quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Canto Sagrado de Fabiana Cozza


 

Justa homenagem a Clara Nunes
Se viva estivesse, Clara Nunes já estaria com 70 anos, cabelos menos volumosos, talvez mais escuros, pele mais enrugada e nos brindando com seu sorriso encantador. Clara Nunes partiu cedo e deixou um rastro de saudade que não foi preenchido até hoje, mais de trinta anos de sua morte. A lacuna que a cantora deixou jamais será completada e suas músicas jamais terão o mesmo brilho de sua primeira interprete. Clara Nunes não morreu: partiu desta para uma melhor e está viva, eternamente viva, nos nossos corações, mentes e poros. Muitas cantoras se espelharam na beleza no canto da grande Guerreira, assim como muitos cantores também o fizeram, mas negam este destino. Já se foi o tempo em que Roberto Ribeiro, Gonzaguinha, Martinho da Vila ou João Nogueira falavam abertamente que eram apaixonados pela amiga Clara Nunes e que fizeram um samba especialmente à ela. Hoje os cantores mais moderninhos que cantam samba, insistem em dizer ou citar nomes como Dona Yvone Lara, Beth Carvalho, Alcione, mas esquecem da grande dama do samba, a rainha do império, a mestiça cabocla que evoluiu o segmento e que culminou definitivamente o nosso samba aos países aonde jamais imaginiriam que um dia chegaria. Exceto o cantor e compositor Diogo Nogueira, que acaba de lançar um disco inteiramente dedicado às mulheres e que na contracapa fez uma homenagem as mulheres que lhe tornaram um homem completo. Lá tem o nome da Clara, vindo acompanhado das citadas acima e de Clementina de Jesus. Algumas boas cantoras – e outras nem tanto assim – também fizeram neste ano de 2013 homenagens póstumas a cantora, umas com maestria, outras por pura pretensão. Casos como o da cantora Mariene de Castro, que lançou um disco maravilhosamente competente e contemporâneo e que fez desta homenagem uma forma de agradecer ao seu próprio público por esta abertura, tendo em vista que Mariene é uma discípula de Clara. Carla Visi, a cantora baiana que vem do axé fresco e atemporal, resolveu entrar na onda da maré cheia de Clara Nunes para lançar um disco horrendo e feito às pressas, bem característico desta cantora. Com uma capa horripilante e insensível, Carla Visi acabou por completo com as músicas que Clara eternizou, convidando cantores (?) que nada tinham a ver com a obra da homenageada, fazendo disso um dos piores lançamentos do ano. Mas ainda a competência e sensiblidade de uma grande cantora como Fabiana Cozza, vem nos enriquecer com sua potente voz lantente, que adentra em nossos tímpanos sensíveis e oriundos e nos brinda com uma capa deslumbrante, com um festival de músicas maravilhosas e com categoria digna de uma grande estrela da música brasileira. Fabiana Cozza consegue, já na primeira faixa, nos emocionar, nos dirigindo ao cancioneira da cantora mineira, a ponto de nos apaixonar, de nos arrepiar, de nos enaltecer. Fabiana Cozza surge como quem nada quer, nos trazendo um disco magnifico, sentimental e alegre, festivo, bem ao estilo Clara Nunes de ser. Este momento é mágico, porque Fabiana Cozza também é uma adepta do estilo de viver que Clara adotou, fazendo de sua voz e de seu estar, um motivo maior para brindar os fãs e sua própria carreira. Canto Sagrado (2013 / 29,99) é um disco que vem acompado de um DVD e as melhores músicas de Clara estão aqui. Peço atenção para a versão de Fabiana para Portela na Avenida, que ficou sublime, encantadora, arrebatadora. Um fiel trabalho de uma grande artista representando uma diva da música popular brasileira para fechar o ano com chave de ouro. Fabiana soube, milimetricamente, utilizar seus artificios para nos brindar com um disco a altura de seu talento. Voz primorosa, harmonia ginasial, músicas de embelezamento mútuo faz deste disco um presente de luz, um presente divino, um presente saboroso. Que este belo trabalho não seja menosprezado e que muitos possam ouvir, apreciar, comentar, admirar, respirar o ambiente deixado por Clara, sendo agora transpassado por Fabiana Cozza. Um digno e fiel respaldo de Canto Sagrado faz deste trabalho a maior dentre as honrarias feitas para Clara, sem diminuir aqui o trabalho (fiel, sedutor, carimbado, festivo) de Mariene de Castro. Clara Nunes, no meio deste mundaréu de céu e brancas nuvens, está sentindo o povo aqui embaixo celebrando seus 70 anos de vida e ela nos agradece sorrindo, respirando o nosso ar. Viva ela está. No nosso coração e no coração de quem a homenageia diariamente. Viva Fabiana Cozza! Viva o Canto Sagrado de Clara Nunes!

 
Canto Sagrado / Fabiana Cozza
Nota 10
Marcelo Teixeira

2 comentários:

Bill Lucas disse...

Assino em baixo. Na minha opinião Fabiana já faz parte da história da música brasileira. Uma das melhores de todos os tempos.

rogerio machado disse...

Já ouvi dezenas de cantoras de samba contemporaneas. Posso afirmar com certeza que Fabiana Cozza é a melhor cantora de Samba da Atualidade. Melhor que algumas cantoras da geração anterior e das que ouvi a que chega mais perto da Guerreira a quem ela lindamente Homenageira, Clara Nunes!