domingo, 21 de setembro de 2014

As várias facetas de Bebel Gilberto em Tudo (2014)


 

Bebel em português, inglês e francês
Filha de João Gilberto e Miúcha e sobrinha de Chico Buarque de Hollanda a cantora Bebel Gilberto é praticamente a guardiã legítima do som que seus pais ajudaram a criar no Brasil, mas com uma diferença que soa bem para a sua carreira: Bebel consegue misturar a bossa nova de outrora com o som dançante de hoje em dia. Sim, Bebel é pop, o que na língua comum dos dias de hoje, significa popular. Mas Bebel não é tão popular assim: seus discos são a característica física de uma cantora com significação maior que o seu sobrenome, pois suas músicas são produzidas com requintes de qualidade superior e suas letras são redondas, perfeitas e simétricas. A cada disco, Bebel Gilberto trás uma ou outra canção que nos eriça e isso vem acontecendo desde o seu lançamento oficial com Tanto Tempo (2000), um dos discos mais comentados e aplaudidos nos Estados Unidos, Japão e, por incrível que possa parecer, aqui no Brasil também. De lá pra cá, a cantora não parou mais de produzir discos sensacionais, com parcerias incríveis e com uma sofisticação ímpar. Sendo o CD mais aguardado do ano pelos americanos e pelos brasileiros que lá moram, Tudo (2014 / Sony Music / 28,99) pode-se dizer que a cantora se superou em praticamente tudo, principalmente na ousadia de compor, no atrevimento de compactuar duetos sensacionais e no arremesso de cantar em uma terceira língua. Tudo tem tudo e um pouco mais: é um dos discos mais experimentais de Bebel Gilberto, por se tratar de um disco acima de sua capacidade de inovar. Aqui Bebel canta em inglês (Somewhere Else, Harvest Moon, Lonely In My Heart), em português (Nada Não, Tom de Voz, Novas Ideais, Tudo, Saudade Vem Correndo, Areia, Vivo Sonhando, Inspiração) e em francês, na deliciosa Tout Est Bleu, que parece que foi posta no disco para ser um hit das pistas de dança pelo mundo afora. Bebel se arriscou e conseguiu se distinguir de outros discos de sua carreira, que chegaram a ser calorosamente frios (mas não menos importantes em sua discografia), por terem letras e melodias densas demais, caso do disco Momentos (2007) ou All in One (2009), que fora praticamente produzido para o mercado internacional. Bebel Gilberto, acima de tudo, é uma cantora brasileira nascida nos Estados Unidos e, por esse motivo, recriou o jeito de se fazer música ao seu gosto e estilo e introduziu no Brasil uma linguagem nova (e muito aplaudida) em seus discos. Tudo é a prova maior dessa sua capacidade de se impor entre as melhores letristas e cantoras do mundo e, para que essa consagração seja maior, convidou a cantora e compositora Adriana Calcanhotto para fazerem juntas a letra da música que dá título ao disco. Convidou também o cantor e compositor Seu Jorge (que está bem nas paradas de sucesso em terras americanas) e, claro, não poderia faltar Tom Jobim marcando de vez que seu lado bossa novista fala mais alto. Tudo é um dos melhores discos de Bebel Gilberto, depois de Tanto Tempo, sem trocadilhos, literalmente.

 

Tudo / Bebel Gilberto
Nota 10
Marcelo Teixeira

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