quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O sabor de Dona Onete


Dona Onete: o Norte é dela



A semelhança fisionomica entre Dona Onete e a cubana Omara Portuondo é gigantesca. Para nossa sorte, Dona Onete é uma legitíma brasileira paraense e que tem um sorriso encantador e sedutor. Dona Onete me foi apresentado pela cantora amapaense Emília Monteiro, detentora atual do ritmo dançante que conseguiu me atrair e que está com o CD Cheia de Graça na praça, revelando os sons do Norte do país. Conheci o trabalho de Omara através de Maria Bethânia e mesmo eu gostando de MPB exclusivamente, me vi caído de joelhos pela cubana, assim como estou pela Dona Onete. Há quem confronte o prodígio nem tão moderno de redescoberta de Dona Onete com Emília Monteiro, pois ambas se juntam para mostrar o quanto nossa música é rica e maravilhosa. Nesse cenário, Dona Onete seria correspondente a Omara Portuondo, mas ela também pode ser comparada à grande dama do samba carioca Dona Ivone Lara - porque além de referência cultural do Pará, tendo exercido outra profissão ao longo de décadas, é mais compositora do que cantora. Com produção do compositor Marco André, lança agora o ótimo álbum de estreia, Feitiço Caboclo, pelo selo Na Music, com patrocínio da Conexão Vivo.

Aos 73 anos, Dona Onete é cheia de malícia e com apenas pouco mais de dez anos de carreira. A estrela de Belém faz tremer o chão e o público por onde passa. Recentemente, em show realizado em Brasília ao lado de Emília Monteiro para o lançamento oficial do CD desta, Dona Onete mostrou a que veio: dançou, cantou e encatou a todos. A expressão, usada tanto com conotação sensual, como pelo efeito anestésico provocado pela hortaliça jambu, típica da culinária local, que dá uma sensação de formigamento e "treme-treme", traduz bem o sentido da performance ao vivo da sacudida canção Jamburana.

Mas vamos falar de Dona Onete. Uma das canções do CD todo autoral, Jamburana  tem possível chance para alcançar outros cantos do País. A música é de uma inspiração única, rica em elementos do Norte e muito bem elaborada, composta e cantada. A veterana compositora é um dos destaques desse rico mapeamento da música paraense e reúne como convidados no CD artistas como Mestre Vieira, Pio Lobato, Manoel Cordeiro, Trio Manari, Gaby Amarantos, Lia Sophia, Luê Soares e Keila Gentil (da Gang do Eletro). Algumas de suas canções também figuram no repertório dos jovens expoentes.

Feitiço Caboclo tem influências eletrônicas que associam Dona Onete à nova geração do chamado tecobrega e o que ela canta é saboroso de ouvir, pois mistura um banquete recheado de gêneros diversos, como o afro, o caribenho, o carimbó, lumdu, guitarrada, lambada, merengue, brega, boi, samba e até uma levada de rap. Tudo isso acaba sendo inovador até mesmo para uma linda senhora de 73 anos de idade.

 

Salve, Dona Onete.

 

O sabor de Dona Onete

 
Marcelo Teixeira

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