já ouvimos por ai: às vezes soa como resposta a faixa O Brasil Precisa Balançar, às vezes remete à música Meditação, mas o que a canção transmite é a sensibilidade que a Bossa Nova passou às pessoas e ainda continua passando, com dias lindos, sol, flor, amor. E bossa é exatamente isso: o amor. Ninguém menos do que Menescal para reverenciar um dos grandes marcos na história da música popular brasileira, ainda na ativa, sendo respeitado e admirado por pessoas que cresceram ouvindo aqui ou ali suas melhores composições. Em Elas Cantam Menescal, as faixas escolhidas foram o ponto alto, pois não trazem canções conhecidas e aqui temos a oportunidade de ver o cantor e compositor sendo agraciado com as melhores vozes que o Brasil precisava ouvir e descobrir.

 


Elas Cantam Menescal / Cely Curado, Márcia Tauil, Nathália Lima e Sandra Duailibe
 
Nota 10
 
Marcelo Teixeira

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sim, o disco vermelho de Vanessa da Mata


Um dos melhores discos de Vanessa
Alcançando o segundo lugar na lista das vinte melhores cantoras dos últimos 10 anos na MPB, Vanessa da Mata conseguiu uma proeza e tanto em sua brilhante carreira ao lançar Sim, um disco maravilhoso e sensacional. Sim, o disco vermelho de Vanessa da Mata é um disco feminino. Começando pela capa, com aquela manta que parece uma mancha de esmalte sobre a areia, e que voa quando abrimos o encarte. Sua voz é bonita e cristalina, num balanço na medida entre a delicadeza e a braveza. Um pêndulo que só existe dentro de uma mulher. Vanessa da Mata constrói um disco de sensações e sentimentos, que poderiam ser contados e cantados em grandes clichês, mas não, ela captura a magia do simples e o transforma em leveza. Deixa escorrer o desejo. Seu disco tem um encaixe redondo, os fios se encontram numa poesia tranquila sem grandes surpresas no caminho. Talvez a surpresa esteja aí, nesse rio que corre manso. Seus sons são bons de ouvir, tem algo nisso tudo de misterioso, de atraente.

Vermelho abre num crescente, com uma voz que vem de longe e vai chegando pertinho. Lânguida face. Os sons se misturam com barulhos de bolhas explodindo. Vermelho é o sangue: o quente que arde, o quente que queima, o calor que pede o aconchego, mas que traz o vazio, que deixa a alma na solidão. E a voz vai como veio, desaparecendo, sumindo, enquanto o mundo roda em vão. Fugiu com a novela é um charme! Gostosa até de ouvir com esse som de triângulo, com essa percussão melindrosa. Gosto muito da inversão de papéis: Vanessa da Mata canta um homem que reclama a perda de sua mulher para a novela das oito e bem agora que o caso estava no tom! Perfeito! Esse homem que parece mais um gato, que gostava de ser alisado, que contava piada e ela gargalhava, foi abandonado. A letra é uma crônica conhecida e capta justamente um lapso: o vão entre os dois lados de um mesmo homem – o que acariciava e às vezes nem tanto. Com graça e sem alarde, Vanessa toma da voz masculina para dar o recado: A vida era boa ela não reclamava/ Agora vive longe, não sei mais nada/ Fugiu da nossa casa com a televisão.

Baú é o lado do pêndulo bravo da estória. Num ritmo mais rápido, com um órgão que traz uma sonoridade ácida à música, Vanessa numa imagem linda de morrer, quer jogar o moço no seu baú vivo e mágico, cheio de desenhos herméticos, livrinhos de receita e palavras de Dalai Lama. Está louca pra transformar seu sapo em príncipe. É bem aquela coisa de mulher, que vai dando nos nervos… Mas claro, a estória poderia ser cantada ao contrário. Essa música é meio como búzios quando jogados na mesa, é tudo uma questão de encaixe, de interpretação.

Boa Sorte/ Good Luck é um encontro de dois tecidos transparentes. Gosto muito. Acho super legal essa ideia de sobrepor a mesma ideia em duas línguas diferentes: como se a tradução não fosse possível quando estamos falando de sentimento, então temos a necessidade das duas vozes. Estamos aqui falando da riqueza das línguas, como se fosse um concentrado de cultura e um código que tenta colocar pra fora tudo isso. Cada língua com suas nuances, com suas palavras ora mais carregadas, ora menos, e, como se tivessem vidas próprias, elas conversam entre si, e a música é só um pretexto onde todas essas ideias deslizam. E o Ben Harper é um parceiro mais que perfeito! Ele, na sua bagagem musical, esbanja liberdade, encontros e poesia.

Os dedos percorrem os pretos e os brancos do piano que abre Amado e com a voz mais doce do mundo, Vanessa da Mata mata já de cara: Fico desejando nós gastando o mar/ Pôr-do-sol, postal, mais ninguém. Em Amado, onde até a sonoridade respira e transpira num movimento único, Vanessa da Mata canta um amor livre: no mesmo espaço onde lá fora passa o tempo sem você, é o espaço sim, onde tudo pode acontecer. Sem prisão.

Pirraça é uma música visual e a única coisa que me vem à cabeça nessa música é esse monte de doces brilhantes e deliciosos. Em Você vai me destruir, Vanessa da Mata canta o que a gente também sente: o nó no peito do fim do amor. O som é dançante, feito mesmo para disfarçar a raiva, todo o desdém. A fúria dessa música também é bem feminina: a fúria que se mistura com a vontade de perdoar, de esquecer e de continuar amando com a potência do amor envolvente, aquele mesmo, aquele que te come, aquele cheio de contradição.

 

 E se é gostoso, por que não?

Se é bem bom pro coração

A gente vai pra ser feliz

Viva, tenha

Trecho de Quando um homem tem uma mangueira no quintal, de Vanessa

 

Ilegais é a minha música favorita! É malandrinha, com balanço, com malícia. Os vocais são discretos como devem ser, o eletrônico no fundo dando o tom, o trombone que aparece de curioso, enche um espaço e faz bonito, Vanessa da Mata funde tudo isso muito bem com sua letra dengosa. Uma música gostosa, com um nome sensacional. Nada mais sugestivo. Me entrego total e acho uma verdadeira delícia a velocidade de Quando um homem tem uma mangueira no quintal. Uma música cheia de duplos sentidos, sem vergonha, cheia de siricotico e aventura. Essa música tem uma graça incrível, ela é toda livre, como numa trança solta, uma gostosura.

Fico viajando nesse quintal: com grama verde e com uns pedaços ainda com terra. Terra às vezes molhada pela água da mangueira. Um lugar pra poder brincar de amar, sem pensar no amanhã, aproveitar a tarde vazia.

É uma homenagem ao tempo livre, ao tempo vazio, ao deixar-se sair do sério.

 

Sim / Vanessa da Mata

Nota 10

Marcelo Teixeira

 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fernanda Takai (en)canta canções de Nara Leão


Fernanda Takai canta lindamente
Fernanda Takai tornou-se conhecida do grande público como integrante do Pato Fu, mas neste primeiro disco solo ela se revela uma outra cantora. Aliás, vale ressaltar que aqui mesmo eu já escrevi uma resenha sobre este disco em homenagem à Nara Leão, porém, ao vivo. Ainda que a produção e instrumentação tenham sido feitas quase toda pelo marido/parceiro de Pato Fu, John, o disco gravado no estúdio caseiro do casal difere do trabalho da banda no tom. A abordagem humorística típica do Pato fica muito mais sutil em favor das canções e da voz suave da Fernanda. A ideia de gravar músicas do repertório da Nara Leão partiu do Nelson Motta, coprodutor à distância do álbum. Os arranjos trazem um pouco das colagens musicais típicas do Pato Fu, mas a instrumentação concentra-se no básico, guitarra-baixo-bateria (eletrônica, aqui) e eventuais teclados.

O repertório é uma delícia e Com Açúcar com Afeto (Chico Buarque) é minha favorita, junto com Insensatez, que traz um solo lindíssimo de guitarra de ninguém menos que Roberto Menescal. O título do disco sai de um trecho da letra de Seja o Meu Céu (de Robertinho do Recife), uma das melhores do disco também. Outros destaques são o fox-chorinho-trote Odeon, Diz que Fui por aí e Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos. Uma delícia de disco, presente da voz relaxadamente deliciosa da Fernanda e do trabalho instrumental caprichoso do John. É só ouvir...

 

Fernanda Takai

Nota 10

Marcelo Teixeira

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Micróbio Vivo, de Adriana Calcanhotto: fraco


Micróbio Vivo se mostra chato às vezes
Adriana Calcanhotto lançou Micróbio Vivo Multishow (Minha Música / Sony Music / 24,99) como uma referência ao seu bem sucedido disco de samba (o primeiro) lançado no ano passado, pegando a todos de surpresa, até mesmo porque ninguém esperava um lançamento da cantora para aquele momento e, o que era o mais impressionante, um disco totalmente voltado para o samba. Mas há algumas diferenças notáveis entre O Micróbio do Samba (2011) para este novo lançamento. Adriana Calcanhotto tentou ousar, tentou disfarçar, tentou cantar, mas o resultado não foi um dos melhores. Diferentemente do que aconteceu com Público, lançado no século passado, aonde teve a audácia de regravar um grande sucesso, Devolva-me, do ocorrido, e aonde este disco teve praticamente todos os seus grandes sucessos gravados no formato ao vivo numa forma divertida, distinguida e sobre o aspecto de novo, aqui em Micróbio, temos uma Adriana pautada no nervosismo e na sensação de que ela está envelhecendo. Em seu novo trabalho, a cantora gaúcha de 46 anos, se propôs a explorar em sua forma mais bruta o mais celebrado dos ritmos brasileiros, o samba.

A voz de Adriana em algumas canções soa enfraquecida, quase uma voz tremula, esganiçada e isso fica muito evidente logo no primeiro passo, a abertura com Eu Vivo a Sorrir, uma canção difícil de cantar e cansativa conforme os minutos passam, mas engraçada ao mesmo tempo. A voz de Adriana tentar a todo custo ficar firme, mas o nervosismo a deixa abatida e sua voz quase não aparece e percebemos sua respiração ofegante e puxada. O que não acontece com a faixa seguinte, Aquele Plano Para Me Esquecer, aonde vemos uma Adriana um pouco restabelecida do nervosismo e tenta, aos poucos, se mostrar uma cantora de presença. Seguindo com Dos Prazeres, Das Canções, uma divertida e apaixonante música de seu fiel companheiro Péricles Cavalcanti, Adriana se mostra mais autoritária e dona de seu palco, de sua voz e de seu carisma diante do público que a assiste ao vivo. É a partir desta música que ela canta melhor.

 

Pro caso de você virar a esquina

E adentrar a livraria

Pro caso de o acaso estar num bom dia

Pro caso de o destino me haver reservado a alegria

E o meu fado estar fadado a ser a sua sina

Eu vivo a sorrir, eu vivo a sorrir

 

Trecho de Eu vivo a sorrir, de Adriana

 

 

Não tem muito que falar deste disco. Adriana acerta o tom nas canções, tem um samba cadenciado, combina harmonia com técnica vocal e sensibiliza em algumas faixas por onde os poros possam dilatar, nos fazendo crer que ela acertou ao fazer um disco ao vivo. Se não fossem pelas canções que não estão no disco original, caso de Argumento, de Paulinho da Viola e Maldito Rádio (que não está ao vivo e sim gravado em estúdio) e a própria canção de Péricles, o disco iria cair na mesmice logo, logo. Mesmo assim, o disco não tem grandes novidades. A não ser pelas batidas, tendo em vista que a reclamação de alguns fãs foram resolutos na preparação do disco ao vivo. A reclamação maior foi que o disco original tinha as mesmas batidas cadenciadas de samba da primeira à última faixa e aqui temos quase a mesma coisa, mas em algumas faixas o rap, o instrumental, as batidas de caixas e até a parte eletrônica se fazem presentes.

Quando Adriana canta Argumento, ela praticamente imita Paulinho da Viola. Não que a música não tenha ficado legal com ela, mas o fato é que a canção ficou a cara do criador e parece que Adriana reduz o som da própria voz para cantar igual ao dono. Maldito Rádio é uma justa homenagem à Ângela Maria e é boa, nos faz sentir falta de uma peça que foi muito utilizada anos atrás e que hoje virou artigo de esquecidos ou apreciadores do passado.

Nas fotos exibidas nos encartes, temos uma Adriana masculinizada, que é o motim dessa nova temporada, mas deixando claro também sua preferencia sexual: vestida de preto, cabelos repartidos ao meio, rosto corado e sério, sisuda e chapéu bicolor, sem falar nos pares de sapatos que me soam masculino. Mas Adriana é muito mais do que uma vestimenta masculina: ela canta e encanta quem a assiste.

O fato geral do disco é que Adriana Calcanhotto errou ao lançar um disco ao vivo e seguir praticamente a mesma linha do disco original. O bom é que ela pôde brincar com a própria voz, elevando o tom em algumas passagens ou simplesmente dando pausas propositais como forma de enaltecer a canção. As faixas ficaram longas demais e em algumas músicas é inevitável ouvi-las até o fim.

 

Micróbio Vivo / Adriana Calcanhotto

Nota 7

Marcelo Teixeira

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Olhos de Farol, o belo disco de Ney Matogrosso


Olhos de Farol são os olhos de Ney
Ney Matogrosso é sensível e sua sensibilidade está associada aos seus discos que, com sua sapiência e elegância, nos concede discos realmente deliciosos de serem ouvidos e que entram sempre para a galeria dos grandes discos do alto escalão da MPB. Olhos de Farol é um disco lindo, onde mais uma vez Ney Matogrosso traz vários autores distintos para seu garimpado repertório. O disco conta com muitos músicos da melhor estirpe, só pra citar alguns (fora os citados abaixo): Marcos Suzano, Leandro Braga, Zé Nogueira, Marcio Montarroyos, Arthur Maia, Serginho Trombone.

Miséria no Japão já tinha aparecido no disco do Pedro Luís e a Parede, mas vale o bis numa voz de verdade, mesmo eu considerando o Pedro Luís e A Parede muito legal, mas faltava um cantor de verdade para expressar a verdadeira emoção que a música quer transpassar. Com uma letra primorosa, refletindo sobre a percepção sobre riqueza e pobreza, Miséria no Japão reflete sobre tudo aquilo que o Brasil quer gritar, mas está sempre sufocado e Ney brilha com esta canção, demonstrando toda a sua versatilidade, mais uma vez, como um dos mais brilhantes artistas deste País.

 

Quem te disse que miséria é só aqui?

Quem foi que disse que a miséria não ri?

Quem tá pensando que não se chora miséria no Japão?

Quem tá falando que não existem tesouros na favela?

A vida é bela

Tá tudo estranho

É tudo caro

Mundo é tamanho

Trecho de Miséria no Japão, de Pedro Luís e A Parede

 

Na seqüência, uma do Paulinho Moska, Gotas de tempo puro, mais uma bela letra numa primorosa e redondinha sobre o amor. Vira latas de raça é uma boa surpresa por seus autores (Rita Lee e Beto Lee), além de ser mais uma boa canção com um pezinho na latinidade a la Santana pelo Ricardo Silveira (que também é responsável por vários arranjos), com letra citando o tropicalismo.

Novamente (do conterrâneo niteroiense Fred Martins e de Alexandre Lemos) é das mais bonitas do disco, uma sonoridade delicada e etérea, com uma percussão suave. Chance de Aladim (Luli) é suave, lenta, cheia de espaços. Uma das melhores letras do disco, vá ouvir e preste atenção! Poema tem uma origem curiosa, com a letra de Cazuza (parece que feita para a sua avó por ocasião de seu falecimento) musicada postumamente pelo Frejat (que também toca e programa loops por aqui!). Linda música sobre pequenas mortes cotidianas, internas e externas.

Chegamos a mais um dos pontos altos, Olhos de farol (Ronaldo Bastos e Flávio Henrique), sendo que esta poderia estar no disco anterior Cair da tarde, com seus arranjos quase eruditos e voz baixa. Mais uma linda. Depois melhora (Luiz Tatit) é tranquila e triste, poucos instrumentos, com delicadeza e o disco vai caminhando assim: não tem músicas ruins, nem pontos baixos!

Mais além (Lenine, Bráulio Tavares, Lula Queiroga, Ivan Santos) é sensacional! Cordas majestosas, dinâmica inteligente, letra viajante, piano belo, muitas coisas boas numa canção ótima. O som do mundo (Samuel Rosa e Chico Amaral) é popzinho agradável reggae, talvez umas das menos boas. Fazê o quê (mais uma do Pedro Luís) tem cara de sertanejo, viola e voz meio repente, mais uma boa surpresa.

E estamos chegando ao fim. Bomba H (Alzira Espíndola e Itamar Assumpção) não deixa a qualidade diminuir e é neste exato momento que sentimos uma falta danada de um grande homem, de um grande músico, de um grande e inesquecível cantor: Itamar. A cara do Brasil (Celso Viáfora, Vicente Barreto) determina pela letra que, entre outras coisas que definem o Brasil, aborda o futebol. Meio circense e divertida, apesar de séria.

 

A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho

Ninguém precisa consertar

Se não der certo a gente se virar sozinho

Decerto então nunca vai dar

(...)

Brasil Mauro Silva, Dunga e Zinho

Que é o Brasil zero a zero e campeão

Ou o Brasil que parou pelo caminho:

Zico, Sócrates, Júnior e Falcão

Trecho de A Cara do Brasil, de Celso Viáfora e Vicente Barreto

 

E aí, qual é o seu Brasil?

 

Olhos de Farol / Ney Matogrosso

Nota 10

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cê, de Caetano Veloso


O rock na MPB de Caetano
Quem disse que o clássico tem que ser velho? Quem criou a diferença entre rock e mpb? Quem foi que disse que os melhores discos do Caetano são os mais antigos? Acho esta história de que o antigo é melhor, que o novo não presta e por aí adiante, uma verdadeira balela, de quem não tem o que dizer, o que escrever e o que achar. Caetano é Caetano. E tanto faz se seus discos antigos sejam bons, com letras mais instigantes, com poesia mais rompantes, com a carnificina que só Caetano conseguia impor naqueles anos. Hoje o velho Caetano ainda merece aplausos efusivos sobre seus discos mais recentes, procurando aqui e ali se firmar entre os mais jovens e a cultuar ainda mais os mais velhos. Tudo isso com maestria. Caetano é Caetano.

Em 2006 Caetano lançou esse petardo (termo sempre usado no rock, mas que merece aqui sua presença) disco chamado . Rock, mpb, excelentes composições, timbres surpreendentes, vozes e melodias marcantes, espaços e silêncios entre os sons. Um clássico quase instantâneo. Quase, porque o disco merece várias audições antes de se apegar a ele. Claro que também admiro muito o trabalho dos anos 70 (claro que também têm clássicos do próprio a serem postados aqui), mas em geral os timbres, principalmente os de guitarra, são sofríveis. Que me desculpe o Genial Lenny. Nos anos 80, pós-Liminha produzindo o Gil e depois do BRock, os sons melhoraram muito. E o Caetano continuou a lançar excelentes discos.

Eu tenho uma viagem recorrente matinal, naquele estado sonâmbulo quase lisérgico ao despertar: eu ouço discos que não foram lançados, tipo Hendrix com Miles, Hermeto com Tom, Janis com Lennon, Gil com Jorge (ops, esse existe...). E às vezes eu ouço o Araçá blues, agora com pro-tools, com vozes de Carmen sobrepostas a loops de Timbalada, o silêncio de João mixado ao virtuosismo de Pepeu, vozes de Orlando Silva e Caymmi fundidas com a de Janis Joplin, um CD com 128 canais barrocamente trabalhados... Será que ainda ouvirei esse neofonismo? (Adoro essa palavra! Vale uma música).

Mas vamos ao disco: inicia com Outro, com um riff básico e forte, como um bom rock tem que ser; traz ainda a excelente frase feliz e mau como um pau duro! Tem um solo de guitarra excelente e atípico nos discos do Caetano. Na sequência muda o clima, minhas lágrimas é cheia de espaços e silêncios, com uma guitarra presente e discreta. Bonita.

Aí vem o primeiro orgasmo (cedo demais?): Rocks, reta e poderosa, com solo mete o dedo na guitarra com feedback e tudo. Você foi mor rata comigo é um excelente grito inimigo. Será que o Caetano pagou royalties ao Zeca? Deusa urbana pertence a linhagem de músicas inspiradas em fêmeas. Belo é ver o medo exposto, a mucosa roxa citada, uma guitarra com trêmolo e Overdrive. Waly Salomão é mais uma marca que os poetas (o homenageado e o cantor) deixaram pra nós, música tribal e boa, sentimental, bonita, carregada na emoção, uma emoção capaz de corrermos em busca de quem partiu, de quem se foi, de quem morreu. Waly!

Não me arrependo inicia com uma citação de Walking on the wild side, de Lou Reed e uma bateria que lembra a música anterior. Linda letra, sobre bons sentimentos em fins de relacionamentos (tema sempre inspirador). Há aqui, e em todo o disco talvez, uma tendência a interpretar a arte como autobiográfica (Caetano vinha de uma separação). Acho irrelevante, além de inútil e desinteressante. Talvez seja trabalho pra seu biógrafo. Musa híbrida, dançante, com uma guitarrinha safada e tem uma levada de bateria quase axé, uns falsetes quase gays, uma letra quase Carlinhos Brown. Mas afinal o que significa ‘cúprica’? Segundo o dicionário, significa cobre. Mais um orgasmo: Odeio, rockão, guitarra obsessiva e insistente. Mas a música muda, oscila, acalma. Tem alguns dos melhores versos do disco: todas ‘mucosas pra mim’, ‘forte e feliz feito um deus, feito um diabo’, ‘só eu, velho, sou feio e ninguém’, ‘veio e não veio quem eu desejaria se dependesse de mim’, ‘São Paulo em cheio nas luzes da Bahia / tudo de bom e ruim / era o fim, é o fim, mas o fim é demais também’. Uma guitarra esquizofrênica com filtro encerra com chave de Hendrix.

Homem diz o orgulho de sê-lo, e diz tudo e diz bem. Mas fica a inveja dos orgasmos múltiplos. Fazer o quê? Gozar? O que é o tema da música seguinte, porquê?. Estar-se a vir seria algo como estou gozando em Portugal. Vem acompanhada de um sotaque lusitano. Se eu fosse produtor teria limado essa, pois ela soa meio cansativa com a repetição da mesma frase por vários minutos. Embora no final ela soa engraçada. Apenas.

Um sonho parece que traz Morelembaum de volta, mas é uma guitarra em stacatto, bela música. O herói é uma das minhas preferidas, tema épico, dinâmica, temática bandida, narrativa que se aproxima do rap, vozes em dissonância de microtons no fim. Encerra irritando. Caetano é Caetano. E ele pode fazer o que bem entender quando o assunto é música. Caetano é rock and roll!!!!

 

Cê / Caetano Veloso

Nota 10

Marcelo Teixeira

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ataulfo Alves por Itamar Assumpção


Ataulfo e Itamar: combinação perfeita
Pra Sempre Agora (Ataulfo Alves por Itamar Assumpção - 1996) é o nome do projeto audacioso de Itamar Assumpção só com músicas de Ataulfo Alves. Ataulfo deixou as feministas em polvorosa com a eternização da figura da Amélia (que era mulher de verdade, não tinha a menor vaidade). O disco é fantástico, são 20 músicas do compositor mineiro na inconfundível voz de Itamar, acompanhado da banda Isca de Polícia, melhor nome de banda nacional, disparado. Além de Itamar e Isca de Polícia, algumas faixas contam com convidados especiais, a banda feminina Orquídeas do Brasil por exemplo. Destaques são muitos e é impossível dizer que uma música somente vale a pena, até mesmo porque a cadência de Ataulfo com a voz e a simpatia do grande Itamar caíram como uma luva para a realização deste disco, que mais parecem pai e filho, mestre e pupilo, compositor e cantor, artista e artista: Na cadência do Samba, Meus Tempos de Criança, Bom Crioulo, Laranja Madura... e a versão fantasticamente (e absurdamente) linda de Leva Meu Samba.

 

Pra Sempre Agora (Ataulfo Alves por Itamar Assumpção - 1996) / Itamar Assumpção

Nota 10

Marcelo Teixeira

 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Rita Lee que a Ná Ozzetti recriou com perfeição


Ótimas releituras de Rita por Ná
Adesarqueou a Rita! Geralmente, as músicas compostas por Rita Lee ficam mais legais quando cantadas por outros cantores e isso não acontece somente com ela: com o Jorge Vercilo, com o Cazuza e com a Ana Carolina isso acontece com tamanha frequência, que fica impossível ouvir a canção original na voz de quem a criou.  A cantora Ná Ozzetti realçou o som da Rita com cores díspares, mais leves, com as cores de sua tradição vinda do extinto grupo Rumo e também de sua formação lírica. Demorei pra me convencer que o LOVELEERITA era legal, que podia sim, transformar o rock da Rita Lee em outra coisa e no fim, sair algo bonito. E também acho que toda tentativa de interpretação tem muito de coragem, ousadia e amor. E que deve ser massa cantar Rita Lee. Irresistível. Enfim, uma super homenagem com um repertório escolhido a dedo, com muito carinho, muita determinação e que ficou um disco gostoso, caprichado e precioso.

Atlântida (Saúde 1981) fica onde? Não sei se ela desapareceu do mapa ou sumiu mesmo foi do meu imaginário. E como a música diz Que o mundo é dos que sonham/ Que toda lenda é pura verdade. Ná Ozzetti canta bonito, lento, cada palavra fica nova com sua voz. O violão dá um som de roda, circular, que embala o ouvinte. O CD abre sonhando. Com a boca no mundo (Entradas e Bandeiras 1976) tem um suingue gostoso e logo já vai dando aquela vontade de dançar. E aos poucos vou sendo levada por esse novo tom que Ná Ozzetti imprime às canções. Essa música é a cara da Rita Lee! Ela ainda meio menina, encontrando seu passo entre seu corpo, sua voz e sua vontade de botar a boca no trombone. Com a boca no mundo é uma verdadeira descoberta. É interessante como a Rita Lee (sozinha ou com outros compositores que não o Roberto de Carvalho - pelo menos no LOVELEERITA) compunha músicas completamente viajantes, grandes. Aqui eu falo de amplitude mesmo. Ela viaja em milhares de temas, descobre cavernas, anda por outras estradas. Com o Roberto, as composições já são mais sexuais, apaixonadas, muitas quase corporais. Que também é o máximo.

Mania de você (Rita Lee 1979) na versão da Ná chega mais rápida, dançante. Acho que mais pop mesmo, menos carregada de estória. Mania de você foi composta pelo casal quando ainda estavam na cama. Na delícia da hora. Foi interessante essa mudança de estilo, já que com a Ná a estória é outra. No lugar da cama, entram os mil sopros que são de matar.

Bem, Mutante (Saúde 1981): a Ná simplesmente arrebenta na canção e dispensa comentários. Ela chega de mansinho, entrando e tomando conta de mim sem pedir licença. E eu deixo. Mutante é linda sempre e ainda mais nessa versão, que de quebra tem um trombone. É um escândalo simplesmente. É delicada, é exagerada, é a combinação perfeita das palavras. Tudo isso junto explode nessa música de amor temperada de todos os cheiros: dor, ressentimento, paixão, tesão e abandono.

 Fruto Proibido (Rita Lee & Tutti Frutti 1975): malandrada! Essa versão está cheia de percussão e guitarra. Ótima! A canção é aquela vontade de desanuviar, de trocar de fantasia e sair vivendo. Em Luz Del Fuego, que também está no disco Fruto Proibido, Ná Ozzetti não aguenta e se transforma em uma roqueira total!  Hoje eu represento o segredo/ Enrolado no papel. É incrível como Luz Del Fuego mexeu com o imaginário feminino. Muita cantora já cantou essa música e sempre muito bem. É que Luz Del Fuego não tinha medo. O título Raio X (Bombom 1983) é perfeito para a velocidade da música. O som se arrasta e se espalha por cada vão e aí a gente se dá conta de Quem nunca teve um sonho/ Quem é que não é sozinho. Essa música me faz pensar nessas cidades grandes, onde a janela da sala dá vista para enormes viadutos de concreto. O que a modernidade pode trazer de mais solitário.

A modinha mais poética que eu já vi é essa Modinha (Babilônia 1978) aqui. Linda. Todo remédio que me cura tem uma contraindicação. Perfeito. Ná Ozzetti se descabela em Mãe Natureza (Atrás do Porto tem uma Cidade 1974). Não segura a onda dessa música e pira. Pira ela, pira a guitarra. E bem que fazem! Mãe Natureza na minha opinião é a nossa erva de cada dia, aquela que embaça a mente na pitada certa e a gente já não sabe se estamos pirando ou as coisas é que estão melhorando!

Lembro-me da primeira vez que ouvi Doce Vampiro (Rita Lee 1979). Eu ainda era menino e tinha uma amiga mais velha que respirava Rita Lee. Um dia ela me chamou pra me mostrar essa música, e eu mesmo ainda menino, achei o máximo. Doce Vampiro com Rita é imbatível. Com a Ná é irresistível.

E o LOVELEERITA acabou. E eu que comecei esse texto ressabiado, enciumado da Ná roubando a uma Rita roqueira, dona do mundo, cruel com todos os que iam contra aos seus pensamentos, termino esse artigo numa sensação de curtição total. Que delícia isso!

Ponto para Ná Ozzetti e um milhão de pontos para Rita Lee.

 

LOVELEERITA / Ná Ozzetti

Nota 10

Marcelo Teixeira

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Paula Fernandes - uma cantora inútil



Paula continua sendo a pior cantora
Já critiquei Paula Fernandes como sendo a primeira pior cantora do Brasil e estou achando que este mérito pode se estender a primeira pior cantora do Mundo tamanha a sua falta de originalidade, sensibilidade, humor, presença de palco e tino. Paula continua cantando mal, continua não tendo presença de palco como uma grande cantora, não é uma grande revelação como muitos falaram (e falam!) e não acrescenta em absolutamente nada na nossa música popular brasileira e nem no estilo de música que preferiu seguir, o sertanejo. Considerada por mim uma neo-sertaneja, Paula Fernandes teve uma participação recente em um especial da TV Globo, aonde abriu a atração ao lado do caipira Luan Santana, que está cantando cada vez mais com uma voz fina, anasalada, fanhosa e horrenda, Thiaguinho, que resolveu adotar um novo estilo ao cantar suas músicas, fazendo a boca cair num gesto engraçado e vergonhoso ao mesmo tempo e com o único cantor de verdade, Diogo Nogueira.

Quem foi que descobriu esta cantora? Temos que dar um tipo típico de premiação que lhe causasse arrepios, porque dizer que Paula Fernandes é uma excelente, boa ou mediana cantora é menosprezar o talento de quem exerce o ofício com zelo e carinho e determinação. Paula tem todos os adjetivos para ser comparada a um dos piores produtos fonográficos de todos os tempos: odeio a sua voz, odeio o seu cantar, odeio seus passos, odeio sua risadinha falsa e medíocre, odeio seu jeito por completo e é difícil dizer que um dia me apaixonarei pelo seu canto ou pela sua pessoa. Paula é um nojo.

Precisamos abortar este tipo de cantorazinha do mato, quebrar seus discos, boicotar seus shows. Alguém precisa dizer a esta mulher que seu canto é horrendo e que sobreviver ouvindo suas músicas está sendo terrível. Paula Fernandes é o que há de pior na música hoje em dia. Ao vê-la cantando com aquele vestido verde e amarelo numa alusão à bandeira do Brasil, sorrindo abertamente para uma multidão de pessoas, pude perceber algumas falhas como 1) ela não canta nada, nada, nada, 2) ela não tem presença de palco, 3) ela não alcança notas altas.

Paula Fernandes continua sendo um produto típico de descartarmos, jogarmos na latrina e darmos descargas repetidas vezes para termos a certeza de que escoou para muito longe (talvez o Xingu, para onde a mandei pela primeira vez, não mereça tanta desgraça) então desta vez a mando para o Cazaquistão).



Paula Fernandes: uma cantora inútil

Marcelo Teixeira

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O ótimo disco Pirata, de Maria Bethânia


A cantora Maria Bethânia
Entre os quatro baianos tropicalistas mais próximos (isto é, estou excluindo o Tom Zé), Maria Bethânia é sem dúvida a artista mais diferente. Talvez por isso até hoje ela seja menos popular que os outros três, e seja tão difícil encontrar um fã ardoroso seu. Tanto Caetano, quanto Gil e Gal já gravaram discos cafonas ou músicas bregas, mas o campeão ainda é o irmão da Bethânia, mas mesmo assim, nenhum dos três são pejorativos na sua arte. Com direção musical do violonista Jaime Alem, que se encarrega das cordas no disco, Pirata é um disco dedicado às águas, mais precisamente do mar e dos rios. Como de costume, Bethânia intercala poemas e/ou trechos de poemas com canções que evocam estes temas. História pra Sinhozinho de Dorival Caymmi é a primeira canção do disco, seguida por O Tempo e o Rio de Edu Lobo e Capinam. Nas duas a ênfase é na voz e interpretação de Bethânia, com o arranjo mínimo, acompanhada só ao violão. Todo cais é uma saudade de pedra, declama a cantora antes de cantar os Argonautas do irmão Caetano. Apesar de regravação, a canção é obrigatória devido à temática do disco: Navegar é preciso / Viver não é preciso. Se preciso aqui vem do verbo precisar indicando necessidade ou do substantivo precisão que denotada certeza, talvez já tenha sido até esclarecido pelo autor, mas a dúvida torna a canção ainda mais bela. O arranjo com violão, baixo acústico e bandolim dá um belíssimo ar de fado, música típica de Portugal.

Bethânia declama Perto de muita água tudo é feliz antes de Santo Amaro, samba em homenagem à terra natal. Aqui fica claro o cuidado na produção do disco, essas quatro músicas em sequência dão um crescente de ritmo, de pique no disco. Depois vem a minha favorita, De Papo pro Ar. Clássico da música caipira (caipira mesmo!) acompanhada na viola por Jaime Alem, conta a vida boa do caipira que vive do rio da caridade alheia e não se incomoda com nada. Ou melhor, quase nada: Quando no terreiro faz noite de luar / E vem a saudade me atormentar / Eu me vingo dela, tocando viola de papo pro ar.

Fui quase injusto acima, pois Sereia de Água Doce é outra das músicas lindíssimas deste disco. Samba de autoria de Vanessa da Mata, mostra a sintonia de Bethânia com a novíssima geração de compositores, fazendo uma sutil e muito bem dosada mescla com canções da velha guarda. Eu que Não Sei Quase Nada do Mar tem uma levada meio espanhola e também é da nova safra. Passando (bem) longe da minha lista de compositores favoritos, Ana Carolina e Jorge Vercilo assinam esta belíssima canção que parece sob medida para a sensual voz de Bethânia, como exige a letra carregada de erotismo. O arranjo traz um dos raros momentos orquestrais do disco. Segue A Saudade Mata a Gente, outro clássico de João de Barro e Antônio Almeida, desacelerando um pouco o bpm depois das duas anteriores, mais uma vez com arranjo bem suave centrado em violão em voz. De Antônio Almeida, Serenô segue na toada da canção anterior, mas um pouco mais bonita.

Segue o samba com batida de candomblé Memória das Águas e depois com Águas de Cachoeira de Jovelina Pérola Negra, samba de terreiro com cavaquinho e acompanhamento de palmas. Jaime Alem agrega várias Cantigas Populares, na faixa que leva o mesmo nome. Ainda que misture melodias distintas nos versos tirados de diferentes cantigas, a música apresenta uma unidade surpreendente. Bethânia declama Antônio Vieira e termina com A Coroa: voz solo, acompanhada no finalzinho por tambores e coral, tudo agregado com se fosse uma só canção. Onde Eu Nasci Passa Um Rio é outra da safra antiga de Caetano e essa aqui é a interpretação definitiva de uma canção pouco conhecida da obra do baiano. O arranjo, mais uma vez se destaca, só violão, voz e cello, conferindo a esta bela canção o tratamento que ela merece. O verso o rio da minha terra deságua em meu coração é de arrepiar. Francisco, Francisco é uma bela canção em homenagem ao velho Chico, e o disco termina de maneira bastante pessoal com Meu Divino São José.



Pirata / Maria Bethânia

Nota 10                  

Marcelo Teixeira