sábado, 28 de julho de 2018

Os truques de Anitta

Os truques salientes de Anitta
Não podemos tirar o mérito da cantora Anitta de que ela é um sucesso estrondoso aqui no Brasil e angaria a passos tímidos sua incursão em países da América Latina, Europa e todo o Continente. Em alguns países, como México, por exemplo, ela praticamente domina as paradas de sucessos e já é muito requisitada para programas de TV e rádios locais. Mas em países como Colômbia (em que precisará brigar muito com a dona do pedaço, Shakira), Anitta ainda não reinou, mas conseguiu entrar bem timidamente. Portugal, Argentina, Paris, Londres e em alguns outros países ela ainda engatinha, mas o efeito maior mesmo está no país do Chaves, Chesperito e Chapolin Colorado, talvez como uma troca de favores.

Diferentemente do que muitos pensam, Anitta é muito mais esperta que todos no quesito fazer truques: ela tira onda em suas músicas, planeja muito bem como fazer de seus singles um verdadeiro fenômeno e tira de tudo isso um proveito absurdo, sem ao menos... abrir tanto a boca. Explico: em músicas como Bang, de 2015 (mesmo que ainda cante e bem), Paradinha (2017) Vai Malandra (2017), Machika (2018) e o agora sucesso Medicina (2018), Anitta mal abre a boca, mais dança do que canta e nos engana muito bem com seu portunhol esquisito. Não estou aqui querendo dizer que Anitta não é uma boa cantora ou que seu sucesso não é merecido. Estou dizendo justamente o contrário, até porque, no início de sua carreira eu mesmo fui totalmente contrário ao seu estilo de fazer música brasileira e a chamei de medíocre quando queria usar e abusar da comunidade carente para se autopromover.

Mas se você reparar bem nas músicas da cantora, verá que a mesma praticamente não canta muito, que mais dança e rebola do que pratica o ato de soltar a voz. Outra coisa que me deixa muito intrigado é o fato da cantora sempre ter um parceiro para dividir os vocais e isso está em praticamente noventa por cento de suas músicas. Em Vai Malandra ela canta tão pouco, que cheguei a acreditar que ela não estava no clipe. Agora em Medicina o efeito se repete: além de colocar várias crianças e jovens de outros países fazendo o refrão (La La La La La La), ela canta pouco, explora mais o cenário e os países pelos quais perpassa e pronto: clipe feito, música cantada, sucesso estrondoso e ‘bora’ fazer outro sucesso.

Formada em Administração, Anitta é o fenômeno que é devido ao seu caráter, seu estilo despojado e seu lado humano: o povo precisava de uma cantora que os representassem. Isso aconteceu com Carmen Miranda nos anos de 1930, Clara Nunes e Elis Regina nos anos de 1970, Rita Lee e Marina Lima nos anos 1980, Daniela Mercury nos anos 1990, Ivete Sangalo nos anos 2000, Anita nos anos 2010. Ainda risco em dizer que Anitta é a cópia de Ivete, mas em graus diferenciados, porque Ivete explorou muito seu lado baiano, enquanto que Anitta não tem uma identidade cultural, não ficando restrita apenas ao Rio de Janeiro, mas representando todo o Brasil, indo de encontro com a identidade ideológica da História.

Todas essas cantoras citadas tiveram e têm uma representatividade muito grande dentro da MPB e souberam utilizar seus espaços com uma organização temporal incríveis. Hoje Anitta é a maior cantora do Brasil, segundo especialistas de música mais antenados do que esse crítico que vos escreve aqui e agora e que você está lendo-o. Sua grandiosidade artística impera entre aqueles que se sentem representados por ela e que estão órfãos com tantos acontecimentos em prol da maior detentora do pódio musical brasileiro: Ivete teve duas filhas, se afastou da mídia por um tempo, se dedicou à família e o público não consegue ficar muito tempo sem uma representante oficial, mesmo que essa representante não tenha sutilezas ao fazer músicas que perdurem vinte ou trinta anos, como uma Carmen, uma Clara, uma Elis, uma Rita ou uma Daniela. Anitta é a Carmen Miranda do século XXI, mas seu espelho maior é a sombra da Ivete, só que em tamanho menor.


Os truques de Anitta
Por Marcelo Teixeira

Nenhum comentário: