sexta-feira, 16 de maio de 2014

Zizi Possi quebra o jejum em Tudo se Transformou



Zizi: velhas roupagens
Nove anos separam a cantora Zizi Possi do público. Nove anos separam Bossa, lançado em 2001 de Tudo se Transformou, lançado agora em 2014. Se Bossa tinha uma pegada mais pra MPB elitísta, Tudo se Transformou nos remete à Bossa. Zizi Possi pegou a todos de surpresa ao lançar um disco este ano, pois ninguém imaginava que isso fosse acontecer tão cedo, mesmo a cantora tendo feito shows com o mesmo repertório, aqui em São Paulo. Mas aconteceu e o que Zizi nos apresenta aqui é um álbum bonito, bem feito e com a boa música popular sendo bem representada, característica de sua carreira. Zizi deixou Bossa suspensa no ar, com muitas perguntas e sombras de sua carreira, mas Tudo se Transformou (2014 / Eldorado / 20,90) é um disco de capacidade única que consegue juntar uma excelente voz com um piano majestoso. Na verdade e musicalmente falando, o novo disco de Zizi é pura MPB, ressoando nas músicas a leveza e autenticidade de sua belissima voz. Zizi é uma das maiores cantoras deste Brasil e esteve no páreo de ser a nova sucessora de Elis Regina juntamente com Gal Costa, em 1982. Mas Zizi mostrou que seu talento é superior e trilhou seu caminho com discos de sucesso e músicas que adentraram na mente do público até hoje. Se Bossa foi friamente recebido pela crítica e público, aposto que certamente este novo lançamento não passará pelo mesmo crivo. Como disse, Zizi está cantando divinamente, o CD está com uma capa estonteante  e a cantora continua sendo a melhor dentre as melhores e os treze anos que separaram a cantora de seu público a fizeram selecionar as músicas e fazer um disco a sua altura. Mas erros fatais aconteceram para que Tudo se Transformou não entrasse de cabeça erguida para o mercado fonográfico como as boas vindas à Zizi. Primeiramente, a música de abertura, Filho de Santa Maria, foi composta sobre a poesia de Paulo Leminski musicada por Itamar Assumpção. E cadê o nome de Itamar nos créditos? Mas não precisava da voz de Webster Santos nos vocais desta música, porque ele não canta nada e mais parece um cantor esperando as notas dos jurados. Voz grave, forte e estranha que contrasta com a voz doce, pura e sentimental de Zizi. Outro erro fatal foi a regravação de Disparada, já cantada habilmente pela própria no disco Puro Prazer (1999), já que sua voz casou-se muito bem com o piano de Jether Garotti. Aqui a canção fica batida e mesmo tendo novos arranjos, ficou chato ter que ouvi-la em sua voz novamente. Tudo se transformou, do mestre Paulinho da Viola e que deu título ao novo trabalho da cantora, é um samba lamentação das dores ocorridas pelo amor e valeu a pena, porque Zizi dá um show de interpretação. O disco é todo caprichado desde a abertura até a décima e última faixa do show ao vivo, tendo neste meio tempo canções de Guilherme Arantes (Meu mundo e nada mais) e da estreante compositora Necka Ayala, No Vento. Luiza Possi, a filha ilustre, surge como compositora ao lado de Dudu Falcão na música arrastada Cacos de Amor, gravada no CD de Luiza, intitulado Seguir Cantando (2011) e Gonzaguinha ressurge das cinzas em Explode Coração. De Dominguinhos e Anastácia vem Contrato de Separação e Porta Estandarte (Fernando Lona e Geraldo Vandré) fecha o disco ao vivo com chave de ouro pela alegria contagiante que a música proporciona, alternando com Filho de Santa Maria. O bônus fica por conta dos tribalhistas Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown na música Sem Você, que fala dos sentimentos amorosos e da solidão. Aqui Zizi mostra todo o seu encanto ao dar vida a uma música de dois homens totalmente amorosos e a canção acaba sendo a melhor do disco. Tudo se Transformou é um disco sensível, aberto, curioso e com direção certeira na carreira Zizi em que revisita a obra dos amigos, pinça com dignidade uma música de cada e lança em disco. Mas o que se vê aqui é um disco novo e sensato e que acaba com o jejum da cantora. Merecidamente.

 

Tudo se Transformou (2014) / Zizi Possi
Nota 8
Marcelo Teixeira

Um comentário:

Lilás disse...

Marcelo,

Gostei da resenha sobre o CD, concordo com as suas observações sobre cada interpretação, embora as minhas preferidas sejam Contrato de Separação e Porta Estandarte. Concordo também que a regravação de Disparada foi totalmente desnecessária, ainda mais porque não inovou na roupagem. Filho de Santa Maria também teve esse problema, assim como Explode Coração. Morena dos Olhos D'Agua, no entanto, ganhou de fato uma nova versão. Apesar de tantas regravações, o CD está muito bonito e o canto de Zizi continua maravilhoso, superando a si própria. Eu também a considero das melhores cantoras do Brasil, senão a melhor.

Entretanto, queria chamar atenção para dois equívocos na sua resenha. Primeiro, não são treze anos de separação do público, pois Zizi fez uma série de shows em 2008, que resultaram no DVD duplo Cantos e Contos (2010). O seu último CD data de 2005 (Para Inglês Ver e Ouvir...), com DVD homônimo. Portanto, são 4 anos sem show e DVD, e 9 anos sem lançar um CD. Poderia considerar treze de separação entre CDs de música brasileira, aí sim, mas não de separação do público e muito menos de lançamento de CD.

Em segundo lugar, o pianista e maestro Jether Garrotti Jr. não foi marido de Zizi e não é pai de Luiza Possi. O pai de Luiza se chama Liber Gadelha, músico e produtor, que fez parte da banda de Zizi na sua fase pop, até o final da década de 1980.