sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Agenda Mais Cultura! Olivia Genesi lança novo disco no Vila Mariana


Oitavo disco da cantora
Lançando seu oitavo disco, Melodias de Sol em Pleno Azul, a cantora Olivia Genesi se apresentará no auditório do Sesc Vila Mariana hoje para apresentar o melhor da música popular brasileira, com influência do pop, rock, reggae, groove e jazz, contando com a participação dos músicos Fábio Rodrigues (guitarra), Bruno Balan (bateria) e André Sangiovanni (baixo). Moradora da cidade de São Paulo, Olivia Genesi consegue transmitir com muita criatividade, todos os aspectos cinzentos que a cidade produz e sua música é rica em detalhes e minunciosamente bem trabalhos.  Olivia é cantora, compositora, produtora musical, arranjadora e professora de música e seu estilo musical tem como formação o canto erudito, jazz, a música oriental, Tom Jobim, Mozart, Gilberto Gil, fazendo dessa mistura seu estilo próprio de fazer música. Sua voz é suave, acalentada e sua música é um bem-vindo convite aos prazeres que só a boa música consegue fazer: um misto de encantamento e sutileza capaz de nos transportar a mundos distantes. Melodias de Sol em Pleno Azul mostra toda a versatilidade de uma das melhores cantoras da atualidade em plena forma artística no seu melhor desempenho e isso pode ser comprovado hoje, no Sesc Vila Mariana.

 

Serviço

Agenda Mais Cultura: Olivia Genesi

Sesc Vila Mariana

Rua Pelótas, 141

Fone: 5080 3000

Horário: 20:30

Quando: Hoje, 30/08/2013

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A bossa de Zizi Possi


A bossa sensível de Zizi
Quando Zizi Possi lançou Bossa, houve muita confusão, porque todos acharam que o disco seria uma homenagem à bossa nova e, quando ouvimos música a música, uma ou outra canção remetia ao movimento. Zizi Possi, na verdade, não queria fazer de Bossa um disco de bossa nova. Ou melhor, queria fazer um disco de não-bossa, armando-se de complexas explicações conceituais sobre células de bossa nova e outros babados. Ela cai numa contradição ao tentar explicar demais a obra, principalmente porque, entre a bossa e a anti-bossa, Zizi não escolhe nem uma nem outra: prefere a si mesma. Assim, não dá para deixar de notar que a tal reinterpretação do cânone bossanovístico nem ficou tão inovadora e inédita assim - pois mais do que qualquer conceito, o que impera em Bossa é a diva, cantora de técnica impecável e eternamente no fio entre a dramaticidade do canto e a aspiração cool dos arranjos que a cercam. Mediano como disco de bossa nova e meio frustrante como viagem criativa, o novo CD é, mais de tudo, ótimo em um gênero no qual a cantora é única: o ser Zizi Possi.

A bossa de Zizi é elegante, feita de sonoridades sutis (reforçadas pelas inevitáveis cordas gravadas em Londres). A condução do álbum é dada pelo violão de batida joãogilbertiana de Camilo Carrara, que permeia o disco (quase) de ponta a ponta. Assim como elegante também é a cantora que se derrama em um repertório quase todo já conhecido, à exceção de duas faixas. Uma delas, Qualquer Hora, talvez seja o melhor momento do CD, na qual Zizi sussurra a bordo de um arranjo intrigante e desconstruído.

A outra novidade é um Herbert Vianna não exatamente memorável (Eu Só Sei Amar Assim, que apesar de tudo tem um refrão bonitinho). Novidade também há na duplicada Preciso Dizer que Te Amo, que ganha uma versão normal para abrir o álbum e outra alterada para fechá-lo. Essa segunda passagem pela canção pode ser mais perto que Zizi poderia chegar de um trip-hop, sob a produção de Dudu Marote.

As referências mais explícitas à bossa ficam também nas entrelinhas - como o atropelamento da métrica tradicional em Caminhos Cruzados, e também na versão de Preciso Aprender a Ser Só (que ganhou ares de jazz-song, com contrabaixo e piano em primeiro plano). Mas quando desencana e canta com tudo o que pode - como na bela So Many Stars - Zizi faz a todos mais felizes.

 

Bossa / Zizi Possi

Nota 10

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Agenda Mais Cultura! Brasília recebe Sandra Duailibe, Lúcia de Maria e Jô Alencar juntas


Três vozes
O Clube da Bossa apresenta neste sábado, dia 24 de agosto, três grandes vozes que conquistaram um lugar especial no coração dos brasilienses, mostrando toda a sua força, capacidade e elegância vocal. As cantoras Sandra Dualibe (conhecida há muito tempo do Mais Cultura!), Lúcia de Maria e Jô Alencar sobem juntas ao palco do Teatro Sílvio Barbato para cantarem pérolas da boa música brasileira. Para acompanhá-las, mais uma vez o compositor, pianista e arranjador musical José Cabrera, o baixista Paulo Dantas e o baterista Amaro Vaz estarão presentes para mais um espetáculo. Brasília é o pólo efervescente e musical dos últimos anos, com grandes cantoras e excelentes musicos que conseguem extrair a magnitude maravilhada de uma ampla musicalidade. O Agenda Mais Cultura! divulga hoje três grandes vozes, três grandes cantoras que conseguem agregar música com beleza e três grandes mulheres brasileiras: Sandra Duailibe, Jô Alencar e Lúcia de Maria.

 

Clube da Bossa

Com Sandra Duailibe, Jô Alencar e Lúcia de Maria

Local: Sesc Brasília (Teatro Sílvio Barbato)

Horário: 11:30 às 13 horas

Data: 24/08/2013

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A decepção de Maria Gadú em Nós


O disco: sem novidades
Mais uma vez, Maria Gadú nos engana com seu disquinho mesquinho e sem grandes pretensões. Lançando Nós (2013 / Slap / 24,99), o CD é uma compilação de músicas gravadas em duetos com outros cantores em discos de terceiros e com qualidades superficiais (como anda ocorrendo vez por outra na carreira da jovem cantora). Maria Gadú foi lançada ao mercado fonográfico em 2009, trazendo um ótimo (mas cansativo) disco de estreia, cujo trazia releituras de Chico Buarque (mais tarde ela se renderia ao baiano Caetano Veloso) e uma canção capenga de Kelly Key. O disco de estreia era sensacional e hoje é apenas mais um disquinho qualquer guardado no fundo do baú e que só nos lembramos quando vamos limpar o ambiente. Mesmo assim, ouvir Maria Gadú está sendo uma das tarefas mais ordinárias no momento. Primeiro porque ela lança discos sensacionais, mas que cansam devido a sua voz ser estardalhada demais, cansativa demais, oriunda demais.  Segundo porque Maria Gadú se infiltrou no caminho de Ana Carolina, cantora mineira que arregaça qualquer tímpano sincero de boa musicalidade e terceiro porque Maria Gadú se sentiu estrela antes de ser estrela e com isso a sua estrela se apagou.

Não posso ser tão ignorante ao ponto de dizer que Maria Gadú é uma cantora em ascenção quando lança qualquer disco. O de estreia, como eu disse, é uma maravilhada quando ouvida duas ou três vezes no máximo. Em seguida vem o Multishow Ao Vivo, cujo reúne sucessos originários que não é preciso ser dito, para logo depois surgir o encontro de Maria Gadú com Caetano Veloso, a qual eu chamo de o encontro entre o velho e o novo, na qual o velho ainda predomina o que é novo. Mais Uma Palavra é um disco que, segundo a minha opinião, é melhor que o primeiro. Sai Chico Buarque, entra mais uma vez Caetano Veloso e aparece um Lenine meio escondido ao lado de músicas espanholas e americanas. Gadú ainda está perdida no próprio caminho.

E Gadú é sempre assim: lança um disco de inéditos, depois emenda com um disco de sucessos. Para tanto, lança agora (previsto para o lançamento oficial a partir do dia 15 de agosto) o CD Nós, em que canta músicas gravadas em discos de outros cantores em formato de duetos. O disco não trás muitas novidades e passará despercebido, mesmo sendo anunciado pela grande mídia como o lançamento do ano.

Maria Gadú precisa aprender a ser Maria Gadú e ainda precisa crescer, pois sua fase de garota infanto juvenil que sabe tocar violão,  sabe cantar em francês e que não é igual à Manu Gavassi está longe de ser apagada. Ainda é rodeada por verdadeiros profissionais que não sabem aproveitar o talento da cantora, que insiste em se mostrar culta perante os fãs cantando Caetano e Chico numa forma horrenda. Para que isso aconteça de verdade, Maria Gadú precisa fazer um disco de verdade, a altura de sua estatura!

 

Nós / Maria Gadú

Nota 3

Marcelo Teixeira

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Agenda Mais Cultura! Minas Gerais recebe o cantor Luiz Marques


O cantor Luiz Marques
Um dos maiores (e melhores) cantores e compositores surgidos nos últimos tempos, Luiz Marques marca presença na cidade mineira para lançar amanhã, dia 17 de agosto, o DVD Mira Certa, em que canta músicas autorais com um requinte de lirismo, poesia e sofisticação. Com coerografica da competente bailarina Sandra Magalhães, o show que será realizado amanhã em Ouro Preto será calcado nas maravilhas cantadas por este mineiro de voz cristalina e atitudes simples para um público ávido por boas canções. O DVD é uma obra-prima e conta com musicos do calibre de Alexandre da Mata (guitarra), Waldir Cunha (baixo) e Pedrinho Moreira (bateria) e nos  emociona de uma tal forma, que é capaz de nos transportar para outras dimensões com músicas leves, florais e sentimentais que nos arrepia a pele. Luiz Marques é um dos raros cantores surgidos na MPB que conseguem me deixar animado com sua ginga, com sua beleza musical e com seu profissionalismo. Minas Gerais será o local privilegiado e escolhido pelo grande artista para o lançamento deste DVD e para entrar basta levar 1 kl de alimento não perecível. Perder a chance de ver um artista completo, cantando pérolas sensacionais e se emocionar perante uma grande voz é perder um dos maiores espetáculos musicais já vistos no Brasil. Luiz Marques é brasileiro, mineiro, merecedor de todos os aplausos possíveis e conquista um espaço aqui no Mais Cultura!, pois sua genialidade musical e artistica é abençoada pelos deuses.

 

 

Minas Gerais recebe Luiz Marques

Data: 17/08/2013

Horário: 20 horas

Local: Teatro Municipal Casa da Ópera,

Rua: Brigadeiro Musqueira, s/nº

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Carla Visi estraga os clássicos de Clara Nunes em tributo


Carla: convidados sem graça
Vou direto ao ponto: Carla Visi estragou a obra deixada por Clara Nunes. Guerreira de Minas Gerais, Clara (1942 / 1983) deixou um legado e tanto para a posteridade, com grandes músicas e sambas cadenciados pelos melhores compositores de seu tempo e que se transformou em algo quase intocável e motivo de inspiração para muitas cantoras boas que surgiriam ao longo desses anos. Mariene de Castro, Fabiana Cozza e Virgínia Rosa são as cantoras que mais se inspiram na beleza no canto de Clara Nunes, assim como Mariana Aydar, Vanessa da Mata e Marisa Monte, que já deixaram claro e evidente em entrevistas que foram inspiradas pela Guerreira. Neste ano realiza os 30 anos de morte dessa grande cantora e homenagens foram pontuadas de canto a canto do país, deixando ainda mais um rastro de saudades e encantamento por Clara. Mas enquanto algumas homenagens são ditas boas, outras são capengas e mediocres a ponto de entrar para a história musical como o pior volume discogrÁfico dos últimos tempos.

Carla Visi é uma boa cantora, tem carisma, voz, mas seu canto não passa do insulto musical que embalou o Brasil com suas músicas baianas de baixo calão e duplo sentido oriundo.  Feito às pressas e com um acabamento horrendo, Carla homenageou Clara na pior das homenagens e fez do tributo algo comercial demais, horrível demais e sofrível demais. Talvez o que diferencie este trabalho de outros lançamentos, sejam as músicas praticamente esquecidas que Clara gravou no início de carreira e que hoje em dia quase ninguém reconhece. O fã mais ardoroso com certeza se sentirá privilegiado ao ouvir canções como Dia de Esperança, lançado em 1966 e que aqui é cantado em dueto com a neo-sertanejinha Paula Fernandes. Ou então sentir orgulho em ouvir Tributo aos Orixás, música competente e com lirismo puro, cujo quase não é tocado por outro músico e que foi gravado em 1972. De 1969 veio Foi Ele, composta por Carlos Imperial e que praticamente Visi a retirou do baú. Mas é só.

Sinto vergonha em poder ouvir Carla cantando sucessos de Clara ao lado de Paula Fernandes, Péricles ou Thiaguinho, músicos que talvez nem conheçam ou tenham intimidade com a obra maravilhosa de Clara. Ser diferente de outras grandes interpretes para fazer um disco em tributo é tudo o que uma cantora quer na vida, mas fazer estardalhaço com a obra da homenageada é outro patamar. Clara merecia tratamento melhor, assim como fizeram Virgínia Rosa no show que vem realizando desde o ano passado, o belissímo e emocionante Virgínia Rosa canta Clara ou da premiadissíma Fabiana Cozza, que vem emocionando corações com seu canto forte em Canto Sagrado, cujo foi realizado recentemente um DVD sobre o espetáculo.

Homenagem é homenagem, mas precisa ser muito bem feito, caprichado e ainda mais por se tratar de uma das maiores cantoras do Brasil. Cantores como Daniela Mercury, Péricles, Paula Fernandes e Thiaguinho dividem o microfone com a baiana em algumas das longas 17 faixas do álbum. Com Daniela, por exemplo, ela canta Morena de Angola e já em O Canto das Três Raças, a ex-vocalista da banda Cheiro de Amor faz dueto com Péricles.  Aí eu pergunto: qual a ligação dessas vozes com a obra de Clara? Paula Fernandes, rainha do sertanejo empobrecido cantando os sambas de Clara? Tem algo errado neste samba.

Carla Visi Pura Claridade (2013 / Sony Music / 29,99) é um dos piores momentos da música popular brasileira. Sem beleza, sem samba no pé, sem malemolência, Carla deixa a peteca cair a cada faixa embalada por seu canto, que não entusiasma em momento algum. O que poderia ser um verdadeiro caminho para o sucesso (como o caso de Mariene de Castro, Fabiana Cozza e Virgínia Rosa com seus shows abarrotados de pessoas ávidas por ouvirem as músicas de Clara), Carla deixou de mão o carinho, o afeto e a respeitabilidade oferecida para cair em um nicho cheio de pólvora incapaz de ser lembrado.

Carla Visi continua linda demais, cantando bem demais, mas errou e muito ao se apressar para fazer este disco como forma de tributo. Errou na capa, errou na escolha dos convidados e continuará errando quando não estudar o que se quer apresentar. Ser leiga no assunto requer estudos, requer profissionalismo, requer qualidade e Carla não soube aproveitar este momento tão importante que seria para a sua vida musical, tendo em vista que a cantora amargura vez por outra ostracismos longos.

 

Carla Visi estraga os clássicos de Clara Nunes em tributo

Nota 1

Marcelo Teixeira

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Agenda Mais Cultura! Brasília recebe Nathália Lima nesta sexta feira


Show de Nathália
Sempre digo que as minhas melhores cantoras brasileiras são as desconhecidas do grande público. Isso não é nenhuma demagogia ou querer ser alguém diferente de qualquer pessoa, mas acontece que muitos pensam igual à mim e talvez por isso, eu tenha recebido diversos tipos de CDs para que eu possa ouvir: na sua maioria, cantoras desconhecidas ou que fazem um certo barulho na região aonde moram. Nathália Lima é uma dessas cantoras brasileiras que a grande mídia ainda não descobriu e que já tem no currículo um disco em homenagem à Roberto Menescal, um dos pais da Bossa Nova, intitulado Elas Cantam Menescal, lançado no ano passado.

Admiradora de Gonzaguinha e Chico Buarque, Nathália Lima agora volta aos palcos brasilienses com um novo espetáculo, cheio de alegria, baianidade e sofisticação. No show Bem Leve, a cantora e Cairo Vitor trazem, no formato violão e voz, a leveza das canções de alguns dos maiores compositores brasileiros, entre eles Milton Nascimento, Rosa Passos e Dorival Caymmi.

Trata-se de um show imperdível e que você não pode perder, porque Nathália Lima nos encanta já na primeira audição e assisti-la cantando os grandes clássicos da MPB em sua bela voz, é nos apreciar e nos deleitar do melhor da MPB por cantoras de seu estirpe.



Sexta-feira 09/08 às 21h
Espaço Cultural Silvino Filho
Nosso Mar (115 Norte)
Reservas: (61) 33496556

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O sabor de Dona Onete


Dona Onete: o Norte é dela



A semelhança fisionomica entre Dona Onete e a cubana Omara Portuondo é gigantesca. Para nossa sorte, Dona Onete é uma legitíma brasileira paraense e que tem um sorriso encantador e sedutor. Dona Onete me foi apresentado pela cantora amapaense Emília Monteiro, detentora atual do ritmo dançante que conseguiu me atrair e que está com o CD Cheia de Graça na praça, revelando os sons do Norte do país. Conheci o trabalho de Omara através de Maria Bethânia e mesmo eu gostando de MPB exclusivamente, me vi caído de joelhos pela cubana, assim como estou pela Dona Onete. Há quem confronte o prodígio nem tão moderno de redescoberta de Dona Onete com Emília Monteiro, pois ambas se juntam para mostrar o quanto nossa música é rica e maravilhosa. Nesse cenário, Dona Onete seria correspondente a Omara Portuondo, mas ela também pode ser comparada à grande dama do samba carioca Dona Ivone Lara - porque além de referência cultural do Pará, tendo exercido outra profissão ao longo de décadas, é mais compositora do que cantora. Com produção do compositor Marco André, lança agora o ótimo álbum de estreia, Feitiço Caboclo, pelo selo Na Music, com patrocínio da Conexão Vivo.

Aos 73 anos, Dona Onete é cheia de malícia e com apenas pouco mais de dez anos de carreira. A estrela de Belém faz tremer o chão e o público por onde passa. Recentemente, em show realizado em Brasília ao lado de Emília Monteiro para o lançamento oficial do CD desta, Dona Onete mostrou a que veio: dançou, cantou e encatou a todos. A expressão, usada tanto com conotação sensual, como pelo efeito anestésico provocado pela hortaliça jambu, típica da culinária local, que dá uma sensação de formigamento e "treme-treme", traduz bem o sentido da performance ao vivo da sacudida canção Jamburana.

Mas vamos falar de Dona Onete. Uma das canções do CD todo autoral, Jamburana  tem possível chance para alcançar outros cantos do País. A música é de uma inspiração única, rica em elementos do Norte e muito bem elaborada, composta e cantada. A veterana compositora é um dos destaques desse rico mapeamento da música paraense e reúne como convidados no CD artistas como Mestre Vieira, Pio Lobato, Manoel Cordeiro, Trio Manari, Gaby Amarantos, Lia Sophia, Luê Soares e Keila Gentil (da Gang do Eletro). Algumas de suas canções também figuram no repertório dos jovens expoentes.

Feitiço Caboclo tem influências eletrônicas que associam Dona Onete à nova geração do chamado tecobrega e o que ela canta é saboroso de ouvir, pois mistura um banquete recheado de gêneros diversos, como o afro, o caribenho, o carimbó, lumdu, guitarrada, lambada, merengue, brega, boi, samba e até uma levada de rap. Tudo isso acaba sendo inovador até mesmo para uma linda senhora de 73 anos de idade.

 

Salve, Dona Onete.

 

O sabor de Dona Onete

 
Marcelo Teixeira

domingo, 4 de agosto de 2013

Ceumar em edição especial


Ceumar: mineira internacional
Morando na Holanda há dois anos, a cantora e compositora mineira Ceumar lançou em 2010 seu disco Live in Amsterdam, gravado no Tropentheater. Após lançar o disco, a cantora vinha comentando que era uma estrangeira agora e isso tem vários caminhos, várias sutilezas. Este é o segundo disco que Ceumar grava com o marido, o produtor musical e técnico de som holandês Ben Mendes. No repertório de Live in Amsterdam, músicas de sua carreira, como a já conhecida Dindinha (Zeca Baleiro), Banzo (Itamar Assumpção) e Pecadinhos (Tatá Fernandes e Zeca Baleiro), as três de seu primeiro disco, de 1999. Do CD Meu nome (2009), o primeiro gravado fora do Brasil, Ceumar registrou as autorais Jabuticaba madura e Gira de meninos, além de Dança, composta com Yanel Matos. O trabalho é fruto de um encontro em 2006, quando Ceumar foi convidada pela Plataforma Brasil x Holanda para participar junto ao trio holandês, liderado pelo pianista Mike del Ferro, de um show em São Paulo, no Sesc Ipiranga. Desse evento, surgiu o desejo de prosseguir numa pequena turnê pela Holanda. Foram sete shows em diversas cidades, como Amsterdã, Roterdã, Groninga e também em Antuérpia, na Bélgica, em outubro de 2006. As canções do show foram escolhidas pelo grupo dentro do repertório de Ceumar.

Por ser um produto importado,
Live in Amsterdam custa em torno de 45,00.

 

Faixas


01 - Oração do Anjo - Ceumar e Mathilda Kóvak
02 - Banzo - Itamar Assumpção
03 - Dindinha - Zeca Baleiro
04 - Iá Iá - Zeca Baleiro
05 - Jabuticaba Madura - Ceumar
06 - Pecadinhos - Zeca Baleiro e Tata Fernandes
07 - Dança - Yaniel Matos e Ceumar
08 - Gírias do Norte - Onildo Jacinto Silva
09 - Gira de Meninos - Ceumar e Sérgio Pererê

 

 

Live in Amsterdam – Ceumar

 

Nota 10

 

Marcelo Teixeira

 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A superficialidade e pouca intimidade de Vanessa da Mata cantando Tom Jobim


A bossa pop de Vanessa: bom e médio
 

Superar Elis Regina ou Gal Costa em um disco homenageando Tom Jobim, não é tarefa fácil. Não somente Tom, que foi um dos maiores maestros que o Brasil já teve, mas qualquer grande compositor brasileiro, o trabalho é árduo e o resultado tem que sair perfeito. Vanessa da Mata bem que tentou, mas derrapou feio ao homenagear Tom Jobim, tendo em vista que a cantora não é familiarizada com o repertório do compositor e nem gravou (ao menos que eu me lembre) alguma música do cancioneiro jobiniano. Vanessa é a estrela da vez do Projeto Nívea que homenageia artistas que foram importantes para a música brasileira. Anteriormente, Elis Regina vinha embalada pela voz da filha Maria Rita, que emocionou no começo, mas depois derrapou na mesmice de ser apenas a filha de Elis. Em 2012, Vanessa da Mata fez uma temporada de shows no Sesc Pompéia, em São Paulo, abordando a obra de Luiz Gonzaga com resultado surpreendente. Era patente a identificação da artista com aquela obra, ora exposta de forma leve e moderna em poucas apresentações que não tenho notícia se foram ou não gravadas. Deveriam ter sido.

Vanessa também já tem um cd autoral pronto para lançamento. Boa compositora lançada por Maria Bethânia em 1999, soa natural que este trabalho inédito seja até aguardado com mais interesse. Mas veio o projeto da Nívea Viva com a proposta de uma série de espetáculos com canções de Tom Jobim. Depois de Elis, o repertório do maestro mais conhecido do Brasil acabou se transformado em cd de estúdio intitulado Vanessa da Mata canta Tom Jobim (2013 / Sony Music / 25,99).

Mesmo antes do lançamento já se ouvia rumores pouco edificantes sobre o trabalho. Puro preconceito. Com arranjos de Eumir Deodato, produção de Kassin e uma boa seleção de músicos convidados, Vanessa da Mata Canta Tom Jobim, não é um tragédia. Está, porém, anos luz de ser digno de lembrança histórica. As músicas selecionadas são manjadas do grande público e nenhuma novidade foi presenteada aos fãs. Mas a voz de Vanessa agrada do começo ao fim e mesmo soando pop demais, o disco é bacaninha. Pop no sentido de atrair o público mais jovem e que não tem contatos com a obra de Tom, podem se render ainda mais à carreira de ambos os artistas.

O maior acerto do trabalho é mesmo a produção de Kassin. Aparentando uma busca de rejuvenescimento de canções tão famosas e pertencentes ao imaginário coletivo do brasileiro, as soluções do produtor em momento algum descaracterizam o cancioneiro de Jobim. Ao contrário, ajudam a dar uma cara jovem e atualizada a estes clássicos. Eumir também acerta em muito na atmosfera reverente dos arranjos, principalmente os de cordas. O problema é mesmo a Vanessa cantora.

Ainda que a matogrossense tenha bons momentos nas interpretações de Caminhos Cruzados (Jobim / Custódio Mesquita), música que abre o cd, Chovendo na Roseira (Tom Jobim), Só Danço Samba (Jobim / Vinícius de Moraes) e Este seu Olhar (Tom Jobim), o tom que domina o trabalho é estridente demais, alto demais. Muito pouco à vontade na ambientação de temas que exigem um pouco mais que apenas afinação (não, Vanessa não desafina no cd), o descompasso atinge seu auge em Dindi (Jobim / Aloysio de Oliveira), quase gritada a cada final de frase, e, principalmente, em Por Causa de Você, densa parceria de Jobim com Dolores Duran, que na voz de Vanessa soa rasteira, sem pingo de originalidade ou inspiração. Dindi, aliás, só consigo ouvir, atualmente, na voz de Virgínia Rosa no belo disco Voz & Piano (2010 / Lua Discos / 24,99) com o pianista Geraldo Flach.

A média de Vanessa da Mata Canta Tom Jobim fica num patamar bem aquém de outros tantos tributos outrora dedicados a Tom Jobim. Em que pese a boa produção de Kassin, o cd derrapa na superficialidade e na pouca intimidade da cantora com a obra do maior maestro brasileiro. Mas o disco é bonzinho.


Vanessa da Mata Canta Tom Jobim / Vanessa da Mata
Nota 7

Marcelo Teixeira