quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A superficialidade e pouca intimidade de Vanessa da Mata cantando Tom Jobim


A bossa pop de Vanessa: bom e médio
 

Superar Elis Regina ou Gal Costa em um disco homenageando Tom Jobim, não é tarefa fácil. Não somente Tom, que foi um dos maiores maestros que o Brasil já teve, mas qualquer grande compositor brasileiro, o trabalho é árduo e o resultado tem que sair perfeito. Vanessa da Mata bem que tentou, mas derrapou feio ao homenagear Tom Jobim, tendo em vista que a cantora não é familiarizada com o repertório do compositor e nem gravou (ao menos que eu me lembre) alguma música do cancioneiro jobiniano. Vanessa é a estrela da vez do Projeto Nívea que homenageia artistas que foram importantes para a música brasileira. Anteriormente, Elis Regina vinha embalada pela voz da filha Maria Rita, que emocionou no começo, mas depois derrapou na mesmice de ser apenas a filha de Elis. Em 2012, Vanessa da Mata fez uma temporada de shows no Sesc Pompéia, em São Paulo, abordando a obra de Luiz Gonzaga com resultado surpreendente. Era patente a identificação da artista com aquela obra, ora exposta de forma leve e moderna em poucas apresentações que não tenho notícia se foram ou não gravadas. Deveriam ter sido.

Vanessa também já tem um cd autoral pronto para lançamento. Boa compositora lançada por Maria Bethânia em 1999, soa natural que este trabalho inédito seja até aguardado com mais interesse. Mas veio o projeto da Nívea Viva com a proposta de uma série de espetáculos com canções de Tom Jobim. Depois de Elis, o repertório do maestro mais conhecido do Brasil acabou se transformado em cd de estúdio intitulado Vanessa da Mata canta Tom Jobim (2013 / Sony Music / 25,99).

Mesmo antes do lançamento já se ouvia rumores pouco edificantes sobre o trabalho. Puro preconceito. Com arranjos de Eumir Deodato, produção de Kassin e uma boa seleção de músicos convidados, Vanessa da Mata Canta Tom Jobim, não é um tragédia. Está, porém, anos luz de ser digno de lembrança histórica. As músicas selecionadas são manjadas do grande público e nenhuma novidade foi presenteada aos fãs. Mas a voz de Vanessa agrada do começo ao fim e mesmo soando pop demais, o disco é bacaninha. Pop no sentido de atrair o público mais jovem e que não tem contatos com a obra de Tom, podem se render ainda mais à carreira de ambos os artistas.

O maior acerto do trabalho é mesmo a produção de Kassin. Aparentando uma busca de rejuvenescimento de canções tão famosas e pertencentes ao imaginário coletivo do brasileiro, as soluções do produtor em momento algum descaracterizam o cancioneiro de Jobim. Ao contrário, ajudam a dar uma cara jovem e atualizada a estes clássicos. Eumir também acerta em muito na atmosfera reverente dos arranjos, principalmente os de cordas. O problema é mesmo a Vanessa cantora.

Ainda que a matogrossense tenha bons momentos nas interpretações de Caminhos Cruzados (Jobim / Custódio Mesquita), música que abre o cd, Chovendo na Roseira (Tom Jobim), Só Danço Samba (Jobim / Vinícius de Moraes) e Este seu Olhar (Tom Jobim), o tom que domina o trabalho é estridente demais, alto demais. Muito pouco à vontade na ambientação de temas que exigem um pouco mais que apenas afinação (não, Vanessa não desafina no cd), o descompasso atinge seu auge em Dindi (Jobim / Aloysio de Oliveira), quase gritada a cada final de frase, e, principalmente, em Por Causa de Você, densa parceria de Jobim com Dolores Duran, que na voz de Vanessa soa rasteira, sem pingo de originalidade ou inspiração. Dindi, aliás, só consigo ouvir, atualmente, na voz de Virgínia Rosa no belo disco Voz & Piano (2010 / Lua Discos / 24,99) com o pianista Geraldo Flach.

A média de Vanessa da Mata Canta Tom Jobim fica num patamar bem aquém de outros tantos tributos outrora dedicados a Tom Jobim. Em que pese a boa produção de Kassin, o cd derrapa na superficialidade e na pouca intimidade da cantora com a obra do maior maestro brasileiro. Mas o disco é bonzinho.


Vanessa da Mata Canta Tom Jobim / Vanessa da Mata
Nota 7

Marcelo Teixeira

 

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