sexta-feira, 7 de abril de 2017

O fantástico mundo de Luisa Maita


O fantástico mundo de Luisa
Não é todo dia que podemos ter a honra de ouvir uma cantora como Luisa Maita nas plataformas digitais, mas posso garantir que quem compra seus CDs ou assiste aos seus shows, reconhece sua importância dentro da música popular brasileira. Simplesmente, Luiza é uma cantora diferenciada, culta, refinada, intelectualmente cult e popularmente do povão. Se a massa encefálica ainda não descobriu Luisa Maita, então tem alguma coisa estranha nesse nicho: ela está aqui, bem no meio do povo, cercada por equipamentos refinados, mas com letras que simbolizam a tenra estrutura que pertencem à população. Se você não a ouviu, se você não a viu, se você não a conheceu ainda, peço para que corra e ouça Lero-Lero (2010) e seu mais novo lançamento, Fio da Memória (2016), que são obras-primas dignas dos melhores prêmios. Ela está ali bem diante de seus olhos, bem perto de seus ouvidos e ao alcance de suas mãos e se você perde essa oportunidade, infelizmente não há o que fazer. Seis exatos anos distanciam Lero-Lero de Fio da Memória e esse tempo foi primordial para que um fosse a extensão de complemento do outro, sem que ambos tivessem ligações diretas. Quando lançou o primeiro disco, a cantora era um dos nomes mais fortes do cenário musical, onde um pouco antes a cantora Céu despontava com sendo uma das melhores. Não há semelhança alguma entre ambas as cantoras e enquanto Céu seguiu uma linha mais vanguardista, Luisa optou por seguir uma linha mais atemporal, mas sofisticada, mais popular com requintes de intelectualidade. Não que Céu não tenha esses requisitos, mas enquanto uma seguiu uma linha mais popularesca dentro de um padrão não blindado, a outra seguiu por uma linha tênue entre a sofisticação e a beleza de uma pluralidade, que para entrar é preciso de senha. Se lá no início desse artigo eu disse que você precisava conhecer Luisa Maita e aqui digo que você precisa pegar uma senha, é porque não é qualquer um que vai escutar a rigor as músicas de Luisa com o mesmo afinco que escutam a música de Céu. Aqui entra a senha. Céu não é mais blindada, assim como não é mais Roberta Sá nem Mariana Aydar, enquanto que Luisa continua com uma blindagem que requer senha para entrar. Isso é bom porque a blindagem a cerca dos cunhões das paranerfálias musicais existentes. Mas é ruim porque Luisa pode viver em uma blindagem existencial por muito tempo. Lero-Lero é brasileiro, orgânico e com cheiro da zona sul de São Paulo: um cheiro cinzento, com mistura de barro e árvores secas. Fio da Memória é um disco que, a princípio, causa um estranhamento mórbido, secular, personificada e homeopática. É preciso ouvir de novo e de novo e de novo e quando você menos perceber, estará cansado de tanto que não ouviu ainda. Contraditório? Nenhum pouco. Faço referências à Lero-Lero porque para entrar no mundo maitense, você precisa ouvi-lo antes de entrar de cabeça em Fio da Memória. É como ler Platão sem entender Sócrates. Precisamos manter um pouco a blindagem de Luisa para que tenhamos certeza de que seu próximo disco será ainda mais categorial que Lero e Fio. Por enquanto, pegue uma senha enquanto não há filas exorbitantes de uma população insana e embarque no fantástico mundo de Luisa Maita.

 

Fio da Memória (2016) / Luisa Maita
Nota 10
Por Marcelo Teixeira

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