segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O pagode de ontem vira referência no pagode de hoje



Os amigos do pagode
Quando houve a explosão do pagode, em meados da decada de 1990, muitos acharam que essa onda seria passageira. Vínhamos de uma explosão sem igual da decada de 1980, a era do Rock Brasileiro e tínhamos que aturar as dancinhas insignificantes do cantor Latino e a categoria primordial do axé de Daniela Mercury que explodiu em todo o país. A era sertaneja começava a desandar e a patinar no asfalto, enquanto o pagode crescia numa forma alucinante, surgindo a cada semana um grupo diferente. Originado do samba de raiz e tendo como média as orientações de grandes bambas do passado, os pagodeiros (como ficaram conhecidos) eram todos mal vistos: desde suas danças horrendas, passando por suas roupas ridiculas, culminando em algumas trapaças sem igual, os pagodeiros da primeira leva eram rotos, chatos e tinham a aparência suja. Cantavam o amor, os sentimentos mais puros com pitadas de traição e isso divertia a todos que passaram a aderir ao movimento. Mas cada grupo tinha o seu jeito de demonstrar a sua música e isso foi sendo respeitado até o forró universitário tomar conta do pedaço e acabar de vez com os passinhos mansos e desajeitados dos rapazes do suburbio. Mas o que naquela época causava desgosto e repulsa, hoje causa uma sensação de alívio ao saber que os Amigos do Pagode resolveram se juntar para formar um novo grupo. Explico: àquela época eu detestava o pagode (e ainda o detesto) e hoje os admiro pela garra e coragem com que vem demonstrando singularmente suas canções. Hoje vejo uma grande diferença entre a música pagodeira e a música sertaneja de péssimo gosto duvidoso que é produzida no país e confesso que o grupo Amigos do Pagode fizeram um bem danado em poder reviver os tempos áureos de realeza e constelação. Formado por Salgadinho (Katinguêle), Márcio (Art Popular) e Chrigor (Exaltasamba), o Amigos do Pagode matam a saudade de hits como Telegrama e de outras dezenas que compunhavam as trilhas românticas de casais apaixonados em bares e botequins. A ideia saiu de Salgadinho (que nunca abandonou a música, mesmo depois do ostracismo) há cerca de quatro anos; juntou-se aos dois maiores pagodeiros da época e formaram o grupo. E por que eu, um crítico ferrenho dos pagodeiros, que já foi aos jornais criticar o estilo musical, está defendendo o grupo hoje? Simples: comparando a música atual com a música que eles produziram, a resposta fica fácil. Havia começo, meio e fim nas melodias e havia carisma, havia simpatia e havia entusiamo nas canções, o que hoje não se vê nas música sertanejas e pagodeiras que ouvimos. Havia, principalmente, voz. A boa ideia de juntar as três vozes foi perfeita, porque tanto Salgadinho quanto Chrigor e Márcio são as maiores vozes do pagode de todos os tempos. Talvez Márcio seja ainda a melhor voz. Mas independentemente de voz ou estilo, o Amigos do Pagode demonstra que o tempo é o melhor remédio para que o sucesso possa vir mais uma vez bater em suas portas.

 

Amigos do Pagode / Salgadinho, Márcio e Chrigor
Por Marcelo Teixeira

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